ANGOLA GROWING
António Miguel

António Miguel

VERBAS. Instituição, afecta ao Ministério da Saúde e responsável pela transferência de doentes angolanos para o exterior do país, acumulou uma dívida em Portugal, avaliada em mais de 10 milhões de dólares. Pacientes são convidados a regressar a Angola.

 

A Junta Nacional de Saúde encontra-se há mais de seis meses sem disponibilidade financeira para custear alojamento, pensão, assistência médica e medicamentosa de doentes (e os seus acompanhantes) transferidos para Portugal e África do Sul.

O orçamento da instituição, que, há três anos, estava avaliado em mais de três mil milhões de kwanzas, vem quedando na ordem dos 75%, como consequência da crise financeira derivada da baixa do preço do petróleo, anunciada em 2014. Deste modo, o organismo, afecto ao Ministério da Saúde e responsável pela transferência de doentes angolanos para o exterior, teve, em 2016 e 2017, um orçamento na ordem dos mil milhões de kwanzas.

O director da Junta Nacional de Saúde, Augusto Lourenço, contou que, além da redução orçamental, desde o ano passado, a instituição não recebe com regularidade as verbas cabimentadas, encontrando-se há mais de seis meses sem qualquer valor monetário para assumir despesas com pacientes sob a sua custódia. “A nossa lista de espera é cumulativa. Há doentes que estão na lista de espera há anos. Uns aguardam desde 2014”, declarou.

Para o médico, a situação começa a tornar-se agravante e insustentável, tendo em conta que a Junta se encontra em falta, nos países correspondentes, em relação aos compromissos financeiros.

Em Portugal, por exemplo, a instituição angolana tem uma dívida global (assistência médica e alojamento) que ultrapassa os 10 milhões de dólares. Na África do Sul, o problema é menor, estando a dívida à volta dos 100 mil dólares. Mas o director Augusto Lourenço receia que o valor se vá avolumando, tendo em conta as necessidades diárias dos pacientes.

São perto de 150 doentes que se encontram no exterior em tratamento médico sob responsabilidade do Ministério da Saúde. Em Portugal, estão mais de 100, enquanto na África do Sul, o número chega aos 30. Cada paciente tem direito de levar um acompanhante, o que faz dobrar o número de pessoas, bem como as despesas. Feitos os cálculos, são mais de 200 pessoas sob custódia da Junta Nacional de Saúde. Grande parte da dívida, explica o entrevistado, está relacionada com o pagamento de pensões e alojamentos. “Em termos de compromisso com os hospitais, a situação não é tão grave”, refere.

Como consequência da escassez de recursos financeiros, alguns foram seleccionados e aconselhados a voltar para o país. “Foi um acordo mútuo entre o sector da saúde, na África do Sul, e os próprios pacientes. Vão aguardar em Angola por um momento melhor para depois regressarem à África do Sul e dar continuidade ao tratamento médico”, informou Augusto Lourenço.

Mas de despesas não é tudo. Em Angola, a Junta tem também, sob sua responsabilidade, doentes de insuficiência renal, que se encontram em tratamento no centro de hemodiálise Pluribus África, que funciona nas instalações do Hospital Américo Boavida, em Luanda.

“Nós é que pagamos a assistência médica e medicamentosa desses pacientes”, informou o médico, sem apontar o número de doentes desse grupo em tratamento a nível interno.

Entretanto, há alguns anos, vários doentes em Portugal e África do Sul se recusavam a regressar ao país, apesar de receberem as respectivas altas, nos hospitais em que estavam internados.

Em conivência com funcionários daquelas unidades sanitárias, falsificavam documentos, que ‘atestavam’ que ainda se encontravam doentes. Durante anos, o Estado angolano sustentou várias pessoas nestas condições, sendo que algumas se encontram já a viver definitivamente nesses países.

