RETROSPECTIVA. Alteração na estrutura directiva, novos contratos e desentendimentos marcaram agenda da petrolífera, enquanto na TAAG, a saída da Emirates é o destaque de um ano, em que se sentiu forte agitação nas telecomunicações e nos cimentos.
A Sonangol e a TAAG destacam-se entre os protagonistas empresariais do ano, mas as cimenteiras, a distribuição e as telecomunicações também estiveram agitadas. Tal como nos anos anteriores, a Sonangol, que o Presidente da República, João Lourenço, chegou a designar como a “galinha de ovos de ouro”, concentra as atenções por o petróleo ser o motor da economia. Assim destacam-se as mudanças operadas em Novembro na liderança da empresa, com a saída de Isabel dos Santos, na função de PCA, substituída por Carlos Saturnino, precisamente o homem que tinha sido exonerado, pela empresária, no ano passado, de CEO da Sonangol Pesquisa e Produção.
Na base do afastamento da filha de José Eduardo dos Santos, estariam as recomendações do grupo técnico criado pelo Presidente da República para avaliar as preocupações apresentadas pelas petrolíferas e reveladas num encontro com João Lourenço. A par disto, as petrolíferas condicionam a continuidade dos investimentos, caso houvesse uma redução da parte que o Estado no direito do petróleo destinado ao lucro, cuja percentagem varia com base na taxa de rentabilidade interna. Um dossier que, entretanto, transita para o próximo ano. Isabel dos Santos contesta qualquer ligação do seu afastamento da Sonangol às conclusões do grupo de trabalho.
Outro destaque é a dívida acumulada da petrolifera estatal, em mais de dois mil milhões de dólares, para com os grupos empreiteiros que exploram os blocos em que a Sonangol actua como investidora. A empresa admite que se ressentiu da “baixa drástica no preço de petróleo”. No entanto, depois de exonerada, Isabel dos Santos revela que deixou aprovada uma linha de financiamento junto de bancos internacionais para o pagamento da dívida.
Bem perto do final do ano, a Sonangol rubrica um contrato de gestão da Refinaria de Luanda, a única do país, com a multinacioal italiana ENI, cujo acordo prevê a duplicação da capacidade de processamento de derivados de petróleos e a formação de trabalhadores.
Acordos polémicos
O recente acordo com a Total para a distribuição merece também destaque, acompanhado pelo alerta de Isabel dos Santos sobre eventuais reduções nos lucros da Sonangol Distribuição com a assinatura do contrato. A antiga PCA da Sonangol acusa a petrolífera francesa de pretender ficar com os postos mais lucrativos. O acordo com a petrolífera resulta também na exploração no bloco 48 e no alargamento das operações no bloco 17, o mais produtivo do país.
Por outro lado, a British Petroleum (BP) anuncia perdas na ordem dos 750 milhões de dólares nos últimos dois anos só em Angola, na sequência de um investimento nos blocos 19 e 29 que se manifestaram “economicamente insustentáveis”. Porém, a companhia britânica manifesta-se firme na intenção de continuar com os investimentos.
Nova operadora
Novas perspectivas são abertas nas telecomunicações com o anúncio de um concurso público internacional para um quarto operador, incluindo a rede fixa, móvel e de televisão por subscrição, integrando o Estado a estrutura accionista com 45% do capital. Torna-se público que a reestruturação da Angola Telecom “não está a ser um processo fácil”. Parte das acções da Movicel é adquirida por uma empresa de capitais russos, mas a parte angolana mantém-se como accionista maioritária.
Emirates abandona TAAG
A TAAG volta a ser gerida por uma comissão de gestão depois da Emirates, em Julho, dar um fim ao contrato de concessão na gestão da companhia nacional, alegando “dificuldades prolongadas” no repatriamento das receitas das vendas. A transportadora também reduz de cinco para três o número de frequências semanais para Luanda, via Dubai. Em Maio, o então PCA da TAAG, Peter Hill, terá sido persuadido a reconsiderar a ideia de abandonar a gestão da transportadora aérea nacional. Para trás, ficam os resultados alcançados com destaque para o corte dos prejuízos operacionais da transportadora pública em 97,1%, para os cinco milhões de dólares, em 2016, face ao ano anterior. A TAAG chega a ser galardoada com o prémio ‘Feather’ do Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo, atribuído pela companhia de aeroportos da África do Sul (ACSA), tendo concorrido com companhias aéreas como a Singapore e Turkish Airlines. Ainda na aviação, duas companhias viram suspensas as licenças de voo pelo Instituto Nacional de Aviação Civil (INAVIC) a Guicango e Air 26.
Diamantes a brilhar
O negócio dos diamantes também esteve agitado. Além da exoneração do então conselho de administração, liderado por Carlos Sumbula (substituído por Ganga Júnior), o destaque vai para a saída da Sodiam da sociedade que controla a ‘holding’do grupo ‘De Grisogono’, a joalharia de luxo suíça detida por Isabel dos Santos e pelo marido, Sindika Dokolo.
ENDE: dívida em alta
A dívida global dos clientes à Empresa Nacional de Distribuição de Energia (ENDE) é avaliada em mais de 81 mil milhões de kwanzas, com Luanda a representar metade deste montante, revela ao VE o director comercial da empresa pública, Marcos Balanga. A dívida vem sendo acumulada desde 2002, com o último balanço, em Setembro desse ano, a assinalar um montante superior a 81.281 mil milhões, com tendência crescente. O valor cresce dois dígitos por mês desde a última actualização do tarifário da electricidade.
Cimentos param e retomam
O preço do cimento nos últimos meses conhece uma subida substancial, devido à paralisação de duas unidades fabris concorrentes da Cimangola, a China International Fund (CIF), no Bom Jesus, em Luanda, e a Fábrica de Cimento do Kwanza-Sul (FCKS). A falta de ‘heavy fuel oil’ (HFO), combustível utilizado para a produção do clinquer, é a principal causa. A situação, no entanto, é ultrapassada com a retoma de fornecimento pela Refinaria de Luanda.
Os altos e o baixo
O Candando, com a abertura de dois novos supermercados em Luanda, e a Top Brands Angola (TBA), com as lojas Worten Zippy, Mo, Sport Zone, Chicco e Swatch, são os maiores investimentos na distribuição. Por outro lado, a venda de automóveis regista quebras de 90% comparativamente aos números de 2014.
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