ANGOLA GROWING
Lúcia de Almeida

Lúcia de Almeida

ESCULTURA. Autor da exposição ‘A Lenda da Transformação’, Jone Ferreira prevê inaugurar, nos próximos meses, o ‘Museu do Lixo’, em Belas, Luanda. O objectivo passa por fazer uma “revolução” nas artes, usando material reciclado, representando figuras históricas e políticas do país e do mundo.

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Jone Ferreira, de 29 anos, começou a mostrar interesse pelas artes plásticas e pela escultura ainda na infância. O sonho de se tornar profissional viria a tornar-se realidade aos 15 anos, quando transformou as máscaras dos ‘Power Rangers’, ainda na terra que o viu nascer, Kwanza-Norte.

Além de dedicar o tempo às artes, ensina um grupo de jovens a esculpir, pintar e a desenhar.

Além disso, é fundador e professor da Escola da Fraternidade União Arte Angola Motor Ecológico, uma instituição que trabalha para o desenvolvimento sociocultural e que visa resgatar os valores morais e culturais dos povos.

Jone Ferreira trabalha essencialmente com material reciclável (alumínio e ferro, restos de carros velhos, combustível, papelão, entre outros) para poder construir esculturas imponentes, representando figuras históricas e políticas do país e do mundo.

Com este método, pretende fazer uma “revolução” no campo da ciência artística. “Este método, que visa demonstrar um padrão de transformar o ‘lixo em luxo’, é um padrão de transformação, restituição e recuperação de certos resíduos e não só. A ideia é que este seja um projecto contínuo”, esclarece o jovem.

Para dar corpo à ideia, Jone Ferreira criou um projecto denominado ‘Museu do Lixo’, que pretende dar sequência à exposição ‘A Lenda da Transformação’, que esteve patente no Espaço ELA, em Luanda. Tanto a exposição como o projecto têm como objectivo atrair visitantes e, de certa forma, sustentar o turismo em Angola. “Dentro do campo científico, a nossa preocupação é transformar as obras em símbolos para despertar valores não só para a diversificação da economia bem como despertar o espírito da africanidade, valores morais e a nossa tradição. Pretendemos transformar a tradição em robótica, transformar um rei do passado em numa proporção actual que visa competir com os legados de desafios científicos internacionais”.

Jone Ferreira está a trabalhar em parceria com o Ministério do Ambiente para que o ‘Museu do Lixo’ seja inaugurado entre Junho e Julho deste ano. Para o mentor, “está a valer a pena”. A iniciativa apesar de estar a receber o apoio que ele considera “necessário” do público, prevê ajudar o Estado a desenvolver a pedagogia social com a arte.

O custo das suas obras variam entre os 400 mil e um milhão de kwanzas, dependendo muito do resíduo recuperado, da temática e do tipo de trabalho.

ARTES PLÁSTICAS. A residir em Angola há dez anos, Dominick Maia, director do Espaço Luanda Arte (ELA), revela os segredos da futura Biblioteca Académica e dos programas de residências artísticas internacionais.

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O que o fez vir para Angola?

Estava para ir viver para o Brasil, mas apaixonei-me por este país e acabei por formar a minha família. Queria sair da Europa porque achava a Europa morta. Trabalhava na banca e o sector enfrentava vários problemas. Já pintei, expus, estive em todas as áreas da arte, experimentei todas as facetas. Angola permitiu-me reinventar-me e tornar-me produtor e galerista .

O que representa o ELA?

O ELA representa o regresso das artes ao centro de Luanda. A baixa era muito rica em arte e cultura. Tínhamos o Elinga e os ateliês na UNAP. Os artistas eram felizes, estavam no centro nevrálgico. Tudo acontece em Luanda e o facto de a Sonangol estar na cidade é um termómetro. Se a Sonangol está bem, o país está bem, se a Sonangol está mal, sofremos com isso. Os artistas precisam de musas inspiradoras. Por exemplo, o sofrimento inspira-nos muito. Em crise, surgem vários escritores, cineastas, músicos que escrevem poemas fenomenais contra o regime, o fascismo, ou uma situação de desigualdade social e económica.

