António  Vieira

António Vieira

Ex-director da Cobalt Angola

Há pouco mais de uma semana, realizou-se, em Luanda, uma reunião para a discussão de um concurso público para a realização da construção da refinaria do Soyo. Wow! Será uma obra deste Governo que se prepara para privatizar as fábricas que detém?

Pelo que foi dado a entender, e, tendo em conta o discurso várias vezes repetido pelo general João Lourenço, o país quer novos investimentos, os quais deverão ser feitos por entidades privadas. Por outras palavras, por quem tem kumbu. E nós não temos.

Uma refinaria não é nada mais do que uma fábrica, uma vez que transforma matéria-prima em produtos acabados e prontos a serem colocados no mercado.

Nós não precisamos de mais uma fábrica. Precisamos de ‘n’ fábricas. Esta é a grande realidade do nosso país. Sendo assim, deveríamos sair ao mercado e convidar todos os interessados em construir refinarias para virem construí-las no país. Não uma, não duas ou três, mas ‘n’ refinarias. Para o mercado interno e para o mercado externo. Com o caminho-de-ferro de Benguela, temos o interior do continente à nossa disposição como mercado externo preferencial uma vez que não teríamos grandes competidores.

Talvez (como país) até nos tornássemos líderes. Para tal, para quê precisamos de concursos públicos? Para dar a impressão de quê? Para seleccionar o quê? Para seleccionar quem tem kumbu para vir investir no país? Vamos lá ser sérios de uma vez por todas! Quem tem dinheiro, neste mundo ordenado pelo capital, gasta-o onde bem entender. Investe-o onde dá lucros. E não vai aceitar estar exposto a quaisquer concursos. Concursos que não se justificam uma vez que ele, o investidor, vai ter de ter cuidados empresariais para diminuir o seu próprio risco. Qualquer investidor vai fazer a sua ‘due-diligence’.

Assim sendo, parece-me que existe aqui uma falta de visão dos nossos ‘patrões’ do sector. Isto talvez advenha dos maus hábitos adquiridos na aventura socialista, quando era necessário criarem-se oportunidades para os funcionários do Estado ‘facturarem’. Para serem importantes, ignorando a importância do país. Só que isto contraria o discurso do general João Lourenço. Como tal, faço aqui umas perguntas: Será que o general João Lourenço ainda não se apercebeu de que se está a expor ao ridículo quando, no palco internacional, diz que o país está aberto ao investimento privado? Quando convida os investidores privados a trazerem os seus meios para Angola? Será que o general João Lourenço ainda não se apercebeu de que os seus ‘soldados’ estão a deixá-lo em cuecas no meio da praça pública? Quando gastam uma fortuna na promoção de um concurso público desnecessário?

Nós queremos muitas refinarias. Refinarias que sejam propriedade do investidor e não do estado. E muitas outras fábricas para todas os sectores. Para a criação de empregos e desenvolvimento económico do país. Para que os jovens angolanos se sintam bem cá na banda. Investir em fábricas não é a vocação do Governo. De nenhum governo. Aliás, no nosso caso específico e com a vasta experiência que tem, o Governo já provou que não sabe gerir fábricas. E os gestores do Governo já provaram ser incompetentes na gestão das fábricas que detêm para além de serem saqueadores e garimpeiros dos bens à sua guarda. Por isso é que o Governo vai privatizar a refinaria que tem. E outras fábricas também.

Em conclusão, que se acabe com essa palhaçada de concursos públicos para a construção de refinarias, a menos que o Governo vá investir nelas como sócio maioritário. E que se criem incentivos para que se construam “n” refinarias. Se conseguirmos dez refinarias, e, se cada uma empregar cinco mil operários, teremos assim criados cinquenta mil postos de trabalho. E, arrecadaremos impostos das dez unidades privadas e Iva do consumo que irá ser feito por esses cinquenta mil operários. E já agora, recordo-me que um decreto presidencial de Março/Abril de 2017 autorizava um consórcio(russo??) a construir uma refinaria em Moçâmedes e que esse complexo industrial iria gerar mais de dez mil postos de trabalho. É caso para se perguntar o que aconteceu a este projecto que poderia ser, neste momento, o maior desenvolvimento do país?

 

Luanda, 17 de Outubro de 2019