Valdimiro Dias

Valdimiro Dias

PETRÓLEOS. Plano ministerial recomenda à Sonangol que conclua o Terminal Oceânico do Dande. Projecto foi suspenso, em 2016, por Isabel dos Santos.

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A construção do terminal na Barra do Dande consta como prioridade do Plano de Desenvolvimento Nacional do Sector Petrolífero, um documento elaborado pelo Ministério dos Recursos Minerais e Petróleos, ao qual o VALOR teve acesso. A medida é defendida como forma de desanuviar “o ponto crítico” do sistema de descargas de combustíveis de Luanda.

Nas contas do Governo, o terminal poderá resolver a situação do pontão da Baía de Luanda e das instalações da Boavista que representam “pontos críticos” para o fornecimento a toda a zona norte, conforme descreve o documento.

O Ministério constata ainda que há legislação e regulamentação desajustadas do contexto actual e projectos suspensos para o aumento da capacidade de armazenagem em terra e conclui que o transporte de combustível por via ferroviária “ainda é incipiente”, inferior a 10%.

Em 2014, a Sonangol deu início à construção do terminal da Barra do Dande, cujo projecto, avaliado em mil milhões de dólares, foi desenvolvido pela empresa italiana Energeco, que concebeu uma infra-estrutura apresentada como capaz de dar resposta à procura de hidrocarbonetos de Luanda e outras localidades no Sul. Os produtos seriam despachados como ‘granel’ (por camiões, vagões e oleodutos) ou como ‘embalados’ (tambores, garrafas).

Além do terminal, estava prevista a construção de centros logísticos para “grande armazenamento” de combustíveis no Soyo, Lubango e Namibe, tendo em conta as falhas no abastecimento no país, que é o segundo maior produtor de petróleo da África subsariana.

A execução deste mega-projecto foi suspensa, juntamente com o da refinaria de Lobito, a 20 de Agosto de 2016, pela ex-presidente da Sonangol, Isabel dos Santos, que, embora reconhecesse que se tratava de projectos de “importância capital” para o país, a nova realidade “obrigava à revisão criteriosa do seu desenvolvimento, faseamento e financiamento”.

No entanto, por ordem de João Lourenço, o novo conselho de administração da Sonangol recuperou o projecto da construção da refinaria do Lobito. O processo está em fase avançada e já foram seleccionados os sete candidatos à construção da obra.

O conselho de administração da petrolífera, até ao fecho desta edição, não deu respostas às questões colocadas pelo VALOR.

BALANÇO. Porto opera a 40% da capacidade total. Últimos dois anos foram marcados por movimento irregular de mercadorias.

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O movimento de cargas no Porto do Lobito, no segundo trimestre, recuou 26%, para as 378 mil toneladas, revela o indicador estatístico da empresa, que situa nas 510,7 mil toneladas as cifras dos primeiros três meses do ano.

Queda na ordem dos 12,7% também se registou no fluxo de contentores, com os carregamentos a saírem das 10.105 unidades para as 8.814, do primeiro para o segundo trimestre, resultados que a empresa atribui à conjuntura económica.

No mês passado, o presidente do conselho de administração (PCA) da empresa, João Felizardo, calculou que a crise levou o Porto a operar apenas 40% da sua capacidade, com os últimos dois anos marcados pelo movimento irregular de mercadorias.

Em termos homólogos, o primeiro trimestre deste ano sinalizou uma recuperação superior a 21%, com o movimento de 510 mil toneladas contra as 420 mil do primeiro quarto de 2017. “Isto não é um indicador estanque, mas mostra a velocidade com que a economia está a marchar”, afirmava Felizardo por ocasião da última Filda, em Julho.

O gestor referiu, na altura, que o transporte mineiro estava “a correr normalmente, depois de 35 anos da paralisação forçada”, como forma de valorizar os investimentos no corredor do Lobito. Desde Março deste ano, por aquela infra-estrutura, transitaram nove expedições mineiras com mais de 10 mil toneladas de minerais para várias partes do mundo. Mas João Felizardo pretende que as operações também se processem no sentido contrário, colocando as operadoras da República Democrática do Congo a utilizar as infra-estruturas, para a entrada de matéria-prima. Ao mesmo tempo, o gestor desafiou as indústriais nacionais e as redes comerciais a utilizar o porto para a exportação de cimento para a RDC.

O Porto do Lobito tem três terminais, nomeadamente o de contentores, que possui uma capacidade de 12 mil unidades de contentores de 20 pés (TEUS) por ano; o minério, com capacidade operacional de 3,6 milhões de toneladas por ano, e o Porto Seco, um terminal de segunda linha que possui a capacidade estática de oito milhões de TEUS/ano.

