ANGOLA GROWING
Valdimiro Dias

Valdimiro Dias

INVESTIMENTO. Financiamento pode vir da Polónia, Áustria e Brasil. Grupo garante que apoia projectos no ramo alimentar e para a diversificação industrial. Boavida criou um grupo de consultoria para analisar candidaturas.

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O grupo empresarial Boavida anunciou ter disponíveis mais de 200 milhões de dólares para o financiamento de projectos. O grupo está a representar entidades financeiras de países europeus como a Polónia e Áustria, bem como do Brasil, que disponibilizaram linhas de créditos que podem ser aplicadas em projectos económicos e sociais, cujo valor depende da natureza e dimensão de quem se habilitar ao financiamento.

A informação foi revelada pelo presidente do conselho de Administração, Tomasz Dowbor, durante a apresentação da nova unidade negócio do grupo, a GBV Consulting, especializada em gestão estratégica de projectos e investimentos de caracter público e privado.

Tomasz Dowbor sublinhou que “o investimento surge da necessidade da mudança de paradigma no ambiente económico, oportunidade aproveitada para a execução e implementação da empresa de consultoria estratégica em Angola, a fim de atrair novos ‘player’ com vista a gerar resultados satisfatórios”.

O empresário entende que Angola está a passar por uma situação de “vulnerabilidade em que as soluções financeiras são essenciais para poder garantir viabilidade e sustentabilidade dos projectos”. A nova entidade do grupo garante ter disponíveis formatos de financiamentos de crédito para projectos de grande porte.

Os empresários que se candidatarem ao financiamento, com caracter de longo prazo, devem necessariamente apresentar um projecto sustentável virado para a autonomia alimentar e diversificação industrial, dois elementos que se apresentam como principais requesitos.

A GBV Consulting reuniu uma equipa de auditores internos e externos, analistas financeiros e económicos, consultores comerciais e técnicos, uma equipa que almeja resgatar as relações entre os ´stakeholders` através de captação de investimento externos, a realização de investimentos internos, gestão de activos públicos, entre outros.

O Grupo Boavida tem com principal ´core business´ o ramo imobiliário. No âmbito do processo de diversificação da economia, tem em carteira de investimentos a agricultura, pecuária, hotelaria e turismo, comércio, prestação de serviços, saúde, educação e mineração, cuja facturação em 2017 foi de 120 milhões de dólares.

ELECTRICIDADE. Plano previa, em cinco anos, completar a massificação de contadores pré-pagos. Expectativa foi contrariada pela crise financeira.

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A escassez de recursos financeiros está a afrouxar a capacidade de investimento da Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE) na massificação dos contadores pré-pagos, condição fundamental para que alcance a meta preconizada de reduzir o valor das perdas comerciais até 20%, conforme prevê o plano estratégico da empresa do trieno 2016 a 2019.

O director dos projectos comerciais, Salvador Tunganito Alberto, garante que, apesar das limitações financeiras, há “investimentos significativos” com recurso a financiamento chinês que vai permitir a aquisição de 400 mil contadores.

Do total que foi adquirido à China, 300 mil contadores destinam-se a Luanda, onde já arrancou a montagem, sendo que todas as novas ligações domiciliares já beneficiam deste tipo de equipamento. Na “medida do possível”, esclarece aquele responsável, vai havendo a reposição de contadores avariados.

A empresa tem, em todo o país, quase um milhão e 300 clientes. Para o sistema pré-pago, estão instalados 333.587 contadores, 287.478 dos quais activos, o que corresponde aproximadamente a um quarto do total de clientes, segundo dados da empresa.

O plano da ENDE estabelecia um prazo de cinco anos para a completa massificação de contadores pré-pagos. A expectativa já foi contrariada pela crise e a administração não quer avançar nova previsão, sem ter garantias financeiras.

O documento da ENDE, a que o VALOR teve acesso, indica que os contadores pré-pagos, até 2019, representariam 70% dos dois milhões clientes, prevendo um ajuste progressivo à tarifa.

O gestor da ENDE está convencido de que a situação ficaria “completamente resolvida” com a instalação de uma fábrica em Angola não só para atender às necessidades da empresa, como também dos países da região.

Promessas antigas

Em Julho de 2015, o ministro de Energia e Águas, João Baptista Borges, tinha prometido um investimento do Governo de 432 milhões de dólares na instalação de contadores eléctricos pré-pagos. Um milhão e 60 mil contadores de energia era o número previsto. Os contadores deveriam ser instalados até 2017, sendo que o governante adiantava que o projecto incorporava já a construção de uma unidade fabril, que iria passar a produzir os contadores.

