Amélia Santos

Amélia Santos

MÚSICA. Confessa que vive apenas do seu trabalho ligado à música. E prepara, para Dezembro, o lançamento do oitavo álbum e o concerto das mil vozes do gospel.

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Com o novo álbum e o concerto, terá um Dezembro recheado?

Sim. Vou lançar o oitavo álbum, um duplo CD e DVD, intitulado ‘Tua Presença’, a 2 de Dezembro, na Praça da Independência. E o grande concerto das mil vozes a 10 de Dezembro, na Arena do Kilamba, em Luanda. São louvores com uma vertente pedagógica. Todas os que cantarem neste evento têm uma formação, por meio de um curso, porque tenho uma sonoridade a defender.

Qual é o objectivo do curso?

Além da formação artística, pretendo angariar fundos para o grande concerto nacional de gospel ‘Guy Destino e mil vozes masculinas’. Está a ser dirigido para todos os amantes da música científica. Vou leccionar técnicas de canto, harmonia e técnicas de regência. O desejo é fazer o curso intensivo de música em todo o país. O concerto vai dar enfase aos novos talentos. As inscrições ainda estão abertas para todos os artistas, para o concerto.

É a sua área de formação?

Sim! O director musical é uma pessoa muito completa. Deve entender de harmonia e ter técnica de canto. Quem gosta de aprender, mesmo que não seja director técnico, pode vir a estes cursos aprender.

Qual é a duração dos cursos?

O meu desejo é que cada curso tenha duração de 20/25 horas. Durante o dia, podemos ter cinco a sete horas de formação, com módulos iniciais a custarem entre 10 mil e 15 mil kwanzas.

Já sabe quanto vai vender o CD?

Estou a pensar, porque não fazemos esse trabalho para ganhar. Porque, se fosse para dar o preço real, passaria dos quatro mil kwanzas, tendo em conta a desvalorização do kwanza e o valor investido. Temos lucros quando Deus nos abençoa.

Como vê o gospel?

Está a vir com muita carga. Os mais novos estão a vir teologicamente preparados e também na arte musical estão bem. E isso é bom, porque, quando não há concorrência, relaxamos. Uma coisa que mantém a nossa carreira viva é fazer sempre bem o nosso trabalho e com consistência.

Receia ‘bater na rocha’?

Devo continuar, haja o que houver, aconteça o que acontecer, não me vou prostituir em fazer uma coisa que não é minha, porque estou a ‘bater numa rocha’. Aliás, isso de ‘bater na rocha’ tem muito que se lhe diga. É algo que se deve encarar mais como desafio. Cada um tem uma unção diferente, mas todos com o mesmo denominador comum.

A música gospel tem sido usada em óbitos. Incomoda-o?

Já cantei em parlamento, em casas de deputados, na presidência, em discotecas e muitos outros sítios. A música gospel tem mais poder do que outra qualquer. Toca na festa, cemitério, discoteca, casamento, rua, já os outros estilos não!

Como avalia os sete álbuns já lançados?

Gosto muito da ‘Intimidade com Deus’, porque neste apliquei o meu lado científico, tive mensagens mais maduras. As pessoas gostam mais dos anteriores ‘Kumbaya vol. II’. No ‘Tua Presença’, preparei-me em termos teológicos e a mensagem foi muito mais forte e com mais inspiração. Já mostrei ao mundo as minhas capacidades, não importa se vai tocar em óbitos, o importante é que vou deixar um legado.

Vê imediatismo no gospel?

Acredito que aconteça, mas a minha experiência diz que quem vem ao gospel para ganhar dinheiro tem os dias contados. A Bíblia aconselha-nos a buscar o reino de Deus e a sua justiça, o resto é-nos acrescentado. Mas, quando vamos para ganhar dinheiro, somos muito facilmente confundidos.

A relação entre os cantores de gospel anda bem?

Lido bem com todos os colegas. Sei que não é fácil a decisão de ir a determinados sítios, mas, se o objectivo principal, por exemplo, nos concertos das multidões, é ganhar almas para Deus, então é isso que Deus quer para nós. Se o nosso objectivo é simplesmente enriquecer os nossos bolsos, sejamos nós quem formos, seremos confundidos. Isso quem diz é a bíblia, não sou eu. Todos temos uma meta e é nisso que nos devemos focar.

Gospel é cantar sobre Deus?

