ANGOLA GROWING
César Silveira

César Silveira

Editor Executivo do Valor Económico

COMUNICAÇÕES. Telstar ganha concurso para a quarta operadora, mas a escolha da empresa angolana, criada em 2018, provoca interrogações sobre os critérios do concurso. Ministério garante que foi transparente e empresária apresenta uma das razões para as desistências das empresas internacionais.

PETRÓLEOS. Modelo de contrato é apontado como uma das causas da dificuldade de a petrolífera nacional negociar parte do activo. Trata-se do serviço de risco, quando o contrato de partilha de produção é o mais usual e o que mais agrada aos investidores.

‘Vos não sereis a primeira vítima, outros, dentro e fora do partido, foram sacrificados para que o MPLA tivesse a força que tem. Caros camaradas, alguns de vocês terão de cair para evitar que caiamos no descrédito com sérias consequências para a nossa manutenção como força dominante’.

Se não é este o discurso nos grupos mais restritos do MPLA, era preferível que fosse. Seria mais compreensível, menos chocante e repugnante do que ouvir o também Presidente da República a deixar a entender que o objectivo do partido, ao combater a corrupção, é garantir a manutenção do partido como força dominante do país.

O combate à corrupção não pode ter como principal objectivo a manutenção do MPLA, partido cujos militantes já deram provas de não terem coragem de criticar, apoiando as decisões e práticas do líder mesmo quando estas significam danos para o Estado.

O combate à corrupção deve ser movido principalmente pelo interesse do Estado, ainda que o sucesso possa representar a queda do MPLA. Um discurso nesta perspectiva estaria mais à altura de um estadista. A mensagem deve ser no sentido de mostrar disposição de tudo fazer para pôr em prática o discurso da ‘tolerância zero’ para com a corrupção. Mas o que ficou implícito é que o MPLA sente a necessidade de fazer alguma coisa apenas para não continuar a nada fazer e a ficar cada vez mais fragilizado.

Pode parecer que, ao trabalhar para merecer a confiança do povo, o MPLA estaria necessariamente a servir o Estado. Não é bem assim. A ter como interesse imediato inverter a tendência de perda de votos das duas últimas eleições, o partido facilmente colocaria em segundo plano os caminhos que exigissem, por exemplo, três ou mais anos para o alcance de resultados positivos e sustentados, caso estes caminhos estivessem em conflito com o que garantisse a vitória imediata nas eleições.

Parece uma decisão tomada. Alguns camaradas, e preferencialmente pessoas e nomes sonantes, terão de ser sacrificados em nome da manutenção do MPLA como força dominante.

Se necessário for, o próprio Estado poderá ser sacrificado em nome do MPLA, como pode já ter acontecido no caso Jean Claude Bastos de Morais. É legítimo pensar que sim. Porque é que se aposta na publicidade do valor supostamente recuperado e não no que deixámos de receber, ao se interromper as aplicações que estavam em curso?

Portanto, parece uma decisão tomada. Salvar o MPLA depois da perda de votos nas últimas eleições. A dúvida é se a estratégia resulta apenas da agenda de João Lourenço ou se de um plano devidamente elaborado ainda antes da saída de José Eduardo dos Santos.

César Silveira, Editor Executivo Valor Económico