ANGOLA GROWING
José Zangui

José Zangui

INDÚSTRIA. Autoridades querem impedir surgimento de novas fábricas de bebidas. Ministério da Indústria justifica-se com a produção nacional “auto-suficiente” e com margens para a exportação.

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As licenças para novas fábricas de bebidas vão passar a ser analisadas cautelosamente, e o Ministério de tutela definiu, como prioridade, a produção de matéria-prima de apoio a essa indústria, como rótulos, tampas, embalagens e produção de milho.

Para a ministra da Indústria, Bernarda Martins, o sector é “auto-suficiente”, só que não tem sido devidamente acompanhado pelo investimento nas matérias-primas, cuja aquisição está estimada em necessidades mensais de 80 milhões de euros, segundo Estêvão Daniel, da Associação de Bebidas de Angola (AIBA).

Bernarda Martins, que apresentou, na última sexta-feira, um estudo sobre bebidas, à margem de um encontro com a direcção da AIBA, referiu que a pesar das dificuldades de acesso a divisas para a aquisição de matéria-prima, o sector continua a ser “um dos mais desenvolvidos no tecido empresarial”.

A capacidade de produção no país é de 5.431 mil milhões de litros por ano, o dobro do consumo total, estimado em 2.231 mil milhões de litros. Mas, na prática, as 40 fábricas produzem actualmente 2.1 mil milhões litros.

A ministra esclarece que pelo facto de Angola ser membro de organizações internacionais vai continuar a importar em pequenas quantidades. A importação anual de bebidas está avaliada em 115 mil milhões de litros, segundo a AIBA.

No global, a produção de bebidas (cerveja, refrigerantes, sumos, águas, vinhos e espirituosas) é responsável pela criação de 13.600 empregos, 95% dos quais ocupados por nacionais.

O presidente da AIBA, Manuel Sumbula, afirma já ter sentido “muito os efeitos da crise” e que hoje há “mais abertura no diálogo com o Governo que está a resultar num “alívio” no acesso às divisas.

PESCAS. Quadro do Ministério das Pescas e do Mar garante que há embarcações não licenciadas a vender peixe em águas territoriais angolanas. Versão não é assumida como oficial. Associações de Pesca de Luanda e do Kwanza-Sul confirmam a pesca ilegal, mas admitem que esteja a reduzir, face à intervenção da capitania.

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Um quadro do Ministério das Pescas e do Mar denunciou, na semana passada, a existência de embarcações não licenciadas que vendem peixe em águas territoriais angolanas, de forma ilegal e sem que o Estado obtenha qualquer receita. As associações de pesca de Luanda e do Kwanza-Sul confirmam a informação.

A violação do mar angolano é mais frequente no Cacuaco e na Samba, em especial na praia da Mabunda, em Luanda, segundo o presidente da Associação dos Armadores de Luanda, Manuel António ‘Dudu’, e no Porto Amboim, Kwanza-Sul, de acordo com Bernardo Mateus, líder da associação dos pescadores local. Os dois dirigentes reconhecem, no entanto, que, face à fiscalização da capitania, há uma tendência de redução de casos.

Fonte do Ministério das Pescas explica o funcionamneto do circuito: “os barcos ficam no alto mar, ligam para os clientes em terra que com as chatas vão ao encontro deles onde fecham o negócio, sem serem taxados”.

O Ministério prometeu pronunciar-se, mas referiu que o assunto “é multissectorial e de soberania, exigindo cuidados na abordagem”.

Segundo dados do gabinete de estudos, planeamento e estatística (GEPE) do Ministério das Pescas e do Mar, estão licenciadas 253 embarcações industriais e semi-industriais, além de outras de pequeno porte, 100 das quais no Kwanza-Sul.

No ano passado, a juíza de Questões Marítimas Maria Fundanga assegurava que Angola tinha montado um sistema de segurança marítima para detectar possíveis violações da orla marítima, em cooperação com o Ministério da Defesa, nomeadamente a Marinha, mas admitia que havia “casos a passar”. Segundo a juíza, alguns dos detectados eram resolvidos de forma administrativa pela capitania, pelo que nem sempre chegavam ao tribunal.

Os tribunais de Cabinda, Soyo, Porto Amboim, Lobito e Moçâmedes, até meados de 2017, julgaram 702 processos.

