Suely de Melo

Suely de Melo

Vinte e três anos. Tempo suficiente para gerar uma nova geração, para ver árvores crescerem, para, quiçá, aprender a lição. Mas não, caro ouvinte, não para a distribuição de energia elétrica neste país. Afinal, vinte e três anos depois do último tiro, da última bomba, do último grito de desespero da guerra, o executivo ainda empunha o fantasma do conflito como a derradeira justificação para a escuridão persistente. Enquanto o resto do mundo avança em energias renováveis e redes inteligentes, por cá, a guerra que acabou quase no século passado continua a ser o bode expiatório perfeito para a falta de luz em muitos lares. Segundo o ministro da energia e águas as infraestruturas eléctricas obsoletas são herança das décadas de guerra em que houve sabotagens constantes. Poderíamos pensar que todo este tempo de "paz" teria servido para reconstruir, para modernizar, para planear. Mas não. Serviu, para quê? Para pilhar.

Depois de anos de uma espera que faria Matusalém bocejar e de uma pressão popular tão subtil quanto um elefante numa loja de cristais, eis que o nosso magnânimo líder da nação condescendeu em receber o líder daquele... como é mesmo o nome? Ah, sim, o maior partido na oposição. A nação parou. Ninguém sabia qual superlativo usar primeiro. “Encontro épico”, “diálogo revolucionário”, “momento que ficará para os anais da história”... tudo isso para um mero aperto de mãos e, quem sabe, algumas palavras amenas… 

16 May. 2025

Haja paciência…

Mas que terra de surpresas agradáveis e decisões... interessantes. Agora há makas com os “no que tange” e “no que concerne”… Vejam só, estávamos nós iludidos com a vã esperança de um debatezinho sobre as leis eleitorais, promovido pela Ordem dos Advogados de Angola. Afinal, quem não adora uma boa discussão sobre o que nos espera as próximas idas às urnas? Eis que surge, majestoso e veloz como um raio em dia de sol, o Tribunal da Relação de Luanda.

Que montanha-russa de emoções nos tem proporcionado o maior partido na oposição. Primeiro, a indignação contida, o apelo à serenidade, a promessa de uma luta institucional épica. Uma luta institucional em que quem comanda o barco tem a faca e o queijo na mão, manda e desmanda, e, mediante a política do “a maioria vence”, não precisa do aval de quem quer que seja para o que quer que seja. Foi preciso, após muito esforço cerebral, perceber que essa dita luta institucional não passava de utopia, para se adoptar uma outra estratégia: o “virar de costas”. O grupo parlamentar da Unita optou, não poucas vezes, por levantar cartazes ou até mesmo abandonar as plenárias quando as coisas, surpreendentemente, não corriam como esperavam. Mas o resultado foi, pasmem-se, nulo, nada, zero. O máximo que conseguiram, quiçá, foi aguçar os nervos da maioria, com tamanha algazarra. Que espetáculo de paciência! Quase adormecemos a assistir. Mas, de repente, um despertar!