António Miguel

António Miguel

IV LEGISLATURA. UNITA e CASA-CE aumentam subsídios com os números de votos, enquanto MPLA, PRS e FNLA vão receber menos dinheiro em termos reais, ou seja, na relação kwanza-dólar. Por ano, o Estado vai pagar pouco mais de 40 milhões de dólares às formações políticas que participaram nas eleições de 23 de Agosto.

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O total dos encargos financeiros do Estado com os partidos políticos da próxima legislatura devem quebrar, em termos reais, cerca de 10% para os 203,388 milhões de dólares. Os cálculos do VALOR assumem uma taxa média, nos próximos cinco anos, de 0,01 dólar por cada kwanza (a taxa com que o Banco Nacio Nacional de Angola encerrou a sessão de 8 de Setembro, última sexta-feira).

Conforme os cálculos, os 6.782.901 votos válidos dos quatro partidos (MPLA, UNITA, PRS e FNLA) e a da CASA-CE, nas eleições de 2017, devem valer 6,7 mil milhões de dólares, a julgar pelo disposto nos números 1 e 3 do artigo 5.º da Lei dos Partidos Políticos. O disposto determina a apuração dos subsídios anuais às formações políticas que tomam assento pela multiplicação do total de votos de cada concorrente por mil kwanzas. Assim sendo, os 6,7 mil milhões de kwanzas anuais conseguidos nas eleições de 2017, apesar de, em termos nominais, representarem um crescimento de cerca de 18%, face aos 5,7 mil milhões das eleições de 2012, em termos reais quebram cerca de 10%.

Ao câmbio médio de 0,01 dólar por kwanza, 6,7 mil milhões de kwanzas valem 203,388 milhões de dólares, ao passo que os 5,7 mil milhões de kwanzas de 2012, ao câmbio médio do BNA de 31 de Dezembro de cada um dos últimos cinco anos, valem 224,652 milhões de dólares.

Deste modo, em termos parciais, ao vencedor MPLA (com 4.164.157 votos), caberá 4,16 mil milhões de kwanzas anuais, o equivale a 25 milhões de dólares, menos 7,5 milhões do que recebeu, em média, na legislatura cessante.

A UNITA, que assegurou 1.818.903, vai receber 1,8 mil milhões de kwanzas anualmente, o equivalente a 11 milhões de dólares, mais 3,4 milhões do que recebeu, em média, na legislatura que termina.

A CASA-CE, com 643.961 votos, quase o dobro dos números de 2012, terá de subsídio 643,9 milhões de kwanzas, o equivalente a 3,8 milhões de dólares ao ano, mais 1,1 milhão do que a média de entre 2013 e 2017.

Em sentido contrário, vai o PRS que, com os 92.222 votos, deve reclamar 92,2 milhões de kwanzas (553 mil dólares, muito abaixo dos 771,7 mil dólares que recebeu, em média, nos últimos cinco anos.

A FNLA também sai enfraquecida do pleito eleitoral em termos de encaixe financeiro. Dos 511,9 mil dólares que recebeu, em média, nos cinco anos da legislatura cessante, o cofre dos ‘irmãos’, entre 2018 e 2022, vai receber, em média, 381,7 mil dólares, a mercê dos 63.658 votos que lhes foram declarados pela Comissão Nacional Eleitoral.

Construir dez mil aldeias em Angola nos próximos 50 anos constitui o maior sonho do Grupo ASAS, que arrancou já o projecto, denominado Agroaldeias Zé Dú, no Camela, Huambo. Segunda Amões, presidente do conselho de administração do grupo, diz que o conglomerado tem uma facturação anual acima dos 200 milhões de dólares e pretende investir 400 milhões de dólares até 2025.

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O conglomerado que gere - o grupo ASAS - está a investir num projecto, denominado ‘Agroaldeias Zé Dú’, no Huambo. De que se trata?