Dados da ENDE indicam ainda que tem crescido o número de clientes que pirateiam os contadores eléctricos por forma a furtarem-se ao pagamento. A empresa tem detectado este tipo de casos com menor incidência no casco urbano, mas vai aumentando principalmente na periferia e em edifícios, onde as caixas de contadores se encontram ao alcance dos clientes. “Temos muitos problemas na Vida Pacifica, nos Bês, Rangel, Marçal, bem como em algumas zonas urbanas de Luanda, sítios onde a tipologia da rede é propensa a este tipo de situação”, revela Tunganito Alberto.

Os indicadores mostram ainda que, do total dos clientes inscritos no pré-pago, 85% compra a recarga com regularidade, alguns com alguma sazonalidade, o que pode “não representar uma fraude”, garante Salvador Tunganito Alberto, que indica que 15% corresponde ao número de clientes que não aparecem mensalmente nos balcões da empresa.

A multinacional norte-americana Cummins, líder mundial da produção de motores diesel e soluções integradas de geração de energia, quer o apoio do Governo nas políticas fiscais e no acesso a divisas. A intenção foi manifestada pelo director-geral para a Africa Austral, Thierry Pimi, que esteve em Luanda para estreitar relações comerciais.

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A empresa não se referiu aos resultados no país, mas, a nível global, estima que as receitas brutas, no ano passado, tenham atingido os 20,5 mil milhões de dólares, números que permitem a empresa continuar a apostar na presença em África e em Angola, mesmo “em circunstâncias económicas desafiantes”, como sublinha o gestor.

Thierry Pimi descarta, no entanto, a possibilidade de instalar uma unidade fabril em Angola ou em África, preferindo continuar a apostar nas vendas. O gestor condiciona qualquer investimento à presença de uma indústria do aço, fontes de energia fiáveis.

Em Angola, a empresa actua na mineração, petróleo, pescas, construção, energia, filtros para peças e prestação de serviços. Por exemplo, na mineração, dá suporte especial à mina de Catoca para manter funcionais 40 unidades de produção com motores da Cummins, mas é no domínio dos petróleos que tem maior actuação, face à presença significativa de aparelhos usados pelas companhias petrolíferas.

Nas pescas, a companhia norte-americana garante a maior parte das embarcações a circular em Angola e os seus motores, cobrindo, a partir do Lobito, toda a parte Sul. Na construção civil, 99% dos camiões chineses estão equipados com motores desta marca, bem como máquinas de Komatsu e Hitachi. Na energia, vende, desde 2016, geradores pagos em moeda nacional.

A companhia investiu 25 milhões de dólares na formação, equipamento e treino nos últimos anos, valor que pode ser duplicado ou triplicado caso prevaleça a tendência de crescimento justificado, garante Thierry Pimi.

Com mais de 90 anos de experiência em geração de energia, possui uma rede em 190 países, 48 mil funcionários, com seis mil locais de venda e assistência.

PETRÓLEO. Subsidiária da francesa Total e inglesa Glencore Energy substituem a Trafigura e Vitol, nomeadamente na importação de gasóleo e de gasolina. Sonangol cria assim novos monopólios, contrariando as expectativas iniciais.

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A Sonangol anunciou, na última semana, a contratação da Glencore Energy UK Limited e da Totsa Total Trading para o fornecimento de produtos refinados, após avaliar propostas de mais de 20 empresas que concorreram ao concurso aberto a 17 de Janeiro.

A contratação das duas empresas internacionais de ‘trading’ e refinação para o fornecimento de combustíveis, às quais foram adjudicados três contratos, não acaba, no entanto, com o monopólio que existe no mercado, contrariando a expectativa que se criou aquando da abertura do concurso público.

Até então, a Trafigura, que controla 48,4% da Puma Energy, era o único importador de gasóleo; enquanto a Vitol reclamava pelo monopólio na compra da gasolina. Estas empresas são agora substituídas pelos novos fornecedores, como confirmou fonte da Sonangol.

A Totsa Total Trading, empresa que actua como subsidiária da petrolífera francesa, foi contratada para fornecer gasolina, enquanto a britânica Glencore Energy UK Limited fica com os contratos para o fornecimento de gasóleo e gasóleo marinho.