Não é só o cantor gospel que faz gospel. Gospel é evangelho. A bíblia diz que Deus usa quem Ele quer e quando Ele quer. Tudo o que vem para salvar a alma é considerado evangelho. Não sou contra as pessoas que põem gospel dentro do CD normal.

Vive da música?

Sim! Não só música cantada, mas também sou director coral, produtor musical, professor, cantor e intérprete. Mas a parte que mais tenho gostado e que dá também algum dinheiro é a parte de produção musical, como director musical e coral.

Se lhe tirassem a música?

Morreria (risos)! Estou a terminar a segunda licenciatura em teologia, mas, sem música, meu mundo fica vazio.

PERFIL

Nome: Destino Deves

Idade: 43 anos

Naturalidade: Zaire

Estado civil: Casado, dois filhos

Defeito: perfeccionista

Artista: Dodó Miranda e Dom Mccartneya

País que deseja conhecer; China e Estados Unidos

Equipa de futebol: Petro de Luanda e Real Madrid Bebida: Água

MODA. Foi aos 21 anos que a estilista realizou o primeiro desfile profissional. Hoje, com 25 anos de moda, Tina Souvenir encontra nos panos africanos a sua identidade e considera “difícil” investir neste sector em Angola. E acredita que a criação de indústrias têxteis pode render muitos empregos.

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Como vê a moda?

A moda é uma arte do bem vestir e, como tal, hoje está mais ousada com mistura de cores, riscos com flores. O meu atrevimento aos 14 anos foi o pontapé de saída para a Tina que sou hoje.

Recorda-se do primeiro desfile?

O meu primeiro desfile foi em 1992. Hoje, apesar de ousada, sou mais pacata e calma. Naquela idade não tolerava muita coisa.

Que dificuldades teve de enfrentar?

Na altura, eu não conhecia gente que levasse a moda a sério. As pessoas que eu conhecia viam a moda como um passatempo e, por incrível que possa parecer, havia a mentalidade de não aceitarem a roupa africana. Muitos consideravam um “atraso”.

Hoje vê na moda um mercado para investir?

Sem dúvida. É pena que ainda não haja muita gente a investir. A moda é um negócio que pode ser muito lucrativo.

Tem muitos clientes?

Durante anos sobrevivi apenas com clientes estrangeiros.

Tem preferência no tipo de tecidos?

No meu caso, não se trata unicamente de preferência. É, antes de tudo, uma questão de identidade.

Como procura valorizar a produção nacional?

Durante estes anos todos, já formei muita gente, o suficiente para que muitas se tornassem independentes. Formei e continuo a formar. Acredito que só desta forma podemos contribuir para o engrandecimento do nosso país.

De quanto em quanto tempo lança novas colecções?

A marca ‘Souvenir’ trabalha mais com confecções personalizadas. É mais trabalho, mas também o resultado é agradável. Por este motivo é que a nossa actualização é constante.

Coze para um público específico?

Especialmente para todos os que procurem o nosso trabalho. Há uma mensagem que sempre procuro transmitir em cada peça: o amor. Cada vez que crio uma peça sinto que é sempre melhor.

Tem parceria com alguma empresa?

Não.

A consultoria está a resultar no mercado angolano?

O resultado tem sido excelente, embora existam ainda as que deixam a desejar.

Que avaliação faz da criação angolana?

Cruel esta pergunta!

Vê preconceito ligado à moda?

Não estamos num mercado fácil. Aliás, o nosso tem muitas outras prioridades. Infelizmente, alguns serviços, no caso indústrias têxteis, ainda não são prioritários. Vê-se uma ou outra iniciativa, mas ainda é bastante exíguo.

Como se pode inverter o quadro?

Reconhecendo a importância do sector e apostando na indústria têxtil, sairíamos todos a ganhar. E ainda teríamos um número reduzido de desempregados. As indústrias têxteis seriam geradoras de emprego.

O que falta?

Falta bastante matéria-prima.

Quantas pessoas compõem a sua equipa?

São, no total, 26, seis dos quais efectivos e 20 colaboradores.

PERFIL

Laurentina Adriana Wassianga, artisticamente conhecida por ‘Tina Souvenir’, nasceu em Kinshasa, República Democrática do Congo (RDC), a 24 de Julho de 1971. Veio para Angola na companhia dos pais, quando tinha apenas dois anos. Foi no Uíge onde se fez residente em 1977. Anos depois, mudou-se para Luanda, onde vive até à presente data.

