PAULO INGLÊS, ACADÉMICO

“Não deve ser o Governo a dizer que estamos bem, são os investigadores independentes das universidades, dos centros de investigação...”

Um consórcio formado por universidades norueguesas e angolanas passa a lupa por Angola pós-Dos Santos, por sinal, o título do livro a ser lançado nos dias 16 e 17 durante conferências na Universidade Católica de Angola. Paulo Inglês, um dos editores do livro, explica que a investigação levou a concluir que João Lourenço não fez reformas ao sistema político, degradou as condições sociais e legalizou a retirada de dinheiros públicos a favor de um círculo restrito de forma legal.

“Não deve ser o Governo a dizer que estamos bem, são os investigadores independentes das universidades, dos centros de investigação...”

Angola Pós-Dos Santos, Uma Antologia sobre Continuidade e Mudança. O que motivou a este livro? 

É resultado de um projecto de pesquisa de um consórcio de universidades angolanas e norueguesas. A ideia era fazer uma espécie de radiografia desta passagem de José Eduardo Santos para João Lourenço. Foi o fim do ciclo político e também histórico. José Eduardo Santos esteve quase 40 anos no poder. Depois de quatro anos, isso é, no primeiro governo de João Lourenço, decidimos fazer uma espécie de radiografia daquilo que era mudança e continuidade em relação ao conhecimento da presidência de José Eduardo. Primeiro, começou com muitas promessas. A nossa ideia foi ver se, quanto àquilo que ele prometia fazer, havia elementos factuais que sustentavam que, de facto, havia mudança. Por isso é que o subtítulo é continuidade e mudança. O que houve de mudança e o que houve de continuidade. Isto é o que levou ao projecto e depois à publicação deste livro que, no fundo, é uma coletânea de vários artigos. 


O que distingue os dois governos? 

Há autores que dizem que, no fundo, o Lourencismo é o Eduardismo sem José Eduardo dos Santos. Dizem que João Lourenço partiu de um princípio de que iria reformar o país a nível de economia, a questão da diversificação, a nível de maior abertura da comunicação social, a nível de relações internacionais, e também de abertura democrática. Depois destes oito anos - faltam mais dois anos para acabar a presidência de João Lourenço - as mudanças estruturais não são visíveis. É verdade que as mudanças estruturais não se fazem em 10 anos, não se fazem em 15, às vezes levam 30 anos, mas o que é certo é que Angola continua a ter muitos problemas, alguns se agravaram. Então, se perguntamos a um angolano comum o que é que mudou, muitos são capazes de dizer que as coisas pioraram em alguns aspectos. E alguns dados do livro mostram isso. Por exemplo, o desemprego continua igual ou pior. A performance da economia também. Quer dizer, teve algum simulacro de que ia mudar, mas não houve grandes mudanças também. A economia não se diversificou como se pensava. A pobreza no interior, mesmo no litoral, nas zonas urbanas, continua a crescer. Também os dados mostram isso. 


Não há mudanças? 

Portanto, não há grandes novidades para melhor em relação ao tempo de José Eduardo dos Santos. 

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