Ricardo Gerigks assume que as relações comerciais entre Angola e a Alemanha já passaram por melhores dias, entre 2008 e 2009, mas que agora são “desiguais”. Com fortes reparos aos monopólios e ao combate à corrupção, que caracterizam a economia angolana, o delegado da indústria alemã critica o excesso de bancos, ataca a “concorrência desleal da China” e a postura profissional dos angolanos, considerando que falta uma cultura de trabalho e considera que a exagerada burocracia trava o progresso da economia. Como avalia o actual estado da cooperação económica entre Angol e a Alemanha? Poderia ser melhor. Já tivemos, entre 2008 e 2009, um intercâmbio comercial na ordem de 1.100 mil milhões de euros. Aconteceu numa fase em que a Líbia deixou de fornecer petróleo para Alemanha e Angola passou a ser este parceiro. Sempre estivemos na faixa de 500 a 600 milhões de euros, mas este ano baixaram bastante as exportações de Angola para a Alemanha, geralmente através do petróleo, e houve um aumento da exportação do nosso país para Angola. Hoje baixou para uma troca bastante desequilibrada no valor de 250 milhões de euros que são favoráveis à Alemanha. O que houve? Angola tem os parceiros económicos que importam aquilo que tem para oferecer, que é basicamente o petróleo. Cerca de 97% das exportações de Angola são de petróleo, temos 2% de diamantes e muito pouca coisa acaba por sobrar. No caso, alguns produtos agrícolas como eventualmente a banana. A China, como grande importador do petróleo, já é responsável por 62% da importação de petróleo e é, de certa forma, uma concorrência desleal. Porquê? A China importa, mas não paga. Ela paga com obras, então é o ‘oil for works’. É uma concorrência desleal para com os outros países ou com as outras empresas, já que, em função dos contratos de fornecimento de petróleo, recebem adjudicação sem concorrência pública. Isto não é uma forma honesta e correcta de lidar, inclusive dentro da Lei da Concorrência, que precisa de ser complementada. Não são só os monopólios, mas também é preciso regular os privilégios a determinados parceiros em função desta tradição socialista que existe. A grande maioria dos países é capitalista, onde este tipo de trocas não existe. Isto jamais aconteceria num país capitalista? Dificilmente. Os Estados não têm uma interferência tão grande como o chinês tem na sua economia. E estas empresas estatais recebem o próprio dinheiro na China. O dinheiro nem sai de lá. Portanto, do financiamento, que nem sequer se pode chamar financiamento, 70% fica lá retido. Neste contexto de “concorrência desleal” chinesa, como Angola pode alavancar a cooperação económica com outros Estados? Têm de ser definidas directrizes claras e transparentes. A grande chave para isto é a transparência, o combate à corrupção. Este tipo de privilégio, em que para os amigos é tudo e para os outros há a lei, só funciona num sentido e aumenta a corrupção em Angola. Mas a corrupção já está a ser combatida, certo? Exactamente. O novo chefe do Executivo tem uma linha bastante clara e é algo que se percebe, tenta traçar uma imagem de Angola em relação àquilo que foi e que poderá ser no futuro em relação ao que é associado no exterior. O forte combate à corrupção, uma postura mais pela transparência, também deve ser acompanhado pelo combate à burocracia. O grande entrave para Angola é a burocracia, porque facilita a corrupção. A reforma feita na Lei de Investimento privado vai de acordo com as expectativas dos investidores alemães? Vai com a questão de um milhão de dólares, que é o que criava maior entrave aos investidores, assim como a participação de 35% de um parceiro angolano que na nova lei foram retiradas. Nós, enquanto empresas, em conversas e comentários com amigos angolanos, todos fomos contra. Não há como fazer um processo de nacionalização da economia criando este tipo de barreiras. Angola não era atractiva para as grandes marcas da economia alemã? Não vou dizer isso. Temos grandes marcas alemãs em Angola. Recentemente, a Bosch inaugurou uma loja no centro da cidade com um parceiro angolano, a NCR. Temos pessoas competentes, empresários que estão interessados em desenvolver a produção e desenvolver o país, mas existem forças contrárias que não estão interessadas. Estão interessadas em importar produtos, em que o dinheiro entra mais fácil, e continuam a criar uma dependência de Angola face ao exterior. “MERCADO ATRACTIVO” Em que segmento de negócios actuam as empresas alemãs em Angola? Na área de engenharia, assessoria, fiscalização de obras. Temos uma empresa na área do lixo, fornecimento de máquinas para a indústria de bebidas, que detém 85% do mercado do engarrafamento de bebidas. Além disso, temos empresas na área da aviação, no caso, a Lufthansa, que voa três vezes por semana. Enquanto a British Airways e a Ibéria saíram de Angola, continuamos com a mesma frequência de voos. Há algum risco de a Lufthansa seguir