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Para se financiar uma revolução da Educação em África

22 Oct. 2018 Strive Maslyiwa Opinião

Em meados de Julho, o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, implorou ao mundo, num discurso na África do Sul, para invistir mais na educação da juventude africana. Um mês depois, a primeira-ministra britânica, Theresa May, fez um apelo semelhante, prevendo que “os jovens de África poderiam enriquecer não apenas o continente, mas a economia mundial e a sociedade em geral”.

Declarações como estas sublinham algo que os africanos já sabem há muito tempo: o futuro do continente vai ser determinado pelo destino dos seus jovens. A questão agora é se essas declarações podem ajudar a estimular a revolução educacional de que África tanto precisa.

Se as crianças de África forem educadas, preparadas para integrarem a força de trabalho moderna e equipadas com para terem capacidades para serem empreendedoras bem-sucedidas, vão florescer e África vai prosperar. Mas se nossos filhos forem atirados, ainda mais para atrás dos pares dos países desenvolvidos, o progresso económico será retardado, atrofiado ou mesmo revertido. Para garantir o primeiro e evitar o segundo, África deve investir mais na educação.

Para ter sucesso na economia do século XXI, os jovens precisam de resolver problemas, pensar criticamente e agir perante os desafios e os fracassos. No momento, no entanto, poucos estudantes africanos estão a aprender a ter essas capacidades. Essa necessidade urgente inspirou a minha esposa e mim a fundarmos a Higherlife Foundation, que oferece mensalidades e bolsas de estudo para algumas das populações mais vulneráveis de África.

Mas a filantropia sozinha não pode resolver os desafios educacionais da África. Se as tendências actuais continuarem, África abrigará mil milhões de jovens até 2050, mas um terço deles jamais atingirá as competências básicas na leitura, escrita ou matemática. Cobrir essa lacuna de educação em África leva tempo. Também custa mais dinheiro do que os doadores podem oferecer.

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É por isso que um dos maiores obstáculos para a educação nos países em desenvolvimento é o financiamento. Hoje, apenas 10% da assistência oficial ao desenvolvimento dos países da OCDE é destinada à reforma educacional no Sul do planeta. Mas, mesmo que as metas de financiamento mais optimistas sejam cumpridas, ainda não teríamos capital suficiente para garantir que todas as crianças estivessem na escola. Para atingir esse objectivo ambicioso, precisamos de repensar completamente como pagar as reformas educacionais.

Nos últimos anos, tenho trabalhado na Comissão Internacional de Financiamento da Oportunidade Global de Educação (a Comissão de Educação). Este grupo global de líderes de governos, empresas, universidades e sociedade foi criado com o objectivo de discutir novos mecanismos de financiamento que poderiam alavancar os compromissos existentes e motivar os países a aumentar os seus próprios gastos com a educação. E agora, depois de extensa pesquisa e análise, chegamos a uma solução: criámos o Mecanismo Financeiro Internacional para a Educação (IFFED, sigla em inglês).

Até 2020, o Fundo irá desbloquear cerca de 10 mil milhões de dólares em doações e empréstimos para ajudar os países a fortalecer os sistemas educacionais. Isso será realizado aplicando-se inovações nas finanças globais para ajudar a multiplicar o financiamento dos doadores, de modo que o dinheiro arrecadado vá mais além, crie condições acessíveis para o financiamento de capital humano e incentive a participação dos governos. Para este fim, o IFFED favorece os países comprometidos com a implementação de reformas e o controlo dos resultados.

Além disso, ao colaborar com os países que estão a aumentar os seus próprios investimentos em educação, o mecanismo também contribui para atingir as metas universais de educação. Por exemplo, a primeira alocação de verbas do IFFED pretende financiar cerca de 200 milhões de novas vagas escolares para crianças e jovens; outros milhões mais poderiam se seguir.

Estes não são objectivos impossíveis. O IFFED já é apoiado pelo Banco Mundial, o G20, bancos regionais de desenvolvimento (como o Banco Africano de Desenvolvimento e o Banco Asiático de Desenvolvimento) e as Nações Unidas. No mês passado, durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, líderes do Bangladesh, Canadá, Costa do Marfim, Dinamarca, Malawi, Holanda, Noruega, Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido apoiaram fortemente a criação dos fundos.

Concordo com Barack Obama quando afirma que “talento existe em todo o mundo”. É hora de dar aos jovens talentos de África a oportunidade de florescerem.

Empresário, filantropo e membro da Comissão de Educação do Zimbábue.