Filomena Oliveira questiona contratação da Bloomberg
INVESTIMENTO. Empresária reage à contratação da agência norte-americana para a captação de capital estrangeiro, sugerindo mesmo que o Governo violou a Lei da Publicidade.
A empresária Filomena Oliveira coloca em causa a política de captação de investimento externo do Governo, após o anúncio da contratação da agência de lobby Bloomberg, interrogando se o Presidente da República sabe que empresários estrangeiros sérios “não são impressionados com campanhas de publicidade”.
Notando que Angola vai “torrar mais de 40 milhões de dólares, numa campanha de publicidade e marketing agora na Bloomberg”, acrescenta que o valor é “bem preciso para a nossa produção nacional”. “Ou mesmo, por exemplo, para retirar o município do Curoca da pobreza extrema em que se encontra, ou apoiar o sector dos serviços em Angola, que não beneficiaram até agora de qualquer alívio económico, incluindo as Agências de Publicidade e Marketing de Angola”, lê-se na reacção enviada ao Ministério da Economia e Planeamento e a que o VALOR teve acesso.
Filomena Oliveira considera ainda não ser necessário sair-se do país para “atrair investidores sérios”, sugerindo que “basta trabalhar com as embaixadas acreditadas em Angola”. “É nos serviços de inteligência corporativa e de ambiente de negócios contidos nos relatórios mensais dos adidos comerciais e embaixadores enviados aos seus governos e representantes da classe empresarial dos seus países, que os potenciais investidores são motivados a investir no país e não em campanhas de publicidade”, argumenta.
E questiona: “quantos investidores foram atraídos com a anterior campanha na CNN? Quanto foi gasto? Há um relatório com as lições aprendidas desta campanha? Serviu de base para esta decisão?”. Oliveira interroga ainda se João Lourenço foi informado de que se trata de “uma campanha sem objectivos mensuráveis”. “Será que o Senhor Presidente da República sabe que empresários estrangeiros que são sérios consultam os relatórios das suas embaixadas em Angola e relatórios das várias Agências das Nações Unidas, e não são impressionados com campanhas de publicidade?”, insiste.
“Desculpem, muito gostamos nós de andar a ‘fazer de conta que somos especiais’, a esbanjar dinheiro à toa, para promover dois ou três contratados do Estado e com a contínua arrogância de não consultarem todos os ‘stakeholders’ de Angola, sem um projecto com os requisitos e o âmbito validados, e claramente sem objectivos mensuráveis. Investimento em marketing é um investimento que requer o seu retorno mensurável”, acrescenta.
Violação da Lei da Publicidade
Por outro lado, Filomena Oliveira acusa o Governo de ter violado a Lei da Publicidade, lembrando que a mesma define que “toda a publicidade institucional em Angola deve ser feita através de agências registadas em Angola, e através de concurso público” e questiona se “foi isto que foi observado”, bem como se “foi a AAEPM (Associação Angolana das Empresas de Publicidade e Marketing) consultada”. “Até quando é que o próprio Estado vai violar as próprias leis aprovadas em Assembleia da República e a concorrer directamente com as empresas em Angola? Já não basta estarem a ‘canibalizar’ as MPME com o não pagamento atempado da dívida do Estado por produtos e serviços efectiva e comprovadamente usufruídos? É assim que estamos a corrigir o que está mal e a promover a produção nacional com serviços nacionais? Afinal, qual é a estratégia económica do país? Ou será que continuamos no faz de conta?”, remata a empresária.
Em Abril, o Presidente João Lourenço autorizou despesas, sem avançar o valor, para “a contratação de serviços de marketing, actividades tendentes a acelerar a captação de investimento privado externo e a identificação de investidores”, delegando competência ao PCA da Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações. Agora em Agosto, António Henriques da Silva revelou que o Governo assinou um contrato de dois anos com a agência norte-americana Bloomberg, que já está em fase de implementação, visando a captação de investimento entre os clientes da multinacional.
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