PESCA LIMITADA

A quota máxima de pesca admitida para este ano, pelo Governo, aproxima-se das 320 mil toneladas, quantidade idêntica à do ano passado, sendo dada prioridade às empresas com infra-estruturas e processamento de transformação em terra.

A pesca artesanal poderá operar até ao limite de 5.500 embarcações, mas há uma recomendação de licenciamento de 15 embarcações para a pesca industrial, 90 para a pesca de cerco, 10 para a pesca pelágica, 15 para a pesca semi-industrial de arrasto demersal, sete para a pesca de palangre e 15 para a pesca com rede de malhar. Estes limites vigoram desde 22 de Janeiro.

O diploma sobre o licenciamento de embarcações de pescas estabelece que, até à realização de novos estudos, é proibida a exportação de espécies de lagosta e de carapau.

FEIRAS. Associação dos Industriais de Angola (AIA) apresentou ao Governo um memorando em que manifesta a intenção de voltar a organizar a maior bolsa de negócios de Angola, a Filda. E garante já ter financiador para reabilitar o espaço degradado no Cazenga.

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Cerca de 12 anos depois de ter sido afastado da gestão da Feira Internacional de Luanda (Filda), o presidente da Associação dos Industriais de Angola (AIA), José Severino, garante estar disponível para recuperar o espaço do Cazenga, ao mesmo tempo que prepara as condições para voltar à posição em que esteve por mais de duas décadas.

Em declarações ao VALOR, além de considerar ser um direito da AIA assumir a gestão da Filda, Severino avança que a Associação já submeteu um memorando ao Executivo, aguardando por resposta. Enquanto isso, garante ter já um financiador disponível para reabilitar o espaço do Cazenga “que se encontra em estado de abandono e vandalizado”.

O líder dos industriais recusa-se, para já, a revelar o nome do financiador, mas defende que a AIA tem experiência na recuperação daquele espaço, que albergava a Filda, quando o fez em 1996.

A aposta de José Severino no espaço imobiliário do Cazenga levanta algumas interrogações, visto que a liderança anterior, encabeçada por Matos Cardoso, já defendia a necessidade de mudança por suposta falta de condições das instalações que agora se encontram vandalizadas. Matos Cardoso apontava, como alternativa, as proximidades da zona económica onde, coincidentemente, foi realizada, na semana passada, a 34.ª edição.

José Severino defende, entretanto, que o património imobiliário do Cazenga “reúne as condições necessárias”, inclusive para colocar a Filda no “patamar das maiores feiras do continente como a da Argélia e da África do Sul”, onde, no seu entender, “já deveria estar”. “A ganância e a falta de respeito aos interesses nacionais terão concorrido para a falência da FIL e o descalabro da Filda”, critica. José Severino foi forçado a deixar a liderança da Filda, em 2004, por decisão judicial como resultado de desentendimento com outros membros da AIA e com outras associações empresariais que reclamavam direitos na Expo-Angola, empresa que organizava a feira.

Em relação ao conflito interno na AIA, José Severino garante que conta com o apoio de grande parte dos associados, visto que “apenas uns poucos” se tinham manifestado contra a sua gestão. No diferendo com as restantes associações que tinham participações na Expo-Angola, José Severino deixa a entender que se tratava de “um problema que nunca deveria ter existido”, reforçando que a AIA é a entidade que tem os direitos de propriedade da Filda e que está registada como tal. Por isso, convida as demais associações, pelo que hoje não colocam qualquer impedimento legal.

APOIO DAS EMPRESÁRIAS

A Associação das Mulheres Empresárias da Província de Luanda (Assomel) era uma das associações que repartia, entre si, 21% das participações da Expo-Angola visto que a AIA detinha 79%. A presidente, Maria Nascimento, garante que voltaria a fazer parte de uma parceria para a organização e gestão da Filda desde que “os deveres e direitos ficassem devidamente clarificados”.

A empresária lembra que a confusão do passado foi motivada pela falta de clareza na divisão dos dividendos. Segundo conta, a organização da Filda e a gestão do espaço foi entregue, pelo Governo, na altura liderado pelo primeiro-ministro França Van-Dúnem, às associações. A AIA é a que estava em melhores condições financeiras para fazer face aos desafios, enquanto grande parte das associações, inclusive a Assomel, não tinha capital nenhum para entrar com uma quota de participação.

