ANGOLA GROWING
César Silveira

César Silveira

Editor Executivo do Valor Económico

Sim, Nelson Mandela tinha mais razões para não perdoar do que José Eduardo dos Santos porque, enquanto prisoneiro, terá sofrido abusos e maltratos pessoais, situações susceptíveis de provocar rancor a qualquer ser humano. Enquanto Presidente da República, José Eduardo dos Santos, em princípio, estava protegido. Por ele outros homens teriam de dar o corpo às balas ou ao chicote se necessário fosse. Ainda assim, o caminho do perdão e da reconciliação que escolheu perante a fragilidade da UNITA, depois da morte de Jonas Savimbi, também demonstra a sua capacidade de perdão. Maior ou menor que a de Mandela? Mas suficiente para, no caso de perdão, o barómetro para indicação de referências políticas, merecer reconhecimento por parte de qualquer angolano.

O Presidente da República, João Lourenço, entretanto, preferiu ficar-se por Nelson Mandela por orientar “o seu povo a não perseguir ninguém, antes pelo contrário, a fazer a paz e perdoar aqueles que fizeram mal ao povo sul-africano de uma forma geral”. Justificou-se em entrevista à RTP, em mais uma exclusiva a um órgão internacional contra as duas colectivas aos órgãos nacionais. Duas situações que deixam transparecer a dificuldades em aceitar e reconhecer os de dentro. É necessário olhar-se mais para dentro e não apenas para criticar.

Quem acompanha o mundo do futebol está, nos últimos meses, perante provas de que, muitas vezes, a solução de determinado problema está em casa. Quando já pareciam totalmente mortas, as equipas de futebol do Benfica e do Manchester United foram transfiguradas por treinadores ‘de casa’. Bruno Lage (Benfica) e Solskjaer (Manchester United) precisaram apenas do apoio, conforto e o voto de confiança de quem manda. Exemplo que pode servir para o tratamento que se deve dar aos empresários nacionais. É preciso não matar o já fragilizado empresariado nacional por força da necessidade e vontade de se mostrar ao potencial investidor estrangeiro que existe no país um melhor ambiente de negócios. Existirão entre nós alguns ‘lages’ e ‘solskjaers’.

César Silveira, Editor Executivo Valor Económico

A Angomédica e a Cimangola podem ser confiscadas pelo E s t a do p or supostas irregularidades nos respectivos processos de privatização. Foram temas de destaque na semana passada. No caso da Angomédica, coube à ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, ‘dessegredar’ a intenção do Governo. Foi curta e objectiva. Considerou “pouco claro” o processo que data de 2005, e o favorecido foi a Fundação Eduardo dos Santos, segundo revelou a governante.

Contrariamente ao caso da Angomédica, o da Cimangola não teve como portador qualquer voz ocial. Tratou-se de um ‘furo’ jornalístico. Não desmentido nem con- rmado. Esclareceu, sim, a própria Cimangola, garantindo que o processo foi transparente e que não usou fundos públicos nem para a compra nem para a modernização da unidade industrial.

O surgimento dos dois assuntos na mesma semana é, certamente, suficiente para os mais ousados nos pensamentos acreditarem que se trata de um ensaio propositado sobre como será o ajuste de contas com as empresas privadas supostamente criadas com fundos públicos. Por ora, a única certeza é que existe uma comissão criada pelo Presidente a avaliar as empresas privadas nestas condições.

Independentemente dos argumentos das partes, para cada um dos casos que se vier a provar terem sido criados com fundos públicos, o estado actual das respectivas unidades deveria ser fundamental na abordagem e tratamento dos dossiês.

Parece ser pouco inteligente confiscar para o Estado uma empresa que se tornou robusta por força da estratégia do privado, quando existe consenso sobre a necessidade de o Estado deixar o sector empresarial por comprovada incapacidade. Mais quando o Estado ainda luta com processo de privatização de outras dezenas de empresas e nada garante que serão processos exemplares em termos de transparência.

