Suely de Melo

Suely de Melo

Ser do “partido” é complicado. Não no sentido de complexo, com equações de segundo grau ou física quântica. É complicado no sentido de “elástico”. A coluna vertebral tem de ser feita de um material que resista a uma torção de 180 graus a qualquer momento, e o cérebro tem de ter um botão de formatação sempre operacional. Num dia concordamos com chefe na ideia A.

Vivemos tempos difíceis… Estamos num momento da nossa vida política em que a carência de referências e a pressa para que o actual Presidente abandone o palácio nos fazem ver qualquer um como o substituto perfeito. Basta um par de frases ditas com uma fleuma que aparenta alguma dissonância com o 'Inquilino da Vez' e... Bum! A miragem da semana, meus caros, tem nome, sobrenome e pasta: Isaac dos Anjos, o ilustre ministro da Agricultura e Florestas. Depois de uma entrevista concedida à TPA, as redes sociais explodiram num frenesim de exaltação.

O que dizer hoje sobre estes dias que andaram?! Como explicar aos que pensavam que chegamos ao fundo do poço, que afinal o fundo encontrou o fundo dele?! Depois de anos e anos a fio a assistirmos impassíveis ao desmantelamento silencioso de uma Nação; depois de décadas a polvilhar o solo fértil da Nação com a indiferença mais sublime, eis que a colheita vem em forma de… vandalismo! Quem diria que a negligência plantaria algo tão surreal… Nestes 50 anos, a educação foi tratada como aquele parente pobre que só convidamos para o Natal por obrigação. Como um detalhe, um luxo, um capricho de quem não tem mais o que fazer.

Aqui na terra da democracia do ‘bungle bang’, é mais do que óbvio que manifestação só é verdadeiramente "pacífica" quando se trata de glorificar o partido no poder. Tudo o resto não passa de vandalismo, insurreição e, muito provavelmente, conspiração internacional para destabilizar a nação! Mesmo com esta regra de ouro incrustada na nossa paisagem política, o povo, com a sua persistência quase teimosa, decidiu ir novamente para as ruas.

Enquanto por cá os jornalistas se digladiam por uns tostões a mais no contracheque, num cabo de guerra salarial que mais parece novela mexicana, com direito a “vitória” anunciada pelo sindicato e desmentido fulminante pela comissão negocial dos conselhos de administração das empresas públicas de comunicação social, lá nas terras do Tio Sam, a coisa é de outro nível. Por lá, temos uma colega de profissão com ambições que transcendem o simples furo de reportagem. Aparentemente, a nossa perspicaz jornalista decidiu que a caneta era pequena demais e vestiu o chapéu de diplomata.