A situação obrigou o Ministério da Saúde a realizar um inquérito, que comprovou as irregularidades. O director da Junta Nacional de Saúde garante que o quadro foi alterado e que já não há registo de pessoas nesta situação. “Já houve resistências de doentes. Fizemos um trabalho junto dos dois sectores (África do Sul e Portugal) no sentido de estimularmos as altas. Naqueles casos em que os doentes se recusam a voltar ao país, o Estado deixa de assumir a sua responsabilidade.”

Apesar da falta de verbas, o director da Junta frisou que nem tudo está mal e que a crise financeira deve ser vista como uma oportunidade para que o Governo modernize os hospitais públicos, o que reduziria as solicitações de juntas médicas. Fontes do Ministério da Saúde avançaram ao VALOR que o programa de reabilitação dos hospitais tinha entrado em marcha há mais de cinco anos, tendo consumido cerca de 300 milhões de dólares, sem, no entanto, evitar as transferências de pacientes para os exteriores.

 A PRIMEIRA CONDIÇÃO

para que uma pessoa possa ter acesso a junta médica é estar doente. A segunda condição é que a doença de que a pessoa padece não tenha solução no país. Para que se cumpra esse desiderato, é necessário que o doente, ao se dirigir-se à Junta Nacional de Saúde, apresente um relatório médico, que retrate o seu quadro clínico, as limitações que o hospital (emissor do relatório) em dar solução da patologia, bem como, fundamentar a proposta de evacuação para o exterior do país.

Com cerca de 40 anos de experiência no sector da aviação, Hélder Preza, antigo vice-ministro dos Transportes, considera “uma asneira” a forma e argumentos do programa de reabilitação dos aeroportos provinciais, por ‘engolir vários milhões de dólares, sem que as infra-estruturas impulsionem desenvolvimento local, como o aeroporto de N’dalatando, que cerca de 10 anos após a reabilitação nunca recebeu uma única aeronave. O ex-director do INAVIC e da ENANA explica ainda as razões da extinção da Autoridade de Transportes de Luanda, instituição que também dirigiu.

 

Tem acompanhado a reabilitação dos aeroportos?

Sim e sinto que, tal como noutras áreas de actividade da economia do país, continuamos a gastar os nossos recursos, sem a sabedoria e visão que deveríamos ter. Os factos provam muito mais do que aquilo que digo. Reabilitamos o aeroporto de N’dalatando (Kwanza-Norte) e não voa para lá nenhum avião. Reabilitámos o aeroporto do Luau (Moxico), até chamámos de internacional, mas de internacional não tem nada.Não há tráfego sequer para o Luau. Sinto, com dor e mágoa, que nós continuamos a persistir e a cometer as mesmas asneiras. Asneiras essas que se consubstanciam em fazer investimentos sem que os mesmos sejam precedidos de algum estudo de viabilidade.

Não há ganhos sociais, como argumenta o Governo?

Às vezes, o argumento de que certo investimentos traz benefícios sociais... até pode trazer, mas estes argumentos justificam muito maus investimentos. O que está a acontecer em Angola, principalmente, na área de infra-estruturas, em geral, é que, sistematicamente, fazemos os investimentos, depois cada um de nós olha para o que deverá fazer. Sinto que, no domínio dos aeroportos, continuamos a fazer muitas asneiras.

Se ainda fosse o presidente do Conselho de Administração (PCA) da , teria evitado estas obras?