MÚSICA. Uma das grandes referências da música angolana, Dom Caetano prevê lançar, em breve, duas obras discográficas em simultâneo. Com perto de 45 anos de carreira, faz uma avaliação positiva da presença dos jovens na música angolana, mas apela ao maior reconhecimento dos artistas quando estes ainda estão em vida.

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Como está a preparação do álbum?

A obra ‘Esperança Divina’ está toda terminada sob a chancela da produtora Arca Velha. É importante andar de mãos dadas com os jovens. As classes devem estar compactas. É preciso ouvir e observar, tanto do vem dos mais velhos como um dos mais novos.

Há um motivo especial para lançar dois álbuns?

Seriam três (risos)! Um deles é uma homenagem aos 35 anos de carreira de um dueto que se chamou ‘Dom Caetano e Zeca Sá’. Zeca Sá encerra a sua carreira artística e dedica-se ao empresariado e o disco ‘Homenagem 35 anos Dom Caetano e Zeca Sá’ conta com canções produzidas ao longo desses anos.

É para ficar na história?

Penso que sim! É uma proeza que merece sempre alguma reflexão em termos de valorização. Não cantamos desde 1996 por vários motivos. Não foi uma dissolução, mas uma separação, porque ele vai para Portugal formar-se e eu ingresso para a música ligeira com mais consistência. Passei a pertencer aos ‘Jovens do Prenda’, ‘1.º de Maio’ e, mais tarde, à ‘Banda Movimento’ e comecei a fazer uma carreira mais a solo.

Há também concertos?

Claro que sim! Vamos estar na Casa 70, Muxima Ngola, Kilamba, entre outros sítios. Tudo ainda para este ano.

Conta-nos sobre a homenagem a Beto de Almeida?

Tive o cuidado de produzir duas músicas e quis as participações de Yuri da Cunha e Moniz de Almeida, mas não foi possível, por indisponibilidade do Yuri. Já o Moniz, depois de ouvir os estratos da música ‘Vizinho’, ficou emocionado e preferiu não participar. Quis muito que fosse ele a cantar comigo. Este álbum foi gravado em menos de 90 dias. Foi um record.

O que acha dos jovens que cantam em língua nacional?

Olho para aquilo que a crítica faz com Eddy Tussa e deixa-me estupefacto. Ele faz muito bem, mas deve ser chamado a fazer melhor. É um grande esforço encontrarmos um jovem a cantar quimbundo como ele faz. Imagine que tivéssemos 10 Eddy Tussa a cantar quimbundo? A música angolana da linhagem quimbundo estaria mais enriquecida. Temos de dar vida à comunicação oral.

O que acha das homenagens feita aos músicos falecidos?

Uma homenagem é um reconhecimento que deve ser merecido. Naturalmente que, na história da música angolana, há muitos músicos que merecem esta homenagem. Também, encontramos muitos músicos que têm ainda um caminho a percorrer para merecerem esta homenagem. A sociedade não se deve preocupar com o músico apenas quando morre, mas sempre e independentemente do papel ou do trabalho que desempenhe.

O álbum vai trazer histórias fictícias ou reais?

Não gosto muito de surrealismo. As coisas que acontecem são sempre um antídoto para o sentimento. Há maior emoção quando se espelha alguma coisa que aconteceu, do que quando se espelha o fictício. Isso torna o sentimento mais livre e dilacera a alma! O fictício é mecânico e o nível de sentimento é diferente. A minha mística vai ser resgatada, porque gosto de semba e sou bom fazedor de rumba. Aliás, um deles é interpretado em espanhol.

Sente exclusão dos mais velhos nos espectáculos?

Trata-se de uma questão de opção. E pode estar virado para a especificidade do concerto. Se for público e de caracter publicitário, compreende-se que se chame a juventude para actuar. Agora, se for um espectáculo como o último que aconteceu na Baía de Luanda em homenagem ao ex-presidente José Eduardo dos Santos, ele é mais velho, e, para tal, teriam de pôr um mais velho a actuar, até porque ele já foi músico. Tinha de ter, pelo menos, os ‘Kimbamba do Ritmo’, Elias Diakimuezo, entre outros artistas da minha geração. Os meus álbuns ‘Adão e Eva’ e ‘Mateus 7:7’ não tiveram muita sorte e não tocaram muito. O mercado estava com uma espécie de concorrência desleal, pessoas que pagam DJ para tocar. A corrupção no mundo da música tem de acabar.

E de que forma é que deve acabar?

