Quando a diplomacia jornalística encontra a realidade
Enquanto por cá os jornalistas se digladiam por uns tostões a mais no contracheque, num cabo de guerra salarial que mais parece novela mexicana, com direito a “vitória” anunciada pelo sindicato e desmentido fulminante pela comissão negocial dos conselhos de administração das empresas públicas de comunicação social, lá nas terras do Tio Sam, a coisa é de outro nível. Por lá, temos uma colega de profissão com ambições que transcendem o simples furo de reportagem. Aparentemente, a nossa perspicaz jornalista decidiu que a caneta era pequena demais e vestiu o chapéu de diplomata.

E para quem, perguntam vocês? Nada mais, nada menos, que para interceder junto ao ‘tout-puissant’ Donald Trump em nome do nosso queridíssimo Presidente da União Africana, que por uma "coincidência" do destino, é também o Presidente de Angola. E o que se viu foi um espetáculo digno de Óscar! Uma sucessão de elogios tão rasgados que fariam um alfaiate chorar. A nossa mais nova ‘diplomata’ não poupou tinta, ou melhor, saliva, para engrandecer o papel, completamente desconhecido da humanidade, de Trump na luta pela paz mundial e em particular na RDC. Chegou ao ponto de sugerir que o homem merece o Nobel da Paz! Enquanto uns batalham por dignidade salarial no jornalismo, outros batalham por um Nobel da Paz para um personagem que, para muitos, é a antítese da paz. Mas… bem, quem somos nós para julgar a criatividade alheia? Afinal, no palco da geopolítica, cada um joga com as cartas que tem… ou com as que inventa. E, aparentemente, a nossa jornalista tem um baralho cheio de ases e muita lábia. Entretanto, ao que tudo indica, essa ‘intervenção diplomática’ teve a mesma efemeridade da felicidade salarial dos jornalistas angolanos. Mal a nossa ‘diplomata’ saiu do encontro, Donald Trump convidou um punhado de líderes africanos para uma ‘almoçarada’. O problema? Esqueceu-se de João Lourenço. O Presidente que era o centro daquela manobra diplomática ‘jornalística’ foi olimpicamente coado. Ou será que a jornalista se esqueceu de entregar o convite? Ou será que o ‘esquecimento’ de Trump foi um recado, um sinal de que nem todos os elogios e apelos são suficientes para garantir um lugar à mesa? A ver vamos se o silêncio que se seguirá será ensurdecedor ou se teremos novas tentativas de ‘diplomacia’ para colocar Angola no mapa dos jantares de Washington.
Ainda esta semana, continuaram os ‘miminhos’ entre os irmãos da oposição. O enredo ganhou um novo capítulo, com o ex-maninho Chivukuvuku a lançar uma bomba que fez as redes sociais tremerem: ele próprio, do seu rico bolso, teria ‘engordado o Galo’. Isso mesmo. ‘Man Chivas’ revelou que, por algum tempo, financiou a Unita. A declaração, como era de se esperar, não passou impune. Rapidamente, o general Lukamba Gato assumiu o papel de guardião da honra do partido e fez questão de refrescar a memória de Chivukuvuku: a Unita não vive de esmolas. A mensagem foi directa e carregada de indignação. Mas o General Gato não se contentou em apenas refutar a acusação. Foi mais longe numa jogada retórica que fez muitos correrem aos arquivos históricos: "Perguntem aos americanos, aos sul-africanos…", escreveu nas suas redes sociais. Tamanha ousadia de man Chivas, atribuir-se o papel de financiador que nem as grandes potências tiveram coragem! A questão que fica é: será que esses ‘miminhos’ continuarão? E quem será o próximo a abrir o livro das finanças da oposição? Aguardemos…
E como a vida do angolano é um autêntico filme, daqueles de suspense, em que cada amanhecer pode trazer uma nova reviravolta, a semana terminou provando isso mesmo e com um golpe directo no bolso do cidadão. Enquanto a diplomacia e os ‘quizangos’ da oposição animam as redes sociais, a realidade de quem vive ou tenta sobreviver por aqui é outra bem diferente. Fomos dormir com um preço para o gasóleo e, quando acordamos, pah o preço era outro. Simples assim. Sem aviso prévio, sem a divulgação de uma calendarização que pudesse preparar as carteiras (e os corações) dos angolanos, o Governo limita-se a lançar uma nota umas poucas horas antes da medida entrar em vigor. E depois? Salve-se quem puder! Ninguém se pronuncia, ninguém explica, apenas se age. E o resultado é este: o gasóleo que em 2024 custava 135 kwanzas, saltou para 400 kwanzas em 2025. Um aumento brutal, de quase 200%, que estrangula ainda mais o orçamento das famílias e das empresas, com a vida a encarecer a olhos vistos, sem que os salários acompanhem este ritmo alucinante. Será que a próxima manhã nos reserva mais um aumento, mais um susto? Será que um dia acordaremos e o pão terá o preço de um carro?
*Crónica do programa ‘Dias Andados’, referente ao dia 4 de Julho de 2025
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