Não sei se o PCA da ENANA tem como evitar, porque grande parte desses projectos é extra ENANA. A ENANA é uma empresa que só gere o aeroporto. Não tem conhecimento profundo e detalhado de como é que se fazem esses investimentos, mas quase todos são feitos quer pelo Ministérios da Construção, quer por órgãos superiores, sendo que a ENANA, às vezes, quando se dá conta, é obrigada a assumir a responsabilidade da gestão de uma infra-estrutura para qual não foi tida nem achada no processo de construção. Grande parte das vezes é assim que acontece. Por outro lado, é preciso entendermos que este conceito que, cada vez mais, se torna moderno, de que é preciso ouvir a sociedade civil, é necessário ouvir as forças vivas da nação, não pode ser um dogma que fica em palavras. Se decidirmos que temos de fazer um aeroporto em Camabatela (Kwanza-Norte) é preciso que quem decide vá a Camabatela e oiça as pessoas que lá estão, porque pode aparecer uma pessoa de bom senso e perguntar para que é que vão construir um aeroporto? Para transportar quem? Quantos passageiros vão entrar em Camabatela, por dia, semana ou por mês? Então, ao invés de construir um aeroporto, não é melhor construir um centro de abastecimento de água para a vila? Com essas intervenções de pessoas de bom senso, é sempre mais provável que se tomem as decisões correctas em relação a tudo.

Por que razão esses aeroportos não são rentáveis?

Simplesmente porque não tem tráfego. A TAAG já voou para o Uíge, Malanje e para outros destinos domésticos. Mas deixou de voar, porque os aviões iam vazios. A TAAG não está para perder dinheiro. A TAAG faz um voo para Malanje, mas só leva 15 passageiros, dois dias depois faz outro, e só leva dez, na semana seguinte vai ter de pensar, porque as tarifas cobradas por esses dez ou 15 passageiros não dá para pagar o combustível do avião.

Há províncias que não têm actividade económica dinâmica e estão muito distantes da capital Luanda. Aí, justificam-se os investimentos nos aeroportos?

É verdade. Isso é um problema das chamadas zonas isoladas, das chamadas zonas de difícil acesso. Eu não estou em condições de dizer se se justifica ou não. Agora, a justificação tinha de ser suportada com argumentos económicos e sociais. Não podem ser só argumentos sociais. O argumento social não pode justificar que a nação, como um todo, gaste milhões num aeroporto, como no Bié, e depois o aeroporto fica às moscas. Há 30 a 40 trabalhadores que tem de estar aí para manter o aeroporto. Quando há voo, é o governador que vai no avião privado. Alguém tem de pagar os salários das pessoas que aí trabalham. Isto são custos que saem dos bolsos de todos nós, enquanto cidadãos, que poderiam ser canalizados para outras áreas.

Enquanto director da ENANA, qual foi a sua principal preocupação?

Na altura, quando fui director da ENANA, o quadro era muito sombrio. No fim dos anos 1980, as dificuldades eram todas. Basta dizer que, como director-geral, cheguei ao ponto de utilizar o meu carro para transportar trabalhadores, que trabalhavam por turno, porque não havia alternativa. Naquela altura, dólares? Nem pensar. Foram momentos ímpares. Alguns dos camaradas ainda se encontram aí, quase todos já reformados, mas colocámos a nossa pedra para construir a nação que hoje temos.

E como é que encontra o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAVIC)?

O INAVIC é uma instituição que têm a obrigação de assegurar que todos os operadores que estejam no mercado de transportes aéreos, operadores ou prestadores de serviços, prestem estes serviços de acordo com as normas internacionalmente aceites. Por causa das dificuldades, por que passámos, desde a Independência, o INAVIC viu-se desprovido de quadros tecnicamente capazes para assumir cabalmente o seu papel. E, como tal, não foi capaz de assegurar que os operadores cumprissem com as normas estabelecidas. Isto levou a que os operadores, por seu turno, baixassem a guarda. Portanto, não observam as normas. Depois ficou um círculo vicioso. Muitos operadores foram permitidos que entrassem no mercado sem um mínimo de condição para o serem.

Que decisão mais importante tomou quando foi director do INAVIC?

Não tenho o hábito de enaltecer efeitos pessoais. Mas, quando cheguei ao INAVIC, encontrei um quadro que tratei de fazer algumas alterações. Uma delas foi a proibição da operação, em Angola, dos aviões Antonov 12, 26 e 30. Portanto, conseguimos convencer o Governo de que estes aviões eram velhos e tinham um monte de problemas. Se nos lembrarmos da ‘célebre altura dos Antonov’, em que havia dezenas de operadores em Angola a operarem aviões velhos e que não tinham condições técnicas, víamos vários acidentes. Até que, a partir de certa altura, se pôs ordem nos círculos.

