ANGOLA GROWING
Lúcia de Almeida

Lúcia de Almeida

MÚSICA. É um dos rostos da nova geração em destaque. Foi a ‘Voz Revelação’ do Top Rádio Luanda. Com mais de 10 anos de carreira, Ivan Alekxei planeia lançar o primeiro álbum ainda este ano. Formado em Engenharia, espera que o novo Governo corrija as falhas e que as coisas, a partir de agora, “sejam de facto diferentes”.

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“Mas eu não desisto, eu persisto e diante disto, juro que eu insisto, eu sei que a minha vez, meu kota vai chegar, tenho fé no coração”. Esta é uma das passagens do grande sucesso ‘Meu Kota’ de Ivan Alekxei. Além da música ‘Meu Kota’, o músico tem outras músicas que têm feito bastante sucesso e vão animando com as mensagens e ritmos contagiantes as festas e não só. Por exemplo; ‘Casamento’, ‘Vizinha Maria, ‘Kamuputu’ e outras que andam na boca dos jovens e até mesmo dos ‘mais velhos’.

Natural do Kwanza-Sul, Ivan começou a caminhada musical aos nove anos, na igreja. Na altura, tocava apenas bateria. Encantado pela palavra e alegria dos cultos religiosos, certo dia, viu-se ‘obrigado’ a substituir o líder do seu grupo coral. Desde então, a ligação com a música tornou-se mais forte e mais séria.

Convidado por um amigo para assistir a uma das apresentações num bar no Lubango, na Huíla, o músico foi surpreendido ao ser chamado ao palco para cantar. Foi naquele momento que, motivado pelas palmas dos presentes, Ivan percebeu que era aquilo que realmente queria fazer. Hoje, acredita que foi tocando em bares que se tornou neste músico. “Não há escola melhor do que tocar em bares. Ali, tens o contacto directo com o público, tens as caras feias e as bonitas a sorrirem e a não gostarem e tu aprendes a lidar com isso”, justifica, recordando que, na altura, a forma de pagamento era apenas a “alegria do público” e a “refeição”.

Mais de 10 anos de careira

Com uma carreira de mais de dez anos, o artista considera que a dificuldade que encontra ao longo do percurso não tem nada que ver com o estado da carreira, mas com a vida, que apresenta sempre dificuldades e que, por conseguinte, nos leva a pensar que “quando se está no auge tem-se menos problemas”.

Ivan Alekxei já compôs para N’soki, Sandra Cordeiro, Kamané Silva, entre outros. Tem como referências musicais André Mingas, Gabriel Tchiema, Ndaka yo Wiñy, Paulo Flores, Stive Wonder, Baby Face e outros.

O seu timbre vocal já o levou a ser confundido com, por exemplo, Hélvio, Paulo Flores e Daniel Nascimento, o que o agradou por estes apresentarem trabalhos “com qualidade”.

Música angolana respeitada

Ivan acredita que a música angolana “cresceu bastante”, pois já se consegue notar o quanto ela é “respeitada”. Recorda, por exemplo, que, na década de 1990, não se conseguia ter festas inteiras apenas com músicas angolanas, algo que hoje, afirma, “já é possível”.

Mesmo tendo em conta alguma melhoria da arte, Ivan Alekxei lamenta que muitos músicos tenham uma evolução “bastante lenta” e tendem mesmo a “regredir” no que às mensagens se refere, sendo que a maioria faz “letras fúteis” e, muitas vezes, desvirtuam o que outros artistas fazem bem e com muito esforço”.

Juventude “distraída”

Ivan pensa que parte da juventude anda “muito distraída” e a “perder tempo a reclamar”. O compositor julga que toda a reclamação devia vir acompanhada de algum esforço e aconselha os jovens a lutarem mais pelo país e pelas coisas em que acreditam. “Se, enquanto jovens, não nos formarmos e não acreditarmos que somos capazes, vamos ter um país debilitado. Preocupa-me ver o país a minguar e as pessoas só a reclamarem e não fazerem nada. É importante que, além de reclamar, se faça alguma coisa. Os jovens distraem-se muito com festinhas e ilusões.”

Engenheiro civil de formação, abandonou o emprego para se dedicar à música. Segundo o artista, precisava da formação para uma garantia, pois, para além de querer realizar o sonho dos pais – concluir a formação –, vê que “a música é muito insegura”. Hoje, inteiramente dedicado à música, garante que não se arrepende da escolha e sente-se “feliz” por não fazer parte dos que trabalham em áreas de que não gostam.