Tem uma abrangência muito grande. Neste momento, já erguemos escolas e, na verdade, a aldeia da Camela Amões tem mais escolas do que alunos. Provavelmente, deve ser uma excepção no país. Estamos com oito escolas, cada uma composta por três salas. Mas, até ao próximo ano lectivo, a aldeia terá ensino médio e contará com mais de 20 salas de aulas. Mas não construímos apenas escolas. Construímos também centros médicos e igrejas, porque pensamos que o homem não só de pão vive. O lado espiritual é fundamental, dentro da perspectiva de uma Angola nova. Fizemos arruamentos e temos saneamento básico. Temos iluminação pública, temos casas para os técnicos.

Em quanto está orçado o projecto?

A primeira fase vai até 2025. Ou seja, são dez anos, porque começou em 2015. O grupo ASAS pensa construir duas mil casas sociais naquela aldeia, além de outras infra-estruturas. Até 2025, o grupo pensa investir acima de 400 milhões de dólares, só na Camela Amões. Quanto foi investido até agora? Estamos a trabalhar agora para saber quanto é que o projecto já consumiu.

É um projecto marcadamente social.Qual é parte do negócio?

Ninguém faz um investimento sem contar com retornos e o projecto ‘Agroaldeias Zé Dú’, concretamente a experiência piloto da aldeia Camela Amões, não foi talhado para fundos perdidos. Não é essa a nossa perspectiva. Por exemplo, o facto de retermos as pessoas daquelas aldeias, dando-lhes emprego, vai gerar rendimentos. Há, portanto, essa componente económica. As pessoas vão produzir e pagar impostos; vão pagar renda à cooperativa e esta vai recuperar o investimento. Há vários ganhos.

Qual é a estratégia concreta de retorno do investimento?

As pessoas às quais forem atribuídas casas sociais vão pagar renda anual, mas nunca será em dinheiro. Será sempre com a sua produção. Por exemplo, quem produzir 100 sacos de milho por ano vai pagar cinco sacos pela renda da casa. A cooperativa, que recebe o pagamento, vai processar esse milho e transformá-lo em fuba, ração e outros produtos que serão distribuidos nos grandes centros de consumo. A cooperativa também vai ter a responsabilidade de comprar o excedente que o associado quererá vender. Por isso, dizia que este projecto tem também uma componente económica muito forte. Na cooperativa da pecuária, onde temos gados bovino, caprinos e ovino, o procedimento será basicamente o mesmo. Estamos agora a construir pocilgas e galinheiros. Portanto, vamos criar gado suíno e galinhas. Pelos nossos cálculos, este investimento terá retorno a partir dos próximos dez anos. O projecto é de longo prazo.

Estão a distribuir terrenos para o cultivo?

Exactamente. Neste momento, já temos constituídas duas cooperativas, uma agrícola e outra pecuária. Já distribuímos aos associados das cooperativas acima de 300 hectares. A cooperativa tem a responsabilidade de preparar as terras e entregar as sementes, bem como as maquinarias. Este ano, prevemos mais do que dobrar essa cifra para entre 600 e 800 hectares que serão distribuídos aos associados.

O projecto contempla também edifícios para serviços da administração pública?

Na verdade, não enumerei todas as infra-estruturas que estão a ser erguidas na aldeia. Estão também em construção edifícios para a administração da aldeia e para a representação da educação e saúde. Estamos a construir uma escola de 20 salas de artes e ofícios e com dois edifícios de internatos. Cada edifício tem 30 suítes. Construímos ainda áreas de lazer.

A intenção é transformar a Camela Amões de aldeia para vila?

Bem, isto não compete ao grupo ASAS. É verdade que tem infra-estruturas que se podem comparar a algumas comunas e municípios. Até há quem diga que algumas infra-estruturas já ultrapassaram as de alguns municípios, mas não compete ao grupo fazer a elevação. Temos as autoridades competentes para o efeito.

E como tem sido a articulação com o Estado?

Temos contactos com o Governo central, através dos ministérios, dos quais temos tido uma grande receptividade. O Ministério da Energia e Águas, por exemplo, mandou técnicos para fazerem estudos e levantamentos na aldeia. Acreditamos, por isso, que coisas concretas vão aparecer em relação à energia e à água. Também tivemos encorajamento muito forte do Presidente da República, até porque o projecto leva o seu nome. Também temos articulação com o governador do Huambo e o Ministério do Interior.