Os donos dos Antonov eram generais?

Eram todos. Alguns deles estrebucharam. Mas conseguimos impedir que esses aviões operassem. O resultado foi que, desde que esses aviões deixaram de operar, a quantidade de acidentes que aconteciam em Angola baixou vertiginosamente. Depois disso, accionámos um programa para a melhoria de segurança operacional e começámos a apertar operadores. Cancelámos licenças de alguns operadores, obrigámos operadores a refazer todos os seus procedimentos. Mas, nós, o INAVIC, também enfrentávamos problemas semelhantes aos dos operadores. Não tínhamos pessoas para fazer isso. Era preciso pessoas formadas, tivemos de à certa altura, contratar estrangeiros para nos auxiliarem nesse processo e foi-se fazendo o caminho.

Quais são os procedimentos de seguranças que as companhias devem cumprir?

Uma companhia aérea tem um conjunto de procedimentos que tem de cumprir. Em primeiro lugar, é com o avião, em segundo com o piloto e, em terceiro, com operações do avião. Se o fabricante do avião diz, por exemplo, que este avião deve trocar os pneus depois de 30 aterragens, isto está estabelecido no manual do avião,o operador tem de ter mecanismo para controlar o número de aterragens do avião. O que acontece, às vezes, é que o operador não faz este controlo. É obrigação do INAVIC fazer com que o operador cumpra rigorosamente este procedimento. Esse é apenas um procedimento, que mas existem milhares. A norma diz que um piloto, a cada seis meses, tem de fazer um ‘check up’ de saúde. Esse piloto só tem a licença actualizada se fizer esse ‘check up’ de saúde.

Pode fazer o ‘check up’ em qualquer centro de saúde?

Não pode fazer isso no ‘centro de saúde da esquina’. Existem centros especializados par fazer esses check. É obrigação da companhia assegurar que o piloto faça o ‘check up’, de forma regular. Estes são apenas dois exemplos de procedimento de segurança. Tem havido muitas falhas e em todos os operadores. Às vezes, as falhas são mínimas, mas na aviação, não deve haver margem para erros. Se a norma diz que o piloto quando está sentado no avião, o manual do avião tem de estar do lado da mão esquerda, portanto, não pode estar do lado da mão direita. Se trocar o lugar do manual é uma falha, mínima, mas se o manual não estiver lá, no avião, já é uma falha grave e o avião fica impedido de voar. A fraseologia da aviação, por exemplo, não permite que, na comunicação entre o piloto e o controlador de tráfego, se utilizem as palavras sim e não. Devem ser usadas as palavras ‘positivo’ e ‘negativo’. Angola nunca teve um sistema de controlo radar. Eu sei que, há alguns anos, houve um projecto para instalar o sistema radar, no terminal de Luanda, mas não chegou a ser implementado. Isto foi em 2011.

Angola não tem sistema de radar.Que consequência advém da falta de sistema de radar?

O radar torna-se imprescindível quando a intensidade do tráfego é muito grande. Ora, Luanda não tem um tráfego muito grande. Evidentemente que o controlo de radar melhoraria substancialmente o controlo do tráfego aéreo, as separações entre as aeronaves, inclusive os próprios procedimentos poderiam ser melhorados. Mas a sua ausência não me parece que seja um caso de vida ou morte. Em Angola, o controlo é feito via rádio. O piloto reporta a sua posição, em termos de altitude, longitude e velocidade e o controlador de tráfego aéreo encarrega-se em manter as aeronaves separadas, sem ver os aviões. Se tivesse o sistema de radar, ele visualizaria a posição das aeronaves, e seria mais eficaz o controlo do tráfego aéreo.

O piloto é dependente do controlador de tráfego aéreo?