Ivan Alexei afirma que a necessidade de melhorar o país é “visível”, por isso, espera que o novo Governo, antes de tudo, aceite que existem falhas e trabalhe sobre elas para que se melhore a qualidade de vida dos angolanos, desejando que se oiça mais os jovens e se criem mais empregos. “Faço votos de que as coisas agora sejam diferentes”, concluiu.

Primeiro disco

‘Meu Chão’ é o título do disco de estreia a ser lançado em Dezembro. Mergulhado nos estilos zouk, massemba, balada e samba, o álbum vai comportar 14 músicas e trará participações de Kyuku Kyadaf e Yuri da Cunha.

PERFIL

Nome: Ivan Alekxei de Araújo Barbosa

Data de nascimento: 14 de Maio

Naturalidade: Kwanza-Sul (registado na Huíla)

Estado Civil: Solteiro

Prato favorito: peixe frito com arroz e feijão

Filhos: Uma menina

Formação: Engenharia Civil pela Universidade Óscar Ribas

Clube desportivo: Atlético Petro de Luanda

ARTES MARCIAIS. A ideia era treinar jiu-jitsu para intimidar um pretendente da namorada. Mas, Walter Faustino, ou simplesmente ‘Lobão’, acabou por apaixonar-se pela modalidade. Hoje, soma mais de 20 títulos como campeão internacional. Aos 29 anos, criou o projecto ‘Pioneiro em África’ para ajudar crianças com necessidades especiais.

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Qual é o actual estado do jiu-jitsu em Angola?

O jiu-jitsu está tranquilo e saudável. Em termos associativos e federativos, estamos a organizar-nos. Conseguimos o espaço que sempre almejámos, temos mais academias, mais profissionais e pessoas a viver das artes marciais.

O que o incentivou a praticar jiu-jitsu?

Tudo começou há dez anos, na universidade. Havia um indivíduo que ‘andava atrás’ da minha namorada, que agora é minha esposa. Queria dar-lhe um arrepio e resolvi treinar. Mas depois esqueci-me desse ‘problema’ e passei a praticar com mais frequência.

Naquela altura, acreditava que a luta resolvia tudo?

Não conhecia a luta como conheço actualmente. Hoje, a luta significa muito. É um estilo de vida. E sou uma pessoa melhor graças as artes marciais.

O que o diferencia dos outros atletas?

Na realidade, não sei. Aliás, quando se fala de outros atletas exige comparação. Sou o único e prefiro não me comparar a ninguém. Sou a minha própria concorrência. Quando se está bem preparado psicologicamente raramente aparece alguém superior.

Qual é o segredo para tantas conquistas?

Se fosse para resumir; diria que é a vontade de vencer.

Qual foi a vitória/derrota de que não se esquece?

Não tenho derrotas marcantes. Vou para me divertir, e com o compromisso de dar o melhor de mim. Se perder, não relevo muito, dói mais quando perco e sinto que podia ter dado mais. Quanto à vitória, foi quando me tornei campeão mundial, em 2012. Foram muitos anos a espera disso.

Que dificuldades enfrentou para se tornar num atleta de sucesso?

Condições de treino, patrocinadores, material, falta de apoio da família que, na altura, não apoiava. Hoje, quase toda a família está a treinar incluindo o meu pai. Antes não tinha esse ‘feedback’. Diziam: «esse está maluco e frustrado». À medida que as coisas se foram tornando mais sérias, sentiram o dever de me proteger mais.

Sente-se uma referência para os mais novos?

Sinto que sou influência para os meus amigos e para todos aqueles que convivem comigo. Daqui há dez anos, vamos criar a maior geração de vencedores em Angola. Nesse momento, estamos a trabalhar com mais de 400 alunos, e cada um deles já consegue influenciar outras pessoas. Lancei o projecto ‘Pioneiro em África’ que consiste em dar aulas a pessoas com necessidades especiais. Tenho mais de 30 alunos com síndrome de Down e autismo. Daqui a quatro anos, pretendo abrir um centro de neurologia. Tudo isso porque o meu filho mais velho, de quatro anos, é autista.

É rentável investir em artes marciais em Angola?