Desde 2008, está em curso a modernização e ampliação do Porto e, após a conclusão desse processo, o comprimento total da área de acostagem será de 7,8 quilómetros em que poderão atracar, em simultâneo, 20 navios de longo curso, bem como o manuseamento de 11 milhões de toneladas de carga geral e 700 mil TEUS/ano.

A ampliação do Porto compreende cinco fases. A primeira implicou trabalhos de reabilitação do cais com 1.122 metros de comprimento, a pavimentação do terrapleno e a substituição dos carris, tarefas já concluídas.

PETRÓLEO. Previsões actuais de fornecimento de gás associado ao Angola LNG indicam um declínio abrupto, susceptível de provocar a paragem da planta, se não forem adicionadas fontes de gás.

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O plano de desenvolvimento nacional do sector petrolífero (PDNSP) revela que a produção da fábrica Angola LNG, por falta de abastecimento de gás, regista um défice de cerca de 4,5 triliões de pés cúbicos (TCF), que só pode ser parcialmente compensado por gás associado (ao petróleo).

O documento oficial refere que as previsões actuais de fornecimento de gás associado ao ALNG indicam um declínio abrupto, “susceptível de provocar a paragem da planta”, se não forem consideradas fontes adicionais. Mas o vazio pode ser parcialmente compensado, com cerca de 1,5 triliões de pés cúbicos de recursos adicionais do campo de Quiluma, no Soyo, que poderão ser desenvolvido a partir de 2021. No entanto, como constata o próprio Governo, serão necessárias algumas melhorias no regime fiscal da ALNG. Outra possibilidade passa por a fábrica comprar gás a outros grupos empreiteiros.

O plano oficial admite ainda outras hipóteses para a inversão do quadro. Recomenda, por exemplo, a inclusão do gás associado do Bloco 32, que inicia a produção em 2018, além da melhoria das condições económicas do ALNG, para permitir o desenvolvimento dos campos de gás não associado que já lhe estão dedicados desde 2007. A utilização de outros recursos dos blocos actuais (campos marginais) é outro trunfo que poderá promover a pesquisa e desenvolvimento de campos de gás não associado, que poderá ser comprado pelo ALNG.

1,33 MILHÕES DE BARRIS ATÉ 2022

As metas do plano do sector petrolífero antecipam que, até 2022, Angola explore 1,33 milhões de barris por dia, facto que mostra o agravamento do declínio da produção nos próximos anos.

As novas projecções contrariam assim os cálculos avançados aquando do lançamento do Plano Nacional de Desenvolvimento que apresentava uma previsão optimista de 1,490 milhões de barris por dia e que, segundo analistas, dificilmente seriam alcançados.

O documento oficial não se fica, entretanto, pelo avanço das ‘más notícias’, sem apontar caminhos. Uma das recomendações, para se aligeirar a baixa da produção, passa por manter a disponibilidade das instalações, pelo aumento da taxa de recuperação por campo, pelo desenvolvimento dos campos marginais, além da exploração em áreas de desenvolvimento. No fundo, os objectivos fixados, como escreve o Governo no PDNSP, só poderão ser atingidos se novos projectos de desenvolvimento forem sancionados.

O balanço da produção do 1.º trimestre de 2018 demonstra que o andamento da produção foi inferior às previsões. A média prevista foi de 1,6 milhões de barris por dia, mas, no fim do período, ficou-se pelos 1,5 milhões, uma queda de 5.80%.

RESERVAS PARA METADE

No plano do sector petrolífero, o Governo escreve que a taxa de reposição de reservas nos últimos anos foi muito baixa, apesar de se manter num nível de produção elevado, com 600 milhões de barris/ano. Desde 2010, as reservas nacionais de petróleo reduziram em 50,8% passando de 16,1 para 8,2 mil milhões de barris. “Com a tendência actual de produção e reposição de reservas, o tempo de vida das reservas é de cerca de 14 anos”, le-se no documento, que recomenda a revisão do método de cálculo das reservas de Angola, além de apelar para a sua aproximação à metologia SEC (security and Exchange Comission). O documento menciona também a necessidade do relançamento da exploração.

IMPORTAÇÃO DE REFINADOS CAI

Entre 2013 e 2017, o custo total de importação dos refinados registou uma redução de aproximadamente 2,68 mil milhões de dólares, que representam 61% do custo em 2013. A redução deveu-se ao corte dos preços de compra dos refinados, provocados pela baixa dos preços do crude, pela redução das quantidades importadas e pela liberalização dos preços no consumidor final.

