Suely de Melo

Suely de Melo

Na era da informação, em que as palavras ganham vida e os discursos se entrelaçam com a realidade, a afirmação do Ministério do Interior sobre a existência de uma democracia plena no nosso país soou como um eco distante de verdades não ditas. Ora, esta semana ficamos a saber que afinal muito boa gente esteve todo este tempo enganada quando pensou que houvesse alguma aversão às manifestações.

Os ventos não sopram a favor de Angola. Ou, se quiserem, do MPLA. Ou, ainda se preferirem, de João Lourenço…Depois de ter azedado a relação com o único que decidiu estender a mão ao país quando a maior parte lhe virou as costas; depois de ter tentado buscar fortalecer as relações com o Ocidente, especialmente com os Estados Unidos, fantasiado na diversificação dos laços internacionais e na atracção de investimentos e apoio económico, cujo objectivo surripiou dos cofres públicos milhares e milhares de dólares; depois de quase ter saído do quase a vinda de um presidente norte-americano, que levou à movimentação de céus e terras para que Angola ficasse minimamente apresentável; quis o raio do destino que os democratas fossem varridos e com eles, talvez, a esperança da concretização dessa aproximação. Não é novidade pra ninguém a ideologia isolacionista de Donald Trump e o que no geral ele pensa sobre África.

Do partido-Estado, seus dirigentes e instituições, quase diariamente, chegam denúncias e queixas de vária ordem. O indicador é apontado para todos os lados: oposição, sociedade civil, colegas seus. Mas deles próprios, os acusadores, nunca se ouviu a assunção de qualquer erro, falha ou tropeço. Quais perfeitos! Se não são os vândalos que destroem os bens públicos, são os frustrados que atentam contra a vida do Presidente da República. Se não são os arruaceiros que desacatam as autoridades, são os agentes que cometem erros no exercício das funções. Se não são os indisciplinados que semeiam discórdia dentro do partido, são os que querem o poder a todo o custo e fomentam a balbúrdia.