400 MILHÕES DE INCONSCIÊNCIA
A notícia fez correr rios de tinta há uma semana. João Lourenço autorizou uma despesa de 400 milhões de kwanzas para a preparação da Cimeira EUA-África. Trata-se de gastos em consultoria, para sermos mais precisos.

O choque generalizado não se fez esperar. Quase todas as reacções conhecidas, senão todas mesmo, foram de condenação enérgica. Não houve registo de quem tivesse considerado acertada a decisão de João Lourenço e, se houve, passou despercebido. Nos argumentos, os protestos também foram unânimes. Por decisões e por estatísticas, o Governo tem afirmado que não tem dinheiro para combater a cólera que já matou mais de 700 angolanos em menos de meio ano. Ainda no último fim de semana, o médico Jeremias Agostinho recordava que o Governo não foi capaz de investir os 3 milhões de dólares aprovados em 2023, destinados a medidas de prevenção contra a cólera. Do mesmo jeito que não executou a despesa de 15 milhões de dólares aprovada já nesse período em que a doença vai ceifando vidas a uma velocidade estonteante. A conclusão lógica não dá alternativas. Se não há dinheiro público para salvar vidas de milhares de angolanos de uma doença letal e vergonhosa como a cólera, não devia haver dinheiro para consultorias de preparação de uma cimeira. O contrário não é apenas insensibilidade, é qualquer coisa que no mínimo abeira da insanidade.
Colocada de parte essa devastadora crise contextual, há outros argumentos que sustentam a fúria contra a inconsciência dessa decisão. Por um lado, Angola (leia-se o Estado) está farta em experiência na realização de eventos equiparáveis a uma importante cimeira internacional de negócios. Custa a concluir que não tenha sido absorvida expertise suficiente para a empreitada que agora se coloca. Por outro, as rubricas orçamentais do Estado estão repletas de despesas que servem para suportar instituições e pessoas que, no mínimo, deviam ter competência para preparar e organizar uma cimeira EUA-África. Por fim, ainda que a necessidade de contratação da tal consultoria se revelasse incontornável, sempre seria possível poupar-se o dinheiro público.
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