Por essa razão, ficou estabelecido em reunião que, quando fossem distribuídos os primeiros dividendos resultantes da realização de feiras, cada instituição que não tivesse pago entrava com a sua parte e foi nessa repartição dos dividendos onde surgiram os problemas.

“Nunca recebemos os dividendos e nunca se cumpriram os estabelecidos”, explica Maria Nascimento, acrescentando que, como consequência, “alguns membros não ficaram satisfeitos”. Apesar disso, defende que “não se deve individualizar as culpas”.

A Assomel foi convidada para o novo desafio a que a AIA se propõe, mas “a aceitação depende dos critérios do novo figurino, ou seja, a clarificação das formas das participações e a repartição dos dividendos”, avisa a presidente.

Além da Assomel, tinham também participações na Expo-Angola, a Associação Comercial e Industrial de Luanda (Acomil), a Câmara de Comércio e Indústria de Angola (CCIA), a Associação de Jovens Empresários de Angola (AJEA), a Associação das Mulheres Empresárias de Luanda (Acomil), o Instituto de Desenvolvimento Industrial de Angola (IDIA) e o Governo Provincial de Luanda (GPL).

ENTREVISTA. Presidente do conselho de administração da Palm Confecções defende um novo modelo de feira que inclua passeios às províncias. Presente na Filda, empresário revela que perdeu clientes, nos últimos anos, e que baixou a facturação para metade.

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O que se ganha com a participação nas feiras?

Muito. A interacção com várias empresas e a troca de contactos e de ideias que, em muitos casos, terminam em bons negócios. As feiras estimulam o ambiente de negócios. No mundo global, as empresas não podem ficar fechadas, devem estar em contacto com os fornecedores e clientes.

Há negócios da Palm confecções conseguidos por via da Filda?

Muitos. Temos exemplos de empresas estrangeiras que se tornaram nossos fornecedores. Temos o caso da Biocom a quem fornecemos uniformes. Os primeiros contactos foram feitos numa feira. Temos também o caso da Macon e tantas outras. As feiras têm uma extrema importância e defendo que não deviam ser realizadas apenas com periodicidade anual, mas que fossem trimestrais ou semestrais.

Em Angola, já se realizam feiras sectoriais. Não servem?

Defendo as duas coisas. Podemos ter uma feira anual que englobe todos os sectores trimestralmente, de quatro dias, por exemplo, e feiras nos moldes que o país já faz. A interacção seria quase permanente.

O Governo continua a ser o promotor das feiras, contratando empresas especializadas para a sua produção. É assim que deve ser?

Não, as feiras deveriam ser promovidas por empresas com capacidade organizativa, mas, no contexto em que o país se encontra, o Governo é ainda o único com capacidade para realizar feiras multissectoriais. Tem espaço, como é o caso da Zona Económica Especial, que, se fosse um privado a organizar, teria de pagar. As empresas estão sem capacidade financeira, portanto, o Estado, por enquanto, é que pode mover meios. Mas, no futuro, deve ser atribuída essa função às empresas.

Já participou em alguma feira internacional?

Sim. Na Índia e, este ano, vamos participar na Turquia e na China.

O modelo da Filda é semelhante ao de outros países?

Não. Noutras paragens, há particularidades que a nossa ainda não apresenta. A feira não é apenas para expor produtos, deve ser um espaço para se explicar aos visitantes o sistema económico de um país, a história do modelo económico. Os convidados não podem ficar confinados no espaço na Filda. Deveriam andar pelas províncias para se informarem melhor e saírem seguros de que o país é viável para se fazerem investimentos. Deviam criar-se programas de passeios. É esse o conceito de feira, mas as realizadas em Angola ainda não oferecem esta facilidade.

Que novidades a Palm Confecções apresenta na Filda?

Vamos levar os nossos produtos habituais. Uniformes profissionais e de segurança de trabalho são a nossa especialização, temos uma capacidade actual de seis mil peças por dia. Infelizmente, devido à situação desfavorável que o país vive, a compra de uniformes deixou de ser prioritária e as nossas vendas baixaram consideravelmente na ordem dos 50%, mas continuamos a funcionar.