O piloto é altamente dependente do sistema de controlo. No céu não há estrada. O piloto sabe onde está, qual é a sua altitude, longitude, velocidade e rota, mas não sabe o que está a sua volta. Os aviões têm um sistema para evitar colisão. Se um avião estiver a aproximar-se de um obstáculo, o sistema detecta e alerta que há alguma coisa à frente, mas o piloto não sabe exactamente o que é, embora receba o sinal de aproximação a um obstáculo. Pode ser que seja uma montanha. Então o controlador de tráfego é que dá as instruções ao piloto para evitar colisões.

A instalação do sistema de controlo por radar é muito caro?

Não tenho ideia. Mas, há alguns anos, eu ainda estava no activo. Pedimos a Organização da Aviação Civil Internacional que viesse fazer um estudo sobre a instalação de um sistema de radar. Naquela altura, ficava em cerca de sete milhões de dólares, há dez anos. Hoje não deve ficar muito mais caros que isso.

“O bolo que dão a bordo é o mais caro da SADC"

Que leitura faz ao negócio da aviação doméstica em Angola? É um negócio que exige muito investimento, mas o retorno é muito baixo. Na aviação, quem ganha dinheiro ganha um bocadinho. O volume de passageiro é reduzido, porque a maior parte dos angolanos não tem condições económicas para viajar de avião. Um bilhete de avião de Luanda para Cabinda custa à volta de 30 mil kwanzas, é muito dinheiro, porque há pessoas que não ganham isso durante um mês. É o dobro do salário mínimo. Ora, não tendo grande volume de passageiros, quer dizer que os poucos passageiros que viajam vão ter de suportar os custos operacionais das companhias. Além dos chamados ‘custo Angola’. É muito difícil que o mercado angolano possa gerar lucros.

Então não há bom ambiente de negócio?

Angola é um país caro. O combustível de avião em Angola é mais caro que na Namíbia, as taxas aeroportuárias são caras, o catering, aquele pãozinho ou o bolo que dão a bordo do avião, é caro, é mais caro que em qualquer país da região SADC. Isto para dizer que, sendo os custos altos, é natural que as tarifas também sejam caras. E sendo as tarifas caras, o acesso é mais reduzido e, portanto, só com uma ‘grande ginástica’ é que um operador de transporte aéreo ganha dinheiro em Angola. Aliás, a TAAG perde dinheiro todos os anos e em quase todas as rotas. Ainda há pouco, ouvimos o novo PCA da TAAG a dizer que reduziu as perdas, mas ainda não está no lucro, continua na perda. É perda menor, mas continua a ser perda.

Que mediadas pensa que deveriam ser tomadas?

Se falarmos essencialmente no mercado internacional, enquanto, Angola continuar um país fechado, onde qualquer cidadão estrangeiro para entrar, precisa de ter um visto pedido com 15 ou mais dias de antecedência, apresentar não sei quantos documentos, às vezes pagar quase metade do preço da passagem, será muito difícil. Uma das coisas que tem de ser resolvida já é o problema dos vistos. Não queremos dizer que as autoridades que tem de zelar pelo serviço de migração não exerçam o seu papel. Mas, têm de exercer, olhando para a dinâmica do mundo. Actualmente, os namibianos parecem ser os únicos cidadãos, no mundo, que estão isentos de vistos para entrar em Angola, no entanto, não se vê ai uma onda de namibianos ilegais. Se abríssemos as portas, seria uma forma de impulsionarmos o tráfego. A rentabilidade das companhias aéreas só acontece quando o tráfego, tanto de passageiro como de carga, existe. Isso afecta não só os transportes aéreos como outras indústrias, como a do turismo. Esta é uma das medidas que têm de ser tomadas, flexibilizar o visto de entrada em Angola.