o mesmo caminho? Acredito que não. A linha da Alemanha e Angola é uma das mais lucrativas para a companhia em África. E qual é o número de empresas alemãs que possuem investimentos em Angola? Temos aproximadamente 20 empresas. Algumas são sucursais criadas pelo direito angolano, empresas limitadas, como também na Alemanha. Temos empresas que representam os produtos alemães, sendo que algumas destas estão localizadas em Portugal ou na África do Sul que representam produtos e serviços com a qualidade alemã. O único investimento directo estrangeiro alemão é a LSG Sky Chefs, uma subsidiária da Lufthansa que serve o ‘catering’ da TAAG, que resulta de uma parceria entre as duas empresas. As empresas alemãs poderiam ter maior representatividade? Poderiam. África, de uma maneira geral, é um continente de risco. Isto vai continuar a ser durante algum tempo, mas existem países africanos com melhores condições e Angola poderá estar numa condição melhor do que está actualmente no ‘outlook’ do ‘doing business’ em que o país está sempre a disputar os últimos lugares. Isto é uma coisa que já vem de há muitos anos e lentamente Angola está a subir nesta categoria de fazer negócios. O clima de negócios não é favorável, principalmente por causa do excesso de burocracia que provoca a corrupção. Qual é a maior dificuldade das empresas alemãs em Angola? Encontrar mão-de-obra qualificada. A competência dos nossos quadros é muito baixa. Aquele que tem um certo dom, competência ou habilitação já está bem empregado numa petrolífera. Se é uma secretária bilingue, que é uma posição, às vezes, difícil, não vai trabalhar numa construtora quando recebe um melhor salário numa petrolífera. Não é um problema exclusivo de Angola, é também para a Noruega, onde a indústria petrolífera paga os melhores salários. Precisamos de muitos técnicos. A maioria dos angolanos, com quem converso, quer ser doutor, persegue títulos académicos e Angola precisa de técnicos, um bom electricista, canalizador ou bom mecânico que pode ganhar mais do que um engenheiro. É preciso acabar com esse tipo de mentalidade de que o papai, a mamãe ou o vovô vai arranjar um emprego na Sonangol. Qual deve ser a mentalidade? Precisamos de colocar na cabeça, principalmente da juventude angolana, que, entre 2025 e 2030, provavelmente, vai atingir 60% da população com menos de 18 anos, a mentalidade de que é com o suor do trabalho e capacidade que se deve progredir e não com ajuda de um familiar que trabalhe na Sonangol. A situação cambial de Angola não preocupa as empresas alemãs? É uma situação secundária. Quer queira, quer não, vamos ter a situação flutuante. Já tivemos uma inflação abaixo de dois dígitos e não faz muito tempo. Então, uma inflação para África de sete a 9%, como tínhamos, é uma coisa saudável. Quais são os produtos angolanos com potencial de exportação para a Alemanha? Teriam de ser produtos de qualidade. A qualidade passa por uma certificação e não temos produtos em Angola certificados ou produtos que possam ser certificados. A certificação vai desde os produtos agrícolas. Alemanha é um dos maiores consumidores de banana, mas tem de ter uma certa curvatura e um determinado tamanho. Na área do agronegócio, existem certificação e exigências e Angola já foi, no passado, um dos maiores celeiros em África. Essa terra é abençoada por Deus, temos água em todas as províncias, não temos terramotos nem maremotos e vulcões. Pelo contrário. Há uma grande área livre no interior que poderia ser mais bem aproveitada para o agronegócio e também agricultura de subsistência para as empresas familiares ou cooperativas. A banana produzida em Angola teria mercado na Alemanha? Com toda a certeza. E não só a banana, o abacaxi. Um país como Havai depende basicamente da exportação do ananás. Se olharmos para determinadas regiões de Angola, muito parecidas com o Brasil, há condições de tirar três colheitas durante um ano e outras frutas que Angola pode exportar. Outro produto é a cassava ou mandioca. A política do Governo é só plantar para alimentar a população. Isto é ser muito infantil. A mandioca tem um mercado mundial e um preço mundial. Se for feita ao nível do agronegócio, é um material que pode ser usado como lubrificante nas plataformas ‘offshore’, na indústria da construção civil como cola ou na ligação entre placas. Um dos produtos da industrialização é a própria farinha de mandioca. Países como a Vietname e a Tailândia exportam muito a mandioca. Assim vai também o milho, coisas que são tradição de Angola, mas o grande problema está no facto de o país ser muito grande, três vezes e meia maior que Alemanha e não ter estradas para escoar. E como olha para as possibilidades da indústria? A industrialização pode acontecer se vierem mais empresas que possam fazer a montagem de determinados produtos no país, porque produtos com qualidade para poder disputar no mercado europeu acaba por ser difícil. Por