E em relação às comunicações, a rede telefónica mais concretamente?

Temos dificuldades de comunicação. A Movicel e a Unitel prometeram instalar o sinal na aldeia. Estava para Maio, mas, até agora, ainda não o fizeram. Neste projecto, temos funcionários do Cunene, Huíla, Huambo, Bié, Luanda, Uíge e Benguela. Estas pessoas, para poderem comunicar com os familiares, têm de andar longas distâncias até subir em árvores para ganhar altura e ter sinal. Por isso, mais uma vez gostaria de rogar às essas companhias de telefonia para que instalem, na Camela, o sinal, porque, do ponto de vista económico, haverá retorno.

Quantas pessoas trabalham na implementação do projecto?

Em meados do ano passado, tínhamos perto de 650 trabalhadores. Hoje, temos acima de dois mil trabalhadores. Neste projecto, apenas 1% é mão-de-obra estrangeira. Só a empresa que está a fornecer portas é que é estrangeira, mas também as produz no Huambo. Portanto, 99% da mão-de-obra é toda angolana, 80% da qual é local, das aldeias. De outras províncias, vieram apenas técnicos que estão a passar o ‘know how’ aos nativos das aldeias. Em volta da Camela Amões, existe um inverso de 50 aldeias. São habitantes dessas aldeias que nós estamos a incentivar a trabalhar aí mesmo, porque é aí onde estão as suas famílias.

Quantos habitantes tem a aldeia?

Quando começámos este projecto, a Camela tinha perto de 600 habitantes. Neste momento, a Camela já conta com 1.600 habitantes. Os investimentos que estamos a fazer estão a atrair pessoas que querem trabalhar, morar e estudar. Então Camela está a crescer muito rápido.

O projecto é apenas para Camela?

O nosso sonho é construir, em Angola, perto de dez mil aldeias. Isso corresponde entre 18 e 20 aldeias por comunas. É um megaprojecto. Estamos agora a convidar o Executivo para visitar e avaliar. Já tivemos a visita do ministro da Administração do Território, Bornito de Sousa, que ficou satisfeito e reconheceu que o projecto pode melhorar as condições de vida dos habitantes das aldeias. Estas dez mil aldeias vão ser implementadas num período de 50 anos.

É o maior desafio do grupo ASAS?

Sem dúvidas. Tem uma componente muito grande. Acredito que iremos ao encontro do slogan do Presidente Agostinho Neto, quando dizia que “o mais importante é resolver os problemas do povo”. Com o projecto Agroaldeias Zé Dú, estaremos, na realidade, a resolver os problemas do povo. Todos nós, sem excepção, viemos das aldeias, por isso até é um acto de gratidão a requalificação das aldeias.

Que leitura faz ao ambiente de negócios em Angola?

É bom, ao contrário daquelas pessoas que pensam que a crise vem simplesmente nos sufocar. Na verdade, a crise vem fazer-nos pensar; fazer com que busquemos alternativas, e fazer com que deixemos de esbanjar e ostentar. Portanto, a crise veio em boa hora, porque a forma como estava a nossa economia criava uma certa preguiça de pensar. As pessoas pensavam que o dinheiro resolvia tudo, mas, hoje em dia, percebem que é preciso também ser inteligente.

Mas há quem aponte muitas fragilidades no ambiente de negócios.

Depende. Cada um tem a sua opinião sobre um assunto. A nossa opinião é que não devemos olhar para o mercado angolano e fazer comparações, porque não há nenhum país igual a outro. Angola é igual a si própria. Nós, empresários e empreendedores, antes de fazerem qualquer negócio, temos de tomar cuidado e falar antes com os técnicos, se não vemos sempre crítica. Apontar o outro é a coisa mais fácil. A falta de energia, por exemplo, é uma realidade a que não podemos fugir. Temos de fazer negócios de acordo com as condições do nosso país. Há pessoas que queriam ter energia como tem a África do Sul ou Portugal. É injusto comparar uma criança com um adulto.

Quando olha para o tecido empresarial angolano, o que mais o preocupa?

