ANGOLA GROWING
Lúcia de Almeida

Lúcia de Almeida

DESPORTO. Nos últimos tempos, notabilizou-se na baliza do sete nacional pela segurança nos postes da equipa. Foi uma das atletas mais aplaudidas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Brasil em 2016. Teresa de Almeida, ou simplesmente ‘Bá’, viu-se ‘obrigada’ a ‘falhar’ ao Mundial de andebol na Alemanha, por conta de uma lesão no tornozelo direito. Em entrevista ao VE aguarda-redes entende que faltou “experiência” e “concentração” por parte das colegas para que a selecção angolana alcançasse melhores resultados.

25395170 1812890962055336 1312522101 n

Como foi não participar do mundial de andebol?

Foi muito triste. Saí de Angola lesionada, ainda assim acreditava que conseguiria ajudar a nossa selecção. Fiz quase todo o estágio e, a dois dias para embarcar para França, recebi a notícia de que não podia fazer parte do grupo para o mundial. Foi triste. Apesar de ainda estar lesionada, estou a fazer fisioterapia, acredito que mais um mês estou recuperada. Enquanto isso, dou força às colegas, penso positivo e continuo a lutar para melhorar.

Teve de se contentar a assistir ao mundial pela televisão...

É sonho de todo o atleta jogar no mundial e, dessa vez, não consegui. Foi difícil e, ao mesmo tempo, uma boa experiência.

O que faltou para a selecção obter melhores resultados?

Faltou mais experiência e concentração. A nossa selecção é muito jovem e as outras tinham atletas mais experientes, o que não significa que nós não saibamos jogar. A nossa selecção era uma das mais jovens deste mundial.

A saída do treinador Filipe Cruz influenciou nos resultados?

Prefiro não falar sobre isso.

Houve cobiça para jogar no 1.º de Agosto?

Sim, algumas vezes. Quando o jogador está numa boa fase da carreira, acredito que os melhores clubes querem sempre ter estes jogadores.

E porque é que não aceitou a proposta?

Ainda não chegou o momento certo. Sinto-me bem no Petro Atlético de Luanda. É neste clube que comecei a jogar e ainda não senti nem vi nenhuma anomalia, por isso permaneço na equipa até agora.

O que acha de atletas formadas no Petro, mas depois vão para outros clubes?

Os jogadores seguem as melhores condições. Se calhar, as condições que lhes são oferecidas superam aquelas que o clube oferece. A vida desportiva é muito curta e existem oportunidades que devem ser ‘agarradas’. Há quem pense duas vezes e há quem pense no agora e muda de clube.

Por que motivo deixaria o Petro?

Se um dia deixar o Petro, vai ser por causa das condições. Não digo que o 1.º de Agosto não tenha feito uma proposta alta. Fez. Era uma proposta que nem me deixava dormir em condições. Era quatro vezes mais daquilo que ganho no Petro. No entanto, não podemos seguir só o dinheiro. Temos de estar onde nos sentimos bem e temos o apoio de todos.

Por quanto tempo mais deseja jogar?

Mais dois ou três anos.

O que pretende fazer quando deixar o andebol?

Pretendo ser treinadora de andebol e passar a minha experiência às jogadoras mais jovens.

Dá para viver do desporto?

Claro. O segredo está na gestão e na consciência. E, além disso, tenho alguns investimentos. Neste momento, estou a terminar uma hospedaria que pretendo inaugurar brevemente.

Como vê a juventude angolana?

A juventude está um pouco perdida. Muitos jovens estão mais preocupados com o supérfluo. Antigamente, era muito difícil ver adolescentes beberem e raparigas aos 14 anos concebidas. Hoje, parece que esta prática é normal.

Como se pode melhorar?

Os nossos pais deviam ser mais duros, exigentes e investirem mais nos filhos. Incentivá-los a praticar desporto porque ajuda muito a afastar-se da delinquência e de outros males que enfermam a nossa juventude.

Teve de se refugiar ao desporto para fugir de algum vício?

Não. Entrei no desporto porque era a única menina em casa e, todas as tardes, jogava futebol com os rapazes. Certo dia, apareceu um dos treinadores de guarda-redes seniores do Petro e pediu permissão à minha mãe para que fosse jogar andebol. Também aceitei o desafio e cá estou até hoje.