Qual é o objectivo da biblioteca?

O espírito do ELA é que as artes angolanas sejam uma referência mundial. A biblioteca vai permitir isso. O acesso é difícil. Às vezes, não é por má vontade. A prioridade é que a inflação se mantenha em baixo, que haja diversificação da economia. Se continuarmos a passar histórias de forma oral criam-se mitos. Por exemplo, há um grande mito que Che Guevara esteve com Savimbi. Ele nunca esteve com Savimbi. Se não tivermos arquivos históricos, esse mito vai perdurar. Precisamos de ter bases de dados. Na arte não é diferente. O ELA faz pesquisas, acumula documentos, que precisam de estar acessíveis, arquivos, catálogos, desdobráveis que queremos colocar ao dispor do público que tenha curiosidade, paixão por arte e que queira investigar. Há que estudar a origem da arte tribal, podemos criar suportes para a arte académica e para as bibliotecas que vão crescendo em Angola. As bibliotecas acabam por ser quase um testamento de uma época.

Que tipo de livros vai ter?

O nosso foco é a arte contemporânea. Mas haverá livros sobre arte tribal africana, primitiva e cockwé. Para quando está prevista a implementação? Nas próximas semanas, estará resolvido e depois vamos começar a divulgar. Estamos com mais de 150 livros.

Tem apoio de alguma editora?

Não temos apoio de nenhuma editora, nem estamos a pedir.

Em que consiste o programa de residências artísticas internacionais?

As residências são uma forma de ‘vender’ Angola. Não podemos ser só um destino para expatriados trabalharem nas plataformas. Temos muito mais do que isso. Vamos trabalhar primordialmente com artistas angolanos. A forma de estar dos artistas já é, por si só, um pouco solitária. Temos feito protocolos com outros espaços para levarmos artistas angolanos para o exterior. Temos um protocolo com a Delfina Foundation, em Londres, onde levámos os angolanos Binelde Hyrcan, Pedro Pires e Yonamine. Ao trazer um artista da Etiópia, estamos a abrir a porta para que um angolano vá para Addis Abeba. Isso tem de ser pluralista, tem de existir uma curiosidade dos artistas enquanto ele estiver a fazer a sua residência durante os dois meses para que se estabeleçam laços de trabalho e de amizade que claramente vão permitir que depois essa relação floresça.

Quais são os critérios de selecção?

É necessário falar inglês, há que ter trabalho já lúcido. Ainda é prematuro um artista ‘muito verde’ ir para uma residência no estrangeiro. Não basta ter talento, é preciso haver casamento. Uma exposição é algo muito íntimo. Pode haver expectativas e entrando logo num projecto grande, nenhum lado consegue cumprir.

Que custos têm estas residências?

É um custo mitigado. Ao receber alguém, estamos a pagar em kwanzas, enquanto enviar toda a gente para fora é difícil, pela questão das divisas. Não vamos deixar de o fazer, mas temos de ter em conta a situação económica. Temos de trabalhar as duas frentes.

Qual será o primeiro artista a fazer parte do programa?

Temos um plano modesto com um período entre um e dois meses e espaço para um residente de cada vez. Podemos ter até seis residentes num ano. Se começarmos com três ou quatro este ano, será muito bom. Ao trazer artistas internacionais, vamos fazer grandes amizades para que os nossos artistas possam viajar.

De que forma o Estado pode apoiar?

Não é preciso ser em dinheiro. Prefiro que o Ministério da Cultura certifique a galeria. Isso ajuda a convencer. Estou a pedir uma parceria protocolar. Escrevemos cartas ao Ministério e não recebemos uma resposta, mas já tive a felicidade de ter a ministra em várias exposições e sempre que ela não pode, manda um representante.

