Potenciar o futuro de África

20 Feb. 2017 Sem Autor Opinião

Quando os líderes do G20 estiverem reunidos no final deste ano em Hamburgo, na Alemanha, o investimento no futuro de África vai estar na agenda como uma das prioridades. A chanceler alemã, Angela Merkel, já se comprometeu a usar a presidência do fórum para promover “o crescimento sustentável e o emprego” no continente, com o foco em “investimentos nas infra-estruturas e nas energias renováveis”. A energia não é uma necessidade nova para muitos africanos. Enquanto partes de África são ricas em energia, a oferta continua frustrantemente pobre na maior parte do continente. Na verdade, o Banco Africano de Desenvolvimento calcula que cerca de 620 milhões de africanos vivem sem acesso a uma electricidade confiável.

Com as economias avançadas agora a mostrar vontade em dar apoio aos esforços para ampliar a disponibilidade desta necessidade humana básica, talvez tenha chegado a hora de se inverterem as estratégias para abraçarmos um dos maiores desafios de desenvolvimento e de sociedade de África. De acordo com a Agência Internacional de Energia, África representa 13% da população mundial, mas apenas 4% usa energia. Enquanto os moradores de Londres ou de Nova Iorque se podem queixar de uma banda larga lenta ou de comunicações móveis de má qualidade, muitas pessoas em cidades, vilas e aldeias africanas ainda lutam pelo acesso à electricidade básica que possa iluminar as suas casas e alimentar os negócios. Em 36 países africanos, apenas duas em cada cinco pessoas têm electricidade ao longo do dia. Nos restantes países, essa média é de menos de um por cada dez habitantes.

Não é de surpreender que tantos jovens africanos acreditem que a esperança resida em viajar para a Europa. Ter uma electricidade confiável é mais do que apenas alimentar escolas, hospitais e casas. Uma fonte confiável de energia pode permitir que os jovens desenvolvam capacidades, encontrem emprego e criem negócios - e podem permitir que as empresas possam competir em condições de igualdade nos mercados regionais e internacionais. Como a electricidade é fundamental para o desenvolvimento económico, dar às comunidades e às empresas acesso a uma energia confiável, limpa e acessível será a minha prioridade máxima durante a presidência da União Africana.

Como sugere a agenda do G20 em Hamburgo, os países africanos e ocidentais têm agora um incentivo comum para trabalhar em conjunto para resolver as deficiências de desenvolvimento de África. O continente não pode perder gerações de jovens talentos para países como Alemanha, França e Itália e os europeus não podem continuar a lutar contra o fluxo de migrantes. Entre as melhores maneiras de reverter essas tendências está a cooperação com as economias desenvolvidas, particularmente na energia.

As oportunidades para as parcerias abundam. De acordo com um relatório de Fevereiro de 2015, elaborado pela McKinsey & Company, África tem uma extraordinária reserva energética inexplorada, incluindo cerca de 10 terawatts potenciais de energia solar, 350 gigawatts de energia hidroeléctrica, 110 gigawatts de energia eólica e 15 gigawatts adicionais de energia geotérmica. Considerando que, uma vez que é demasiado caro para explorar os vastos recursos renováveis de África, a tecnologia fornece soluções que promovem novas empresas e novas oportunidades. Com investimentos internacionais suficientes, África terá a oportunidade de aproveitar e utilizar esses recursos.

Já vimos o impacto que as novas fontes de energia podem ter nas cidades africanas. Há dois anos, os moradores de Conakry, capital da Guiné, não podiam ter luz em casa durante mais de seis horas por dia e as empresas não tinham electricidade necessária para trabalhar. Agora, graças à construção da hidroeléctrica de Kaleta pela China International Water & Electric Corporation, as empresas têm energia confiável durante 24 horas por dia.

E não é apenas na Guiné. Desde os vastos projectos pan-africanos de energia eólica e solar de Lekela, até parques eólicos no Quénia e projectos solares no Ruanda e na Tanzânia, grandes e pequenos países africanos estão a aproveitar os recursos naturais para criar empregos e produzir energia limpa e acessível.

O que é ainda mais emocionante é que esses projectos não surgem isoladamente. Estão a ser planeados juntamente com um impulso mais amplo para criar uma rede de capacidade de geração de energia em escala industrial em todo o continente.

A colaboração e os investimentos internacionais são essenciais para esses esforços. Graças aos parceiros internacionais, na África Ocidental, uma interligação eléctrica inovadora vai permitir exportar energia da Costa do Marfim para a Libéria, Serra Leoa e Guiné. E esta será a primeira de várias novas iniciativas público-privadas destinadas a transformar o modo como os países africanos encaram as políticas energéticas.

Se conseguirmos este objectivo, não só reforçaremos a capacidade das economias africanas de proporcionar empregos, como estamos a dar um futuro aos nossos jovens. Vamos abrir novas oportunidades comerciais tanto em África como no Ocidente.

Tendo passado o último ano a coordenar a política energética na União Africana, tivejj um crescente sentimento de impaciência dos líderes políticos africanos, que é partilhado por muitos dos nossos cidadãos. Mas os líderes africanos estão a demonstrar uma nova determinação para melhorar as perspectivas das gerações mais jovens, inclusive para electrificar as nossas economias. Nunca vi os líderes políticos de África tão concentrados em superar alguns dos desafios que têm imobilizado o nosso continente por tanto tempo. Trabalhando com parceiros internacionais nos sectores público e privado, podemos traçar um caminho novo e próspero para África e um futuro esperançoso para a nossa juventude. Se os líderes africanos juntarem a sua determinação com a promessa do G20 de investir em parcerias para a construção de infra-estruturas, o futuro de África será brilhante.

 

Presidente da Guiné-Conacky e presidente da União Africana.