INFLAÇÃO. Angolanos viram os seus rendimentos desvalorizados durante o período eleitoral. O INE trabalha nos dados de Agosto que, segundo fonte daquela instituição, não fugiram a tendência de subida. O Índice de Preços do Consumidor Nacional (IPCN) registou uma variação de 4,26% de Junho a Julho, justitificada pelo alteração de preços nos armazéns grossistas no período eleitoral, apontam dados do Instituto Nacional de Estatísitca (INE), a que o VALOR teve acesso. Segundo o IPCN, de Julho, a classe da alimentação e bebidas foi a que maior variação teve e, consequentemente, a que mais influenciou o aumento dos preços da cesta básica, atingindo os 0,80 pontos percentuais. Em relação à variação homóloga (face a Julho do ano passado), os dados do INE indicam que a oscilação de preços foi de 0,5 pontos percentuais para 4,5%. Fonte do INE avançou ao VE que a instituição já se encontra a compilar os dados referentes a Agosto que mantêm a tendência de subida verificada no mês anterior. Os dados do INE reportam os preços médios de alguns produtos levantados em cerca de 20 mercados, 100 lojas e estabelecimentos em toda a província de Luanda, mas também fazem uma incursão às restantes 17 províncias. No mercado informal, segundo constatou o VALOR, a variação de preço, nos três meses que marcaram a disputa eleitoral (Junho, Julho e Agosto), foi mais acentuada em alguns produtos, chegando a atingir os 100%. É o caso do litro de óleo vegetal que passou de 300 em Junho para 600 kwanzas em Julho. Ou o saco de arroz de 25 quilos que disparou 50% para os 4.500 kwanzas. Estes preços encontram um salário mínimo fixado em 16.503,30 kwanzas, conforme decreto presidencial de 07 de Junho. O economista e investigador do Centro de Investigação Cientifica (CEIC), da Universidade Católica de Angola Preciso Domingos entende que a subida de preço em períodos eleitorais “é normal”, seguindo o princípio da procura agregada (procura total de bens e serviços numa dada economia para um determinado momento e nível dos preços). O economista lembra que, quando há maior procura agregada sem a capacidade de oferta, como é o caso que se regista em Angola, ocorre a subida de preços, a curto prazo.
José Zangui
DISTRIBUIÇÃO. Novos investimentos têm, como meta, a expansão ?da rede para mais cinco províncias e consolidar a presença em Luanda. O plano de expansão da rede Alimenta Angola prevê um investimento de 180 milhões de dólares nos próximos seis anos, adintou, ao VE, o director de operações da empresa, Luiz Mattos. Com o arranque previsto para este ano, o plano inscreve a construção de duas lojas por ano, ao custo de 15 milhões de dólares por unidade, e, além da consolidação de Luanda (onde conta com três lojas e um centro de distribuição), prevê alargar a rede ao Huambo, Kwanza-Sul, Malanje e Benguela e Huíla. Pelos cálculos do director de operações, cada nova loja vai empregar directamente 220 funcionários, sendo que as três que já funcionam em Luanda, (Camama, Viana e Centralidade Zango 0 mais o centro de distribuição), criaram, até ao momento, 890 postos de trabalho. O projecto Alimenta Angola Cash and Carry teve início em 2005 e consiste na instalação de lojas e armazéns, preparados para atender os pequenos e médios empresários dos mais diversos ramos de actividade, como hotéis, restaurantes, bares e mercearias. Em 2012, um dos supermercados da rede Alimenta, localizado em Viana, Luanda, ficou totalmente destruído em consequência de um incêndio. Na altura, reportaram-se elevados prejuízos materiais na ordem de milhares de dólares. Luiz Mattos avança que a loja de Viana foi completamente reconstruída e está em actividade desde 2014, tendo integrado todos os seus trabalhadores, cerca de 200. Nas palavras do director de operações do Alimenta Angola, a empresa “não está voltada apenas para a realização económica, mas também para a responsabilidade social com a comunidade em que está inserida”.