É fácil! É chamar as estruturas que se responsabilizam pelas pessoas. Que são activistas, no sentido da promoção e publicação das obras, no sentido de serem coerentes, disciplinadas e respeitarem o trabalho dos artistas. Acho que há alguma causa emocional dos nossos produtores.

PERFIL

Caetano Domingos António, ou simplesmente Dom Caetano, nasceu a 25 de Abril de 1958, em Luanda. Pai de 22 filhos, fez parte dos grupos ‘Jovens do Prenda’, ‘Conjunto Astros’, ‘Os sete amigos’, ‘Surpresa 73’, ‘Sete Incríveis’, do ‘Instrumental 1.º de Maio’ e da Banda Movimento, ao qual pertence até hoje. Tem obras a solo, ‘Mateus 7:7’ e ‘Adão e Eva’; e colectivas, como ‘Espontaneidades’ e ‘Kufungissa’ (com a Banda Movimento). Em 1991, conquistou os prémios ‘Welwitchia’, pela RNA, e ‘Canção’ pela UNACA. Em 1996, vence novamente o prémio da ‘Canção’ com a música ‘Nova cooperação’ e o primeiro e único Prémio Sonangol da Canção, com a música ‘O pecado carnal’.

PRODUÇÃO MUSICAL. Com 20 anos de carreira, o músico e compositor Presilha congratula-se com o estado da música e da produção em Angola. Desaconselha o imediatismo para atingir o sucesso e, apesar do sucesso, defende que o Estado deve apoiar e impulsionar o desenvolvimento dos artistas.

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Passados 20 anos, que avaliação faz da carreira?

Graças a Deus, está boa! Estou a fazer muitas produções e a contribuir para o mercado angolano de forma positiva. Neste momento, estou a prestar serviços em produção para Rey Hélder, Bela Chicola, entre outros músicos.

Quando prevê lançar o quinto álbum?

Estou a preparar com muito carrinho e é provável que saia para o ano. Na realidade, o projecto está quase pronto e, inclusive, já tem título, ‘Tributo à música’, e vai contar com as participações de Yuri da Cunha e Ivan Alexei, Lutchana. Estou a negociar com Paulo Flores e mais alguns artistas.

O que se pode esperar deste projecto?

Vai ser um bom trabalho. Afinal de contas, só pelo título já é uma forma de homenagear a música, por tudo o que ela fez por mim e por outros artistas. Preferi este para que qualquer pessoa, nacional ou estrangeira, se reveja nos estilos que o disco vai apresentar. Há de tudo, desde semba, kizomba, zouk, balada, entre outros estilos.

Que grandes sucessos já produziu?

Yuri da Cunha ‘Tu és o amor’; Yola Semedo, ‘Say Ho’; Rey Hélder, ‘Mana Luna’; Irmãos Almeida, ‘Senta mais um pouco’ e ‘África’; Flay ‘Jóia rara’; Géneses ‘Luz’; Big Nelo, ‘Quem será’; Phather Mak, ‘Laranjas’… são tantos que até perdi a conta.

Qual foi a sua grande produção?

A minha melhor e maior produção foi a música ‘Senta mais um pouco’ dos Irmãos Almeida, porque foi o trampolim como produtor. Foi a oportunidade de me conhecerem e respeitarem. Já trabalhei em produção e nunca tive uma produção como aquela. Ai, dei toda a minha alma.

Com que artistas internacionais já trabalhou?

Já trabalhei com Carlinhos Branco, um brasileiro, dei uma música completa ao cabo-verdiano Grace Évora. Trabalhei com uma banda da Bahia ‘Mameto’, no Brasil, entre outros trabalhos.

Que produção mais o animou?

Todas as produções me deram o mesmo prazer, porque cada álbum tem o seu grau de responsabilidade e desafio. Mas o quinto acarreta bastante responsabilidade, pelo caminho que já venho trilhando, tendo em conta os trabalhos já feitos. Porque a música é das coisas que faço para toda a vida e por isso não posso errar. Não faço música para as pessoas dançarem durante um ou três meses. Acho que, embora não tenha sucesso ou nome, o artista deve fazer música para dançar e ficar na história.

Sente imediatismo nos nossos músicos?

Existe sim! Mas é algo que não aconselho, porque o que chega cedo e rápido pode também terminar cedo. A música tem de transmitir mensagem à alma. Há muita música descartável em Angola. O artista não é aquela pessoa que, quando entra na discoteca, é reconhecida de imediato. Não! O artista tem de ter a capacidade de mudar mentalidades. Muito pelo facto de já termos vivido períodos longos de guerra e hoje, já não as guerras de facto, estamos numa guerra da mudança de mentalidade e de comportamentos.