PERFIL

Nome: Teresa Patrícia Lopes Filipe de Almeida

Data de nascimento: 5 de Abril de1988

Estado Civil: Solteira

Naturalidade: Luanda

Um jogador: Geovani Massessengue (guarda-redes)

Calçado: 43

MÚSICA. Influenciado pelo rock, rap, jazz e música africana, Toty Sa’med tem dado passos significativos na carreira. Abriu concertos em França, fez parcerias em Cabo Verde e foi reconhecido em Portugal. Aos 31 anos, acredita que, de momento, devido à situação financeira, “o país não tem condições para grandes espectáculos”.

24282056 1567110740035247 745432064 n

Como surgiu o convite de Sara Tavares?

A Sara apostou na minha capacidade de compor e pediu-me ajuda para terminar a canção ‘Brincar de Casamento’. Mandei a minha contribuição e ela achou melhor que eu fizesse parte da canção. Aceitei, nem contava com isso, esperava apenas ser um parceiro de composição e acabei por ser um dos protagonistas.

Que repercussões tem tido?

Têm sido muito positivas. A Sara tem uma carreira consistente, frutuosa e um percurso muito bonito. Muitas vezes, as pessoas não acreditam de imediato no nosso potencial porque precisam de ver mais o nosso trabalho e depois as coisas desbloqueiam-se naturalmente.

Abriu o concerto de Ana Moura em Paris. O que isso significa para si?

Consegui algo muito importante. Senti-me a defender a nossa bandeira. Foi uma honra, porque Ana Moura é uma artista excelente e por quem tenho muito apreço. Fui muito bem-recebido e começo a confirmar que o público francês sabe apreciar um concerto. A energia que recebi do público foi maravilhosa, foi um dos melhores momentos da minha vida.

Os angolanos sabem estar em concertos?

Precisamos de aprender. Não digo só concertos musicais, mas também teatrais. No último espectáculo de teatro em que estive, parecia que existia duas apresentações; uma no palco e outra na plateia. Porque as pessoas também queriam dar o seu ‘show’. Não sabemos quando bater palmas nem quando devemos ficar calados.

Como concilia os trabalhos?

Para ser um bom compositor, é necessário ler muito, estar atento ao trabalho dos outros artistas e partilhar as nossas composições com outras pessoas. Como instrumentista, treino quatro horas por dia sem intervalos.

No álbum ‘Ingombota’, incluiu clássicos angolanos.O que o levou a tal experiência?

Primeiro, a responsabilidade. Mesmo não sabendo falar kimbundu, era mesmo a vontade e a responsabilidade de passar isso para a minha geração e para a geração que vem a seguir, e influenciar e mostrar ao ‘mundo’ que, em Angola, existem músicas com qualidade desde sempre.

Quando interpreta uma música em kimbundu, consulta os ‘mais velhos’?

O que aconteceu com o ‘Ingombota’ foi uma aventura que eu não repito. Porque não tinha levado o projecto tão a sério. Até é mau dizer isso, mas se eu tivesse levado mais a sério, talvez tivesse consultado os’ mais velhos’.

Cometeu erros?

Com o tempo fui dando conta que cometi alguns erros. Fiz o contrário, depois de gravar é que fui perguntado se estava tudo certo. E recebi algumas correções. O facto de não aprendermos as nossas línguas criou impasse. Estava em Lisboa, quando resolvi gravar o disco e não havia ninguém por perto. Foi uma decisão tomada do ‘dia para a noite’.

Sente-se uma referência?

Sinto que ajudo a minha geração a encontrar-se. Sirvo de espelho principalmente para os mais novos. Fiz um disco de forma independente só com a minha vontade e começo a perceber que alguns colegas estão a arriscar-se mais.

Como vê a música angolana?

A música angolana tem muitas pérolas e é de cultura rica, tem muito valor e potencial para ser ouvida no resto do mundo. Precisa de políticas mais agressivas. Temos de assumir mais aquilo que somos. Vemos a música do Mali e da África do Sul em patamares altíssimos. Temos o nosso Bonga, Waldemar e Mukenga, depois não houve seguimento. Quem mais foi atrás? Ninguém. A nova geração tem de seguir os passos e continuar com as pegadas dos ‘mais velhos’.

