ANGOLA GROWING
ESTUDOS DE 2015 ASSEGURAM QUE ESPÉCIE, NO PAÍS, NÃO CORRE RISCO

Angola vai vender 150 focas vivas ainda este ano

SUSTENTABILIDADE. Governo voltou a autorizar a exportação do animal no início deste ano. Oceanários e jardins zoológicos da Rússia, China e do Uruguai, entre outros, são os principais destinos.

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Angola iniciou, em 2017, a exportação de focas vivas, para oceanários e jardins zoológicos de todo o mundo, com uma centena de exemplares, volume que já este ano deverá aumentar para 150. A informação foi avançada na semana passada, à Lusa, pelo responsável da empresa Mar Dourado, Juan José González Silveira, que vai para o segundo ano neste negócio, a partir do município do Tômbwa, no Namibe.

As focas são capturadas, em conformidade com a legislação vigente, na Baía dos Tigres, 100 quilómetros para Sul, e depois de um período experimental em 2017, a empresa construiu, no Tômbwa, instalações de raiz, com quatro tanques, para adultos e focas mais jovens, podendo albergar, em simultâneo, até 50 animais vivos. “Tentamos que não lhes falte nada. E temos boas condições”, garantiu o empresário.

O negócio dá emprego a cerca de 30 pessoas e as instalações, junto à baía do Tômbwa, garante Juan Silveira, “obedecem às normas internacionais”, com sol e sombra, além da alimentação. “O problema é que as focas não sabem comer pescado morto, estão habituadas a comer peixe vivo. Temos de as ensinar a comer e isso leva 20 dias, às vezes, um mês”, explica.

Em 2017, o empresário argentino conduziu as primeiras exportações de focas em Angola, todas oriundas da Baía dos Tigres e onde são capturadas com recurso a redes e laços, num total de 100, vendidas por cerca de 1.200 euros cada uma. Seguiram para oceanários, parques marinhos e jardins zoológicos da Rússia, China e do Uruguai, entre outros destinos. Um negócio que vai aumentar este ano, com encomendas de 150 focas angolanas. “Correndo tudo bem, penso que, em dois ou três meses, temos as capturas feitas”, explica.

No recinto aquático da empresa, as focas podem ficar até cerca de mês e meio, no processo de adaptação necessário antes de seguirem viagem para o destino final, antes viajando por terra mais de 1.000 quilómetros até ao aeroporto internacional de Luanda. “O normal seria que, após 40 dias da captura, estivessem fora. O importante é estarem aqui o menos tempo possível, porque este local é apenas para a manutenção. Mas temos de certificar que não têm qualquer doença ou problema ao sair do país”, acrescenta Juan.

A captura de focas voltou novamente a ser permitida em 2018, em Angola, segundo a regulamentação para a actividade de pesca este ano, que entrou em vigor a 22 de Janeiro. A medida volta a estar prevista no artigo 16.º do regulamento sobre as medidas de gestão das pescarias marinhas, da pesca continental e da aquicultura, para este ano, e define ser “permitida a captura de focas como forma de assegurar a gestão racional e sustentável dos recursos biológicos aquáticos”.

A pele de foca é aproveitada para produzir sapatos no Namibe, mas também os ossos e a carne são aproveitados. Cada um destes mamíferos pode chegar a alimentar-se diariamente com oito quilogramas de peixe. Segundo um estudo de 2015, a população de focas em Angola registou um crescimento de 12,4 por cento, em três anos, passando de 26.235 para 33.449.

A autorização ao abate de focas no Sul de Angola tem sido anualmente feita pela Governo desde 2013, como forma de gestão desta população na Baía dos Tigres, no Namibe, e por não ser uma espécie ameaçada no país. “Devem ser organizados programas de monitorização em conformidade com as normas ambientais e prestação de informação de exploração do recurso”, lê-se no mesmo artigo do regulamento para 2018, que também não específica quantidades de captura permitidas.

O regulamento refere apenas que esta pesca “deve ser acompanhada por cientistas do Instituto nacional de Investigação Pesqueira” e que envolverá a “instalação de uma fábrica” para “processamento das focas” na Baía dos Tigres, no Tômbwa.