exemplo, com uma certa dificuldade, a África do Sul tem hoje a maioria das empresas filiadas na câmara de comércio daquele país. São mais de 400 empresas de origem sul-africana que estão a exportar para a Alemanha. Quais são os exemplos que podem vir da Alemanha para inverter o quadro? O maior investimento que se pode fazer em Angola é nos recursos humanos. Temos um exemplo de sucesso, o chamado sistema de formação dual, que junta a teoria à prática. Os estudantes, durante três anos, têm a sua formação e, ao mesmo tempo, exercitam na empresa a sua habilidade profissional. Pode ser adaptado em Angola. Cansei de falar sobre isto. Poderia ser um modelo de um ano ou seis meses, com cursos rápidos em que os alunos seriam formados e teriam contrapartida nas indústrias, mas teria de ter uma postura política do Governo de orientar as empresas a receber os estagiários e estas beneficiariam de uma certa isenção de impostos. Não há estímulo nenhum por parte do Governo e das instituições de Angola. As empresas acabam por fazer por conta própria. São muitos os desafios? O desafio que Angola tem é muito grande e o maior de todos é a geração de energia. Enquanto tivermos empresas a funcionar com gerador 24 horas, o custo de produção vai continuar a ser elevado. Angola deve, primeiro, preocupar-se em resolver o défice energético antes de pensar na industrialização? Diria que são coisas que vão acontecer em cadeia. Temos aqui um grande potencial de energias renováveis que não está a ser explorado. Podemos ter energia solar como solução descentralizada, porque temos um país que ainda não está ligado às redes de transmissão. Alemanha pode cooperar neste sentido visto ter experiência comprovada? Temos empresas alemãs que forneceram turbinas para Laúca. Foram produzidas com qualidade alemã. “Bancos a mais” Como as empresas alemãs podem cooperar para que Angola alcance a diversificação da economia? Já nem gosto de usar a palavra diversificação. Já se fala disso há uns sete anos e nada, ou quase nada foi feito. Todo o político gostava de falar do empreendedorismo, mas o que acontece em Angola é muito discurso e pouca acção. Nada foi feito para estimular o empreendedorismo nacional, absolutamente nada, porque é necessário suporte financeiro para que o angolano coloque em prática as suas ideias. Tudo começa com uma ideia, e, no início, não tem nada para oferecer ao banco, porque tem uma ideia ou projecto. Também acho que existem bancos a mais, deviam ser reduzidos. Porquê? Não se justifica haver 29 bancos. Temos seis/sete bancos que dominam 70% dos depósitos em Angola e o resto é resto. Esta vaidade de querer ter um banco das famílias não funciona. Os bancos não cumprem com a sua finalidade, que é criar condições para que a economia se desenvolva, seja geradora de empregos. Os bancos não cumprem a sua missão? Com certeza, mas financiam o próprio Governo. É muito mais simples, de menor risco, em vez de financiar uma empresa embrionária com um microcrédito, por exemplo, como existe em várias partes do mundo principalmente para as mulheres. Seria a melhor forma de emponderar as mulheres. As nossas zungueiras fazem toda a economia informal que se está a tentar formalizar. Temos sérios problemas de desemprego em Angola e vejo como alternativa que bancos sejam obrigados a cumprir com a parte comercial de dar condições para que o empresariado seja financiado. E os bancos têm esta capacidade de financiar a economia? Não têm vontade. Financiam o Governo, através dos títulos da dívida pública, mais fácil, rápido e com menos riscos. Está a ser ignorado o pressuposto de que a economia se faz com as pequenas empresas? Sim. Sou totalmente favorável que qualquer das economias mais adiantadas e desenvolvidas do mundo seja baseada nas pequenas e médias empresas. Por exemplo, 85% da capacidade produtiva da Alemanha está ligada às pequenas e médias empresas. O grande gerador de emprego são as empresas médias e não é a Bosch com 400 mil trabalhadores. Que alterações espera com a entrada da nova lei do investimento privado e a lei da concorrência? Temos de aguardar, visto que a filosofia até está correcta de não termos monopólios, tentar estimular a concorrência, mas Angola tem empresas que dominam o mercado, não existe concorrência automática. Principalmente as ligadas à importação de alimentos. Temos libaneses, chineses e portugueses. Não há concorrência. Esta aconteceria se tivéssemos uma produção nacional. PERFIL Ricardo Gerigks Arquitectando relações Nascido no Brasil, mas também com cidadania alemã, Ricardo Gerigks possui uma licenciatura em arquitectura e um bacharelato em administração de empresas. Em Janeiro de 2010, foi indicado responsável da delegação da economia alemã em Angola, um escritório que integra a rede de 140 escritórios em 92 países das câmaras de Comércio Exterior da Alemanha, sob a tutela do Ministério Federal da Economia e Energia da Alemanha.