A nova geração tem seguido?

Há um espaço geracional entre a minha e a geração dos ‘mais velhos’, vemos muito poucos despontarem. Posso citar o Paulo Flores, que muito bravamente teve a coragem de aventurar-se em mares desconhecidos.

Quais são as suas referências?

São várias e constantes. Tudo o que oiço até hoje são influências. Todo o mundo percebe na minha musicalidade influências óbvias. Desde o Brasil ao jazz e a música moderna angolana ou dos anos de 1970.

O seu estilo rende?

Sim. Dá para viver deste estilo de música, até porque um artista, independentemente do estilo, depois de um certo patamar, consegue cobrar ‘cachets’ que justifiquem o esforço e paga as contas, mesmo que não faça 20 ou 30 ‘shows’ por mês.

Tem outro disco a caminho?

Não, ainda não tenho. Porque, de momento, não temos estruturas financeiras para realizar actividades de forma mais organizada e simples. Tinha vontade de lançar um disco amanhã, mas faltam estruturas. Estou a fazer de tudo para criar condições.

Sente a sua música valorizada?

A música que faço tem o valor que procuro dar. E só não é mais valorizada porque, se calhar, devia ser mais promovida. Nos meus concertos, as pessoas batem palmas como se estivessem num ‘show’ de kuduro. Quando tem qualidade, independentemente do estilo, as pessoas reagem.

Vê aposta na música alternativa?

Numa perspectiva mais global, não está a haver concertos em Angola. Nem os ‘grandes artistas’ estão a fazer espectáculos. Nós, os ‘pequenos e médios’, estamos a fazer mais concertos do que os artistas grandes. Porquê? Os artistas grandes precisam de estruturas maiores para fazerem ‘shows’ e, neste momento, o país não tem condições para grandes ‘shows’. Hoje, devido ao contexto, é mais fácil fazer um concerto pequeno e cobrar de dois a cinco mil kwanzas.

PERFIL

Nascido a 18 de Maio de 1989, em Luanda, Erickson Medeiros, ou simplesmente Toty Sa’med, é um cantor, produtor, compositor e instrumentista da nova música angolana que tem influenciado as novas gerações. Aos 12 anos, começou a produzir rap, kuduro e kizomba. Um ano depois, passou a dedicar-se à guitarra. A música brasileira foi uma das grandes influências musicais.

CARNAVAL. Aos 39 anos, a conceituada cantora foi indicada, na semana passada, para ser a ‘Rainha’ da maior manifestação cultural do país. Com a indicação, Yola Semedo promete tudo fazer para ajudar a promover e a preservar a história do carnaval.

IMG 8000

A edição do próximo ano do carnaval angolano terá como rosto promocional a cantora Yola Semedo. A indicação da cantora foi feita na sexta-feira passada (27), pela ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, para desempenhar, nesse período, a função de embaixadora da maior manifestação cultural angolana.

O encontro, em que a diva da música angolana foi indicada para estar à frente do carnaval, serviu também para uma abordagem sobre o projecto governamental de internacionalização da cultura angolana, além de se pretender levar, com a indicação, todos os segmentos da sociedade angolana a participarem activamente na maior manifestação cultural angolana.

Carolina Cerqueira fez saber que a envolvência dos artistas e agentes culturais nas acções do carnaval enquadra-se no projecto de internacionalização da cultura angolana, bem como a forma de dar a festa em causa uma outra dimensão, tendo em conta o facto de ser uma modalidade que traz a público a história da cultura do país.

A partir da data em causa, Yola Semedo será incluída em todas as actividades ligadas ao Entrudo, tendo igualmente a missão de o divulgar sempre que estiver em algum fórum cultural, nomeadamente durante as suas aparições públicas (espectáculos, entre outras actividades).

Natural de Benguela, Yola Semedo mostrou-se satisfeita com a indicação e disse que tudo fará no sentido de ajudar a promover e preservar a história do carnaval angolano. “É uma honra ser indicada a rainha do carnaval angolano, a maior festa cultural angolana. Desde pequena que sempre dancei, razão pela qual o Ministério da Cultura pode contar com a minha participação em todas as acções”, reforçou a artista.