Parece pouco inteligente tratar com apenas um “dá cá esta empresa” tanto quem se limitou a transformar em armazém uma unidade fabril funcional, como quem pegou numa unidade em crise e a transformou numa referência. Ainda que o processo tenha sido repleto de irregularidades? Sim, considerando que que a privatização por negociação directa continua a constar entre os possíveis modelos.

 

César Silveira, Editor Executivo Valor Económico

Quando ainda faltam pouco mais de três anos para a conclusão do primeiro mandado de João Lourenço, e de mais um do MPLA, na liderança do país coloco-me entre os pessimistas em relação à promessa de criação de 500 mil empregos até 2022. Entre aqueles que duvidam no cumprimento da referida promessa e há argumentos para esta posição.

O cumprimento impunha a criação média anual de 100 mil empregos e a realidade mostra que os primeiros 15 meses foram nulos. Ou seja, o desafio impõe, agora, a criação média anual de mais de cerca de 167 mil empregos nos próximos três anos. Nada do outro mundo. Os números, por si só, são alcançáveis. Angola não seria o primeiro a conseguir. Em 2017, por exemplo, em Portugal terão sido criados 172,3 mil empregos, enquanto nos Estados Unidos estimou-se mais de mais de dois milhões.

No entanto, a realidade diz-nos que seria necessária uma reviravolta considerável, tendo em conta a realidade económica actual, caracterizada pela incapacidade da banca financiar o empresariado e deste desenvolver novos projectos. Pela maior necessidade das empresas em desempregarem do que criarem novas oportunidades devido o necessário exercício de sobrevivência imposto pela falta divisas e, sobretudo pela desvalorização da moeda. Caracterizado pela falência de empresas.

E se juntarmos a estes pressupostos as decisões administrativas como a do BNA que decretou o encerramento de três bancos e, sequencialmente, criaram perto de 1.000 desempregos, criar apenas 500 mil empregos até 2022 seria uma fraude. O MPLA deve focar-se agora na criação de, pelo menos, 700 mil empregos.

PETRÓLEO. Além do aumento do preço do petróleo, contas terão sido beneficiadas pelo efeito do câmbio, considerando que o petróleo tem o dólar como moeda de negociação e o relatório é apresentado em moeda nacional. Exportações do bloco mais produtivo reduzem 10%.

 

06 Feb. 2019

Brilho esperançoso

realização, na semana passada, do primeiro leilão de diamantes brutos em Angola, em que participaram 31 empresas para a compra de sete pedras de grande quilate. é daquelas práticas que, salvo se o processo for viciado, dificilmente não reúne consenso pela positiva.

Tratou-se do primeiro grande acto depois da aprovação, em Julho de 2018, da alteração da política de comercialização do diamante, acabando com o modelo da venda aos clientes preferenciais, cujo número de críticos era largamente superior ao dos que apoiavam. Tanto pelas desvantagens económicas para os cofres do Estado e das empresas produtoras como pela falta de transparência no critério de escolha dos clientes preferenciais. Portanto, o fim do referido modelo era, efectivamente, um dos males a ser corrigido.

Seis empresas foram vencedoras, neste leilão histórico, que proporcionou receitas de 16,7 milhões de dólares. Segundo Stephen Wetherall, presidente da comissão executiva da Lucapa Diamonds, accionista de referência da Sociedade Mineira do Lulo, “os preços oferecidos pelo grande número de ‘players’ internacionais que participaram neste histórico leilão em Angola reflectem o verdadeiro valor dos diamantes”. Ou seja, foi positivo.

Portanto, o acto motiva que se olhe com esperança para o futuro do negócio dos diamantes em Angola e, sequencialmente, o seu contributo no PIB. Motiva acreditar que Angola pode, sim, vir a transformar-se num mercado internacional de diamantes que tanto África precisa para melhor ganhar com o negócio.