Vamos à rua ou Esperamos pela Unita?!
Que montanha-russa de emoções nos tem proporcionado o maior partido na oposição. Primeiro, a indignação contida, o apelo à serenidade, a promessa de uma luta institucional épica. Uma luta institucional em que quem comanda o barco tem a faca e o queijo na mão, manda e desmanda, e, mediante a política do “a maioria vence”, não precisa do aval de quem quer que seja para o que quer que seja. Foi preciso, após muito esforço cerebral, perceber que essa dita luta institucional não passava de utopia, para se adoptar uma outra estratégia: o “virar de costas”. O grupo parlamentar da Unita optou, não poucas vezes, por levantar cartazes ou até mesmo abandonar as plenárias quando as coisas, surpreendentemente, não corriam como esperavam. Mas o resultado foi, pasmem-se, nulo, nada, zero. O máximo que conseguiram, quiçá, foi aguçar os nervos da maioria, com tamanha algazarra. Que espetáculo de paciência! Quase adormecemos a assistir. Mas, de repente, um despertar!

A epifania! A luta institucional, afinal, é tão eficaz quanto uma sombrinha de algodão-doce na chuva. E assim, a Unita, qual fénix renascida das cinzas da moderação, anuncia manifestações incessantes. Tamanha reviravolta! O ponto de ebulição foi a tomada de posse de Manuel Pereira da Silva. O partido do ‘Galo Negro’ deu um basta e jura que ‘haja o que hajar’, ‘Manico’ não vai liderar a Comissão Nacional Eleitoral. Agora, resta a grande questão: a população, essa criatura volátil e imprevisível, irá aderir? Irá seguir um partido que, aos seus olhos, primeiro aceitou a fraude como quem aceita um chá morno? Um partido que prometeu lutar com a fúria de um leão e rugiu como um gatinho manso? Apesar dos pesares, a expectativa é que sim, que todos adiram em massa. Aliás, ouro sobre azul seria se não se precisasse de uma voz de comando para protestar as inúmeras injustiças cometidas pelo partido da situação e a forma como gere o país, como se se tratasse de sua herança. Até porque não é apenas a Unita a sofrer as consequências.
São todos os angolanos a quem, neste caso específico, não é dada a possibilidade de ver o seu direito e sua vontade expressos na urna, serem materializados. Ou talvez se esteja a fazer tempestade em copo d’água. Afinal o Estado é uma pessoa de bem e, portanto, não é esperado que seja o próprio Estado a não respeitar as próprias leis e os próprios regulamentos. Por isso mesmo o Executivo já nos acalmou a todos ao esclarecer sobre a sua proposta da lei eleitoral. Com o seu discurso eloquente e palavreado vernáculo, que fazem os menos atentos perderem-se do foco da questão, o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República foi ao parlamento garantir que as alterações propostas são tão somente para melhorar o processo. Porque o que o MPLA mais quer são eleições livres, justas e transparentes. E que vença o melhor. Só que não! Segundo Adão de Almeida, sobre a questão das actas-síntese, a ideia é dar maior fiabilidade. E impedir que trinta vire oitenta… Pronto assunto das actas, arrumado! Adão de Almeida, enquanto um bom camarada, não desperdiçou a oportunidade de lançar farpas ao seu arquirrival, que tanto em 2017 quanto em 2022 se aventurou na contagem paralela, mas que, segundo o superministro, desconseguiu! Chamada de atenção para a Unita. Fazer bem o seu trabalho, ahn?! 2027 está aí às portas… E não sendo, como ficou óbvio, um bom matemático fez um paralelismo esquisito entre cinquenta e mil metros… Ainda esta semana assistimos à surreal festa da gloriosa entrada de uns tantos para o Serviço de Migração e Estrangeiros! Um marco na vida daqueles que almejam ardentemente inspeccionar passaportes e carimbar vistos. Foi enternecedor ver o entusiasmo estampado nos rostos, a certeza de que este é o pináculo das suas ambições profissionais. Afinal, quem não sonha em lidar com a burocracia fronteiriça, em ser a primeira e, por vezes, única boa impressão do nosso belo país para quem chega? E o salário... bem, o salário é, digamos, uma “agradável surpresa”. Certamente não é o suficiente para lhes permitir extravagâncias como jantar fora com frequência ou sonhar com umas férias exóticas, mas quem precisa disso quando se tem a satisfação de servir a Nação? É realmente inspirador como as "oportunidades" se apresentam de formas tão... peculiares. Mas, é como diz o ditado, "antes isto que nada". E com esta filosofia, marchamos alegremente para o futuro. Porque é preferível e mais apetecível carimbar passaportes com um salário que não é aquelas coisas do que jovens talentosos, repletos de sonhos e ambições, que aparentemente não cabem nas fronteiras nacionais, procurarem um futuro onde o "possível" seja um pouco melhor. Estes caloiros do SME, sim, são patriotas. Então festejem à vontade. Talvez diria o outro, estes são quadros, não molduras!
*Crónica do programa ‘Dias Andados’, referente ao dia 25 de Abril de 2025
É PRECISO RESGATAR A CHINA