“A Autoridade de Transportes não tinha autoridade nenhuma”

A Direcção Provincial dos Transportes de Luanda seria extinta, com a criação da Autoridade de Transportes de Luanda. Mas a Autoridade é que foi extinta... A Autoridade de Transportes de Luanda foi mesmo encarregue de gerir todo o sistema de transporte da cidade, que envolvia essencialmente os transportes públicos ferroviários e rodoviários e o sistema de tráfego, parqueamento, sinalização e semáforos. A verdade é que era a direcção provincial dos transportes que devia ser extinta, mas isto não aconteceu, por razões que eu também desconheço. Durante muito tempo, estas duas entidades coexistiram. Ninguém sabia bem onde começava e terminava a responsabilidade da outra, até que, numa certa altura, eu fiz uma proposta ao governo de Luanda que se extinguisse a Autoridade de Transportes de Luanda. Porque aquele quadro era desagradável para todos, provocando inclusive querelas pessoais desnecessárias. Até porque a Autoridade não tinha autoridade nenhuma.

Durante a existência da Autoridade, que problemas detectou?

Nós, em Angola, temos muitas dificuldades em diferenciar o que é causa e o que é consequência. Isto é que faz com que sistematicamente tendamos a resolver os problemas atacando as consequências. O problema da mobilidade em Luanda não é exclusivo nosso, outros países já viveram estes problemas. O problema é que a nossa estrutura viária (ruas, avenidas e estradas) não tem capacidade para suportar o volume de carros que existem. Então, perante este problema, a solução quase sistemática daqueles que tentam atacar o problema é de alargar a estrada. Só que esquecem que, quando a alargamento da estrada estiver pronto, já não serão quatro mil carros, serão oito mil. Temos de encontrar fórmulas de reduzir o tráfego de circulação de carros.

Como se faz isso?

No mundo, existem soluções desde as mais extremas, de um lado, e mais extrema, de outro. Por exemplo, Singapura não tem como se expandir, não há como alargar as estradas. Quando chegaram à conclusão de que o número de viatura era muito grande, decidiram pôr especialistas a estudar, que concluíram que a cidade só tinha capacidade de ter X viaturas. Por exemplo, 60 mil viaturas, então as autoridades só venderam 60 mil matrículas em leilão. Depois disso já não podia entrar carros. Quem quisesse carro, que comprasse a quem já tivesse. Obviamente que fizeram uma aposta séria nos transportes públicos. Vão dizer: “é possível fazer isso em Angola”? É possível que não seja. Mas, enquanto em Luanda não pararmos para montar um sistema de transporte público, decente, eficaz e a preço justo, que possa levar qualquer cidadão, desde o Presidente da República ao mais humilde cidadão, de uma ponta a outra, o engarrafamento não vai acabar. Agora montar um sistema desse é difícil. Requer dinheiro, mas requer, sobretudo, coragem.

PERFIL

Natural do Huambo, Hélder Preza, licenciou-se em engenharia electroténica, pela Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho Neto e fez mestrado em gestão de empresas, em Canadá, pela Universidade Concordia. Foi admitido na ENANA, como técnico básico, a 14 de Agosto de 1976, na altura designada Serviço de Aeronáutica Civil, onde fez carreira, assumindo várias responsabilidade, até chegar a director-geral. Foi também director do INAVIC, vice-ministro dos transportes e representante de Angola na Organização de Aviação Civil Internacional, em Canadá. O último cargo público que exerceu foi o de presidente da Autoridade dos Transportes de Luanda, entre 2011 a 2013.

 

INVESTIMENTO. Delegações provinciais vão receber novos equipamentos, numa altura em que empresa pública, atrelada ao Ministério do Comércio, prevê atingir 45 milhões de dólares com importação de produtos da cesta básica, neste primeiro semestre.

 

O Entreposto Aduaneiro de Angola (EAA) investiu, este ano, mais de sete milhões de dólares na compra de novos equipamentos e meios rolantes para as suas delegações do Namibe e Huambo, bem como, para a sede, em Luanda.