Qual é a facturação anual da Palm Confecções?

A Palm Confecções é como qualquer empresa angolana. Hoje tem as portas abertas, mas o volume de negócios baixou. Estamos a funcionar a 20% da capacidade instalada, isso desde 2014. Temos muitas máquinas paradas, fomos obrigados a reduzir o pessoal, em mais de 50%, ou seja, de 520 funcionários para 250, porque o Estado, que era o nosso principal comprador, está sem poder financeiro para fazer aquisições de fardas. As empresas privadas, muitas delas fecharam ou estão a sobreviver à crise e, por isso, não têm o uniforme como prioridade. A nossa facturação anual está à volta de três a quatro milhões de dólares, contra os 10 a 15 milhões de dólares anuais, antes da crise.

Em média, quanto investe para participar na Filda?

Nesta edição, investimos cerca de seiscentos mil kwanzas.

EVENTO. Ministério da Economia e Planeamento ‘escolheu’ a Eventos Arena para organizar a maior bolsa de negócios do país. Empresa suporta todas as despesas avaliadas em cerca de 500 milhões de kwanzas e há quem defenda que certame deveria ser responsabilidade exclusiva dos privados.

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O modelo escolhido para a realização da 34.ª edição da Feira Internacional de Luanda (Filda), que decorre esta semana, está longe de colher consenso.

Pelo segundo ano consecutivo, o evento é organizado pelo Ministério da Economia em parceria com a Eventos Arena e há quem defenda que deveria ser entregue totalmente aos privados, como já foi no passado. Mas há também quem entenda que, face à conjuntura económica, seria “impossível o Governo largar a organização”.

O empresário Eliseu Gaspar é dos que reprovam o actual modelo de organização da principal feira empresarial de Angola, argumentando que só haverá “uma verdadeira feira quando for estruturada pelo privado sem interferência do Estado”. Para o vice-presidente da Associação Industrial Angolana (AIA), “a feira, quando decorria pela ‘mão’ da Expo-Angola, era a expressão da vontade do empresariado nacional”, mas, “a partir da altura em que um administrador judicial é nomeado para cumprir tarefas ‘estranhas’ dentro de um período de tempo determinado e passa a responder pela Expo-Angola, deu-se início à descaracterização do objecto social da Filda”.

“Aquilo tornou-se mais numa fonte de enriquecimento fácil de determinadas pessoas, através da realização de feiras dos ministérios (Ambiente, Território, Pescas, etc.). As feiras passaram a ‘sorvedouros’ das finanças públicas e alguns encheram os bolsos com esse dinheiro”, ataca Eliseu Gaspar.

“Passámos a ter feiras ministeriais que nada têm que ver com a Filda”, reforça o empresário que deixa uma sugestão: “é melhor devolver a gestão da feira aos privados. Se não tivermos cuidado, vamos cair na mesma teia da FIL, empresa criada pelo ex-administrador judicial da Expo-Angola, Matos Cardoso”.

Eliseu Gaspar questiona também a ‘constante’ mudança de cenário da Filda da ‘Marginal’ para o novo parque de exposições, salientando que “muitos empresários não se revêem nisso”. “Da Baía de Luanda, agora será na ZEE. E, no próximo ano, para onde iremos? Paremos, porque o ambiente de negócios também não é o mais propício para atrair investimento por falta de divisas”, sugere.

O empresário Luís Contreiras também entende que as feiras deveriam ser da exclusividade dos privados, mas entende que, “no contexto que o país atravessa, o Governo é ainda o único com capacidade para realizar feiras multissetoriais”.

Pensamento semelhante tem o também empresário Carlos dos Santos para quem o “Governo, por vezes, atropela as coisas”, quando o seu “papel seria apenas o de definir políticas a seguir, na empreitada do desenvolvimento económico”.

Antigo funcionário da Feira Internacional de Luanda (FIL), hoje empresário, defende que “nada justifica a intervenção do Estado na organização de feiras”, mas entende que, “numa questão de emergência, porque tem de ser mesmo realizada, o Estado indique alguém, como o fez com a Eventos Arena, mas isso não deve ser regra”. Carlos dos Santos sugere que, no futuro, “seja aberto um concurso para a gestão e organização da Filda”.

