Valdimiro Dias

Valdimiro Dias

ELECTRICIDADE. Diagnóstico detectou fraudes do sistema pré-pago em todo o país, entre os que nunca compraram recargas e os que não compram há mais de 100 dias. Empresa projecta ainda ‘esquecer’ dívidas até 2012, mas ameaça com multas quem tenha mais de 50 facturas por pagar.

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A Empresa Nacional de Electricidade (ENDE) detectou perto de 31 mil potenciais clientes do sistema pré-pago em situação de fraude, segundo um relatório analisado pelo seu conselho de administração. Nessa situação, são catalogados todos os clientes que nunca compraram recargas ou que não compram há mais de 100 dias, mas que têm energia. Do primeiro grupo, estão contabilizados 8.724 potenciais clientes. Quanto aos clientes que não compram recargas há mais de 100 dias, mas, ainda assim, têm energia, a estimativa é de 21 mil, destacando-se o centro do país, com 33% (ver gráfico 2).

O sistema de pré-pagamento está instalado em 16 províncias, conta com mais de 342 mil contadores e mais de 308 mil clientes activos e a comprarem recargas. Em Luanda, está presente em 10 municípios/distritos, com mais de 190 mil contadores instalados e mais de 175 mil clientes activos e a comprarem recargas.

Tratamento da dívida

Entre outras decições, a administração da ENDE considerou chamar os clientes devedores para os centros de distribuição, com vista ànegociação da dívida, mas não descarta a aplicação de multas.A passagem da dívida de até 2012 para a situação de incobrável é outras das decisões em cima da mesa, além do bloqueio os contratos em sistema SAP de clientes baixa tensão, com 50 ou mais facturas por pagar. “Numa primeira fase, só vai acontecer em Luanda, os centros vão identificar os clientes. Porque podem ser clientes que não existem mais, temos casas que foram demolidas, abandonadas, visto que, a continuar a facturação, vão empolar os impostos que as empresas devem pagar ao Estado”, explica Marcos Balanca.

Até Setembro de 2017, a dívida global dos clientes da ENDE estava avaliada em mais de 81 mil milhões de kwanzas, com Luanda a representar metade deste montante. O valor cresce dois dígitos por mês desde a última actualização do tarifário da electricidade.

AVIAÇÃO. Companhia canadiana garante ter assinado contrato com a African Aero Trading, para a compra de seis aviões, e evita comentar o fim do negócio, imposto pelo Presidente da República, com a Air Connection.

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A construtora de aviões canadiana Bombardier nega ter firmado qualquer contrato com a Air Connection Express, explicando que assinou um acordo com outra entidade, no caso, a African Aero Trading. Para já, recusa-se a comentar o cancelamento do consórcio de aviação, que iria juntar a TAAG e empresas de aviação privadas, anunciado pelo Presidente da República, João Lourenço. “Não temos nenhum comentário relacionado ao consórcio.

A Bombardier assinou um contrato de compra com a African Aero Trading SA”, sublinha a directora de comunicações e relações públicas da aviação comercial, Nathalie Siphengphet, em resposta escrita enviada ao VALOR. “A Bombardier celebrou um contrato de compra com a African Aero Trading SA em nome de um consórcio angolano que forma a Air Connection Express. A entidade que comprou os aviões da Bombardier é a African Aero Trading SA”, reforça, sublinhando que é a esta [African Aero Trading SA] que se deve solicitar esclarecimentos.

No entanto, a resposta da Bombardier contraria as declarações dos responsáveis da empresa na altura em que foi apresentado o negócio, que previa a compra de seis aviões pela Air Connection Express. Na altura, o vice-presidente de vendas para o Médio Oriente e África, Jean-Paul Boutibou, assumia ter assinado o contrato com a Air Connection Express: “Felicitamos a Air Connection Express no lançamento de seus voos internos e estamos satisfeitos que o consórcio tenha escolhido a aeronave Q400 para apoiar voos regionais em África”, declarou. Durante a assinatura do contrato, o responsável da Bombardier sublinhava que a “aeronave Q400 provou ser um contribuinte fundamental para o crescimento da rede na região, melhorando a conectividade em rotas que não são economicamente viáveis para uma aeronave de grande porte. Hoje, mais de 37 operadoras operam a Série Q na África, e esperamos adicionar a Air Connection Express à família de operadores Q400”.

Na cerimónia da assinatura do contrato, a Air Connection esteve representada por Alcinda Pereira, responsável da Bestfly, empresa que integrava o consórcio.

A resposta da empresa canadiana também contraria as informações divulgadas pelo Ministério dos Transportes na sequência da assinatura do acordo, em Luanda, a 5 de Maio. “O referido contrato foi assinado pelo novo operador de transporte aéreo angolano, empresa denominada Air Express Transporte Aéreo SA, e o fabricante Bombardier”, comunicou, nessa altura, o Ministério.