PESQUISA. Cabinda é colocada como a província em que as mulheres são mais independentes na decisão na gestão dos próprios rendimentos. Kuando-Kubango aparece no outro extremo. Um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE), baseado no Inquérito de Indicadores Múltiplos, conclui que 40% das mulheres casadas ou em união de facto e que têm emprego remunerado decidem sozinhas sobre como gastar os seus rendimentos, ao passo que 42% participa da decisão sobre como gastar o dinheiro do marido. O levantamento que se cinge no empoderamento da mulher angolana assinala que 16% das inquiridas declararam que são os maridos que tomam as decisões de como gastar o dinheiro da mulher. Em relação à perspectiva provincial, 75% das mulheres de Cabinda têm poder de decisão sobre como gastar o seu dinheiro, enquanto cerca de 66% tem o controlo sobre o dinheiro auferido pelo esposo. Os números de Cabinda são o dobro e o triplo da média nacional, estimado em 40% para os rendimentos próprios da mulher e 20% para os rendimentos do marido. O INE classifica, como emprego, qualquer actividade económica que a pessoa tenha exercido durante o período do inquérito, de 18 meses. Entre 2015 e 2016, o INE entrevistou mulheres e homens em idade entre os 15 e 49 anos, casados ou em união de facto. Contrariamente às mulheres de Cabinda que têm poder de decisão sobre como gastar os seus rendimentos, as mulheres do Kuando-Kubango são as que mais decidem em conjunto com o marido sobre como gastar o dinheiro. Segundo o INE, o poder de a mulher participar no orçamento doméstico é um indicador de empoderamento desta franja da população. Os dados do Censo Geral da População e Habitação 2014 declaram que existem 2.166.308 cidadãos casados. Deste número, 1.070.570 são homens, enquanto 1.095.738 são mulheres. HOMENS COM MAIS TELEFONES O mesmo estudo traz ainda um inquérito relacionado com o uso de telemóveis em Angola. A respeito, conclui que o uso deste meio é mais frequente nos homens, que representam 70% dos usuários contra 51% das mulheres. De acordo com o INE, a posse de telemóvel é mais elevada na área urbana onde 81% dos homens e 66% das mulheres possuem telemóvel. Em Luanda, três em cada quatro mulheres possuem telemóvel, contra um em cada cinco mulheres, na província do Bié, por exemplo.
PRODUÇÃO DE LEITE. Banco de Desenvolvimento de Angola financiou o projecto que prevê uma produção diária de 42 mil litros na sua fase mais avançada. A instalação dos equipamentos da bacia leiteira do Huambo, cuja primeira pedra foi lançada em 2011, deve arrancar este ano, avançou o presidente da Cooperativa dos Agricultores do Huambo. Em declarações ao VALOR, José Dumbo referiu que o projecto ficou encalhado durante seis anos devido a dificuldades financeiras. Entretanto, o “obstáculo ficou ultrapassado”, depois de o governo do Huambo ter conseguido um financiamento de 90 milhões de euros, junto do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA). O valor vai ser repartido entre o apoio aos produtores de vacas leiteiras e a construção da fábrica e, segundo Dumbo, há outros bancos interessados em financiar o projecto. A Bacia Leiteira é um projecto de iniciativa privada da Cooperativa dos Agricultores do Huambo que congrega 35 fazendas de produção de gado. Inicialmente, o arranque do projecto estava previsto para 2013, no âmbito do crédito agrícola de campanha, mas os prazos não foram cumpridos. O projecto terá uma capacidade de produzir 42 mil litros de leite/dia e inclui linhas de produção de derivados, como iogurte, manteiga e queijo. O fornecimento do leite ficará a cargo dos criadores de vários pontos da província. José Dumbo considera “insuficiente” a capacidade actual das 35 cooperativas do Huambo para atender a central de transformadora, pelo que, numa primeira fase, a produção vai ficar-se pelos dois mil litros/ dia, admitindo aumentos à medida que a criação de gado for crescendo. O responsável da cooperativa considera que a produção de leite garante “muito emprego”, numa cadeia de valor que envolve fazendeiros, operadores de máquinas e operadores fabris. “O arranque, que se prevê ainda para este ano, é uma vitória também para os pequenos produtores que têm até cinco gados e que, desta forma terão mercado”, antecipa Dumbo. Numa primeira fase, a bacia leiteira prevê empregar duas mil pessoas, prevendo dobrar os postos de trabalho quando atingir a sua capacidade instalada. A produção de leite no país teve o seu ponto alto em 2009, no projecto Aldeia Nova, no Kwanza-Sul, que continua a ser o grande fornecedor da matéria-prima à Lactiangol. A Lactiangol é a única empresa que produz, produtos lactos em grande escala, no país. Aldeia Nova produz actualmente 86 mil litros/dia, capacidade que deve aumentar este ano para 120 mil litros/dia, em consequência da entrega de 200 cabeças de gado bovino a 40 famílias de produtores. A Bacia Leiteira é uma zona de abastecimento formada por propriedades agrícolas que se dedicam à actividade de produção de leite numa região fisiográfica, canalizada para um processador e destinado a um centro de consumo. A PRIMEIRA pedra para a construção da Bacia Leiteira do Huambo foi lançada pelo então ministro da Agricultura, Afonso Pedro Canga, em 2011, que, na altura, apelou aos industriais, agricultores e outros intervenientes para integrarem o projecto.
