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Ranking da avaliação de boa governação mundial 2025: pilares, lideranças e o desafio de Angola

21 Oct. 2025 Opinião

A edição de 2025 do Chandler Good Government Index (CGGI), publicada pelo Chandler Institute of Governance de Singapura, volta a mapear a capacidade dos governos em todo o mundo para servir eficazmente as suas populações, gestão de recursos públicos com ética, visão estratégica e impacto social. 

Ranking da avaliação de  boa governação mundial 2025:  pilares, lideranças e o desafio de Angola

A análise abrange 120 países, que representam mais de 90% da população mundial e é estruturada sobre sete pilares fundamentais da boa governação: Liderança e Visão de Longo Prazo; Leis e Políticas Robustas; Instituições Fortes; Gestão Financeira Responsável; Mercado Atraente; Influência e Reputação Global; e Apoio à Ascensão das Pessoas.

O topo do ranking global de 2025 é dominado por países que aliam estabilidade institucional, inovação e transparência. Singapura ocupa, uma vez mais, o primeiro lugar mundial, consolidando-se como o modelo mais eficaz de governação moderna, com destaque em seis dos sete pilares avaliados. Em seguida surgem a Dinamarca, Noruega, Finlândia e Suécia, todos estados nórdicos que continuam a provar que a boa governação é fruto de décadas de investimento em educação, meritocracia administrativa e ética pública. A estabilidade do top cinco nos últimos cinco anos evidencia que a boa governação é um processo cumulativo e institucional, não um resultado pontual.

Como observa o relatório, “bons governos não se constroem por acaso, mas através de um processo deliberado de fortalecimento de sistemas e de cultivo de uma cultura de integridade”.

No nosso continente (África), 28 países foram avaliados. O ranking regional de 2025 mantém as Maurícias como o melhor exemplo de governação africana, apesar de ter descido da 36ª posição mundial (2021) para a 51ª (2025), reflexo da entrada de novos países e da crescente competitividade global. Seguem-se o Ruanda, Botswana, Marrocos e África do Sul, todos com sistemas administrativos mais consolidados e níveis relativamente elevados de confiança institucional. O relatório aponta Tanzânia e Ruanda como os países africanos com maior progresso desde 2021. A Tanzânia subiu para a 78ª posição global, impulsionada pela digitalização da administração pública e por reformas estruturais no sector judicial. Em contrapartida, a maioria dos países africanos viu o seu desempenho deteriorar-se, especialmente no pilar da Gestão Financeira (Financial Stewardship), afectada por elevados níveis de endividamento e pela restrição fiscal pós pandemia.

O Chandler Good Government Index avalia 35 indicadores agrupados nos sete pilares que medem tanto as capacidades estruturais como os resultados efectivos dos governos. Entre eles, destacam-se: Liderança e Foresight Estratégico, que mede a capacidade de planear o futuro e adaptar-se a crises; Instituições Fortes e Estado de Direito, que avalia a qualidade do sistema judicial e a previsibilidade das políticas; Gestão Financeira Responsável, que reflecte a disciplina orçamental e eficiência nos gastos públicos; Mercado Atraente, que mede a competitividade, estabilidade regulatória e ambiente de investimento; Influência Global e Reputação, que reflecte a diplomacia, marca nacional e força institucional no cenário internacional; Apoiar as Pessoas a Progredir, que analisa políticas públicas voltadas à educação, saúde, segurança e inclusão social. 

Angola estreou-se no ranking mundial de 2025 e integra pela primeira vez o grupo das 120 nações avaliadas. A inclusão é, por si só, um marco, significa que o país começa a dispor de dados e indicadores comparáveis aos padrões internacionais de governação.

Contudo, Angola surge entre os países com baixa pontuação geral, o que reflecte fragilidades históricas em pilares críticos como instituições fortes, gestão financeira e prestação de serviços públicos. A dependência da receita petrolífera, a lentidão dos processos de diversificação económica e a ainda reduzida eficiência administrativa limitam o alcance das políticas públicas.

O relatório sugere que os países que melhoram rapidamente investem em reformas administrativas, digitalização dos serviços e fortalecimento da transparência orçamental, dimensões nas quais Angola tem avançado, mas que exigem continuidade, consistência e fiscalização social. Para subir no ranking de boa governação, Angola precisa consolidar um modelo de governação baseado em resultados, sustentado em três eixos essenciais:


1. Institucionalização da meritocracia e da responsabilização pública, com avaliações objectivas de desempenho e combate sistemático à corrupção; 

2. Transparência e acesso à informação pública, o que fortalece a confiança entre Estado e cidadãos; 

3. Planeamento estratégico de longo prazo, alinhado aos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável e às metas nacionais de diversificação económica e inclusão social.


O Chandler Good Government Index 2025 demonstra que os governos mais eficazes não são necessariamente os mais ricos, mas os que aprendem, planeiam e servem com integridade. A boa governação é uma arquitetura de longo prazo, erguida sobre valores, instituições e visão. Para Angola, a sua entrada no índice é o primeiro passo de uma caminhada histórica: a de transformar potencial em desempenho, discurso em resultados e governação em confiança.


Fonte: Chandler Good Government Index 2025 Report.