Na estratégia de refinação, as tarefas estão enumeradas: substituição das importações de refinados por produção interna, com vista a tornar o país auto-suficiente; atracção e estabelecimento de parcerias com entidades privadas; desenvolvimento de projectos de construção de refinarias; agregação de valor aos crudes; redução da exportação de divisas nas importações de produtos refinados, e promoção da indústria petroquímica de forma faseada e com a perspectiva de aumento da rentabilidade.

PETRÓLEOS. Fabricante já comunicou ao BNA que se vai retirar. Mas não adianta justificações.

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A fabricante sul-coreana Hyundai Heavy Industries (HHI), líder global de construção naval, vai encerrar a representação em Angola brevemente. A informação consta de um comunicado de imprensa enviado ao Banco Nacional de Angola, que apela aos órgãos estatais e privados a contactarem o departamento de controlo cambial para a cobrança de possíveis dívidas.

Não se conhecem as motivações oficiais que levaram a companhia, com cerca de 10% de quota no mercado, a deixar Angola. Mas vários observadores, como o propritário da concessionária automóvel que representa a marca em Luanda, supeitam que a decisão esteja associada à conjuntura económica, sobretudo nos petróleos. No entanto, Jaime Freitas acredita que a decisão da fabricante sul-coreana “não vá acarretar” elevados prejuízos. “Eles têm um técnico a cobrir a Nigéria e Angola, mas passa mais tempo lá porque a nossa actividade petrolífera (exploração e desenvolvimento está muito reduzida)”, sublinha.

A divisão industrial da Hyundai resultou no ‘FPSO Grande Plutónio’, um navio de produção, armazenamento e transbordo, operado pela BP, e que acaba por ser uma instalação de produção em ‘offshore’ com o formato de um navio, armazenando crude em tanques.

Os FPSO podem ser utilizados como instalações de produção para desenvolver campos petrolíferos marginais ou em águas profundas, distantes das infra-estruturas de transporte, sendo utilizados em todo o mundo desde os anos 1970.

Em Setembro de 2007, a BP e os parceiros da Sonangol Sinopec International lançaram o FPSO num investimento de cinco mil milhões de dólares, para o desenvolvimento do projecto Grande Plutónio, no Bloco 18 (a 160 quilómetros de Luanda).

Antes, em Agosto de 2001, a petrolífera norte-americana Exxon Mobil concedeu a um consórcio de três empresas, liderado pela Hyundai, um contrato para construir uma instalação flutuante de produção, armazenamento e descarregamento para o complexo de quatro campos de Kizomba, que opera em Angola, no bloco 15.

O navio Kizomba-A tem um peso de 81.000 toneladas, possui 285 metros de comprimento, 63 de largura e 32 de altura. É capaz de armazenar 2,2 milhões de barris de petróleo bruto e processar 250 mil e pode acomodar 100 pessoas.

A Hyundai Heavy Industries é a maior empresa de construção naval do mundo, com sete divisões de negócios: motor e máquinas, equipamentos de construção, electroeletrónicos, instalações industriais e engenharia, construção naval, energia verde e offshore e engenharia.

Entre os vários produtos da empresa incluem-se os ‘containers’, LNG Carrier, navios de guerra, fábricas de energia e de lixivias e módulos solares.

Informação foi avançada hoje, em Luanda, pelo presidente do conselho de administração da Endiama.

Diamantes

José Ganga Júnior garante que “as projecções são animadoras visto que o comportamento do mercado é razoável”, tendo sublinhado que existe da parte da empresa que dirige “um esforço para aumentar a produção de diamantes, o que abre perspectivas para que até ao final do ano a produção seja melhor”.

De acordo com o gestor, concorreu para melhoria do desempenho a subida dos preços no mercado internacional, bem como alguns projectos que registaram melhoria no volume de produção. A Endiama estima que até ao próximo ano a produção a produção deverá fixar-se em cerca de 9 milhões de quilates.

Segundo o administrador da Sodiam, Fernando Amaral, durante o referido período foram comercializados um volume total de 2.315.719 quilates de diamantes, dos quais 92,7% oriundos da produção industrial e os restantes 7,3% referente a produção artesanal.

O produto foi comercializado a um preço médio de 136,6 dólares, que resultou em receitas brutas de 316, 5 milhões de dólares. A informação prestada durante a segunda reunião de outlook, relativo a actividade de comercialização de diamantes durante o segundo trimestre de 2018 e análise das perspectivas do mercado para o terceiro trimestre.