Valdimiro Dias
Novos operadores não reduzem assimetrias
TELECOMUNICAÇÕES. António Nunes explica que a obrigação de os operadores terem de cobrir todo o país pode provocar desigualdades. Estações no interior são mais caras do que, na capital, por causa do retorno do investimento. O surgimento de novas operadoras de telecomunicações “não vai resolver as assimetrias do mercado”, alerta, ao VALOR, o presidente da comissão executiva da Angola Cables, António Nunes. O gestor analisa o mercado em duas perspectivas: a dos centros urbanos, onde a procura é grande, e a dos espaços rurais. Aponta o exemplo de Luanda, com aproximadamente sete milhões de habitantes, levando para uma realidade diferente da dos municípios de outras províncias, em que o custo de instalar uma rede é maior, o que torna onerosa a logística. “A competição situa-se nos espaços urbanos”, insiste. De acordo com as obrigações legais, um operador tem de colocar redes nos centros urbanos e rurais. Só que as outras províncias não geram receitas e as despesas são cobertas pelas estações de Luanda, por isso, António Nunes defende que “deve ser preocupação do órgão regulador olhar para as assimetrias do processo”. A perspectivar uma possível entrada de um operador estrangeiro, o gestor está convencido de que se vai concentrar em Luanda e Benguela, explorando o nicho de mercado das capitais. “E não vai investir no interior, como Kuando-Kubango ou Cunene, não vai arriscar colocar dinheiro em zonas sem retorno.” António Nunes propõe que seja o Estado a assumir esse investimento ou exigir que os operadores o façam. Vendas do ‘Monet’ A 18 de Maio, o consórcio formado pela multinacional de telecomunicações Angola Cables anunciou que os 10.556 quilómetros de cabo submarino Monet, com capacidade para 24 terabytes por segundo (TBPS), conectando Florida, nos EUA, a Fortaleza, no Brasil, estão completos, estabelecendo uma ponte digital avançada entre os dois países com capacidade para fornecer mais de 64 TBPS. A entrada do cabo submarino permite fornecer serviços com elevada capacidade e velocidade. Angola Cables é uma multinacional que opera no mercado grossista, dona de uma rede internacional de cabos submarinos que opera em duas grandes bases de dados. Possui investimentos no valor de 500 milhões de dólares, maior parte do qual financiada pela banca.