Deveríamos ter uma aliança maior com Deus, que não só do pão vive o homem. O que acontece no continente, e em particular em Angola, é que nós, muitas vezes, pensamos que o facto de termos dinheiro não precisamos de Deus, então, depois o Diabo vem com fantasias e muitas ilusões. Criam canais para a fuga desnecessária de capitais e depois queremos criticar que o Executivo não ajuda. Na minha perspectiva, quem gere uma empresa tem de ter Deus em primeiro lugar para que tenha sucesso no negócio. E para que também possa ter a visão de que o pouco com Deus é muito. O que eu vejo aqui é que há empresários que têm muito, mas, como só têm um olho físico, acham que o que têm é pouco, então acabam por dizer coisas que nós achamos não serem verdades.

“O nosso grupo já é multimilionário”

O que vale hoje o grupo em termos de activos?

O nosso grupo já é multimilionário. Com esse projecto Agroaldeias, o Grupo ASAS será multibilionário.

Quais são as outras áreas de investimento do ASAS?

O Grupo ASAS está em vários segmentos da actividade económica do país. Estamos no imobiliário, na banca, no seguro, na construção, nos transportes e na saúde. O grupo controla acima de dez empresas.

Qual é volume de negócios do grupo?

Tem uma facturação acima dos 200 milhões de dólares/ano e conta com mais de dois mil trabalhadores.

Quanto pagam em impostos ao Estado?

É grande. As repartições do Ministério das Finanças tem conhecimento, através, das empresas do Grupo ASAS, mas é grande.

Qual é o negócio do grupo mais lucrativo?

São vários. Temos perto de seis empresas que constituíram um fundo imobiliário. Quando estávamos em tempo de ‘colheita’, os investimentos, no mercado, eram pagos em menos de cinco anos. Com essa facturação excessiva que houve, as empresas fizeram poupanças. Fizeram reservas, que hoje estão a manter-nos vivos. O fundo mobiliário que temos é o mais lucrativo. As menos lucrativas são as empresas de transportes, a Transcatete e a Transhuambo. Só um pneu de um camião custa 75 mil kwanzas. Portanto, um frete para o Huambo a 200 mil kwanzas não dá para assumir os custos da viagem.

Deixaram de investir em algum projecto por falta de divisas?

Quando não tenho divisas, faço outra coisa que não precisa de divisas. Uso as reservas. As empresas devem criar reservas. Depois cabe a cada gestor decidir em que moeda vai colocar essa reserva. Nós, neste momento, temos algumas reservas nos bancos locais em dólares e em euros. E, neste momento, os bancos estão a pagar bem, do ponto de vista dos juros.

A empresa de construção civil do grupo, a Angostroi, foi famosa nos anos 1990. Qual é o ponto de situação da empresa?

A Angoestroi não sumiu. Mas, como sabe, tudo na vida tem a sua época. Naquela altura, a empresa fazia obras de construção e de reabilitação de escolas, hospitais e postos policiais. A empresa continua a exercer a sua actividade, mas já não com aquela pujança, porque já cumpriu com a sua função.

Quantas pessoas empregava, na altura?

Tinha um universo de três mil trabalhadores. Tínhamos filiais em algumas províncias, como Huambo, Bié, Kuando-Kubango, Moxico, Cunene, Huila, Benguela, Bengo, Uíge e Cabinda, tirando a sede em Luanda. Hoje, a Angostroi continua activa e é uma das empresas que estão a galvanizar o projecto Agroaldeias Zé Dú. Neste momento, tem perto de 400 trabalhadores.

PERFIL

António Segunda Amões nasceu em Fevereiro de 1969, na Aldeia da Camela, no Huambo. Formou-se em geologia e petróleo, na ex-União Sovietica, na cidade de Baku, entre 1986 a 1991. É religioso, casado e tem oito filhos. O entrevistado é irmão do malogrado empresário Valentim Amões e de Faustino Amões, empresário fundador das Organizações Wapossoka Nambula Limitada. Segunda Amões, que fundou o grupo ASAS a 1 de Julho de 1997, joga snooker em tempos livres.

INTERDIÇÃO. Operadora do grupo Ducard ainda não recebeu autorização para levantar voos, mas já informou o regulador sobre a implementação das reformas.