Trata-se da aquisição de três câmaras frigoríficas de ‘grande porte’ e 20 camiões atrelados. Segundo fonte ligada à empresa pública, afecta ao Ministério do Comércio, os meios importados deverão chegar ao país em breve, sendo que cada uma das delegações citadas terá uma câmara frigorífica, enquanto os novos camiões vão juntar-se aos 20 já em operação, perfazendo 40. “É um investimento à volta de 7,5 milhões de dólares e, até ao fim do ano, vamos colocar estes equipamentos em funcionamento”, calcula a fonte.

Com as compras das novas câmaras frigoríficas, a empresa pública de comércio de produtos da cesta básica pretende ampliar a sua rede de frio com um total de 1.300 metros cúbicos para produtos congelados e frescos.

Para o primeiro semestre, a empresa deverá fazer uma importação na ordem dos 45 milhões de dólares de bens alimentares da cesta básica. No final de 2016, o conselho de administração do EAA, presidido por Joffre Van-Dúnem, submeteu uma proposta ao Ministério do Comércio, no quadro do seu plano estratégico, para a expansão de novos centros de armazenagem da empresa, eventualmente através da requalificação de estruturas já existentes, a identificar em Malanje, Uíge e Cunene.

O investimento insere-se no plano de aumento da cobertura nacional da actividade do Entreposto Aduaneiro de Angola e no Programa de Expansão da Rede Comercial do Executivo.

A firma aposta ainda na embalagem de arroz, feijão e açúcar em sacos de um, dois e cinco quilos, com marca própria. A primeira linha de embalagem será instalada na sede da empresa, em Luanda, no valor de 225 milhões de kwanzas, através de um financiamento bancário, via ‘leasing’.

O Entreposto Aduaneiro de Angola fechou as contas de 2016 sem qualquer reserva registada pelos auditores interno e externo e submeteu-as à aprovação ao Instituto do Sector Empresarial Público (ISEP).

REMUNERAÇÃO. Companhia aérea privada tem cem funcionários, vários dos quais se encontram a ‘sobreviver’ de ‘biscates’. Proibição da operadora de voar estará ligada ao não pagamento de ordenados aos colaboradores.

 

A Air26 não paga salários há mais de um ano. Segundo declarações dos trabalhadores da companhia aérea ao VALOR, em 2016, foram pagos apenas três meses, enquanto, este ano, ainda não foram movimentadas quaisquer folhas salariais. Feitas as contas, a empresa deve aos colaboradores vencimentos de, pelo menos, 15 meses.

Os trabalhadores desmentem, deste modo, a informação do director comercial da empresa, Luís Arriegas, veiculadas pelo VALOR, na edição de 22 de Maio, segundo a qual a empresa “paga salários com normalidade”, apesar de não estar a realizar voos, consequência da proibição imposta pelo Instituto Nacional de Aviação Civil (INAVIC).

Segundo as fontes do VE, como resultado da falta de remuneração, a maior parte dos pilotos da Air 26 encontra-se a prestar serviços noutras companhias, como a Air Jet e Air Guicango. “Estas duas empresas também usam aviões Embraer. Isto está a facilitar a saída dos pilotos para estas companhias”, explica um dos trabalhadores, que se recusou ser identificado, acrescentado, que ele e os colegas “sobrevivem de biscates”.

A companhia, afecta ao grupo empresarial Ducard, tem cerca de 100 trabalhadores, entre técnicos de operações, manutenção, comerciais e administrativos. As fontes garantem que nenhum funcionário foi despedido, embora haja quem, voluntariamente, tenha já deixado de comparecer ao respectivo posto de trabalho, como protesto pela falta de pagamentos dos salários.

Tal como o VALOR noticiou na edição de 22 de Maio, os aviões da Air 26 encontram-se imobilizados há mais de seis meses no Aeroporto 4 de Fevereiro (na placa doméstica), em Luanda, como consequência de o INAVIC ter recomendado uma reestruturação da empresa. Embora tenha confirmado a ‘reforma’ exigida pelo regulador, o director comercial da Air 26, Luís Arriegas, não comentou as suas motivações, mas fontes do INAVIC justificaram-se com irregularidades na segurança operacional.