Sobre o projecto de internacionalização da cultura angolana, Yola Semedo adiantou que os artistas angolanos têm feito tudo no sentido levar além-fronteiras o nome de Angola. “Através da música temos conseguido fazer com vários povos saibam um pouco mais sobre a história de Angola e com um projecto bem delineado e sob a condição das autoridades vamos, de certeza, reforçar as acções de promoção do nome do país, através da cultura no exterior”, afirmou a filha da terra das acácias rubras.

A autora dos sucessos ‘Você me Abana’, ‘Volta’, ‘Hipérbole do Amor’, entre outros considerou que a aposta do Ministério da Cultura em aproximar e buscar sugestões sobre o sector nos agentes culturais é bem-vinda, por serem os principais promotores e preservadores dos traços identitários da angolanidade. 

Origem da festa

O carnaval chegou a Angola há vários anos por via dos portugueses. A performance de cada grupo era definida na base dos aplausos e aceitação do público, sendo considerado o melhor quem arrastasse maior número de foliões.

Após a independência, alcançada a 11 de Novembro de 1975, o primeiro carnaval aconteceu em 1978, tendo como vencedor a União Operário Kabocomeu.

O ressurgir das festividades carnavalescas na então República Popular de Angola foi protagonizado pelo fundador da nação e primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, designando o Entrudo de Carnaval da Vitória.

Num discurso realizado no actual distrito do Cazenga, o escritor e também poeta nacional apelou aos angolanos à celebração das vitórias conquistadas pelo país.

MÚSICA. Para os apreciadores de ritmos musicais como o jazz, o projecto ‘Jazz no Kubico Fusion’ oferece, mensalmente, o seu palco às vozes nacionais que se expressam através desse estilo. Num conceito original de festa privada e intimista.

thumbnail 3 1

O ‘Jazz no Kubiko’ é um concerto intimista onde amantes de música alternativa se conhece e existe uma interacção muito grande entre amigos e o músico, normalmente realizado uma vez por mês em casas ou em locais para cerca de 70 pessoas.

A iniciativa surgiu no atelier do cineasta Binelde Hyrcan, com o objectivo de criar um movimento alternativo musical em Luanda, onde juntem artistas de todos os sectores da arte angolana.

Francisco Valente, promotor cultural e mentor do projecto, conheceu o director de imagem e fotógrafo oficial do ‘Luanda Jazz Festival’, Nuno Martins, e os dois, de uma forma simples e criativa, decidiram optar por este formato ‘fusion’, que deu origem ao ‘Jazz no Kubiku Fusion’, organizado pela ‘Kent Managements’.

Rapidamente, o conceito tornou-se uma marca no mercado de eventos musicais alternativos em Luanda.

Como qualquer outro projecto, o ‘Jazz no Kubiku Fusion’ quer “afirmar-se como uma aposta regular à promoção da música afro-americana que hoje já é património universal”. Francisco Valente entende que o jazz em Angola precisa de dar “uma ressuscitada” e que a criação de uma escola de música ajudaria a tornar o mercado angolano “mais promissor”.

Mesmo considerando não ser ainda “rentável” a promoção de eventos de jazz em Angola, por “falta de músicos” que façam o estilo, o jovem confia que, “quando se é profissional, é possível viver da realização de eventos”.

O ‘Jazz no Kubico’ conta com patrocínios de empresas como a Saudabel, Refriango, Nuno Martins, Atelier Binelde Hyrcan e kent.managements.

Festival acontece em Dezembro

Depois de seis edições, duas das quais realizadas no Taylor Bar, em Luanda, a organização vai promover, a 8 e 9 de Dezembro, no Clube Naval de Luanda, o seu primeiro grande festival que contará com a participação de Emicida (Brasil), Mano a Mano (Portugal), Schantz (Dinamarca). De Angola, estarão presentes Jack Nkanga, Selda, Kizua Gourgel, Irina Vasconcelos, Yola Semedo, DJ Paulo Alves, entre outros.

No palco do ‘Jazz no Kubico Fusion’ já passaram, entre outros artistas, Tito Paris, Jack Nkanga, Selda, Irina Vasconcelos, Lípsia e J.Lourenzo.

Segundo Francisco Valente, o festival “promete ser uma emocionante entrada para a época festiva de Natal, que celebrará não só a música jazz, como também as suas influências”.

