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Pandemia e ambiente de negócios afectam projecto

Receitas da Agro-Quiminha recuam 80% desde 2020

20 Oct. 2021 Economia / Política

AGRO-NEGÓCIO. Empresa gestora do projecto agro-industrial viu a facturação quebrar para os 60 milhões de kwanzas. Em causa, a pandemia e o mau ambiente de negócios.

Receitas da Agro-Quiminha recuam 80% desde 2020

Projecto Agrícola Integrado e Regional da Quiminha, situado no município de Icolo e Bengo, em Luanda, regista acentuada redução da produção e, por arrasto, as receitas caíram também de forma abrupta. A facturação de 300 milhões de kwanzas anuais caiu 80% desde o início da pandemia, em 2020, fixando-se agora nos 60 milhões de kwanzas. 

Fonte ligada à gestão do projecto garante, no entanto, que o mesmo se mantém “viável”, desde que haja um bom ambiente de negócios. “Estou a falar, por exemplo, do acesso ao crédito bancário, ou mesmo às divisas que já temos nas contas, para a aquisição de matérias-primas e equipamentos. Estou a falar também da excessiva burocracia. Todas estas variantes, associadas à pandemia, inviabilizam o funcionamento das empresas”, argumenta.

O funcionário de topo da Agro-Quiminha afirma mesmo que, “por esta altura, a empresa está a cair aos bocados”. E, sem dar voltas à cabeça, indica que “se perdeu 80% da capacidade de produção cujas metas, desde 2012, estavam fixadas em 25 milhões de ovos, oito mil toneladas de banana e quatro a cinco mil toneladas de milho por ano, e mais de 1.000 toneladas de outros produtos como legumes”.   

Reiterando que “a pandemia veio complicar”, mas também, “o ambiente de negócios que tem sido muito adverso”, a fonte critica o sistema bancário e as políticas governamentais que “estão a levar à falência” as empresas. “A cada dia estão a fechar empresas, e perdem-se postos de trabalho. Se se continuar nesse estado de coisas em que praticamente não há crédito para os empresários com talento, e que só as empresas orçamentadas é que funcionam, a agricultura não vai acontecer”, reitera, advertindo que o projecto Agro-Quiminha “perdeu capacidade de compra” e “está de rastos”, de modo que faz-se necessária uma saída. “Se uma empresa não consegue comprar ou compra mal e menos, também produz menos, logo estará condenada ao fracasso. É neste aspecto onde reside o segredo”, defende a fonte, que lamenta o despedimento de 330 trabalhadores dos 670 que faziam parte deste empreendimento inaugurado em 2012 pelo ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

Olhando ainda para as contas, o projecto gasta, por mês, pouco mais de 40 milhões de kwanzas, despesa que, associada aos custos operacionais, como aluguer de máquinas e impostos, deixa a empresa “sem margem de manobra”. O projecto Agro-Quiminha compreende 300 fazendas, 11 pivots de rega, 500 hectares de fazendas privadas e dois aviários com uma capacidade para 30 mil pintos e 90 mil poedeiras. Mas os aviários estão praticamente desactivados. Operacional está um reservatório de retenção com 300 milhões de litros de água e outro de distribuição com capacidade para 30 milhões de litros de água.

INVESTIMENTOS DE 10 MILHÕES USD

 

Para garantir a auto-suficiência do projecto, a Agro-Quiminha investiu cerca de 10 milhões de dólares num centro logístico e numa fábrica de ração, entretanto paralisada por falta de milho e de soja. Mas, desde a sua criação, o Governo já investiu mais de 146 milhões de euros na infra-estruturação deste pólo agrícola e industrial entregue, em 2016, à Agro-Quiminha para um período de gestão de sete anos.

No arranque, o projecto contou com o suporte técnico dos israelitas do grupo Mitrrelli, os mesmos que estão na ‘Aldeia Nova’, no Waco Kungo, Cuanza-Sul. “Se o Governo pretende uma agricultura de escala, e garantir o abastecimento interno, precisamos de replicar iniciativas com o mesmo formato em todas as províncias”, defende a fonte.