Valdimiro Dias

Valdimiro Dias

Investimentos. Grupo não se sente afectado pela crise e aposta em fazer “investimentos avultados” em várias áreas.

 

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Os investimentos do grupo empresarial Boavida, com interesses no imobiliário, mas também na agricultura, hotelaria, educação, mineração e outros, atingiram mais de 600 milhões de dólares. Os números são justificados pelo CEO, Tomasz Dowbor, com o “crescimento e a diversificação das áreas de actuação”.

 

Na apresentação de nova identidade denominativa e visual, Tomasz Dowbor revelou os investimentos do grupo em diversos domínios, com especial destaque para o imobiliário. Antes de adoptar a actual designação, a empresa denominava-se Poltec Investimentos e tinha, como core-business, o ramo imobiliário, já com 20 anos de presença no mercado nacional. Ultimamente, investiu, de forma faseada, 500 milhões de dólares na Urbanização Boavida, cuja conclusão está prevista para 2020.

 

Além do imobiliário, o grupo aplicou 50 milhões de dólares na agricultura e na pecuária, numa fazenda no Bengo. E é o mesmo valor que está a investir na reactivação da exploração do ferro nas minas da Cassinga, na Huíla.

  

A empresa Portandum, afecta ao grupo, prepara, para os próximos dias, a primeira exportação de ferro a partir de Cassinga que esteve paralisada por mais de 40 anos.

Para o líder do grupo, a crise em Angola “ofereceu imensas oportunidades, sobretudo agrícolas, mineiras e industriais”, sendo que “a dependência anterior no petróleo impediu o desenvolvimento da indústria nacional”.

 

O grupo Boavida prevê ainda a aposta na produção de cimento, cola, marcenaria e tinta que irão apoiar a construção civil. Uma escola internacional projectada na Urbanização Boavida, o mais recente projecto imobiliário do grupo, encontra-se também em construção.

 

Em relação ao exercíco de 2017, Tomasz Dowbor considera que foi “um ano abençoado”, apesar “das várias dificuldades”, destacando o aumento do número de colaboradores de 1.200 para 3.800 funcionários.

Para 2018, prevê a entrega da primeira fase do projecto Boavida, os condomínios dois e três, compostos por 300 casas de diversas tipologias e um shopping center. O grupo planeia arrancar ainda com um novo projecto imobiliário e construir um edifício no centro da cidade.

 

As metas são “muito ambiciosas”, declara o gestor que não tem dúvidas de que “serão alcançadas”, apesar de, por exemplo, admitir que, “a curto prazo, o câmbio flutuante afecte o desempenho das empresas já que torna as importações mais caras”.

 

Junta a esta meta a perspectiva de criar 1.500 empregos, objectivo que vai ser ampliado no próximo ano para três mil directos e seis mil indirectos.

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Num período de oito anos, a Angola Telecom registou uma queda na carteira de clientes na ordem dos 75%, passando de 200 para 50 mil, revelou Bartolomeu Pereira, director comercial da operadora pública.

A perda de mercado, segundo o gestor, é justificada pelo “fenómeno global ao nível de mercados de telecomunicações”, com destaque para a retracção e a falta de utilização da telefonia fixa, o que leva a empresa a preparar-se também para a oferta de serviços integrados, “no sentido de resgatar os clientes”.

Bartolomeu Pereira cita também a dívida acumulada dos clientes para com a empresa como uma das “maiores preocupações da actual comissão de gestão, face aos constrangimentos que tem causado”. Sem revelar números, o gestor aponta as empresas públicas como as principais devedoras, o que levou à criação de uma ‘task-force’ com a missão de as abordar. Pereira estima os resultados como “positivos”, já que, em pouco menos de três meses, foram estabelecidos acordos de pagamentos com algumas empresas e instituições devedoras, havendo negociações em curso.

Em relação aos clientes individuais, a principal dificuldade é o facto de as “pessoas mudarem de residência sem pagar as dívidas”.

Detida ainda na totalidade pelo Estado, a Angola Telecom enfrenta um processo de reestruturação que deve conduzir à alienação de, pelo menosç 55% da empresa, assegurando o Estado os restantes 45%, processo que deve ocorrer já a nível da bolsa de valores.

No segmento dos negócios das telecomunicações, presta serviços no domínio empresarial, residencial e a venda a grosso orientado para as grandes companhias, incluindo os próprios operadores de telecomunicação.

 

1.500 cabinas públicas

Com o processo de reestruturação em curso, a Angola Telecom prevê reintroduzir serviços de cabinas de telefónicas públicas em todo o país, pretensão que foi anunciada pelo gestor para o desenvolvimento de produtos e serviços, António Cercal. Segundo este responsável, serão montadas 1.500 cabinas em todas as províncias, com vista a garantir ao acesso deste serviço a pessoas carenciadas.

António Cercal explicou que algumas destas cabinas já existem e vão passar por um processo de revitalização, ao passo que outras serão instaladas em pontos que ofereçam alguma segurança, como shoppings e parques, de modo a evitar-se a vandalização dos equipamentos, como aconteceu no passado.

