ARTES PLÁSTICAS. ‘Panorama’ é a primeira exposição da artista Mónica de Miranda em Angola, com 33 obras, entre fotografia, vídeo e instalação, que engloba temáticas relacionadas com construção da identidade do hotel Panorama e dos cines Karl Marx e Atlântico. A exposição fica patente até 25 de Janeiro de 2019, na galeria do Banco Económico, em Luanda. Porquê o título ‘Panorama’? Porque, em Luanda, temos o hotel que está na ilha, que está parado no tempo e representa um marco muito grande do passado. A cidade está a crescer à sua volta. É quase uma pergunta que se faz: o que se faz com essa memória do passado colonial? E esse passado, como é que lidamos com ele? Foi esse o motivo de toda a exposição, olhar para essas memórias e todos os espaços da cidade. É também olhar um pouco para o presente e o passado. A exposição faz um roteiro por pontos que já foram dos principais pontos de diversão da cidade, quer em hotéis e cinemas… Interessou-me muito as estruturas do cinema da cidade, em que procurei fotografar e filmar, desde estruturas abandonadas, como o Cine Karl Marx e as que ainda estão em uso como o Cine Atlântico. Tento contar uma história através de personagens, que são as gémeas, que representam uma dualidade entre o que foi e o que é. Elas próprias sentam-se nesse lugar abandonado a questionar qual é o nosso lugar nessa história. O que pretende chamar atenção? Quero chamar a atenção para nos questionarmos qual o nosso lugar, na construção de uma identidade colectiva angolana e, de certa forma, haver um resgate da história, mas também um olhar para o futuro, como é que lidamos com a nossa história e como é que construímos a partir daí. A exposição acaba por ser um arquivo histórico-arquitectónico. Quanto tempo levou a preparar? Acabam por ser arquivos, porque esses lugares vão desaparecendo. O Panorama está a ser esmagado por construções novas. Vemos que é uma obra de arquitectura maravilhosa que já não se faz, muito peculiar em África. Eram espaços agradáveis, mas foram esquecidos. Aliás, isso é parte de um projecto que se chama ‘Pós-arquivo’. O processo de preparação teve várias etapas. Começou em 2011 até 2018. Cheguei ao hotel por uma história biográfica, porque andava à procura de um lugar em que pudesse representar a cultura da minha mãe, porque ela é angolana. E encontrei o hotel, em que fiz um filme biográfico e fui a autora e actriz. ConheceAngola há mais de dez anos. O mercado já está fértil para o investimento para as artes? Está em crescimento. Há dez anos que venho tentando fazer uma exposição e, na altura, não havia condições. Que tipo de condições é que se refere? De produzir bem as obras e mostrar. Nesta exposição, apresento 33 obras, desde instalações e fotografias. Para produzir obras, é necessário que haja recursos e, no passado, não havia estruturas fortes para que isso acontecesse. Antes era quase impossível vir de fora e fazer uma exposição. O mercado já está competitivo? Penso que sim, porque já há mais galerias e artistas mais jovens. Há muita coisa em crescimento. O que são geografias afectivas, poéticas e de pertença, a que se refere na exposição? Geografia é o lugar, afectivos são os afectos, a família e toda essa relação com Luanda tem que ver com encontros, com a minha própria história, porque, embora tenha nascido e crescido em Portugal, tenho ascendentes angolanos. Em idade mais adulta, vim procurar esse legado, por isso chamo de geografia afectiva. E poética, porque recria uma história, a orquestra que ,de certa forma, dá um outro olhar ao cenário. A arte tem definição? Hoje debate-se sobre a rigidez fixa nacional, porque as pessoas têm várias influências. Pode falar-se em arte contemporânea. Toda a arte que fazemos é do nosso lugar. Podemos definir é que o artista é dessa geografia. Sente que falta algo na exposição? Nunca faço uma exposição fechada. Estou sempre à procura, deixo sempre em aberto, para continuar outro capítulo. Há muitas coisas que fiz, algumas reflexões que gostava de continuar. É um início para um novo começo. Qual é o próximo destino da exposição? Em princípio, vai para Portugal, mas só para o próximo ano. Depois tenho galerias noutros países, mas nem sempre se leva toda a exposição, apenas algumas peças. Fui nomeada para a bienal mais conhecida da América do Sul, a Bienal Sur, na Argentina, e levo o Panorama e o vídeo de Karl Marx. Qual deles mais a marcou e porquê? O vídeo marcou-me, porque consegui construir várias camadas dessa história e construir uma narrativa geográfica, afectiva e poética mais desses lugares, onde podemos referir outras histórias ficcionadas. Deu para juntar várias reflexões que, na fotografia, fui fazendo ao longo dos anos e que, de certa forma, abriu mais o olhar sobre Luanda. Pelo mundo Mónica de Miranda, de 44 anos, de nacionalidade portuguesa, é uma artista visual e investigadora de pós-doutoramento no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa, onde está a desenvolver um projecto de investigação artística intitulado ‘Pós-arquivo’ (2015-2018), no âmbito do grupo de investigação ‘Dislocating Europe’. Foi uma das fundadoras da Rede ‘Triangle Network’, em Portugal, e coordenou as residências artísticas ‘360: Ambiente e processo’ (2015), ‘Offline’ (2013), ‘Transitante’ (2012) e ‘Home and Abroad’ (2010). Tem mais de seis exposições individuais, 10 colectivas, sete residências artísticas e seis publicações.
Amélia Santos
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