Suely de Melo

Suely de Melo

Por onde começar, numa semana tão fértil de acontecimentos que deixam qualquer um boquiaberto?!

Comecemos por pedir que alguém nos esclareça quanto ou o que os angolanos devem a Joel Leonardo, que aparentemente tem mais poderes que qualquer um neste país. Que existam os intocáveis, não é novidade para ninguém. Mas, quando se fala no presidente do Tribunal Supremo (TS), a situação ultrapassa todos os limites do absurdo. Um juiz que quase diariamente é denunciado por alegadamente estar envolvido em actos de corrupção; um juiz que, ao que se diz, faz e desfaz no TS e no Conselho Superior da Magistratura Judicial (CSMJ), como se de sua casa se tratasse; um juiz que alegadamente vilipendia e persegue os seus pares que não lhe seguem a bala; um juiz alvo de uma acção popular promovida por um grupo de advogados da Ordem; um juiz que é alvo de uma investigação da PGR; um juiz que desrespeita uma decisão do Tribunal Constitucional e consequentemente a Constituição da República de Angola; um juiz que não permite que cidadãos angolanos, entre os quais deputados e o líder do maior partido na oposição, entrem na sua casa, porque é assim que ele vê o TS.

05 Jul. 2024

Não há plano B…

O povo angolano, especial como alguém o chamou, acreditou no discurso daquela figura enigmática, aparentemente honesta que se lhes apareceu em 2017. Os angolanos acreditaram que esta figura de facto estaria disposta e habilitada a resolver os problemas políticos, sociais e económicos. Muito boa gente depositou a confiança e o voto no partido da situação para que, apesar de ter sido quem afundou o país, pudesse ele mesmo ser protagonista da mudança e da construção de um país mais justo para todos. Os discursos indicavam para esse caminho. O povo acreditou e reelegeu o mesmo partido, porém com um rosto diferente, o que dava essa sensação de segurança.

No ano passado, o ‘Dias Andados’ fez o exercício de contagem das viagens do Presidente da República. Isso foi em Setembro e já se contavam uma dúzia de deslocações do chefe de Estado. Este ano o mesmo exercício é feito mais cedo, mas já se contam a mesma dúzia de viagens nos primeiros seis meses de 2024. Em Janeiro, depois de ter regressado das polémicas férias a Seycheles, João Lourenço foi à RDC para a cerimonia de investidura de Felix Tshisekedi. Em Fevereiro fez uma visita oficial à República Checa, e à Etiópia para a 37ª Sessão Ordinária da Conferência de Chefes de Estado e de Governo da União Africana. Já em Março fez uma visita oficial à China e no mesmo mês foi à Zâmbia para a Cimeira da Dupla Troika da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral. Em Abril foi a Portugal participar da comemoração dos 50 anos da revolução dos cravos, de seguida efectuou uma visita oficial de dois dias à Coreia do Sul e ainda no mesmo mês foi aos EUA para a Cimeira Empresarial Estados Unidos-África. Em Maio foi às Ilhas Comores à investidura do Presidente Azali Assoumani. Este mês já foi ao Botswana para uma visita de Estado e à Africa do Sul para investidura de Cyril Ramaphosa.

Já é o ‘habitué’ em tempos de campanha eleitoral vermos por aí as t-shirts vermelhas ‘diambolarem’ pelos municípios a visitarem os potenciais eleitores. Naturalmente, naquele ‘corpo a corpo’, que não é normal no resto da legislatura, ouvem-se reclamações, sugestões e pedidos, que aparentemente, à mesma velocidade que entram, saem. Como se costuma dizer, entram por um ouvido e saem pelo outro. De qualquer forma, seria revelador saber o que se pede nesse ‘tête-à-tête’. Reivindicações colectivas ou individuais, o que realmente querem os ‘eleitores’? Quais os seus anseios? Do que reclamam? Não que já não saibamos o que falta – que é quase tudo – mas o que essas pessoas exigem que possa gerar nos governantes algum compromisso com o cidadão? Por outro lado, haverá efectivamente algo que gere nesses mesmos governantes algum tipo de compromisso com o cidadão? Tudo indica que não. Na politicagem que se faz em Angola, a lição segundo a qual a boa política trabalha e investe todos os recursos para a autonomia do cidadão e a política nociva aposta na dependência das pessoas foi bem estudada. Daí verem-se pessoas supostamente bem estudadas e aparentemente cultas fazerem-se de zungueiras com bacias na cabeça, contendo sabe lá Deus o quê, de porta em porta. O teatro assombroso, sem o mínimo respeito à dignidade humana, repetiu-se no último fim-de-semana, o que nos remeteu à campanha de 2017 em que o MPLA ofereceu, entre outros, kits de engraxador e à de 2022 que ofereceu bicicletas aos potenciais eleitores. O que o partido no poder já deu mostras de não conseguir oferecer é a realização dos sonhos e anseios dos angolanos. A transformação da realidade penosa por que passam. Não consegue oferecer o progresso e a autonomia da população. Não consegue oferecer a dignificação e equidade. Se é assunto para nos lamentarmos? Provavelmente não. Lamentos poderão não mais fazer sentido. Não se grita aos surdos e nem se apresentam caminhos aos cegos. Entretanto, há quem ainda mantenha a esperança de que o jogo venha a virar num futuro não muito distante. Que quem hoje alimenta com migalhas venha a saborear do seu próprio alimento.  

14 Jun. 2024

Coisas do MPLA…

De um tempo a esta parte, virou moda os ministros queixarem-se que os angolanos estão a fazer muitos “nenés” e justificarem assim a incompetência generalizada que, dia após dia, serve de trampolim para indigência à qual os mwangolés estão atirados. Como se diz por aí, na outra vida devemos ter sido o povo que preferiu Barrabás a Jesus, o mesmo povo que atirou pedras à cruz e que por isso merece o governo que tem. Ora, primeiro a ministra da Educação justificou o elevado número de crianças fora do sistema de ensino com o aumento populacional. Logo de seguida, o ministro da Energia e Águas lamentou que não seja possível, 49 anos depois, distribuir o líquido precioso a todos, por conta do aumento populacional. Agora a ministra das Pescas justificou, com o aumento populacional, o facto de o pescado não chegar para todos.