Valdimiro Dias

Valdimiro Dias

INVESTIMENTO PRIVADO. Sete empresas do grupo indiano vão produzir bens alimentares a detergentes em Luanda, Benguela e Cabinda. Previsão aponta para a criação de 600 empregos.

K04A8910

A empresa Noble Group pretende investir mais de 66 milhões de dólares em sete unidades industriais de bens alimentares, fertilizantes, fraldas, detergentes, leite em pó, paletes de plástico e bebidas. Vão proporcionar 600 empregos directos em três províncias, Luanda, Cabinda e Benguela.

O acordo de investimento foi assinado com o Ministério da Indústria, na semana passada. A média de investimento, por cada unidade fabril é de 9,5 milhões de dólares.

Uma das empresas é a Alimentos Saborosos, que vai produzir bens alimentares, como biscoitos doces e salgados. Foi desenhada com uma capacidade de 45 mil toneladas por ano e a atingir 75% da sua capacidade já no terceiro ano.

Benguela acolhe a Fertiáfrica, de produção de fertilizantes e compostos NPK granulados. A fábrica, com capacidade de produção de 14,4 toneladas, resulta de um investimento de mais de 8, 8 milhões de dólares e poderá gerar 57 empregos, 51 dos quais nacionais e os restantes expatriados.

O terceiro investimento, de 9,2 milhões de dólares, destina-se à produção de fraldas descartáveis e pensos higiénicos. A empresa é a Afrimega, que perspectiva produzir 3,2 milhões de pacotes por ano de diferentes tamanhos e dimensões.

Ainda na produção de bens alimentares, a Noble Group predispõe-se a construir uma fábrica de produção de leite em pó com capacidade para mais de 1.626 toneladas por ano, com a previsão de 75% ser atingido no quinto ano e deverá criar 58 empregos com um investimento de 9,5 milhões de dólares.

Na diversificação do grupo empresarial, de origem indiana, está previsto um investimento de 9,2 milhões de dólares, a ser feito pela Angochem, indústria química, que vai produzir químicos e fibras sintéticas até 60 toneladas por dia de detergente em pó e arranca com 20% da capacidade.

O sexto projecto de investimento a ser implementado pela Unique Beverages destina-se à produção de 3.000 toneladas de paletes por ano, prevendo atingir a 80% da capacidade projectada no quarto ano de actividade que poderá criar 69 empregos, num investimento de 9,9 milhões de dólares.

A empresa BEVCO vai investir 9,8 milhões de dólares em Cabinda, na produção de bebidas não alcoólicas, com capacidade de 600 mil litros por dia.

Damião Baptista, porta-voz da Noble Group, garantiu que todos os projectos vão ser implementados no prazo de um ano.

A Noble Group SA é um conglomerado ´multi-business` de origem indiana, que investe em Africa desde a década de 1990. Tem interesses na manufacturação, imobiliário, importação e distribuição de produtos de FMCG, automóveis, electrónicas, alimentos e farmacêuticas em Angola, RDC, Namíbia, Índia e Dubai. Em Angola, tornou-se num dos maiores importadores e emprega mais de duas mil pessoas, possui uma rede de 60 lojas, cinco armazéns centrais, cinco estabelecimentos de caixa e transporte e 20 furgões de distribuição/cash disponibilizam os requisitos diariamente em 13 províncias.

MINERAÇÃO. Depois de cerca de 20 anos em Angola, a operar especialmente no imobiliário, o grupo investiu cerca de 60 milhões de dólares numa mina e no sector agrícola.

Mina d cassinga grupo Boa vida

A empresa Portandum, afecta ao grupo empresarial Boavida, prepara para os próximos dias a primeira exportação de ferro a partir de Cassinga como resultado de um investimento de aproximadamente 60 milhões de dólares para reactivar a exploração da mina que esteve paralisada por mais de 40 anos.

O presidente do conselho de administração do grupo, Tomasz Dowbor, considera o momento como “histórico e marcante para a economia de Angola” e, em declarações ao VALOR, estimou receitas entre os três e quatro milhões de dólares.

Os planos do grupo passam pela venda das primeiras 50 mil toneladas para a China, já no final do mês, partindo do Porto do Namibe.

Do valor investido, cerca de 10 milhões de dólares foram alocados na primeira fase que se resumiu à exploração primária do minério. A maior parte foi canalizada para a criação da capacidade de escoamento.

A empresa perspectiva produzir cerca de um milhão de toneladas por mês, quantidades que Tomasz Dowbor garante “corresponder ao valor proporcional da mina”.

DO IMOBILIÁRIO À MINERAÇÃO

A exportação de ferro resulta da aposta na diversificação dos negócios que o grupo iniciou há cerca de dois anos para enfrentar a crise económica e financeira. Depois de, durante quase 20 anos a dedicar-se exclusivamente ao imobiliário, em 2016, investiu cerca de 50 milhões de dólares na agro-indústria com uma fazenda localizada em Caxito, no Bengo. No último trimestre do ano passado, iniciou a comercialização de frutas diversas. Além disso, está a construir um pavilhão de frangos. Tem em carteira novos investimentos na agricultura, pecuária e exploração de madeira.