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A Air26 informou o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAVIC), em Agosto, sobre a situação do processo de reestruturação da empresa imposta pelo regulador. O documento, que espelha apenas parte das orientações já realizadas no âmbito da reforma, encontra-se em apreciação, pelo que a operadora privada ainda não recebeu autorização para voltar a levantar voo, segundo fonte do organismo.

A mesma desmente informações sobre o fim da reestruturação da companhia e a entrega do dossier completo ao regulador. “O documento que a direcção da Air 26 nos enviou é referente a uma parte da reforma. O INAVIC não recebeu nenhum documento conclusivo, por isso é que os seus aviões ainda não podem voar.”

O site ‘Angonotícias’ citou, recentemente, uma fonte da empresa que teria dado como findo o processo de reestruturação e reorganização técnica e operacional da companhia, em resposta a uma notícia do VALOR, de 21 de Agosto. “Se fosse o caso, a Air26 já estaria a voar novamente”, esclarece a fonte deste jornal , insistindo que, se a companhia não cumprir os prazos estabelecidos, pode perder a licença.

A Air26 continua a fazer parte do grupo de operadoras autorizadas a voar. As lojas da operadora continuam abertas, apesar de não venderem bilhetes.

O organismo afecto ao Ministério dos Transportes suspendeu os voos da companhia, em finais de 2016, no âmbito de uma reestruturação técnica e operacional exigida pelo INAVIC, após este ter detectado o que considerou de irregularidades no funcionamento da empresa do grupo Ducard.

O VALOR tentou contactar várias vezes o director comercial da transportadora, Luís Arriegas, mas sem sucesso. Enviadas as questões por mensagem, o mesmo limitou-se a responder que estava em reunião, enquanto, no escritório da empresa, recepcionistas limitam-se a informar a ausência dos responsáveis da companhia.

Criada em 2006, a Air26 possui seis aviões jactos Embraer, de 37 a 50 lugares, e, até à interdição, voava, a partir de Luanda, para quatro destinos (Cabinda, Soyo, Benguela e Ondjiva). A empresa faz parte do Grupo Ducard, que controla dez empresas de diferentes áreas de negócios.

DESPEDIMENTOS. Transportadora avança com redução de pessoal para evitar ?falência. Nos últimos três anos, empresa de autocarros públicos vem enfrentando problemas financeiros, explicadas sobretudo pelas dívidas do Estado.

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A Tura (Transporte Urbano Rodoviário de Angola) pondera despedir, ainda este ano, 125 trabalhadores, o que representa 25% do total de 502 funcionários da empresa, sediada em Luanda, apurou o VALOR.

Segundo o director da Tura, José Augusto, a medida é consequência dos problemas financeiros que a operadora privada de transportes públicos vem enfrentando nos últimos três anos e serve para evitar o encerramento da firma. “É sempre duro ter de despedir trabalhadores nestas condições.

Mas a verdade é que não há dinheiro e, para que a empresa não entre em falência, ficando todos os 502 trabalhadores, mais as suas famílias sem o pão, temos mesmo de reduzir o pessoal”, lamenta o director da Tura que garante indeminizações para os visados.

Apesar das dificuldades de tesouraria, não há salários em atraso, mas José Augusto conta que a empresa esteve em risco de não fazer o pagamento dos ordenados de Julho e Agosto. “Tivemos de fazer várias engenharias financeiras e, por sorte, conseguimos, por isso é que, se não forem tomadas medidas, a empresa vai mesmo fechar.” José Augusto avanou que as dificuldades financeiras da Tura estão relacionadas com as dívidas acumuladas de cerca de 500 milhões de kwanzas que o Estado tem para com a empresa.

O valor em causa tem que ver com o pagamento do subsídio do bilhete de passagem do autocarro. A corrida custa 90 kwanzas por viagem e é subvencionada em dois terços, sendo que o passageiro paga 30 kwanzas e o Estado cobre os restantes 60 kwanzas. “Se o Estado pagasse os subsídios a tempo, garantidamente não estaríamos a enfrentar estes problemas”, acusa Augusto, para quem o custo real da passagem do autocarro é de 200 kwanzas, o que deveria levar o Estado a actualizar a tarifa.