Bem divulgado tudo rende. É bem mais fácil vender artes marciais em Angola do que no Brasil ou nos EUA, porque são mercados que já estão saturados. Os que têm dinheiro não pensam em investir nas artes marciais, Sentem que não é um negócio rentável. Lido com isso todos os dias, por isso criei a indústria das artes marciais em Angola.

Deixou a engenharia para se dedicar ao desporto. Foi a melhor opção?

Um dos principais motivos que me faz largar o emprego de quatro anos como engenheiro na Sonangol foi a necessidade de ter mais tempo para a família. Apesar de ter consciência de que iria ganhar menos. Nunca me senti arrependido.

Sente-se valorizado?

Claro. Há uma coisa que aprendi ao longo do tempo: não dá para ter uma postura de pedinte. Quando alguém pede muito, não é respeitado. Por isso é importante criar a auto-dependência.

Como o desporto pode influenciar a vida dos jovens?

A sociedade actual está doente. E uma das principais ferramentas que pode mudar o quadro é o desporto. Com o desporto, conseguimos ter bastantes benefícios, torna as pessoas mais tranquilas, equilibradas, com o nível de stress quase zero, autoconfiança acima da média. O que mais se pode fazer para a modalidade? O Estado devia investir no desporto escolar, ensinar os valores desde cedo, para, quando chegarem à idade adulta, se tornarem excelentes profissionais.

Que proveitos tem obtido?

Só no ano passado, as minhas academias resolveram mais casos de possíveis transtornos psicológicos, que os centros de psicologia em Angola. Alguns pais já se deram conta que as artes marciais conseguem moldar melhor do que qualquer consultório.

Como chegou a essa conclusão?

Tive a necessidade de levar o meu filho a esses centros de neurologia. É difícil aparecer e os que aparecem cobram 15 mil kwanzas por sessão, durante duas horas, quatro vezes por semana. Foi na vontade de procurar ajuda, na vontade de ter que trabalhar mais, criar ideias para poder pagar as contas que conheci essa realidade.

PERFIL

Nome: Walter Rúben António Faustino

Data de Nascimento: 11 de Outubro de 1987

Naturalidade: Luanda

Estado civil: Casado

Filhos: Dois

Títulos: 23 vezes campeão internacional

Um atleta: Orelho Zorzi

HUMOR. Os Tuneza assumem-se como uma “referência obrigatória” quando o assunto é fazer rir. O quinteto, composto por Costa, Tigre, Ceslaty, Orlando e Gilmário, não tem dúvidas de que fazer humor em Angola é “rentável”. Prova disso, são os 15 anos de carreira que carregam a viver exclusivamente da arte de fazer rir.

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Apesar de considerar que “não é ético” revelar quanto é que se ganha por cada espectáculo, Cesalty Paulo, que conquistou o público com a personagem ‘Mana Madó’, nas entrelinhas, revela que o rendimento do grupo garante a sustentabilidade do conjunto para os próximos anos. “Preferimos não abordar assuntos monetários, porque só interessam ao grupo e a quem queira negociar connosco”, explica o humorista, garantindo que o grupo ganha a vida a ‘alegrar o coração e o rosto das pessoas’. “Nós, os Tuneza, vivemos única e exclusivamente do humor”.

O sucesso que o grupo regista actualmente leva-os a fazer muitas actuações em Angola e no exterior. Por exemplo, em 2015, o grupo quase ‘rebentou pelas costuras’ o Coliseu dos Recreios, em Lisboa, Portugal, com um espectáculo que resultou num DVD.

A viver momentos de “graça”, os Tuneza têm estado “muito felizes” com os resultados do trabalho que têm feito e implementado para o desenvolvimento e expansão da arte. “Pretendemos revolucionar o humor angolano a cada dia que passa”, almeja Cesalty, o porta-voz do grupo.

Tal como acontece entre casais, com os Tuneza ‘nem tudo são flores’. O grupo também vive momentos de acesas “discussões”, mas acredita que, quando se tem objectivos comuns e se sabe aonde se pretende chegar com o trabalho, as pequenas brigas não servem para os separar, mas sim de “alento para ultrapassar e caminhar com mais foco”.

Cesalty Daniel, de 38 anos, garante que o grupo nunca pensou em desistir pois tem sempre contratos “muito sólidos” e um “compromisso” com os fãs. “Por isso mesmo, os trabalhos individuais que alguns membros do grupo fazem (nomeadamente o Costa e o Gilmario) não interferem na relação do elenco”.