Responsável por 50% da quota de mercado das bebidas nacionais, o grupo Castel reclama, ainda assim, a existência de maiores incentivos, nomeadamente a nível da taxa aduaneira, defendendo que esta deveria ser mais agravada para os produtos importados. O administrador delegado do grupo, Philippe Frederic, revela, em entrevista ao VALOR, o ‘segredo’ como o principal ‘player’da ‘guerra das cervejas’, em Angola, uma aposta que, segundo diz, passa pela aposta na produção da matéria prima localmente, visando a poupança das divisas. Que avaliação faz do mercado das bebidas em Angola, em termos gerais? O país tem 40 empresas de bebidas, entre cerveja, água e refrigerantes. As quantidades produzidas já respondem às necessidades do mercado, que estão estimadas em cerca de três biliões (mil milhões) de litros. Nos últimos anos, houve grandes investimentos na indústria de bebidas. O sector cresce perto de 4% ao ano e é responsável por mais de 12 mil postos de trabalho directos. Mas ainda temos interferências de importadores que representam 20% da quota do mercado. A indústria de bebida é a que mais cresce no conjunto da economia? Exactamente. A indústria das bebidas é a que mais cresce, seguida da indústria cimenteira, salvo erro. Há empresas que fizeram investimentos fortes. É o caso do nosso grupo e da Refriango. Angola não precisa de importar cerveja, água nem refrigerantes. Mas, ainda assim, importa. Acho normal não fechar as fronteiras, mas o produto importado deveria ter uma taxa aduaneira mais agravada, porque é luxo e não necessidade. Ou seja, considera que o mercado ainda consome muita bebida estrangeira… Felizmente reduziu bastante o nível das importações, mas não consigo quantificar em que percentagem. De qualquer forma, hoje Angola não precisa de importar qualquer tipo de bebidas. O país dispõe de 12 fábricas de cervejas. Há outras em construção. A capacidade de produção já ultrapassa o consumo nacional. A nível dos refrigerantes (sumos e gasosas), não precisamos de importar. O sector das águas é dos que mais cresce, mas, infelizmente, ainda vemos águas importadas no mercado. A pauta aduaneira deveria proteger mais a produção nacional. É notável a redução das importações das bebidas, mas é, sobretudo, devido à escassez de divisas e não de medidas aduaneiras. E a concorrência entre produtores locais? Não pensamos nela. Temos feito a nossa parte, apresentando produtos de qualidade e com preços atractivos. Para dar um exemplo, baixamos os nossos produtos, cerveja e refrigerantes, em 10% para não perder a quota de mercado. Neste momento qual é a quota de mercado que o grupo Castel detém no mercado? Actualmente, boa parte dos produtos é feita pelo grupo Castel e as importações representam apenas 20%. Portanto, a quota de mercado do grupo Castel rondará entre os 45 e 50%, do que é produzido localmente. Contudo, o mais importante é atender o nosso consumidor com satisfação e sentimos esta adesão, que estimamos dominar entre os 45%. O grupo Castel tem exportado parte dos seus produtos para Portugal. Nessa altura, como está esse processo? Exportava muito pouco para Portugal, cerca de quatro contentores por mês. E, devido a algumas taxas muito altas, que penalizam as exportações dos nossos produtos, tivemos de reduzir. Estamos a discutir com o Governo para retirar as barreiras às exportações. Entendemos que, tal como os outros países, deveriam criar-se incentivos às exportações. Em quanto reduziram as exportações para Portugal? Os portugueses gostam de consumir a Cuca. Gostaríamos de exportar muito mais para trazer divisas, mas isso só seria possível com alguns incentivos. Por isso, reduzimos as nossas exportações em cerca de 50%. Ou seja, de quatro para dois contentores por mês. Fora de Portugal, há outros destinos dos vossos produtos? Os nossos produtos são vendidos aos países vizinhos, sobretudo aos dois Congos, mas não de forma directa. São os nossos clientes grossistas que os fazem lá chegar. Da informação de que dispomos, os nossos produtos são bem aceites lá, sobretudo no formato em lata. Mas os Congos não constituem o nosso foco de mercado de