Bosch espera facturar 10 milhões de euros por ano
LOJAS. Entrada da marca alemã resulta de uma parceria com a NCR Angola que vai fazer a gestão da loja. Empresa condiciona maiores investimentos ao desempenho da economia angolana. A Bosch, multinacional alemã de engenharia electrónica, pretende fazer de Angola um dos seus principais mercados no continente africano, após a abertura da primeira loja em Luanda, com tecnologia de ponta. Resultado de uma parceria com a NCR Angola, que passa a ser a responsável pela gestão da loja, a entrada da Bosch no mercado nacional é marcada com metas de facturação que oscilam entre cinco e 10 milhões de euros, por ano. Paulo Ricardo, director-geral da Bosch Angola, sem revelar números, considerou a aplicação como sendo “mínima”, mas promete mais investimentos “consoante a recuperação da economia nacional”. Apontando o próximo trimestre como “determinante para se tomarem decisões”, Ricardo antecipa a expansão dos produtos Bosch para outras províncias, meta que também fica condionada ao aumento do investimento. Para o director de Marketing da NCR Angola, Eduardo Lobato, a aposta nos electrodomésticos da marca Bosch “vai ao encontro das expectativas dos consumidores que procuram qualidade, garantia, durabilidade e prestígio”. A nível global, a empresa alemã desenvolve vários tipos de negócios, incluindo o fabrico de produtos para automóveis, como freios ABS, e para o consumidor final (electrodomésticos, ferramentas eléctricas, aquecedores, entre outros). A engenharia de serviços industriais, a tecnologia de embalagem, os motores eléctricos, as ferramentas pneumáticas e os sistemas de segurança constam também dos produtos fabricados pela multinacional. A primeira loja em Angola coloca à disposição dos consumidores pequenos e grandes equipamentos, geleiras, máquinas de lavar e de secar, fogões, bem como electrodomésticos encastrados, que são também uma aposta da marca que pretende apresentar vários modelos exclusivos às empresas de construção e hotelaria. Enquanto isso, a loja online da NCR é a alternativa para se obterem os produtos. A multinacional alemã espera que a facturação global cresça entre 2% e 3% em 2018, superando os 80,4 mil milhões de euros, após ter alcançado resultados recordes em 2017.
ENANA embolsa 8,2 mil milhões de kwanzas
AEROPORTOS. Exploração na plenitude das capacidades disponíveis em todos os aeroportos é prioridade da empresa. Negócio da não-aviação corresponde a 32% do global das receitas da empresa. A Empresa Nacional de Exploração de Aeroportos e Navegação Aérea (ENANA) facturou, em 2017, cerca de 8,2 mil milhões de kwanzas com a actividade não ligada à aviação, passando esse segmento a representar 32,3% das receitas totais da empresa. A taxa de ocupação (restaurantes, lojas, casas de câmbios), com 41%, é a que mais contribuiu, seguindo-se a armazenagem e a publicidade com 27% e 12%, respectivamente. A empresa pretende dinamizar estas áreas de negócio, aproveitando a reabilitação, nos últimos anos, de 15 aeroportos, alguns de dimensão internacional. Tal é o caso do aeroporto da Catumbela, onde a prioridade recai sobre parques de estacionamento, restaurantes e lojas, visto que a ocupação “não é ainda o desejável”, como admite a directora comercial da ENANA, Manuela Martins. Além disso, a empresa pretende gerir todos os parques de viaturas em todas as províncias e não apenas em Luanda, como acontece actualmente. É na capital do país, desde logo, onde o negócio está mais segmentado, com mais de 50 lojas e escritórios no terminal de voos internacionais. A empresa está a lançar novos serviços, como o de comunicação, que prevê o fornecimento de internet e telefones, além de prever investir na hotelaria. No caso dos aeroportos reabilitados, mas praticamente inoperantes, como do Luau, no Moxico, Manuela Martins afirma que a sua dinamização está dependente da presença de mais companhias, mas consider que a situação não é “tão má como se pensa”. Os aeroportos do Uíge, Ndalatando e do Luau raramente recebem voos, “ainda assim, há algumas companhias aéreas e alguns sítios e lojas que foram arrendados, mas sem a adesão desejada”. A responsável da ENANA garante que a empresa se “tem esforçado por mostrar aos empresários as oportunidades que existem fora de Luanda”. Quanto à rescisão de contratos por parte de alguns prestadores de serviços, motivada pela questão cambial, a ENANA diz que se trata de um “empecilho”. Mas explica que, nos últimos dias, o quadro registou alguma melhoria com a redução de solicitações de rescisão. ‘ENANAS’ PELO MUNDO A partipação do negócio não ligado à aviação nas receitas da ENANA é superior, por exemplo, à da congénere portuguesa, A ANANA Aeroportos, entre 2014 e 2016. Em três anos, foram, respectivamente, de 26%, 25,9% e 26,3%. No entanto, é superada pelos 43% do conjunto dos seis principais aeroportos na Índia, no primeiro trimestre de 2018. Estudos de uma das mais importantes redes internacionais de pesquisa e consultoria, a Cornestone International, divulgado em 2016, referem que, para o sistema aeroportuário internacional, as receitas “não relacionadas à aviação” representam, em média, mais de 60% da facturação anual, visto que os aeroportos se tornaram ‘shopping centers’ e prestadores de serviços para fins comerciais e sociais. O negócio da não-aviação corresponde, entre outros, à exploração e ocupação de espaços como restaurantes, lojas, escritórios, publicidade, estacionamento de viaturas, acesso aos aeroportos, armazenamento e aprovisionamento.
