Suely de Melo

Suely de Melo

Para surpresa de um total de zero pessoas “o país africano mais importante para os EUA” foi olimpicamente coado da tomada de posse do novo inquilino da Casa Branca. Levando em conta que Joe Biden não teria lançado tal pérola baseado numa opinião pessoal, mas porque estrategicamente os ‘yankees’ assim o consideram, terá sido difícil para alguns perceberem o motivo do ‘coamento’. Entretanto, terá igualmente servido de consolo o facto de nenhum outro país africano, importante ou não, ter sido convidado. Tal como já se perspectivava isso é apenas uma pitada de como deverão ser as relações entre as terras do tio Sam e os países africanos. Mas o que de facto deve ter causado alguma urticária foi o facto de Donald Trump ter ameaçado - e efectivado logo de seguida - a revogação de dezenas decretos assinados pelo seu antecessor.

Tal como previmos, na semana passada, já começou o rol de promessas. Depois de prometerem que as crianças das zonas mais recônditas iriam receber tabletes; depois de prometerem que as crianças da 5ª e 6ª classes passariam a aprender Francês e inglês; depois de prometerem que os livros, finalmente, seriam distribuídos a tempo e hora, eis que o leque de promessas foi actualizado. Sim, porque é preciso, de quando em vez, pelo menos, fingir alguma preocupação. 

Bem-vindo ao Dias Andados em 2025… Um ano que se adivinha difícil. Não que os anteriores tenham sido fáceis, mas os vaticínios dos que de facto entendem da matéria antecipam que será um ano pior! Ainda assim, mais um ano de promessas. As mesmas que são feitas há 50 anos. Durante 50 longos anos, os nossos governantes têm repetido um mantra quase musical: "Estamos a trabalhar para melhorar a vida dos angolanos!”, dizem eles… Soa como uma canção de sucesso atemporal. Uma espécie de ‘hit’ que nunca sai da moda, mas que, como muitos hits, apenas ocupa um espaço na nossa playlist sem realmente nos fazer dançar. Dá a sensação de que os nossos governantes coleccionam um caderno de promessas e a cada ano enchem-nos com a mesma ladainha como se ano após ano descobrissem uma nova fórmula para a reinvenção da roda. Este ano não vamos celebrar apenas os 50 anos da Independência, vamos igualmente celebrar os 50 anos das promessas nunca cumpridas. Em cada discurso, um verdadeiro espetáculo! Somos bombardeados com estatísticas, gráficos e prognósticos sobre um futuro brilhante. Aliás, na arte do discurso, os nossos governantes são mestres. Falam com tanto entusiasmo que chega a ser contagiante. Quase acreditamos que a prosperidade está a apenas um passo… Enquanto isso, a vida dos angolanos parece um eterno ciclo da espera pelo milagre. Entretanto, o número de pessoas que se especializou em “ver para crer” parece estar a diminuir. No fundo, o que nos resta é rir, não por excesso de vontade, mas como um mecanismo de defesa contra essa comédia trágica que se desenrola à nossa frente. Então, aceitemos o desafio e celebremos os 50 anos de promessas! Brindemos a mais um ano das mesmas promessas. Ou quem sabe, com alguma sorte, se mude o repertório, e conheçamos algumas novas. Afinal quem precisa de reformas sérias quando se pode ter discursos eloquentes e um espetáculo continuado de promessas vazias?... 2025 adivinha-se um ano atípico.

Na era da informação, em que as palavras ganham vida e os discursos se entrelaçam com a realidade, a afirmação do Ministério do Interior sobre a existência de uma democracia plena no nosso país soou como um eco distante de verdades não ditas. Ora, esta semana ficamos a saber que afinal muito boa gente esteve todo este tempo enganada quando pensou que houvesse alguma aversão às manifestações.