PERFIL

Nome: Francisco valente

Data de Nascimento: 7 de Dezembro

Naturalidade: Malanje

Estado civil: Solteiro

Formação: Promotor cultural - Atelier Binelde Hyrcan Luanda, IATEC Brasil.

Filhos: Não tenho

Clube desportivo: gosto de todos que jogam bem

Um artista: Binelde Hyrcan (artista plástico)

MÚSICA. Acompanhado da sua cabaça, Ndaka yo Wiñi é conhecido pela sua africanidade em palco. O seu repertório baseia-se em pesquisas que servem de matriz para as suas composições. Em entrevista ao VE, defende o reforço da inserção das línguas nacionais no ensino e espera melhores ventos do novo Governo.

22264498 1562465433797026 1790037650 n

Em 2014, esteve em estúdio a gravar. Quando pretende lançar o álbum de estreia?

O lançamento do disco está marcado para o próximo ano (2018), e vai sair pela Kissanji Produções.

Os seus pais são mestres de cerimónia de eventos tradicionais. Que influências teve deles?

Deles, para além da educação cultural e tradicional, recebi, e ainda recebo, é claro, canções de roda, estórias da nossa terra, aprendo actividades do campo e pastorícia, simbologias, rituais, danças, provérbios e parábolas, muitas das quais uso com frequência nos meus trabalhos.

O que ‘esconde’ dentro da sua cabaça?

A cabaça é a minha herança. Nela carrego um volume de memórias. Boas memórias, feitas em líquido, mas não se revela o que há dentro dela. É a minha mística.

Defende que “faltam meios para a conservação de valores”. Como inverter o quadro?

O Estado devia prestar mais atenção aos projectos dos fazedores da arte e da cultura. Deve reforçar a inserção das línguas nacionais no ensino. Há a necessidade de se lembrar que um povo que não pratica a sua própria língua é um povo sem alma. É preciso transmitir e ensinar esses valores de forma autêntica no sentido de se preservarem os bens patrimoniais. Os jovens têm de saber respeitar os símbolos que representam uma Nação. Que a intervenção que se faz na economia, por exemplo, fosse a mesma, ou próxima, para com a Cultura, porque, no final de contas, precisamos todos de apreciar uma boa música, pintura, artes plásticas, teatro, escultura, dança, entre outras representações artísticas.

Como procura preservar a cultura angolana nas suas músicas?

De várias formas. E se me vir em palco facilmente vai notar isso. Canto somente em línguas nacionais. Faço fusões de outras componentes musicais com a matriz do canto bantu. Exalto constantemente a espiritualidade. Isso só para citar alguns exemplos. Investigo, crio e procuro ser original.

Como vê a música angolana?

A música, em Angola, está a crescer muito e a desenvolver-se pouco.

Como assim?

Há mais atenção às ‘celebridades’ do que ao ser artista, de facto. Uma coisa é ter a fama como objectivo por intermédio da música, outra é trabalhar para contribuir para o desenvolvimento da arte e da cultura angolana.

Trocou a formação em Engenharia pela música. Foi a melhor opção?

Foi, sim. Porque aprendi a seguir o caminho do meu coração. Aí está o que sinto, o que sempre senti.

Há quem diga que comunica com os ancestrais quando está em palco. É verdade?

Sim, é verdade.

Pode explicar como faz isso?

É muito simples. Para comunicar com eles [os ancestrais], basta interiorizar.

O que espera do novo Governo?

Espero uma gestão melhor do que a anterior e que nos venham fazer sorrir sem motivos.

PERFIL

Foi pela via artística que Ndaka (nome de família) conseguiu resgatar o nome que perdera por causa de um erro de registo. Dokas, o seu nome verdadeiro, nasceu a 5 de Janeiro de 1981, no Lobito, Benguela. ‘Yo Wiñi’, em umbundo, significa ‘a voz do povo’.

Descendente de guineenses pelo lado paterno, o dono da cabaça misteriosa provém de uma família de músicos e bailarinos, o que o influenciou, desde cedo, a trilhar o mesmo caminho, com traços culturais e tradicionais do sul do país. A sua passagem por Benguela, Huíla e Huambo ajudaram-no ainda mais a aprender e a falar fluentemente o umbundo.