AVIAÇÃO. Operadores privados que vão integrar o consórcio da nova companhia ?aérea devem pagar, em média, 1,7 milhões de dólares, na operação que marca o início da capitalização da empresa. Nova companhia começa a operar em 2019. As operadoras aéreas privadas, que integram a Air Connection Express, devem entrar no consórcio com uma participação imediata de 1,7 milhões de dólares para o início do processo de capitalização que prevê uma participação global, para cada uma, de aproximadamente 17 milhões de dólares, soube o VALOR de fonte ligada ao processo. O capital social global para a constituição do consórcio ficou fixado em 170 milhões de dólares. A Air Connection é a nova companhia aérea que vai operar os voos domésticos e é constituída por nove empresas, em que sete terão precisamente a mesma participação e outras duas, TAAG e ENANA, com maior percentagem (ver gráfico). A fonte do VALOR coloca, no entanto, muitas reservas quanto à contribuição dos privados, uma vez que “não possuem fôlego financeiro” para concretizarem a operação. “Ainda não percebi onde os operadores privados vão arranjar o dinheiro”, receia, defendendo uma composição “mais alargada” para tornar “menos penoso” o esforço dos sócios. Bartolomeu Dias, proprietário da Air Diexim, garante, no entanto, que a sua empresa “não terá dificuldades” para cumprir com a sua parte. “A Diexim pertence a um grupo empresarial robusto e grande, não temos problemas financeiros, porque, caso contrário, não estaríamos a finalizar todos os projectos de milhares de dólares sem recurso à banca”, afirma. O empresário considera mesmo “uma interpretação errada” pensar-se que todas as companhias vão estar paralisadas por dificuldades financeiras. “O facto de parar uma companhia não significa que não tenha dinheiro. Paramos por vermos que não há viabilidade de rentabilidade.” Bartolomeu Dias garante que o consórcio, “contrariamente ao que muitos pensam”, terá mesmo de surgir da participação financeira dos sócios. “Como qualquer empresa, os sócios devem realizar o capital. Alguns podem pensar que todo o investimento será feito pelo Governo, mas não”, assegura. Por sua vez, Nuno Pereira, da Besfly, afiança que são os únicos, entre os operadores privados, que já deram entrada de parte do dinheiro correspondente à sua quota-parte. “Ainda não foi o total do que nos cabe, mas foi o valor necessário para levar à assinatura do contrato, o primeiro sinal foi pago com a participação da TAAG e a ENANA e agora estamos a recolher a participação dos outros privados”, argumentou. Para Nuno Pereira, “se os accionistas não tiverem capacidade, as suas participações podem ser diluídas para os outros parceiros ou reduzida em função do investimento”. A TAAG é a maior accionista com 30%, seguindo-se a ENANA com 10%. Os restantes 60% serão repartidos entre a Best Fly, Air Jet, Air 26, Guicango, Diexim, SJL e a Mavewa. Aos accionitas está vetada, no entanto, a gestão do consórcio, estando prevista a contratação de uma equipa profissional. Heliang de fora Apesar de fazer parte da comissão de trabalho para a constituição da Air Connection, a Heliang - Transportes Aéreos ficou de fora do consórcio que vai assegurar os voos domésticos. Fonte que acompanha o processo garante que “não se trata de uma exclusão da entidade promotora, o Ministério dos Transportes, mas da falta de definição dos seus accionistas quanto à participação da empresa, até à data da constituição do consórcio”. Acordo com a Bombardier Na semana passada, a Air Connection Express assinou um contrato com a canadiana Bombardier, para o fornecimento de seis aviões do tipo Q400, numa parceria público-privada avaliada em 143 milhões de dólares. O financiamento está a ser assegurado por um sindicato bancário, liderado pelo BNI, a nível local, e pelos Bancos de Desenvolvimento Afrexim, sediado no Egipto, e o EDC - Export Development Canada, com 90% do capital para a aquisição das aeronaves já assegurado. Garantias soberanas para o asseguramento do financiamento serão necessárias, segundo o Ministério dos Transportes. Os primeiros dois aparelhos podem ser entregues no princípio de 2019, o ano em que devem arrancar as operações da Air Connection. Alcinda Pereira, representante do consórcio, refere que há a intenção de, futuramente, a companhia operar as rotas regionais, após a consolidação do mercado doméstico.
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