“O tipo de procedimento de contratação adoptado derivou da urgência em garantir-se um fornecimento atempado a partir do segundo trimestre de 2018, sem constrangimentos para o mercado interno”, lê-se no comunicado da Sonangol, emitido anteriormente.

O concurso visa a aquisição de 1,2 milhões de toneladas de gasolina, 2,1 milhões de toneladas de gasóleo e 480 mil toneladas de gasóleo de marinha. Angola é o segundo maior produtor da Africa subsariana, com cerca de 1,7 milhões de barris de crude por dia, mas a reduzida capacidade de refinação continua a obrigar o país a importar o gasóleo e a gasolina.

MINAS. Executivo está preocupado com a possível exportação de preciosidades, como diamantes, escondidas nas rochas. Vão passar a ser rigorosamente vigiadas. Três laboratórios de análises geológicas estão a ser montados em Luanda, Huíla e Lunda- Sul.

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O Ministério dos Recursos Minerais e Petróleos prevê adoptar novas regras na exportação de rochas ornamentais, que vão passar a estar sujeitas a prévias análises laboratoriais para se determinar o seu conteúdo.

A medida foi anunciada pelo secretário de Estado de Minas, Jânio Correia Victor, ao VALOR, justificando com a necessidade de se evitar a exportação de outras preciosidades que possam estar encravadas nas rochas. “Uma rocha em bruto pode ter muita coisa que nós não vemos. Estamos a falar de minerais que tenham o titânio, ouro, cobre ou outro elemento importante para a economia e nós estamos a exportar sem saber”, explicou. Com o mesmo propósito, a concessão de uma área para a exploração também estará sujeita a estudos laboratoriais.

O governante esclareceu, também, a informação, recentemente divulgada, segundo a qual está proibida a exportação das rochas em estado bruto para incentivar a transformação local. “Vai continuar, afinal, é uma fonte de receitas para os empresários, mas deverão, futuramente, estar sujeitas a novas regras”, precisou, garantindo que vão continuar a defender a transformação das rochas em Angola. “Seria uma mais-valia económica caso as rochas fossem todas trabalhadas aqui e depois exportadas, criaria muitos empregos. Quando exportamos em bruto, estamos também a exportar trabalho.”

A implementação desta nova dinâmica está condicionada à conclusão de três laboratórios previstos, cujas obras já estão em curso, segundo o governante. O primeiro deve estar concluído entre três e seis meses, ficará instalado em Luanda e será o principal laboratório de análises geológicas. Huíla e Lunda-Sul acolherão os outros dois.

Apoio dos empresários

A Associação de Empresas de Inertes e Rochas Ornamentais de Angola (Anirochas) mostra-se favorável à medida do Governo, convicta de que isso “pode impedir que os recursos saiam de Angola sem o devido benefício do Estado”, como explica Luzia Almeida, presidente da organização. “O país não tem a dimensão do quanto tem perdido até agora”, sublinha.

Numa radiografia ao sector, a líder associativa avança que um número significativo de empresas, que operam na exploração de inertes e rochas ornamentais, encontra-se em quase falência, por causa da falta de obras na construção civil. A associação representa mais de 80 empresas de pequeno e grande portes, metade das quais paralisadas.

Para Luzia Almeida, a crise “tem sido mais letal” para as nacionais. “De maneira geral, estas não funcionam e as que possuem parcerias externas continuam a funcionar a ‘meio gás’”, confere. Para sair desta “zona de desconforto”, a associação pretende dialogar com o Governo na procura de apoios, com vista a evitar a falência de mais empresas e colocar no desemprego milhares de pessoas. Luzia Almeida considera que a exploração dos inertes e rochas ornamentais “pode contribuir mais para o Orçamento Geral do Estado, comprovadas que estão as potencialidades de Angola”, mas aponta a falta de investimentos como “o maior constrangimento para alavancar o sector”.

O acesso ao combustível é um dos maiores problemas levantados pelas empresas, já que “torna a produção mais onerosa”. Mas a presidente da ANIROCHAS garante que a situação está a ser resolvida junto do Ministério do Recursos Minerais e Petróleos.

Apesar de afectado pela crise, o sector de rochas ornamentais tem sido um dos que mais cresce nas exportações. Nos primeiros quatro meses de 2017, foram vendidos, ao exterior, 18,2 mil metros cúbicos de granito, mármore, xisto-quartzito e calcário, num total de 4,35 milhões de dólares, de acordo com dados publicados no boletim informativo do então Ministério de Geologia e Minas.