Pelo contrário, acrescenta, “servem de experiência” e são sempre feitos nos momentos em que o grupo se encontra de pausa de modo a não chocar com a agenda. Atendendo à situação política que o país atravessa, o grupo espera que “o novo Governo consiga manter o que está bem e que consiga alcançar aquilo que as pessoas esperam”, desejando essencialmente que “se criem politicas para desenvolver a cultura, para que se multiplique o número de fazedores de arte.

Para o grupo, o humor é das actividades que “mais espectáculos realiza e por isso mesmo, justifica o porta-voz do grupo, os artistas têm o prazer de acompanhar espectáculos dos outros colegas “para terem uma maior atenção de tudo o que se faz, como está a ser feito e, sobretudo, o que deve melhor”. Apelam, portanto, que os novos humoristas “cheguem devagar” para poderem alcançar o que os outros artistas “levaram anos a conseguir”.

15 anos de humor

Foi em 2003 que ‘Os Tuneza’ resolveram assumir a responsabilidade de fazer rir. Inicialmente, apareceram como um grupo teatral, constituído por integrantes do extinto Colectivo de Artes Tuneza, criado em 1999. Os humoristas passaram a apresentar-se em vários restaurantes e espaços públicos de Luanda.

Na TPA, o grupo apresenta o programa ‘Fora de Série’. Em 2006, passam a apresentar o programa ‘Kialumingo’, na Rádio Luanda. No ano seguinte, o primeiro álbum musical do quinteto é publicado, intitulado ‘Humor ao Domicílio’. Em 2008, lançam o DVD ‘Fora de Série’, contendo as dez primeiras edições do programa de mesmo nome.

Em Dezembro de 2009, o grupo estreia o programa ‘Coisa Doida’, na TV Zimbo. Em 2016, estreiam, no ‘Mundo Fox’ da DStv ‘Os Tropas D’os Tuneza’, um programa de humor com humoristas de todo o país e passam a fazer parte de uma ‘batalha de humor’ da qual saem vencedores.

CINEMATOGRAFIA. Aos 65 anos, Óscar Gil considera que, em Angola, não existem bons realizadores de cinema “por falta de formação e de escolas”. O produtor e actor defende a criação de políticas para melhorar o estado da arte. E acredita que o cinema pode gerar receitas para o desenvolvimento do país.

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Que memórias tem do cinema da década de 1960?

O cinema deslocava-se às aldeias e às vilas porque não havia salas. Assistíamos sobretudo, a filmes de ‘coboiada’. A nossa ansiedade era sermos artistas, sonhadores, gostávamos imenso de recriar o que víamos na tela. Foram tempos maravilhosos.

Naquela altura, o cinema já fazia parte dos planos?

Nunca pensei que a minha vida fosse ser virada para o cinema. Até porque ninguém prevê o futuro. O destino é isso, vai acontecendo e nós temos de o acompanhar, não vale a pena contrariar.

Como entra para o cinema?

Era preciso criar novos técnicos, para abrir a Televisão Popular de Angola (TPA). Fui ‘empurrado’ pelas circunstâncias para ser assistente dos portugueses para perceber melhor o mundo televisivo e começar a aprender com eles. Foi uma mais-valia porque não havia escolas, infelizmente. Para ser um bom técnico é necessário passar por escolas, e nós não temos.

Que avaliação faz do cinema que se faz actualmente?

Naquela altura, havia o cinema documental. Não existia o cinema de ficção. O cinema era feito com película, não tínhamos noção nem sabíamos a real diferença entre reportagem e cinema. Para nós, tudo o que fazíamos era cinema. Rui Duarte de Carvalho talvez tenha dado o ‘pontapé de saída’ com o filme ‘Nelitchipa’, podemos considerá-lo o primeiro ensaio de ficção.

Numa entrevista, o realizador Tomás Ferreira disse que “não se faz cinema em Angola há décadas”. Concorda?

Não concordo com ele. Em Angola, já se fez cinema, vou enumerando: ‘Comboio da Canhoca’, de Orlando Fortunato, ‘Cidade Vazia’, de Maria João Nganga, ‘O herói’, de Zezé Gamboa, ‘Rainha Njinga’, feito há pouco tempo, ‘I love Kuduro’ e outros. É um cinema que se vai fazendo à nossa dimensão porque estamos muito pobres.