Depois de deixar a FIL, o empresário criou a C.Calas que se dedica à realização de feiras locais, tendo já organizado a Expo-Uíge que encerrou no último fim-de-semana.

FEIRA DO CARANGUEJO

“Feiras com dinheiro dos nossos impostos para quê?” É, nestes termos, que se questiona a empresária Filomena Oliveira que também não se revê no actual modelo de organização da Filda. “Como é que o Estado insiste em concorrer com privados?”

Filomena Oliveira defende a realização de feiras locais para dinamizar a economia e dá exemplo de feiras como a “do caranguejo” que devia ser realizada no Namibe, da laranja ou da batata, porque “é isto que gera emprego e alavanca a economia”.

A residir no Lubango, a vice-presidente da Confederação Empresarial Angolana (CEA) explica que os empresários da Huíla estão habituados a fazer feiras com recorrendo a recursos próprios e, por isso, praticamente “não estão muito interessados” em marcar presença na Filda. Para a empresária, a Filda já “deu bronca” com a Expo-Angola e a com FIL, receiando que, com a Arena Eventos, se caminhe para “o mesmo buraco’”.

Por sua vez, o director-geral da Arena Aventos, Bruno Albernaz, defende que houve situações que “só o Estado era capaz de assumir”, explicando que, “por causa de dívidas, a feira não se realizou em 2016”. Bruno Albernaz evita adiantar os mecanismos que estiveram na base da escolha da sua empresa para ‘assumir’ a Filda deste ano.

Na ‘rota’ da produção nacional

A decorrer sob o lema ‘Diversificar a Economia, Desenvolver o Sector Privado’, a 34.ª edição da Filda realiza-se ainda sob contexto da crise económica, com o país a pretender atrair mais investimento externo. O evento decorre entre 10 e 14 de Julho, na Zona Económica Especial (ZEE), e estarão expostos produtos ‘Made in Angola’ e importados. Dados disponíveis indicam que são aguardados perto de 500 expositores entre nacionais e estrangeiros.

Segundo a organização, a transferência da Filda para a ZEE resulta da degradação das antigas instalações com mais de 50 mil metros quadrados, localizadas no Cazenga, tendo sido pela mesma razão que a edição anterior teve de ser realizada na Baía de Luanda.

O novo parque de exposições conta com uma área de 28 mil metros quadrados que vão receber, durante cinco dias, além de Angola, empresas de 13 países: Portugal, Suécia, Itália, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Rússia, África do Sul, Gana, Moçambique, Uruguai, Brasil e EUA.

A feira é organizada pelo Ministério da Economia e Planeamento (MEP), em parceria com a Eventos Arena, empresa que deverá suportar as despesas, estimadas em mais de 477 milhões de kwanzas (cerca de 1,8 milhões de dólares). “O Ministério não irá desembolsar nenhum montante para a realização desta edição. As despesas serão suportadas pela Eventos Arena”, garantiu, em conferência de imprensa, Ana Celeste, directora do gabinete de comunicação institucional e imprensa do MEP.

Ana Celeste acrescentou que a feira, cujo investimento e retornos são da responsabilidade da Eventos Arena, decorre num momento em que o Executivo está a ensaiar reformas, viradas para a melhoria do ambiente de negócios, em particular, e do quadro regulatório e institucional do investimento privado.

A ZEE, segundo a organização, além do espaço amplo, é uma área concebida para atrair investidores nacionais e estrangeiros, bem como incentivar o desenvolvimento económico. Ana Celeste apontou, como aspectos positivos, a aproximação às centralidades do Zango, Kilamba e Sequele, o acesso privilegiado à Via Expressa, e a localização de unidades hoteleiras e serviços, “com condições necessárias” para acolher visitantes. “Representa um modelo voltado para a criação de ‘clusters’ industriais, visando o crescimento económico”, resumiu.

Programa e novos lançamentos

A Filda tem sido considerada, ao longo dos anos, uma das maiores ‘portas de entrada’ de investimento directo estrangeiro, bem como uma das principais alavancas de promoção do país e da produção nacional.