momento. Até porque, só para dar um exemplo, o Congo Democrático tem mais de 10 cervejeiras. Quantos produtos actualmente o grupo tem no mercado nacional? Entre cervejas e refrigerantes, temos 100 produtos, em latas e garrafas, entre retornáveis e descartáveis. Importa referir também que, das 12 cervejeiras que operam no mercado, o grupo Castel é detentor de nove. Nos últimos três meses, lançámos a Dopel em lata. Abrimos, há três semanas, a linha de produção da Eka, em Bom Jesus, Luanda, produto que, tradicionalmente, era feito no Dondo, Kwanza-Norte. E qual foi o investimento nos novos produtos? Não foi muito, porque estamos a utilizar as fábricas e as linhas existentes. Fizemos uma campanha publicitária que tivemos de pagar. São campanhas que custam centenas de milhares de kwanzas. Mas não gastámos muito, porque utilizámos as capacidades existentes. Como o grupo tem gerido a aquisição das embalagens, face à crise de divisas? Desde o início, o grupo optou pela redução das importações. Desta forma, as divisas deixam de sair. Temos a Vidrul que nos fornece as garrafas. Deixámos de importar garrafas há dois anos. A Angolata não é do grupo, mas temos com ela um contrato e somos o principal cliente desta empresa. É claro que estamos a pagar mais caro na compra das latas de diferentes formatos. Agora estamos a atacar o assunto das matérias-primas, como referi com o projecto de produção de milho. Essa experiência na área agrícola está a corresponder às expectativas? Já está lançado o projecto agrícola no terreno da SEDEPAC, em Capanda, Malanje. Estamos a utilizar a área para a plantação de milho necessário à produção do gritsde para produzir a cerveja, que prevemos deixar de importar dentro de dois anos. É um investimento que ronda entre os 35 e 40 milhões de dólares. O grupo Castel já compra o açúcar localmente? Sim, temos um contrato de fornecimento de açúcar com a Biocom, em 100%, para as cervejas. Gastamos 1.000 toneladas por mês e outras toneladas para as gasosas. Os preços facilitam? Não posso apresentar dados exactos, mas fica mais barato importar. Entretanto, comprar na Biocom não precisa de divisas. Esta é a vantagem. A estratégia é poupar divisas. Quantos trabalhadores o grupo Castel emprega actualmente? Temos 5.800 empregos directos, mas há outros empregos indirectos, os criados pelos nossos clientes grossistas e retalhistas. São muitos empregos já criados se olharmos para toda uma cadeia. O grupo pensa em investir também no segmento das águas? Temos algumas ideias que não posso revelar, por uma questão de estratégia de mercado. É mais fácil fazer água do que cerveja. Há muitas fábricas, no mercado, e estamos a pensar seriamente sobre se entramos ou não neste segmento. Que novos investimentos o grupo espera realizar ainda este ano? Vamos apostar na qualidade e na divulgação dos nossos produtos, essa é a prioridade. De resto, devo dizer que, apesar do período de crise, estamos a lançar novos produtos, como já referi anteriormente, o que demonstra a força do grupo, embora com muitas dificuldades, sendo a principal delas, o acesso às divisas para a compra de equipamentos para as fábricas. O acesso às divisas contínua difícil, apesar das conversações com os ministérios da Economia e Indústria. Optamos por utilizar, cada vez mais, as cartas de crédito, mas estamos a viver uma gestão difícil. Enquanto francês, que visão tem sobre Angola? É um país que tem futuro. Um país rico. Não falo apenas do petróleo, pois, para mim, a riqueza está no homem angolano e na água. O rio Kwanza é uma grande riqueza que deve ser protegida, porque o petróleo pode acabar um dia, mas a água ainda demora muito. Angola precisa de muita água para desenvolver a agricultura e diversificar a sua economia. PERFIL Philippe Frederic, de 55 anos de idade, dos quais 30 a trabalhar em Angola, é formado em gestão e finanças. Entrou no país para trabalhar no ramo dos petróleos, onde trabalhou durante 23 anos, chegando a exercer o cargo de director geral da Petromar. É administrador delegado do grupo Castel, em Angola, há oito anos.
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