Não temos bons realizadores porque não temos escolas. Numa reunião com os fazedores de arte e cultura, João Lourenço prometeu dar apoios ao cinema nacional. Vamos rezar que sim, porque o cinema nacional estava a preto e branco e a ficar cinzento. Temos de ter atenção para não banalizar a Sétima Arte. O cinema tem regras.

O que falta?

O que nos falta são apoios institucionais. É preciso criar um fundo para o cinema nacional, porque é uma arte bastante cara. O cinema é uma junção de várias artes e, com essas condições, não se faz cinema só com boa vontade. Temos jovens com vontade de fazer cinema, mas falta formação. Enquanto não tivermos escolas, vamos patinar.

Como o Estado pode contribuir?

O Estado tem de criar políticas para o cinema nacional, criar um fundo no Orçamento Geral do Estado, criar mecanismos para arrecadar receitas para este fundo, por exemplo, taxando os filmes estrangeiros que são exibidos nas salas de cinema em Angola, deixar uma percentagem da bilheteira, usar a Lei do Mecenato. Faltam políticas para o cinema.

Como se pode apoiar a nova geração?

Para já, quero felicitar o Narciso, o Tonton e outros, pela vontade de querer fazer. O mais sensato era ‘agarrar’ nos ‘Narcisos e Tontons’ e dar-lhes formação, porque ninguém nasce ensinado. A realidade do cinema vai além da nossa vontade. O cinema, independentemente de ser entretenimento, também tem a missão de diplomacia e pode levar o bom nome de Angola para o exterior.

O cinema pode influenciar a sociedade?

O cinema é um veículo muito forte e alguns jovens não têm orientação da família que é uma célula da sociedade. Temos ‘n’ famílias desestruturadas, o nível de delinquência é alarmante, é preciso ter cuidado com as mensagens que passamos porque os filmes têm impacto na vida das pessoas.

Teme o desaparecimento de jovens talentosos?

Sempre que tenho a oportunidade de falar com os jovens, incentivo-os a não matarem os seus sonhos, a continuarem a fazer o que estão a fazer, pois é uma aprendizagem em que depois é preciso limar as arestas com uma formação. O cinema pode contribuir para a diversificação da economia? Em Angola, o cinema pode tornar-se numa indústria, temos o exemplo da Nigéria, com a Nollywood, da Índia, com a Bollywod, nos EUA, a Hollywood. Porque não a ‘Angollywood’? Temos aqui tudo. Cenários, grandes escritores, faltam-nos os técnicos e politicas para que, um dia, o nosso cinema se torne numa indústria que gere receitas.

Como vê o cenário eleitoral?

Podemos constatar a democracia, a tolerância e a paz. Há tantos países africanos que, nesta altura, estariam a pegar fogo por todo o lado. Os angolanos deram uma lição de civismo para África e para o mundo.

PERFIL

Nome: Óscar Gil

Data de nascimento: 16 de Março de 1952

Naturalidade: Huíla

Estado civil: Casado

Filhos: Oito

Novelas/séries: Caminhos Cruzados, Vidas a Preto e Branco e A equipa.

Um filme: ‘Ngande’

MÚSICA. Kool Klever é um dos pioneiros do rap em Angola e é considerado ‘revolucionário’ por cantar a realidade. Aos 44 anos, o artista sente-se “mais capaz” para divulgar o seu trabalho com maior abrangência. O rapper critica a nova geração por ser conformada e por ter o “sexo” e as “festas” como temas favoritos das canções.

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Porque lançou o primeiro disco em 2008?

Quando comecei, não levava muito a sério. Fazia porque gostava. Depois, por pressão de amigos e familiares, resolvi começar a gravar o ‘Kooltivar’. Juntei-me ao Kaleb, ao CMC e depois ao Kennedy e gravámos o disco que, alguns anos depois, foi editado pela LS Produções.

Não acha que devia divulgar mais o seu trabalho?

Mas essa é a minha relação com a música. E depois isso não depende só do artista… Hoje, sinto-me mais capaz de divulgar o que quer que faça com maior abrangência. Existem outros recursos e plataformas que permitem isso. Antes era difícil.

Considera-se ‘pai do rap’ em Angola?

Não. Considero-me um dos pioneiros. Sou pai do Raschid, do Ricardo, do Rubem e do Roger.

Já se sentiu privado de se expressar?