Nesta edição, os sectores que mais se destacam são o ambiente, energia e petróleos, agricultura e pecuária, alimentação e bebidas, banca e financeiro, comércio geral, construção e imobiliária, entidades governamentais/públicas, educação, formação e cultura, hotelaria e turismo, indústria transformadora e extractiva, logística e transportes e máquinas e equipamentos.

O programa da feira inscreve várias iniciativas, com particular realce para o lançamento de novos produtos. A Angola Telecom é uma das empresas de telecomunicações nacionais que não quer perder o momento. Em declarações ao VALOR, o coordenador da comissão de gestão, Eduardo Sebastião, afirma que “a operadora não quer deixar os seus créditos em mãos alheias”. Quem passar pelo ‘stand’ da Angola Telecom poderá assistir ao lançamento de dois novos serviços, o ‘Fale e navegue mais’ e ‘Ponto-multiponto’, que se juntam ao ‘Data center’ e ao ‘Sat-3’”.

A Unitel está igualmente na ‘corrida’, e, de acordo com fonte do VALOR, entre outros serviços, deverá apresentar ao público o ‘novo conceito de atendimento “para simplificar a vida dos clientes”. Trata-se de um serviço que emprega perto de mil jovens que deverão interagir com mais de um milhão de clientes mensais. Para este serviço, a operadora, em parceria com a UCALL, investiu cerca de um milhão de dólares. Está prevista a realização de um seminário para a divulgação da nova legislação do Investimento Privado, do Plano de Desenvolvimento Nacional 2018-2022, bem como do PRODESI- Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações.

Constam também palestras sobre parcerias público-privadas e deverá proceder-se à divulgação do Pólo Agroindustrial de Capanda, como um dos instrumentos de apoio à actividade económica. Sem produto ou serviço novo, o Banco BIC prepara-se para reforçar o produto BIC Agro, bem como promover a nova imagem do Euro BIC.

O programa assemelha-se ao dos anos anteriores, estando reservado o ‘Dia Internacional’, dedicado às representações estrangeiras, e o ‘Dia de Angola’ para os nacionais. Haverá ainda o ‘Dia da Indústria e dos Petróleos’ e está programada também a gala de entrega de prémios. Está ainda agendado um Tour Industrial em 11 unidades industriais afectas à SIIND, que se encontram na ZEE.

Os resultados

As receitas com a organização da feira chegam de vários serviços alguns dos quais já incorporados no ‘pacote de aluguer’ do espaço de exposição.

Ao VALOR, o administrador comercial da Eventos Arena, Manuel Novais, diz que, “para quem produz uma feira, os ganhos ou perdas dependem da comercialização dos espaços”. Para esta edição, além do parque de estacionamento, cada metro quadrado no interior custa 33 mil kwanzas, já o metro quadrado com a montagem da base são 55 mil kwanzas.

A organização ‘embolsa’ também com a venda de bilhetes, a serem comercializados a 1.500 kwanzas, o mesmo valor cobrado na edição anterior. A publicidade no ‘catálogo oficial da feira’ é outra fonte de receitas com preços que variam entre os 45 mil e os 325 mil kwanzas.

Os convites serão igualmente comercializados e o expositor paga 800 kwanzas por 250 unidades, “mas acima destes terá um desconto de 300 kwanzas”, reservando-se à organização o direito de limitar a quantidade”.

A receita mais ‘gorda’ é da inscrição que custa 45 mil kwanzas não reembolsáveis e dos expositores-patrocinadores que devem pagar cinco milhões de kwanzas, com direito a várias contrapartidas, como o uso de um espaço com 36 metros quadrados, ‘outdoors’, cartazes, folhetos de divulgação, além de uma página no catálogo oficial da feira.

Esta 34.ª edição vai privilegiar a agricultura, indústria transformadora, serviços, incluindo o turismo e construção civil, que, de acordo com os organizadores, estão alinhados aos 83 programas do Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) do Governo para os próximos cincos anos.