METAS PARA 2018

Tomasz Dowbor considera que 2017 foi “um ano abençoado”, apesar “das várias dificuldades”, por ter alcançado determinadas metas como o aumento de 1.200 colaboradores para os 3.800. Destacou também a concretização da diversificação dos negócios, além da construção da escola internacional projectada na Urbanização Boavida que é o mais recente projecto imobiliário do grupo.

Para 2018, prevê a entrega da primeira fase do projecto Boavida, os condomínios dois e três, composto por 300 casas de diversas tipologias, o ‘shopping center’ que vai oferecer diversas gamas de serviços aos futuros residentes. O grupo planeia arrancar ainda com um novo projecto imobiliário e construir um edifício no centro da cidade.

As metas são “muito ambiciosas”, reconhece o gestor, que acredita que “serão alcançadas”, apesar de, por exemplo, admitir que “a curto prazo, o câmbio flutuante afecte o desempenho das empresas porque torna os produtos importados mais caros”.

AVIAÇÃO. Ministro dos Transportes fala da necessidade de rever o modelo da operação doméstica. Companhias, com grandes dificuldades, querem apoios para ‘levantar voo’.

Pg 02

Os gestores das companhias aéreas Heliang e Air Jet defendem que o Ministério dos Transportes “deve criar políticas e incentivos para as operadoras privadas se tornarem sustentáveis”. Uma das medidas preconizadas passa pela abertura de uma linha de crédito, destinada às empresas de aviação privada para renovarem as respectivas frotas.

É a resposta dos gestores à intenção do Ministério dos Transportes, acolhida favoravelmente, de rever o modelo de operação doméstica, para tornar o negócio sustentável e acabar com o actual estágio de fragmentação e falências das companhias.

O mercado doméstico da aviação comercial testemunhou, na última década, a falência de várias empresas. Das 18 operadoras registadas pelo Instituto Nacional de Aviação Civil (INAVIC), apenas oito ainda funcionam e os investidores atribuem culpas às despesas de operação, mas há quem junte à má gestão.

Para o director comercial da Air Jet, Estevão Simba, a criação de uma linha de crédito para a renovação da frota constitui a “principal premissa para que as companhias domésticas sejam alavancadas”. Sugere ainda que a ideia deva ser acompanhada de uma revisão da tabela de preços das taxas aeroportuárias cobradas pela Empresa Nacional de Exploração de Aeroportos e Navegação Aérea (ENANA) e do preço do combustível, acções que “são capazes de tornar o modelo de aviação doméstico sustentável”.

Além disso, as companhias debatem-se com o maior constrangimento, que é o acesso a divisas, cuja ausência tem causado enormes embaraços operacionais à Air Jet, que possui uma frota de oito aeronaves, do tipo Embraer 120 (2), B200 (4) e Jetstream (2). Parte encontra-se paralisada na Africa do Sul, onde os aviões foram levados para manutenção, mas não regressaram por falta de dólares para o pagamento. “Ouvimos sempre que há leilões de divisas no BNA, mas nunca são destinados às operadoras privadas” lamenta Estevão Simba, que considera a continuidade do actual quadro “sufocante, de elevados custos operacionais e receitas quase inexistentes, avisando que as empresas “podem estar condenadas à falência”.

Estevão Simba concorda que o mercado apresenta uma “letalidade elevada”, um problema que considera ser extensivo a algumas companhias estrangeiras que operam em Angola”. Estas “não permanecem por muito tempo, geralmente são afugentadas pelos custos operacionais, principalmente pelas taxas cobradas pela ENANA que variam consoante a flutuação do dólar e o preço do combustível”.

Avelina de Matos, directora financeira da Heliang, partilha a ideia de que o Ministério deve intermediar junto à banca nacional para a concessão de crédito “para não só permitir renovar a frota, mas também para a aquisição de dólares e de peças de reposição no exterior e para a manutenção que é feita geralmente no exterior.

No actual panorama, a gestora da Heliang afirma que não existe uma perspectiva de se renovar a frota, por “não encontrarem abertura dos bancos privados, embora seja um assunto de domínio do Ministério que tarda em reagir aos vários alertas das empresas de aviação.

Em situação normal, a operadora funciona com quatro aviões, B1900, B350 e B200, mas dois estão retidos também na África do Sul por falta de pagamento da manutenção, o que forçou a companhia a recorrer ao aluguer de aeronaves do mesmo tipo, uma operação que acaba por diminuir a margem da facturação que já é muito diminuta.

AVIAÇÃO. Estudo da IATA mostra potencialidades por explorar pela companhia angolana em África. A administração estuda possíveis voos para Uganda, Tunísia e Egipto.