PETRÓLEOS. Medida considerada sem precedentes em Angola visa melhorar a rentabilidade e atrair mais investidores para o bloco 48, cuja exploração é considerada de risco face à profundidade.

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Futuros investimentos da petrolífera francesa Total Angola, para pesquisar e explorar o bloco 48, vão ter uma dedução de 40% do rendimento tributável sobre o imposto de rendimento.

A medida está preconizada num projecto de resolução que recebeu o voto favorável da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional, na última semana. A medida pretende compensar o facto de o bloco se localizar em águas ultra-profundas, com uma complexidade operacional, acrescida do elevado risco de pesquisa, face às condições geológicas de acesso difícil e reservatórios. O bloco é explorado pela Sonangol, como grupo empreiteiro, e pela petrolífera francesa, em que cada uma detém 50%.

O secretário de Estado dos Petróleos, Paulino Jerónimo, explicou aos deputados que a medida “não é uma isenção”, mas “uma mudança da sede de imposto”. “Qualquer prémio de investimento é dedutível em sede de transacção do petróleo. No caso, o executivo solicita a mudança do imposto de transacção para o rendimento de petróleo, o que muda a substancialmente a rentabilidade e atrai o investidor”. “Isto está previsto que o imposto de investimento seja deduzido a partir do imposto de transição de petróleo, mas infelizmente esta parte da lei não dá o necessário incentivo ao investidor, mudando da sede de imposto 7,6 para 16,6% de taxa interna de rentabilidade”.

O bloco 48 fica nas águas ultra-profundas na Bacia do Baixo Congo, a sul do rio com o mesmo nome. Situado a 200 quilómetros do Soyo, a profundidade da sua lâmina de água é de 2.500 metros. Paulino Jerónimo receia que “não haja muitas sondas capazes de actuar nesta profundidade”.

Embora a Sonangol participe como empreiteiro, todo o investimento vai ser feito na “plenitude” pela Total Angola, anunciou o secretário de Estado, garantindo que a “Sonangol não vai pagar nada”.

Em Dezembro, a Sonangol e a petrolífera francesa assinaram vários acordos de cooperação com destaque para o novo impulso à exploração do Bloco 48. Segundo o presidente do Conselho de Administração da empresa angolana, Carlos Saturnino, os acordos “enquadram-se no relançamento da cooperação entre as duas companhias, com impacto directo no gás”.

Ao VE, a Total rejeitou comentar a decisão do Governo e quantificar o investimento nas pesquisas no bloco 48.

SEM PRECEDENTES

Pela primeira vez, Angola faz uma “baixa de impostos petrolíferos com esta dimensão”, considera José de Oliveira, especialista em energia e gás do Centro de Investigação Cientifica da Universidade Católica. José de Oliveira entende que a medida “pretende atrair mais companhias que façam pesquisas neste bloco, de elevado risco face às condições geológicas, mas que se acredita possuir imensas reservas de petróleo”.

O especialista lembra que o imposto normal nos contratos em Angola são até 50% nos PFA, enquanto o Bloco 48 é um contrato com serviço de risco, com parâmetros económicos e financeiros. “Baixar até 40% é um incentivo para se faça pesquisa, visto que ninguém quer investir em águas profundas muito menos em ultra-profundas”, considera.

A Total Angola tem uma produção estimada de 600 mil barris/dia, o que lhe confere o estatuto de líder do mercado. É o operador do Bloco 32, com uma participação de 30%, com parceria com a Sonangol (30%), enquanto no Bloco 17 detém uma participação de 40%.

AVIAÇÃO. Apesar de fazer parte da comissão instaladora da futura empresa pública privada, a ENANA não fazia parte dos potenciais accionistas. Além da TAAG, integram o projecto Best Fly, Aerojet, Airjet, Heliang e JLC.

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A comissão instaladora da Angola Express, futura empresa público-privada que está a ser constituída para substituir a actividade doméstica da TAAG, convidou a ENANA para a estrutura accionista, segundo apurou o VALOR.

A ENANA também é membro da comissão instaladora e foi nesta condição que recebeu a proposta que está a ser analisada. A sua inclusão é vista na perspectiva de poder vir a concorrer para a redução dos custos das operações aeroportuárias, que é uma das maiores reclamações das operadoras privadas.

No desenho inicial da Angola Express, a parceria seria constituída entre a TAAG e as companhias privadas Best Fly, Aerojet, airjet, Heliang, JLC, estando a quota de cada uma condicionada à capacidade financeira de cada uma das participantes. No entanto, ainda existem reticências em relação à participação das operadoras privadas devido à actual conjuntura económica. Estas empresas enfrentam dificuldades financeiras, com o quadro da aviação doméstica a ser marcado por muitas falências, estando a TAAG a assegurar quase toda a procura doméstica. “Nenhuma destas pequenas companhias tem dinheiro para entrar nesta sociedade”, explica fonte próxima do processo.