Negócios depois da FILDA

Entre vários negócios de sucesso, depois de ‘expostos’ na Filda, destaque para ‘Os trapalhões’. Trata-se de um restaurante que ‘emergiu’, após o ‘desmantelamento’ do mercado com o mesmo nome, na Ilha de Luanda, em 2004. Antigas vendedoras desse mercado deram corpo a restaurantes no Dubai e na África do Sul com um ‘cardápio’ à base de ‘kitutes da terra’ e da gastronomia internacional. “As senhoras que corporizam esse negócio são um dos exemplos dos negócios que começaram na feira e prosperaram”, afirma o economista Eliseu Gaspar que cita também o caso da Ferpinta, empresa do ramo dos materiais de construção.

O mercado ‘Os trapalhões’ tinha cerca de 100 comerciantes de refeições, pescado e de outros produtos que deviam ser reinstalados provisoriamente no ‘Ponto Final’ e na área adjacente à Casa Lisboa, na Baía, para depois serem enquadrados num novo mercado que seria erguido pela Comissão de Administração de Luanda, com capacidade para 200 lugares. “Insatisfeitas com a medida do Governo, um punhado de mulheres determinadas não esperou pelos resultados, avançou e venceu”, sublinha Eliseu Gaspar.

O economista Mariano Canganjo é de opinião, no entanto, que mais projectos deveriam surgir da Filda. “Estamos há 34 anos a falar de Filda, os propósitos são os mesmos, mas, na prática, continuamos muito atrasados na senda da concretização do aumento quantitativo e qualitativo da produção nacional. Estamos dependentes de importações até mesmo de produtos agrícolas que podemos produzir no país. Algo vai mal na medida em que falamos mais do que fazemos”, resume Mariano Canganjo.

Antigas instalações em acentuada degradação

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O contexto económico, marcado pela crise iniciada em 2014, levou a que, em 2016, a maior bolsa de negócios, a Filda, não tivesse lugar.

A situação ‘afugentou’ os investidores e deixou o espaço no Cazenga, sob gestão da Fil, liderada por Matos Cardoso, em estado de abandono, sendo vandalizado, como relatam os poucos seguranças que ainda aí resistem. Mesmo com os serviços de vigilância de duas empresas, portões, portas e janelas e o material sanitário estão a desaparecer.

Há ainda o drama dos mais de 60 trabalhadores ‘caidos’ no desemprego. “Estamos a passar por uma vergonha total. Por causa da pressão psicológica, entre nós, muitos estão doentes e outros infelizmente já morreram. A situação não está para menos”, lamenta um dos antigos trabalhadores da Fil.

A Fil deixou um passivo ‘pesado’ ao Estado, sobretudo para com os empregados, admitia, no ano passado, ao VALOR, Dalva Ringote, que esteve à frente do Instituto de Fomento Empresarial (IFE), tendo considerado que, sendo o Estado um ente de bem, o Governo assumiu muitos dos compromissos e que, a qualquer altura, daria uma resposta positiva aos funcionários que, como garantiu, não estão abandonados. A meio de 2018, os antigos trabalhadores continuam, no entanto, a aguardar pelos vencimentos em atraso.

Considerando o ‘fardo pesado’ deixado pela gestão de Matos Cardoso, em 2017, quatro empresas rejeitaram o desafio do Governo de organizarem a Filda, alegando incapacidade financeira. A Eventos Arena assumiu 100% dos custos.

A empresa, liderada por Bruno Albernaz, contou apenas com apoio institucional do Estado, que facilitou a concessão do espaço, vistos e serviços alfandegários. “Foi uma feira possível e que a Eventos Arena conseguiu realizar em tempo recorde e com meios próprios, apesar da reclamação do espaço muito apertado, na baia de Luanda”, afirmou o empresário. A Filda é uma feira de negócios que junta anualmente, desde 1983, empreendedores nacionais e estrangeiros para exporem produtos e serviços, assim como estabelecerem contactos para negócios. A sua última edição, em 2017, também foi promovida pelo MEP em parceria com a Eventos Arena, e decorreu sob o lema ‘Diversificar a economia e potenciar a produção nacional, visando uma Angola auto-suficiente e exportadora’. O evento contou, na altura, com a participação de mais de 10 países convidados e mais de 200 expositores.

O número de expositores tem vindo a cair vertiginosamente, para 255 no ano passado, quando em 2015 estiveram 930 empresas de 40 países, com o volume de negócios a atingir os 11 milhões de dólares. Neste mesmo ano, o bilhete de ingresso foi vendido a três mil kwanzas.