Ser galerista em Angola é rentável?

É rentável e dá para pagar contas. Tenho a felicidade de ter muitas contas pagas por causa dos patrocínios. Cada vez há mais compradores e muitos anónimos.

Quem pode expor no ELA?

O ELA está aberto a toda a gente. Mas este ano, já estamos cheios. E para o próximo, também estamos a ficar. Damos abertura para conhecermos os artistas. Não achando que somos a última ‘coca-cola no deserto’, queremos contribuir para a prática do artista. Não somos uma prateleira só para expor. Queremos ter um impacto na obra, sobretudo se temos um espaço de residência, ter influência directa no trabalho que vai ser exposto e dar mais alma à obra. Há muitas perguntas a fazer antes de expor, senão isso é como ‘andar aos beijinhos’. Exposição é um casamento, um preparo, uma fase de troca de compromisso, respeito e conhecimento.

O artista paga para expor no ELA?

Não. Aqui não se paga nada. As comissões são na base dos contratos. Quando o artista tem a obra toda, paga 30% de comissão das vendas, quando é através da residência, a comissão é de 50%.

O que falta aos artistas em Angola?

Temos demasiados artistas plásticos porque há a ideia de que é uma profissão. Não estou a dizer que se viva da arte, mas vende-se arte bastante bem. Isso criou um interesse por parte de quem gosta de desenhar. Mas desenhar e pintar não quer dizer que se seja artista. Vemos exposições de jovens artistas que já se acham mestres.

O Governo admite a possibilidade de uma auditoria à dívida pública, que ultrapassou em 2017 os 67% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, conforme reclama o partido político UNITA, noticiou hoje a Lusa.

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A posição foi transmitida na quinta-feira (25) aos deputados pelo ministro de Estado e do Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes Júnior, durante a discussão da proposta de lei do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018, na especialidade, na Assembleia Nacional.

"Em nome do rigor e da transparência da gestão pública, não nos opomos para que sejam accionados todos os elementos legais que assegurem a concretização deste princípio, incluindo auditorias", disse Manuel Nunes Júnior.

Recordando que "ninguém pode ficar acima da lei", o ministro explicou, ainda assim, que o Tribunal de Contas já pode, actualmente, ao preparar o seu parecer, fazer as averiguações necessárias sobre qualquer parte da gestão do país, incluindo a dívida pública. "Portanto, não vemos que esse aspecto não possa ser implementado", disse Manuel Nunes Júnior.

O grupo parlamentar da UNITA propôs a 18 de Janeiro a realização de uma auditoria urgente à dívida pública, que pode ajudar a uma redução significativa desse volume.

A posição foi transmitida pelo líder da bancada parlamentar do partido, durante uma declaração política na Assembleia Nacional, após a aprovação, na generalidade, da proposta de lei do OGE para 2018.

"A auditoria permitirá a redução da dívida de forma significativa, tornaria o seu pagamento viável e não penalizaria os contribuintes. Esta questão pode também ser utilizada como um verdadeiro teste ao discurso oficial de combate à impunidade e à corrupção", disse Adalberto da Costa Júnior.

O ministro das Finanças, Archer Mangueira, explicou no parlamento que em 2018 o Estado vai precisar de contrair 1,128 biliões de kwanzas de dívida, enquanto necessidades líquidas, e que 4,153 biliões de kwanzas serão para pagar o serviço da dívida actual, respeitante a este ano.

Na prática, mais de 50% da despesa pública está direccionada ao pagamento da dívida pública, em 2018.

Adalberto da Costa Júnior questionou que "ganhos reais" trouxe esta dívida, onde foram aplicados os fundos, em que projectos e que mais-valia trouxe. "Foram mesmo aplicados em projectos ou é esta uma fonte de desvios, que ano após ano, afundam mais as contas públicas, com consequência na qualidade de vida de cada angolano", questionou.