Mas, como apurou o VALOR, o surgimento da Angola-Express não vai representar, necessariamente, a morte das companhias que vão fazer parte da sociedade, que poderão continuar a operar regularmente. Grande parte dos trabalhadores excedentários da TAAG vai ser absorvida pela nova companhia, sobretudo pilotos, mecânicos, oficiais de operações. Das outras companhias também poderão sair quadros.

AVIÕES A 270 MILHÕES USD

A nova companhia aérea deverá investir 270 milhões de dólares na compra dos aviões do tipo Dash 400. Cada aparelho custa 27 milhões de dólares e o projecto inicial prevê a aquisição de 10 aeronaves com capacidade para 72 passageiros cada uma. A comissão analisa as vantagens e as desvantagens de negociar directamente com o fabricante canadiano ou por intermédio do representante da construtora em África que tem sede na África do Sul. A decisão, em princípio, deve ser tomada brevemente, visto que o Executivo pretende que o projecto esteja concluído até ao fim do ano.

A opção pelos aviões canadianos tem que ver com os custos operacionais, muito inferiores em relação, por exemplo, aos Boeings da TAAG. Só em combustível gasta menos de metade e as manutenções ficam ainda mais baratas, o que poderá também influenciar na redução dos preços dos bilhetes.

Pela justificação oficial, a criação da Angola-Express surge da necessidade de tornar rentável o transporte de passageiros nas rotas domésticas. Um estudo, realizado pelo Governo, concluiu que o transporte assegurado pela TAAG tem prejuízos acumulados de 30 anos, necessitando a companhia de novas aeronaves, segundo declarou o ministro dos Transportes, Augusto Tomás, há duas semanas. Uma das razões para essa ineficiência está ligada ao tipo de equipamento utilizado. “Temos de fazer um ‘road-show’ para seleccionar o tipo de equipamento mais adequado para o transporte aéreo doméstico e é um processo que está em curso, com a participação também do sector privado nacional, tendo em conta que é uma tarefa aberta para o privado”, disse na ocasião. O VALOR apurou ainda que está decidido que o actual Aeroporto ‘4 de Fevereiro’, depois da inauguração do novo aeroporto internacional, será convertido exclusivamente para voos domésticos, executivos e presidenciais.

ROCHAS ORNAMENTAIS. Produção teve uma queda de 10%, em 2017, face à ruptura que a construção civil enfrenta. Mas a empresa quer dar volta por cima, apesar das dificuldades com as divisas.

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A empresa Marfilipe Angola, que se dedica à exploração, transformação e comercialização de mármores e granito, no Virei, Namibe, pretende aumentar a exportação para o mercado europeu em mais de 50%.

As metas foram avançadas, em exclusivo ao VE, pelo gerente Bruno Miguel, que explora uma concessão de 30 hectares, no Namibe, enquanto em Luanda possui a unidade de transformação e emprega 31 funcionários.

Em termos globais, a produção de 2017 atingiu os seis mil metros quadrados, mas registou uma queda acentuada de 10%, em comparação ao período homólogo, causada pela crise que também afecta a construção.

Preferencialmente, as exportações têm como destino Portugal, de onde são reexportados para outros pontos da Europa, enquanto para a região da SADC, a empresa tem vendido mármore e granito, mas não tão regularmente para Namíbia, Congo Democrático, República do Congo e a África do Sul.

Para contrapor a queda na construção civil, a Marfilipe procura compensar com a nova aposta em produtos direccionados a clientes particulares, passando a produzir peças decorativas, como pedras decorativas brancas de interiores, exteriores e zonas ajardinadas e arte funerária.

Bruno Miguel aprova a iniciativa do Governo de ter criado o Programa de Apoio à Promoção de Exportação e a Substituição das Importações (Prodesi), esperando que as medidas previstas sejam “implementadas para não cairem na ineficácia”.

No âmbito do programa governamental, o empresário acredita que se criem incentivos financeiros, bem como se reduza a carga fiscal e se resolva a problemática do combustível. A pedreira está localizada numa zona a 14 quilómetros da estrada principal, onde falta energia eléctrica e onde todos os equipamentos funcionam com geradores, o que torna os custos de produção mais onerosos.

Bruno Miguel lamenta também a falta de acesso aos dólares que está a condicionar novos investimentos, principalmente com a aquisição de equipamentos.

Angola deverá registar uma produção de 357 mil metros cúbicos de rochas ornamentais no quinquénio 2017/2021, com a entrada em funcionamento de dez novas pedreiras. Dispõe actualmente de 12 fábricas de corte, polimento e beneficiação de rochas ornamentais, estando cinco na Huíla, três no Namibe, duas em Luanda, uma em Benguela e outra no Zaire.

A Marfilpe é uma empresa portuguesa de referência no sector das rochas ornamentais, com presença, através de participações estratégicas, em Angola e mais recentemente no Brasil. É detentora de duas pedreiras próprias em Portugal, de Moleanos Vidraço e Ataíja, bem como de uma de mármore branco na região do Namibe, através de uma participação maioritária na empresa de direito angolano Rokafrik.