“Deste modo, o passageiro pagaria 100 kwanzas e a subvenção cobriria os restantes 100”, calcula. José Augusto voltou a lamentar o alto índice de deterioração dos autocarros devido à má utilização por parte dos passageiros e ao mau estado das estradas primárias e secundárias, acrescentado que um autocarro normal tem capacidade para transportar 80 a 85 passageiros, mas no quotidiano chegam a entrar 130 nos meios rolantes. A aquisição de um autocarro novo anda à volta dos 200 mil dólares.

Os autocarros da Tura, que não têm concessionária em Angola, são fabricados na China, país de onde também saem as peças sobresselentes. O processo de importação deste material leva entre quatro e seis meses, tempo em que as máquinas também ficam inoperantes à espera da manutenção que custa mensalmente 3.500 dólares por unidade. Já as perdas de um autocarro parado rondam os 500 dólares por dia, segundo cálculos do responsável da Tura.

Criada em 2001, a Tura já teve até 250 autocarros, mas actualmente não passam de 30 viaturas. Além dos transportes urbanos, a empresa opera também no segmento interprovincial, Luanda-Malanje e Luanda-Uíge. No meio de vários dificuldades, a direcção da Tura foi ainda “surpreendida”, com um incêndio nas suas instalações, situadas na zona do Mercado dos Congolenses, em Luanda.

Os danos estão avaliados entre 150 e 200 mil dólares, sendo que as causas ainda estão por apurar.A empresa não tem seguros contra incêndios.

Segundo José Augusto, os Serviços de Investigação Criminal estão no encalce das investigações. Entre as perdas, destacam-se 210 garrafas de gás butano, de uma empresa associada ao grupo Tura, estruturas de transportes dessas botijas e uma bomba de combustíveis ligada a cinco tanques de abastecimento dos autocarros.

RESULTADOS. Eleitores dão mais um voto de confiança ao MPLA, que deverá governar mais cinco anos (até 2022), embora tenha perdido mais de uma dezena de assentos na Assembleia Nacional. Projecções dos resultados provisórios apontaram Luanda, Cabinda e Luanda-Sul como sendo as províncias de maior ‘discussão eleitoral’ e onde o partido maioritário não conseguiu atingir 50% dos votos escrutinados.

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O MPLA perdeu 25 lugares no parlamento, segundo as projecções dos resultados provisórios das eleições de 23 de Agosto. No pleito eleitoral de 2012, o partido governante tinha conquistado 175 dos 220 lugares na Assembleia Nacional, sendo que o número de deputados cai para 150, de acordo com dados preliminares da Comissão Nacional Eleitoral (CNE). Os 25 assentos perdidos, do partido no poder, distribuíram-se, claramente, para a UNITA, que sobe de 32 para 51 lugares, e a CASA-CE, que dobra o número de deputados de oito para 16. O PRS e a FNLA, de acordo com os dados provisórios, também reduzem os assentos no parlamento, descendo, respectivamente, de três para dois e de dois para um. Quem não teria nenhum motivo para comemorar seria Quintino Moreira, que poderá não entrar na Assembleia Nacional, mas mantendo em ‘vida’ a APN.

Ainda pelos resultados provisórios, embora lhe tenha escapado mais de duas dezenas dos assentos parlamentares, o MPLA venceu as eleições com 61,10% dos votos e vai governar mais cinco anos, podendo aprovar leis sem votos dos partidos da oposição.

A UNITA conseguiu 26,70%, enquanto a CASA-CE obteve 9,46% dos votos. O PRS mantém-se na quarta posição com 1,33% dos votos, a FNLA atingiu 0,91% e a APN 0,49% dos votos.

Os dados provisórios da CNE dão ainda conta que, até sexta-feira, 25, 98,48% dos 9.317.294 eleitores tinham sido escrutinados, faltando apenas à volta dos 2%. Estiveram disponíveis 25.474 mesas de votos, tendo sido escrutinadas 25.026 mesas, o que representa 98,24% do total.