Para o político, o grau de sucesso ou insucesso do actual Governo vai depender "muito" da solução que vier a tomar "para o fardo da dívida pública", cuja solução, considerou, não é a traçada pelo Governo no seu Plano de Estabilização Macroeconómica.

"Está mais do que comprovado de que a dívida pública deixou de ser um instrumento de captação de recursos para o Estado realizar investimentos, com reflexos na economia e sobre a vida das pessoas", referiu.

MÚSICA. Uma das vozes mais sonantes da música angolana, Yola Semedo prepara-se para lançar um álbum duplo este ano. Em entrevista ao VE, a ‘rainha’ do carnaval 2018 apela ao resgate do ‘Carnaval da Vitória’. Condena a violência contra as mulheres e lamenta a linguagem em algumas músicas. E critica o Governo pelo “fraco empenho” na cultura.

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É o rosto do carnaval 2018. Como está a preparar-se para enfrentar este desafio?

A partir deste mês, vou apurar a minha dança na rebita, o meu toque ao som do quissanje, e vou fazer o meu melhor para ter um bom desempenho no carnaval. Para além de estar envolvida na musicalidade, é importante a interacção com o público e com a nossa sociedade. Muitos de nós deixámos de olhar para o ‘carnaval da vitória’ como uma data importante para a nossa cultura, nossa nação e irmandade. É importante resgatarmos esse carinho que todos devemos ter pelo que é nosso.

Como vê a música angolana actualmente?

A música está a dar passos saudáveis. Cada coisa no seu tempo. Claro que há muitas coisas positivas e negativas. A música está a crescer e, com esse crescimento e força de vontade, é também importante que comecemos implementar aspectos como mais escolas de música, mais incentivo para que a população se possa virar para esta arte, principalmente a juventude porque, através da música, podemos evitar que vá para as ruas praticar crimes. Se quisermos, podemos tirar bons proveitos da música.

Os músicos têm cumprido o seu papel?

Isso é difícil. Há coisas boas e más. Mas nada está perdido. Uns dos aspectos que mais me preocupa é a linguagem que se está a mostrar. O músico também é um professor e tem a grande tarefa de educar. E isso é um apelo a todos os fazedores de música. É muito importante termos cuidado com o que cantamos, pois a nossa sociedade está a colher.

E o Ministério da Cultura?

Devia estar a fazer mais. Muitas desculpas são formatadas, muito se é dito. O que fazem é muito pouco. Não há nada que possa justificar o tão fraco empenho da nossa cultura.

É considerada ‘diva’ da música angolana. Como vê esse título?

Considero-me uma artista que teve a grande sorte de cair na graça dessa comunidade e, por causa disso, tenho a sorte maior de ter o meu trabalho aceite pela sociedade. ‘Diva’ é uma palavra muito pesada e, às vezes, as pessoas pensam que estou a exagerar. Uma ‘diva’ é uma deusa e, para me considerar uma deusa, tenho de estar no mesmo patamar da Lurdes van Dúnem e ainda falta muito para lá chegar. Um dia, se continuar a trabalhar de forma saudável, com qualidade e a fazer música que possa ficar nesta sociedade, aí sim, vão poder chamar-me ‘diva’. Por enquanto, ainda falta muito.

Como avalia a exposição de artistas nas redes sociais?

Não gosto muito de julgar os seres humanos. Há vários factores que fazem com que as pessoas tenham tais atitudes. Para julgar alguém tinha de ser um ser humano 100% recto. Há muitas coisas que faço que não são correctas, muito antes de julgar tenho de melhorar o que faço de errado e, aos poucos, vamos tentar mudar a forma de pensar. É necessário estudarmos os motivos que levam as pessoas a tal exposição e, a partir daí, podemos ajudá-las a superar. Pode ser uma doença psicológica, pode ser uma necessidade de chegar ao estrelato o mais rápido possível.