Não. O que aconteceu é que já fui considerado ‘revolucionário’ por cantar a realidade do país e das pessoas. E isso de ser considerado revolucionário por expressar a opinião artisticamente acaba por criar entraves a nível de divulgação do trabalho.

Merecia mais reconhecimento?

Tenho o reconhecimento do pessoal do hip-hop e das pessoas que acompanham o estilo. De jornalistas e outros. Acho isso incrível para alguém com dois trabalhos de originais. E que anda nisso desde o início.

Que avaliação faz da nova geração do rap?

A música da nova geração do rap em Angola é resultado da conjuntura. A nova geração tem medo de ser séria, interventiva e ousada. A nova geração autocensura-se porque sente e sabe que a censura existe como uma espécie de cultura. Há uma cultura do medo. Os jovens são aconselhados a não falar de política, quanto mais cantá-la. A vida das pessoas e a relação que existe entre elas e que quem as governa é a política. E isso não deve ser cantado. Se o fazes, és rotulado de ‘revu’, do contra. E os miúdos têm medo, conformam-se e cantam apenas o que lhes é ‘permitido. Por isso é que a maior parte dos temas varia apenas entre sexo e festas.

O que falta aos músicos?

Aos músicos falta coragem e ousadia. Aliás, falta-nos a todos.

O que pode ser feito para melhorar?

Essa é uma pergunta perigosa. O sistema (conjunto de leis, instituições, organismos e a sua forma de actuação) tem de mudar. Falta essa tal liberdade, essa cultura do “‘pischiu’, isso não se diz”, tem de deixar de existir.

É possível viver apenas do rap?

Viver apenas do rap? Inteiramente do rap? Não conheço ninguém. O Yanick, talvez. Já é difícil viver da música em Angola. Do rap então…

Que referências tem em Angola?

SSP. Pela ousadia, por nos mostrar que era possível ir mais distante. Filhos da Ala Este, pela coragem de levarem para as músicas as grandes questões políticas. Phathar Mak, por ter sido o primeiro MC a lançar um disco duplo e único até agora e por usar regularmente uma banda nas suas actuações. McK, por não ter medo de usar a sua música como veículo de divulgação daquilo em que acredita. Das suas ideias políticas. Por ser, a nível pessoal, um exemplo de superação, pela acutilância e humor nas suas músicas. Francis MC Cabinda, por me ter ‘ensinado’ que o sucesso não é uma questão de sorte. Gosto de muitos por motivos diferentes.

Mas os SSP foram os impulsionadores?

Claro! Com certeza.

Como avalia os ‘beefs’?

Para avaliar teria de acompanhar estas trocas de insultos em forma de rimas sobre uma batida. Não acompanho. Quem faz o melhor rap em Angola? Alguns dos artistas que citei anteriormente. Mas isso muda com o tempo.

E no mundo?

Não existe um melhor rapper do mundo para mim. Aprecio diferentes artistas por motivos distintos.

‘Kool Klever’ tem algum significado especial?

O nome foi dado por um amigo chamado Newton. Ele dizia que Cool e Clever descreviam bem a minha personalidade. Cool é igual a fixe, calmo, porreiro. Clever é igual a inteligente. Substituí o C por K e adoptei como nome artístico.

Vive dividido entre a música, docência, rádio e televisão.Como concilia?

24 horas por dia chegam e sobram. A tv e a rádio só me ‘roubam’ dois dias na semana. Onde se sente mais confortável: no palco, a dar aulas, na tv ou na rádio? Rádio e sala de aulas. A tv é uma experiência nova para mim. Aprendo todos os dias e cada vez gosto mais.

Está a preparar o seu filho?

Não de forma directa. O meu filho já nasceu artista, por assim dizer. Converso com ele e apoio o que ele faz. Mas, nesse momento, a prioridade dele são os estudos.

Como vê a juventude angolana actualmente?

A juventude angolana é super. Questiona, vai à luta, reclama, mas não deixa de viver. Essa é provavelmente a geração mais aberta que o país já teve. Eu acredito nessa juventude.

Como avalia o contexto sociopolítico que Angola atravessa?

Desafiador e complicado, no entanto, interessante.

PERFIL

Nome: Francisco Manuel ?Fernandes Bernardo

Idade: 44 anos

Natural: de Luanda

Filhos: quatro, todos rapazes

Estado civil: vive maritalmente

Álbuns: ‘Kooltivar’ e ‘Menos Kool, Mais Klever’