27042610 1849409315070167 1660305455 n

O presidente do conselho de administração da TAAG, João Kovingua, prometeu analisar a possibilidade de incluir mais destinos africanos na programação de voos da companhia aérea nacional.

Na Conferência Internacional de Aviação Civil ‘IATA Day Angola’, foi divulgado um estudo da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA, sigla em inglês) que apontava potencialidades nas ligações de Angola com Uganda, Tunísia e Egipto.

João Kovingua admite que as novas rotas estão a ser analisadas e que o objectivo é de seleccionar, entre vários destinos, “os prioritários em função dos recursos disponíveis tanto em meios como recursos humanos, além da perspectiva do retorno financeiro”. “É salutar participar na conectividade entre países africanos, obviamente entre os povos, mas temos consciência de que deve garantir retorno”, reforçou.

Para o presidente da TAAG, a “conectividade deve obrigar a uma adequação da frota da companhia às necessidades que se impõem”. Para o director-geral e CEO da IATA, Alexandre Juniac, a “abertura dos céus” em Angola permitiria o “incentivo à procura e à concorrência, tornando as viagens aéreas mais acessíveis, permitindo maiores volumes de comércio, turismo e negócios com os restantes países africanos e o resto do mundo”.

O estudo da IATA indica que, caso Angola aderisse a novas rotas, poderia ter mais 531 mil passageiros, criar 15.300 empregos e gerar receitas de 137 milhões de dólares.

Actualmente, em África, a TAAG voa para Moçambique, Cabo Verde, África do Sul e Namíbia.

Média de 700 milhões de dólares

A companhia aérea estatal cresceu, nos últimos dez anos, cerca de 50% tanto em número de passageiros como nas receitas, revelou o ministro dos Transportes, Augusto da Silva Tomás, estimando em cerca de 700 milhões de dólares as receitas anuais nesse período. O crescimento resultou da reestruturação da empresa, da melhoria do serviço prestado, assim como do reforço da frota, que elevou para 13 o número de aparelhos.

AVIAÇÃO. Companhias angolana e sul-africana assinam parceria. TAAG já partilha voos, para alguns destinos, com Air France, British Airlines, Brussels Airline.

26855934 1841941032483662 1890037517 n

A companhia áerea estatal, TAAG, assinou, na semana passada, o seu nono acordo de parceria de ‘codeshare’, desta vez, com a companhia sul-africana South African Airways (SAA).

A SAA vai colocar o seu código de voo nos serviços de Joanesburgo e Cidade do Cabo operados pela TAAG, enquanto a transportadora aérea angolana, já nas próximas semanas, disponibiliza o código de voo nos serviços da South African Airways de Harare, Lusaca e Hong-Kong.

William Boulter, administrador comercial da TAAG, referiu que “o acordo constitui uma parceria forte que vai proporcionar melhores e mais fluídas conexões para muitos clientes”.

Por sua vez, a SAA acredita que o acordo vai fortalecer a relação entre as duas companhias. “Na South African Airways, valorizamos as relações com a TAAG e estamos expectantes em fortalecer esta parceria, criando uma boa experiência de viagem para os nossos clientes que se deslocam para vários destinos de África e Ásia”, sublinhou Aaron Munetsi, administrador comercial da companhia.

O histórico da relação entre as duas companhias regista ainda um marco em 1996 quando formaram uma relação ‘interline’, permitindo a aceitação dos clientes uns do outro e o acesso à rede de cada um. Em 2007, expandiu-se para uma parceria comercial em que a SAA passou a assegurar os voos da TAAG entre Luanda e Lisboa, em Portugal, depois de a companhia angolana ter entrado na lista negra da União Europeia. A SAA operava os voos com as suas aeronaves e tripulação em nome da TAAG.

A TAAG tem ainda acordos semelhantes com a Air France, British Airlines, Brussels Airlines, Luftansa, KML, Kenya Airways, LAM e Royal Air Marroc.

Muitas companhias encaram o acordo como uma oportunidade para colmatar a incapacidade técnica para atenderem a diversas rotas, mas também é uma solução para evitar a concorrência entre duas companhias em destinos com pouco fluxo.

As normas internacionais da aviação especificam que o ‘codeshare’ é um acordo de cooperação pelo qual uma companhia aérea transporta passageiros, cujos bilhetes sejam emitidos por outra companhia. O objectivo é oferecer aos passageiros mais destinos do que uma companhia aérea poderia oferecer isoladamente.

Quando um passageiro reserva um voo de ‘codeshare’, o bilhete exibe o número do voo da companhia aérea pela qual fez a reserva, embora alguns trechos da viagem sejam feitos em voos de outra companhia aérea, com um número de voo diferente daquele impresso no seu bilhete.

Segundo a história, o primeiro acordo semelhante foi feito em 1967, mas só em 1990 se assumiu a designação quando duas companhias, Qantas e a American Airlines, assinaram no moldes e com a denominação actual.