Têm crescido os casos de violência doméstica. Como se pode evitar este problema?

Devemos ter em conta o factor desemprego e as necessidades por que todos passamos. Tudo isso acaba por gerar essa necessidade de violência. É uma acção que vamos sempre reprovar e devemos ter em mente que a violência não acontece só com as mulheres. Acontece com crianças e com os homens. Se um ser humano sai à rua à procura de um emprego e é humilhado, não tem como chegar à sua casa e passar amor e compaixão aos seus. É um problema para cuja solução a sociedade devia empenhar-se mais. Podemos ter prédios bonitos, construções de ponta, mas, se a sociedade não estiver preparada e se estiver doente, de nada nos vai valer este desenvolvimento.

É muito caro ter a Yola Semedo num espectáculo?

Como qualquer outro emprego, quando nos organizamos, é possível viver do nosso emprego e com a música não é diferente. Organização quer dizer respeito pelo contratante, respeito pelo público. Quando mostramos respeito pelo nosso trabalho é possível viver da música.

Factura mais com espectáculos ou com campanhas publicitárias?

Uma coisa complementa a outra. Não temos défice de nenhum desses itens. Tudo dá e tudo factura (risos).

Tem algum disco a caminho?

Sim. Um álbum duplo, para o princípio deste ano.

Como tem sido a experiência com a sua filha adoptiva?

Não foi uma situação em que eu e o meu esposo tivéssemos ido a um lar. Foi uma situação de uma fotografia na internet através da qual descobrimos a localização da criança. Senti que a minha filha Weza estava a pedir para ir buscá-la. E hoje sinto que eu é que preciso dela. A Weza é um anjo que veio para as nossas vidas.

PERFIL

Yola Moutofa Coimbra Semedo nasceu a 8 de Maio de 1978, em Benguela, mas foi criada em São Tomé e Príncipe. Actualmente, vive em Luanda. Começou a carreira musical em 1984 no projecto Impactus 4, criado pelos irmãos. Tem quatro álbuns e prevê lançar o quinto ainda no primeiro trimestre deste ano. Yola Semedo é das cantoras angolanas mais premiadas. Em 2007, foi nomeada ‘Diva da Musica’ e ‘Diva do Momento’. Em 1995, ganhou o prémio de ‘Voz de Ouro de África’.

TELEVISÃO. José Guerreiro, novo PCA da TPA, garante ter encontrado um ‘mundo’ de dificuldades e problemas entre dívidas, excesso de trabalhadores e desequilíbrios financeiros “piores do que pensava”.

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José Guerreiro, presidente do conselho de administração da Televisão Pública de Angola (TPA), nomeado há menos de três meses, denuncia a existência de “muitos funcionários ‘fantasma’ na empresa. Apesar de admitir que este seja um “paradigma” das empresas públicas, o gestor garante que “tudo está a ser feito” para que, no final de Janeiro, os ‘fantasmas’ deixem de constar da folha salarial.

Em entrevista ao VE, José Guerreiro garante que as verbas destinadas aos funcionários ‘fantasma’ vão ser “reaproveitas para melhorar as condições de trabalho dos colaboradores que há muito tempo reclamam por melhorias”. Com o dinheiro que vamos economizar, com os tais que não vêm trabalhar e que estão nas folhas de salário, vamos melhorar as condições dos colaboradores que ganham pior. Existem muitos colaboradores a ganhar 50 a 60 mil kwanzas o que é uma vergonha, temos licenciados a ganhar 120 mil kwanzas, não podemos aceitar isso”, declara o gestor, sem avançar o número de trabalhadores fantasmas.

Com 2.616 funcionários, actualmente, a TPA apresenta um quadro de “excesso de trabalhadores com elevadas taxas de absentismo, com problemas sociais e deficientes condições de trabalho, alguns desmotivados e desmobilizados, outros desaproveitados ou mal colocados, sem plano de formação e superação profissional estabelecidos”, precisa Guerreiro.