Como vê os artistas que se expõem para ganhar notoriedade?

Essas polémicas, no nosso país, não são saudáveis. Talvez seja algum dia. Na Europa e na América, por exemplo, os artistas fazem essas coisas para ganhar dinheiro e vendem mesmo. Somos seguidos por muitas crianças, até nas redes sociais, e isso afecta inclusive no desempenho dos filhos.

A produção musical respira bem?

Respira bem! Porque hoje, sem medo de errar, 90 por cento das músicas consumidas são nacionais. Então, de certeza que os produtores e músicos estão a trabalhar bastante e as pessoas já valorizam mais a produção nacional. E só sai a ganhar a nossa música.

Os produtores ainda sentem falta de patrocínios?

Enquanto a nossa cultura não tiver o apoio do Estado, não vamos deixar de pedir, porque, afinal de contas, toda a cultura tem peso quando o Estado patrocina. Ganhámos dinheiro, sim, mas não é suficiente. Hoje podemos fazer toda a produção em Angola, mas há coisas que temos de finalizar obrigatoriamente no estrangeiro.

É considerado um dos melhores produtores. Concorda?

Sim! O segredo é muito trabalho e humildade. Não foi fácil conquistar este título, para que as pessoas reconhecessem inclusive as minhas músicas.

Quanto tempo levou para chegar onde chegou?

Já faço produção desde 1997, no Lobito, Benguela, mas, em 2000, tive de vir a Luanda, por ser o maior mercado, onde tudo acontece. De lá pra cá, tenho a felicidade de somar sucessos atrás de sucessos, graças a Deus.

Gosta de estar na noite/discotecas?

Gosto de sair, mas evito ir a espaços como discotecas. Há cinco anos que não frequento. Porque nós, os artistas, muitas vezes, não somos bem encarados. É sempre bom esquivar-se.

Quem mais gostaria de produzir?

Paulo Flores e Bonga, entre os nacionais. Dos internacionais, Ivete Sangalo, para fazer uma junção dos estilos baianos e os nossos, porque acho que os dois ritmos têm tudo para dar certo e um outro qualquer, desde que seja norte-americano.

Se não desse certo na música o que faria?

Engenharia de petróleo é uma das grandes paixões. Já trabalhei neste ramo na Sonamet. Foi o meu primeiro emprego.

PERFIL

Valeriano Joaquim Calei, mais conhecido por Presilha, tem 37 anos e é natural do Lobito, Benguela. Tem a formação média em Ciências Sociais. Possui quatro álbuns lançados: ‘Sem rumo’, ‘Meu estilo’, ‘Estrelas’ e ‘Duetos’. De momento, prepara o lançamento do quinto álbum, intitulado ‘Tributos à música’, que deverá estar no m

MÚSICA. Orquestra Sinfónica Kaposoka é a primeira do género em Angola. Com sede na Samba, conta com duas filiais no Zango 3 e em Catete. Trata-se de um projecto que pretende apoiar jovens carenciados. A orquestra, que já actuou em vários países, é apadrinhada pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

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A Orquestra Sinfónica Kaposoka foi criada em 2008. Como surgiu a ideia?

Quando fui nomeado administrador da Samba, em 2008, as municipalidades receberam dinheiro para a sua gestão. Nesta altura, perguntei a alguém da presidência o que o Presidente esperava de mim, e ele respondeu duas coisas: melhorar as condições da população e tomar conta da reserva do Estado, os terrenos. E, no âmbito das minhas tarefas, decidi andar pelo município e deparei-me com uma escola com condições péssimas e com o rosto triste das crianças. Fechei a escola e arrendei uma casa. Pedi ajuda ao delegado da educação e cedeu-nos carteiras novas. Achei que a música clássica podia recuperar crianças desfavorecidas, pois tem o poder de sossegar, tranquilizar e trazer a criança para o real. Mas, como as nossas crianças não estavam habituadas à música clássica, tinha de arranjar formas de fazer com que fossem elas mesmas a tocar. Então pensei em formar uma orquestra infanto-juvenil. A oportunidade surge depois de uma viagem à Singapura, onde, em contacto com o embaixador, me foi apresentado um fazedor de violinos, e, pela primeira vez, fiz encomendas de violinos. Passado algum tempo, os violinos chegam a Angola, mas mantive tudo em segredo.

