Suely de Melo

Suely de Melo

Já é o ‘habitué’ em tempos de campanha eleitoral vermos por aí as t-shirts vermelhas ‘diambolarem’ pelos municípios a visitarem os potenciais eleitores. Naturalmente, naquele ‘corpo a corpo’, que não é normal no resto da legislatura, ouvem-se reclamações, sugestões e pedidos, que aparentemente, à mesma velocidade que entram, saem. Como se costuma dizer, entram por um ouvido e saem pelo outro. De qualquer forma, seria revelador saber o que se pede nesse ‘tête-à-tête’. Reivindicações colectivas ou individuais, o que realmente querem os ‘eleitores’? Quais os seus anseios? Do que reclamam? Não que já não saibamos o que falta – que é quase tudo – mas o que essas pessoas exigem que possa gerar nos governantes algum compromisso com o cidadão? Por outro lado, haverá efectivamente algo que gere nesses mesmos governantes algum tipo de compromisso com o cidadão? Tudo indica que não. Na politicagem que se faz em Angola, a lição segundo a qual a boa política trabalha e investe todos os recursos para a autonomia do cidadão e a política nociva aposta na dependência das pessoas foi bem estudada. Daí verem-se pessoas supostamente bem estudadas e aparentemente cultas fazerem-se de zungueiras com bacias na cabeça, contendo sabe lá Deus o quê, de porta em porta. O teatro assombroso, sem o mínimo respeito à dignidade humana, repetiu-se no último fim-de-semana, o que nos remeteu à campanha de 2017 em que o MPLA ofereceu, entre outros, kits de engraxador e à de 2022 que ofereceu bicicletas aos potenciais eleitores. O que o partido no poder já deu mostras de não conseguir oferecer é a realização dos sonhos e anseios dos angolanos. A transformação da realidade penosa por que passam. Não consegue oferecer o progresso e a autonomia da população. Não consegue oferecer a dignificação e equidade. Se é assunto para nos lamentarmos? Provavelmente não. Lamentos poderão não mais fazer sentido. Não se grita aos surdos e nem se apresentam caminhos aos cegos. Entretanto, há quem ainda mantenha a esperança de que o jogo venha a virar num futuro não muito distante. Que quem hoje alimenta com migalhas venha a saborear do seu próprio alimento.  

14 Jun. 2024

Coisas do MPLA…

De um tempo a esta parte, virou moda os ministros queixarem-se que os angolanos estão a fazer muitos “nenés” e justificarem assim a incompetência generalizada que, dia após dia, serve de trampolim para indigência à qual os mwangolés estão atirados. Como se diz por aí, na outra vida devemos ter sido o povo que preferiu Barrabás a Jesus, o mesmo povo que atirou pedras à cruz e que por isso merece o governo que tem. Ora, primeiro a ministra da Educação justificou o elevado número de crianças fora do sistema de ensino com o aumento populacional. Logo de seguida, o ministro da Energia e Águas lamentou que não seja possível, 49 anos depois, distribuir o líquido precioso a todos, por conta do aumento populacional. Agora a ministra das Pescas justificou, com o aumento populacional, o facto de o pescado não chegar para todos.

Esta semana, o ‘Campeão da Paz’ respondeu com um redondo NÃO ao convite do presidente ucraniano, para participar na Cimeira sobre a Paz na Ucrânia, prevista para os dias 15 e 16 de Junho. O “viajador compulsivo”, como já muitos lhe chamam, alegou “razões de calendário”, sem, no entanto, dar qualquer detalhe que justifique a sua ausência. É deveras estranho tendo em conta o registo histórico e o aparente prazer de João Lourenço em somar horas de voo, bem como em estar presente em actividades onde estarão alguns dos principais líderes da política internacional, como certamente vai acontecer na Suíça. Mas, afinal de contas, que compromisso inadiável e de carácter secreto impedirá João Lourenço de levar ao Ocidente a sua ‘expertise’ na mediação de conflitos que lhe granjeou o título de ‘Campeão da Paz’?

23 May. 2024

“E o povo, pá?

É difícil não chegar à conclusão que (como dizem as crianças) o Presidente da República não “se cortou skimini” com os angolanos. O que lhe terão feito esses pobres sofredores, não se sabe. O que se sabe é o que está à vista de todos.

 

No habitual exercício de “toma lá, dá cá”, depois de ter aberto os cordões à bolsa para sacar míseros 30 mil kwanzas para os funcionários do regime geral da função pública, eis que três dias depois o preço do gasóleo sobe quase 50%.