O gestor assegura que estão a ser tomadas medidas e que, numa primeira fase, a empresa vai estabelecer a organização e recuperar os funcionários para “uma nova visão da empresa”. Pretende também regularizar a situação com formação, reforma e, se necessário, “discutir saídas com indeminizações”. No entanto, afasta, por enquanto, a possibilidade de haver despedimentos.

Além das dificuldades técnicas operacionais, tecnológicas, editorias e de gestão de recursos humanos detectadas pelo actual líder da TPA, José Guerreiro encontrou ainda um “desequilíbrio muito grande” a nível financeiro, até “pior do que pensava”. O que, para ele, “condiciona a execução de alguns planos de trabalho”.

A situação, por exemplo, leva a empresa a estar impossibilitada de transmitir eventos que impliquem avultados investimos. “Temos dívidas muito elevadas, temos dívidas sérias ao Estado (Segurança Social, AGT) a fornecedores de equipamentos, dívidas no exterior para a divulgação de eventos, temos dívidas em relação aos refeitórios, temos alguns biliões de kwanzas de dívidas”, admite, sem especificar valores.

Por agora, a estratégia da nova administração da TPA está centrada em “não contrair mais dívidas e procurar negociar com os credores” e encontrar junto do accionista, o Estado, as condições materiais para a “criação de projectos realistas e seguros com sustentabilidade financeira para os investimentos que forem necessários”.

Polémicas à volta da TPA2

Em Novembro de 2017, o Ministério da Comunicação Social, seguindo instruções do Presidente da República, cessava todos os contratos com as empresas Westside e Semba Comunicações referentes à gestão do Canal 2 e da TPA Internacional. Os dois canais retornaram à esfera jurídica da TPA.

A programação da TPA 2 continuou no ar até 31 de Dezembro de 2017. Em cumprimento das orientações, o conselho de administração da TPA retomou a gestão a 1 de Janeiro de 2018. Mesmo sem apresentar uma nova grelha de programação.

Mas o fim do contrato provocou polémicas, especialmente desencadeadas por Tchizé dos Santos, uma das accionistas da Westside e deputada do MPLA, obrigando a televisão pública a emitir comunicados públicos, esclarecendo o que levou ao desfecho da relação contratual estabelecida com aquelas duas empresas.

De acordo com os contratos a que o conselho de administração teve acesso, assinados entre a WestSide/Semba, TPA e o Ministério da Comunicação Social e renovados em 2014, o total dos pagamentos por ano feitos pelo Estado àquelas empresas privadas ascendiam a 17 milhões e 580 mil dólares.

Além disso, a TPA, segundo a sua adminstração, obrigava-se a pagar a prestação de outros serviços e custos operacionais e de exploração, incluindo o salário dos trabalhadores, colocados à disposição daquelas empresas privadas e o aluguer de meios.

No comunicado, refere-se igualmente que, sem que constasse do contrato, a WestSide dispôs, por vários anos, de um estúdio moderno de 1.200 metros quadrados entregue, “virgem”, para a exploração pela Semba, totalmente equipado, com a mais moderna tecnologia, sem que tenha feito qualquer pagamento.

Uma das cláusulas do vínculo referente à TPA 2, reforça o conselho de administração, obrigava o Estado a adjudicar o Canal 2 à WestSide Investments SA, por ajuste directo, em caso de privatização do mesmo.

A Administração da TPA diz que, por todas estas razões, o Estado decidiu cancelar os contratos, “claramente danosos, assinados com as duas empresas em questão, em defesa dos interesses dos contribuintes e da sociedade em geral”.

Ao VALOR, José Guerreiro revela que as duas partes até tentaram negociar para manter os programas ‘no ar’ até que fossem substituídos pelos novos, o que não foi possível.