O propósito mantém-se até hoje?

Desde sempre me foi dito directamente que devia fazer algo que melhorasse as condições de vida da população. Comecei logo a pensar nos mais vulneráveis. Hoje, entra para a escola qualquer criança interessada.

As crianças pagam?

Zero absoluto, o terno é esse. Tudo é pago pelo Presidente da República. A instalação física da Samba é oferta do banco BPC. A assistência médica e medicamentosa é da Multiperfil, tudo grátis, incluindo as cirurgias.

Que desafios enfrentou?

O projecto é privado, mas temos apoios públicos. A Presidência da República, todos os anos, convida-nos para um ou outro evento. Os ministérios também. No que tange à expansão, o Presidente orientou que fossem abrangidas as demais províncias. As crianças têm consultas grátis na clínica Multiperfil.

Já estão preparadas para acompanhar artistas em concertos?

Os do escalão ‘A’ do grupo principal já tiveram algumas experiências, como no ‘Show do Mês’, onde acompanhámos o ‘mais velho’ Baião, os Líricos e Aline Frazão. Portanto, tínhamos partituras. Mas já conseguem fazer algumas músicas angolanas, desde que tenham partituras. Mas não vamos enveredar por ai, de momento. Só em casos esporádicos e especiais, mas todos seleccionados por nós. Por enquanto, as crianças ainda não estão preparadas para acompanhar músicos.

Recebe propostas para actuar?

Nem todos os serviços são pagos, nem todos nós aceitamos que nos paguem. Embora precisemos de dinheiro. Em geral, são pagos, quando alguma instituição do Estado convida. Há algumas instituições privadas com capacidades de pagar muito mais e ainda pedem redução de preço inacreditavelmente. O que me inquieta é que essa é uma instituição filantrópica e ainda é para crianças. Mas acontece poucas vezes, porque a prioridade é o estudo. Há instituições que não pagam, por serem nossos parceiros, como a Multiperfil, o Instituto de Sangue, que também precisa de ajuda, as creches para crianças carentes também não pagam.

Já há ramificações da orquestra?

Em Luanda, estamos no Zango 3, mas não com as mesmas condições. E, fora de Luanda, temos em Catete, no Centro Cultural Dr. António Agostinho Neto.

Para além da Argentina, onde mais estiveram?

Havia sete prémios e eram todos iguais e nós arrebatámos um deles na Argentina, em 2012. Era um local onde havia prémios e não saímos em terceiro lugar como se tem dito. Nos outros locais, foi só para realizar concertos. Estivemos na Zâmbia, Venezuela, França, Itália, Japão, Espanha e quem custeou parte das despesas foi a nossa embaixada na Espanha e empresários espanhóis. O Presidente da República apoia sempre todas as nossas actividades.

Como está constituída a escola?

Temos várias turmas em cinco escalões. A turma ‘A’ é dos mais avançados e vai até ao escalão ‘E’. Podem ser matriculadas crianças entre os seis e os 14 anos. A escola tem salas de aulas, um refeitório. Uma das salas chama-se ‘As Gingas do Maculusso’, a biblioteca ‘Ary’ e sala de concerto ‘Elias Dya Kimueso’.

Tem uma razão especial?

Porque estes foram os únicos músicos que aceitaram o nosso convite sem cobrar nada e mostraram-se disponíveis sempre que precisássemos. Os outros músicos, mesmo sabendo das nossas dificuldades, cobravam até sete mil dólares para actuarem nas nossas actividades. Optámos por ter nomes de músicos que apoiam o projecto.

Quanto tempo ficam as crianças na escola?

Normalmente três a quatro horas/dia, de segunda a sábado. Mas, até 2012, tinham direito ao pequeno-almoço e a uma refeição quente. Actualmente estão só com a merenda escolar e, aos sábados, o almoço.

O que se aprende na escola?

Temos várias disciplinas. Temos música clássica universal, música clássica angolana, música moderna angolana, música popular angolana. A escola tem também uma componente forte: formar o homem, não apenas na componente musical mas temos também aulas de ética, educação moral e cívica, etc.

PERFIL

Pedro Ambrósio dos Reis Françony, de 64 anos, nasceu em Kasai, na RDCongo. O seu maior sonho é ver todas as crianças a sorrir e criar escolas de música e de futebol grátis. É o primeiro homem ?a abrir uma orquestra sinfónica em Angola.