As fontes avançam, no entanto, que a dívida salarial da empresa para com os trabalhadores estará também na origem da decisão do INAVIC em suspender os voos da Air 26. Até ao memento, desconhecem-se os ‘timings’ de conclusão da reestruturação da empresa, mas fontes do INAVIC garantem que o levantamento da suspensão depende somente da Air 26. “Estamos todos admirados. Como é que a nossa empresa que era a maior de aviação privada, de repente, fica à beira da falência?”, interrogou-se um funcionário.

As lojas, da companhia sediada em Luanda, continuam abertas, mas não podem vender bilhetes até ao desbloqueio do regulador da aviação civil. As perdas financeiras da empresa, acumuladas por causa deste dossier, são desconhecidas, mas o director comercial tinha já avançado que a Air 26 tem beneficiado de descontos no pagamento das taxas de parqueamento das aeronaves. “Nestas situações, basta informar à Empresa Nacional de Exploração de Aeroportos e Navegação Aérea (ENANA) para ver reduzidas as taxas de parqueamento”.

PETRÓLEO. Preço do barril de crude subiu nas primeiras horas do anúncio do ‘bloqueio árabe’ sobre o Qatar. Mas, mais tarde, as coisas inverteram, chegando-se a negociar a 45 dólares o barril de petróleo, menos dez dólares das previsões angolanas, aquando da elaboração do OGE 2017.

 

A queda dos preços do barril do petróleo nos mercados internacionais foi uma das primeiras e principais consequências do bloqueio imposto sobre o Qatar (acusado de apoiar grupos terroristas) pela Arábia Saudita, apoiada por vários países vizinhos. Durante a semana (de 5 a 9), o barril de petróleo foi comercializado abaixo dos 50 dólares. Na segunda-feira, 5, por exemplo, o Brent, que serve de referência para a comercialização do petróleo angolano, foi negociado a 49,47 dólares o barril para entrega em Agosto.

Mas, na sexta-feira, o valor caiu para 45,77 dólares o barril. Se, nas negociações de entrega para Agosto ou Setembro, os preços continuarem abaixo dos 46 dólares, por exemplo, deverá ser negativamente impactante para a economia angolana, já que o Governo aprovou o Orçamento Geral do Estado (revisto) de 2017 com uma previsão do preço do barril na ordem dos 46 dólares.

Mas as consequências negativas não afectariam apenas os cálculos do Executivo angolano, como também os da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que aprovou o corte na produção de 1,8 milhões de barris por dia para ver o valor do crude acima dos 50 dólares/barril. Aliás, os ‘timings’ da redução da produção dos estados-membros da OPEP, mais a Rússia, terminaria já este mês, mas foi alargado até Março de 2018.

O pacto, assinado em 2016, prevê reduzir a produção de petróleo bruto de 33,7 milhões para 32,5 milhões de barris por dia. No entanto, nas primeiras horas, após o anúncio do corte das relações de países vizinhos com o Qatar, o preço do petróleo registou um aumento na ordem dos 0,46%, valorizando o barril para 50,18 dólares (o Brent), enquanto a referência WTI ficou cotada em 47,95, equivalente a uma recuperação de 0,61%.

Mas, mais tarde, as negociações agitaram-se com a queda do preço, que se estendeu ao longo da semana. Arábia Saudita, Bahrain, Emirados Árabes Unidos, Egipto e Iémen anunciaram, na segunda-feira, 5, o corte de relações diplomáticas com o vizinho Qatar, alegadamente por este Reino estar a financiar grupos terroristas, como o Estado Islâmico, Al Qaeda e a Irmandade Muçulmana. O anúncio foi feito duas semanas após a visita do presidente norte-americano, Donald Trump, à Arabia Saudita.