As eleições tiveram uma participação de 7.025.419 eleitores, equivalente a 76,56%, registando uma abstenção na ordem dos 23,44%, o que responde a 2.150.631 eleitores que não participaram. Votos validos fixaram-se nos 6.706.012, enquanto os nulos estiveram à volta dos 123.102. Votos em branco foi de 176.426 e 19.879 reclamados.

PROVÍNCIAS MAIS DISPUTADAS

Bié, Cabinda, Huambo, Luanda, Lunda-Sul e Zaire destacaram-se nas eleições de 23 Agosto como sendo as províncias de maior disputa eleitoral, segundo os últimos resultados provisórios divulgados, sexta-feira, 25, pela Comissão Nacional Eleitoral.

Entre as seis praças mais animadas, o maior destaque recai, seguramente, sobre Luanda,onde o MPLA, partido que governa desde 1975, não conseguiu atingir 50% dos votos, fixando-se nos 48,22%, o que garante três deputados dos cinco a eleger.

A UNITA elegeu os restantes dois deputados, obtendo 35,50% dos votos. A CASA-CE, apesar de ter conseguido 14,58% dos votos, não elegeu nenhum deputado em Luanda, tal como a FNLA, PRS e APN.

A outra discussão eleitoral renhida aconteceu em Cabinda, onde mais uma vez o partido maioritário não conseguiu recolher sequer 40% dos votos. Nesta província petrolífera, o MPLA, com 39,75% dos votos, discutiu as eleições directamente com a CASA-CE (29,33% dos votos), que se apresenta como o novo principal rival do partido no podernaquele território mais a Norte de Angola.

As projecções provisórias apontam um empate de 2 a 2 em termos de assentos parlamentares entre essas duas formações políticas. A UNITA elegeu o outro lugar a deputado.

Na Lunda-Sul, o partido maioritário elegeu três deputados, com 45,96% dos votos, enquanto a UNITA, com 41,06% dos votos, assegurou os restantes dois lugares a deputados, deixando as outras quatro formações políticas concorrentes de fora. Entretanto, nas outras três províncias mais bem concorridas, como no Bié, o MPLA obteve 57,44% dos votos, assegurando três lugares à Assembleia Nacional, e a UNITA arrebatou os dois restantes assentos.

Já no Huambo, o MPLA ganhou com 58,24% dos votos e garantiu três deputados naquele ciclo eleitoral provincial, enquanto os ‘maninhos’, com 35,84% dos votos, elegeram dois deputados. Na província petrolífera do Zaire, a oposição conseguiu dois lugares, distribuídos pela UNITA e CASA-CE, com cada um, enquanto os ‘camaradas’ obtiveram três lugares. Em Malanje, Huíla, Kwanza-Norte, Kwanza-Sul e Cunene também chamaram a atenção pelo facto de terem sido as províncias onde o MPLA não teve qualquer dificuldades em assegurar os cinco lugares a eleger a deputados. Com mais de 75% dos votos, em cada uma dessas províncias, os ‘camaradas’ não deixaram espaços para a concorrência eleger deputados.

RECLAMAÇÕES

Antes da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) divulgar os resultados provisórios das eleições gerais, o MPLA tinha já anunciado a sua vitória com maioria qualificada, com base nas informações recolhidas pelos seus delegados nas assembleias de voto.

Não tardou, os mandatários da UNITA e CASA-CE, as duas principais forças da oposição, contestaram a vitória reclamada pelo MPLA, mas também os números divulgados pela CNE. Para o porta-voz da UNITA, José Pedro Cachiungo, os resultados são “falsos”. Tal como o MPLA, o partido do ‘galo negro’ fez a sua própria compilação dos dados vertidos nas actas das assembleias de voto.

Já a representante da CASA-CE, Cesinanda Xavier, afirmou que “possivelmente os dados foram forjados”, deixando claro a sua formação política não estava de acordo com os resultados divulgados com a CNE. Entretanto, antes da divulgação dos resultados, o presidente da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, informou que a coligação analisaria os cenários pós-eleitorais e “estudar as probabilidades” de poder integrar o futuro Governo, numa coligação que admitia poder formar com o MPLA ou a UNITA.