À luz do contrato, a Bombardier forneceria seis aviões do tipo Q400, num negócio avaliado em 143 milhões de dólares. A empresa canadiana formaria ainda 25 assistentes de bordo do consórcio, assim como dois instrutores e ainda 55 pilotos e 40 mecânicos.

A criação de uma nova operadora de transporte aéreo doméstico, segundo justificava o ex-ministro dos Transportes, Augusto Tomás, resultava de estudos, que apontavam, “entre outros constrangimentos, para uma excessiva fragmentação do mercado de aviação civil no país”.

PETRÓLEO. PCA da Sonangol garante que o contrato para a aquisição de gasolina, gasóleo e gasóleo marinho são melhores que os anteriores, cujos custos eram de 50 milhões por semana.

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A Sonangol gasta em média, por semana, 50 milhões de dólares na importação de todos os derivados de petróleo, com gastos anuais a atingir cerca de 2,6 mil milhões de dólares. O número foi revelado pelo presidente do conselho de administração da petrolífera, Carlos Saturnino, durante a assinatura de contrato para o fornecimento de gasolina ao mercado nacional pela petrolífera francesa Total, para um período de 12 meses.

“Isto (50 milhões por semana) dá uma ordem de grandeza de quanto nós gastávamos durante o ano todo”, referiu Carlos Saturnino, que, no entanto, se escudou na cláusula de confidencialidade para não revelar o que se poupa com o novo contrato que coloca a francesa como fornecedora de gasolina em substituição da Vitol.

O líder da Sonangol limitou-se a garantir que o contrato é “mais vantajoso” porque vai poupar “algumas dezenas de milhões de dólares”.

Carlos Saturnino esclareceu que a quantidade de gasolina chega para atender às necessidades do mercado. “Senão, teríamos feito um concurso com uma quantidade maior, portanto é preciso não esquecer que Angola também produz gasolina, mas não suficiente”. As refinarias de Luanda e Cabinda, em conjunto, satisfazem a volta de 20 a 25% do consumo total de Angola e “importamos entre 75 e 85% da necessidade”.

O director-geral da Total E&P Angola, Laurent Maurel, congratulou-se com a assinatura de fornecimento de 1,2 milhões de toneladas de gasolina, o que “se enquadra na estratégia de expandir o modelo de negócio, em particular no aprovisionamento e distribuição de produtos petrolíferos”.

Laurent Maurel destacou também o alinhamento estratégico entre a Sonangol e a Total, que permitiu a assinatura de vários acordos durante a visita do Presidente da República a França no final de Maio, como a activação da licença de exploração do bloco 48, a criação da ‘joint-venture’ entre as duas petrolíferas para a exploração de postos de abastecimento de refinados de petróleo, bem como o protocolo de atribuição de 50 bolsas de estudos para estudantes angolanos.

Em Março, a Sonangol divulgou o resultado do concurso para o fornecimento de derivado de combustível, anunciando a contratação da Glencore Energy UK Limited e da Totsa Total Trading para substituírem a Vitol e a Trafigura no fornecimento de produtos refinados, mas os termos dos novos contratos nunca foram revelados. O contrato visa a aquisição de 1,2 milhões de toneladas de gasolina, 2,1 milhões de toneladas de gasóleo e 480 mil toneladas de gasóleo de marinha.

NEGÓCIOS. Multinacional norte-americana já opera em vários sectores. Novo líder da empresa, em Angola, destaca o financiamento ao país de 1,1 mil milhões de dólares em projectos energéticos.

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Dos vários ramos de actuação da General Electric (GE) em Angola, o negócio com maior crescimento tem sido o da energia. Por isso, Wilson da Costa, novo presidente da GE em Angola, garante estar “atento” ao plano do Governo que projecta um crescimento da energia de 7,2 GW até 2025, que vai integrar mais gás, energias renováveis e uma geração hidroeléctrica.

Wilson da Costa aponta, como exemplo prático desta intenção, a resposta positiva da empresa a uma solicitação do Governo, em 2017, para ajudar a aumentar a produção de energia. A multinacional financiou o projecto com 1,1 mil milhões de dólares, tendo sido a primeira vez que a GE Capital financiou um projecto na África Subsaariana, que resultou na implantação de quase 400 MW de energia, instalados em menos de três meses.

“Angola constitui um mercado- -chave em crescimento, que se enquadra no quadro geral do crescimento da GE em África”, explica o representante da GE, classificando a companhia como “balcão único” para os principais sectores de desenvolvimento em Angola.

A GE trouxe ainda 100 locomotivas para Angola, cumprindo com a sua estratégia de não se concentrar nas tendências quotidianas da economia, evitando a subida e queda diária do preço do petróleo.

A GE é um conglomerado multinacional que actua na aviação, software, conexões de energia, pesquisa global, assistência médica, iluminação, petróleo e gás, energia renovável, transportes e capital, serviços financeiros, dispositivos médicos, ciências da vida, produtos farmacêuticos e indústrias automóvel e de engenharia.

A principal aposta da companhia tem sido o investimento em formação e desenvolvimento em todas as operações no país, desde transportes até energia e petróleo e gás. Além do fornecimento das 100 locomotivas, a GE fomentou a instalação e comissionamento mais de 30 turbinas de energia em todo o país, a doação de 75.mil dólares a projectos destinados à luta contra o VIH e à tuberculose e investiu de mais de cinco milhões de dólares em melhorias das instalações na base da Sonils, em Luanda.

Novo líder

Wilson da Costa é formado em engenharia mecânica pela York College of Pennsylvania e possui um MBA pela Universidade de Liverpool. Ingressou na companhia em 2011, como Country Manager (Angola) na equipe de operações comerciais. Nessa função, trabalhou na construção e desenvolvimento dos negócios em Angola. Em 2014, foi promovido líder de desenvolvimento executivo para a África Central, com foco no crescimento do mercado no Gabão, Guiné-Equatorial, Camarões, Congo, Chade, etc. Antes de ingressar na GE, foi gerente geral da Palabora Mining Company na África do Sul, uma organização gerenciada pela Rio Tinto.

RESULTADOS. Contributo angolano reduziu no volume de negócios do conglomerado luso, mas Angola continua a ser o mercado mais importante com uma quota, dentro do grupo, de 38,5%.

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A facturação do grupo Teixeira Duarte, em Angola, recuou 11,9% para 398,5 milhões de dólares em 2017, num ano em que o volume de negócios global do conglomerado luso também quedou 7,1% para 1.023 milhões de dólares.

Apesar do tropeço das receitas no mercado nacional, o relatório e contas de 2017, apresentado recentemente, destaca que as unidades do grupo em Angola foram as que mais contribuíram nos negócios com uma participação de 38,5%, menos 2,1 pontos percentuais em relação a 2016.

O Brasil, com 22,8%, vem a seguir, ao passo que Portugal fecha o terceiro lugar, com 18,3%. A Argélia, com 8,8%, Moçambique com 5,9% e ainda Espanha e Venezuela com 2,9% e 1,2% colocam-se nas posições seguintes em termos de contribuição para as receitas do grupo.

Em relação ao mercado angolano, o documento sublinha que “2017 continuou marcado por um quadro macroeconómico difícil decorrente da prolongada baixa do preço do barril de petróleo, embora se tenha começado a assistir, a partir do segundo semestre, a alguns sinais positivos de recuperação do preço do crude”.

Em Angola, a empresa actua na construção, concessões e serviços, imobiliária, hotelaria, distribuição e no sector automóvel. Na construção, registou um “crescimento significativo” em relação a 2016, devido à execução de “importantes obras”, com os negócios a fixarem-se em cerca de 10 milhões de euros.

Nas concessões e serviços, dedica-se a áreas de negócios de naturezas distintas, como o ‘Facilities Management’ e ‘Facilities Services’ e ambiente. Neste segmento, Angola continua a ser o segundo maior mercado do grupo, destacando-se a renovação do contrato com a EMIS, bem como o contrato com a Chevron, concluído no início de 2018.

No imobiliário, manteve-se essencialmente marcada pela gestão do património de rendimento, licenciamento de alguns projectos e apoio à expansão de outros sectores do grupo.

Na hotelaria, registou uma diminuição de 10,2% face a 2016, provocada, sobretudo, pela quebra no alojamento. Entretanto, registou resultados satisfatórios na restauração, eventos e ‘health club’. O grupo é proprietário dos hotéis Alvalade e Baía e é gestor do Trópico, controlando um total de 1.236 camas e 620 quartos.

Com o ano caracterizado pela “continuada redução generalizada nos vários segmentos de negócio”, o ramo automóvel não foi excepção. A venda de viaturas, e mais especificamente de ligeiros, teve uma redução de 52%, passando de 8.189 unidades vendidas em 2016 para apenas 3.969 viaturas em 2017. Face à conjuntura actual, a Teixeira Duarte perspectiva, para 2018, a continuação da retracção, pelo que se vai dar continuidade à “gestão criteriosa dos ‘stocks’, à optimização de recursos e ao reforço dos processos de organização nas diversas áreas de negócio”.

Em Angola, o grupo opera no retalho alimentar, através da Companhia Nacional de Distribuição, com a insígnia Maxi e, no retalho especializado, na área de mobiliário e decoração, através da Dakaza. Neste, registou uma redução no negócio de cerca de 15,7%.