Amélia Santos

Amélia Santos

ARTES PLÁSTICAS. Com mais de 45 anos de carreira, tem obras na Igreja de Jesus, na Cidade Alta, no Ministério das Finanças, no Museu da Moeda e é criador dos selos dos Correios de Angola. É praticamente o único ceramista em Angola e até já ganhou prémios. Agora pensa em alargar os interesses e quer usar a matéria-prima que Angola fornece. Sempre que pode, toca no grupo ‘Os Kiezos’.

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No ano passado, foi distinguido com o Prémio de Cultura e Artes…

Fui laureado com a mais alta distinção da República. É impensável que um laureado não conheça o PR, um aperto de mão, ou ser recebido no Palácio. As mais altas distinções são entregues por monarcas, é obrigação deles, dá honra e brilho ao prémio que ganhámos por mérito. Desde o primeiro prémio, o distanciamento do chefe do Estado foi notório. O prémio Nobel é entregue na presença de monarcas, o ‘Sakharov’ é entregue pelo presidente da União Europeia, o ‘Príncipe de Astúrias’ é entregue pelo rei de Espanha...

O Estado deve apoiar os artistas?

O Estado tem obrigações sociais. Tem de retomar os pagamentos sobre a propriedade intelectual. Os criadores vivem da propriedade intelectual, escrita, sonora ou de imagem. E é isso de que têm sido privados. O Estado deve subvencionar quem tem obra, não necessariamente uma estrada de longos anos. Qualquer um de nós pode produzir uma única obra que seja muito mediatizada e utilizada. O Estado tem de pôr as instituições a funcionar com penalizações e indemnizações.

E os artistas como devem contribuir para o Estado?

Os artistas são descontados, pagam imposto de selo pela União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC). A UNAC tem de declarar às finanças os seus encargos. Pagava 100 mil kwanzas, por cada artista. Já presenciei a UNAC a dar assistência financeira a artistas. Não existem gestos de caridade das instituições, porque qualquer remuneração é acompanhada de imposto. Antes de levar o produto ao cliente, o imposto de selo é pago nas finanças.

É autor da imagem dos selos dos Correios de Angola (CA)…

Tenho grande responsabilidade. Fiz uma série de selos de quatro grandes músicos, Zé Keno, Belita Palma, Liceu Vieira Dias e Lourdes Van-Dúnem. Uma questão muito íntima, são códigos de honra que essas instituições exigem de nós. É uma relação de consultoria tanto aos CA e o BNA e também por conhecimento e pela observação dos nossos direitos e sob a propriedade intelectual. São essas instituições que me têm mantido vivo. Tenho cerca de 250 selos nos CA, além de outras imagens.

E pela arte decorativa da moeda nacional?

Sim! Sou responsável da decoração de todas as notas da moeda nacional, incluindo moedas, com excepção da nota com o estiar da bandeira, que é da responsabilidade do BNA.

Qual é o estado da cerâmica?

A arte cerâmica praticamente não existe. Por uma razão muito simples. Temos já o ensino superior em belas artes. Nunca fui convidado a dar uma palestra, posso passar conhecimento, reunimo-nos e conhecer outros artistas. A UNAP não faz absolutamente nada, está paralisada, os artistas não se conhecem. E a brigada jovem quase não conhece ninguém.

É viável esta arte?

Se pretender viver disto, não consigo! Vai começar a faltar tudo, começo a ‘baquear.’ Neste tipo de produção, tem de se estar anexado a uma empresa já com estrutura que possa tratar de documentos de concepção e exploração da área onde nós extraímos.

Faz produção em série ou por encomenda?

Só por encomenda e personalizada, por particular ou empresa. No mínimo, acima de dez unidades. Cada panela fica por três mil kwanzas, a caçarola por dois mil, quando encomendada em grandes quantidades. Não existem fábricas nestas áreas. Este ano, pretendo alargar para o fabrico de loiça sanitária. Temos toda a matéria-prima com bastante qualidade para não importarmos nada. Encontramos no Lubango, Uíge, Caxito, Barra do Dande...

Quantos funcionários tem?

Já tive mais funcionários, mas tive de dispensar, por enquanto, só tenho um. Quando há maior número de encomendas, chamo-os. Tenho electricista, mecânico, artista plástico um pouco de tudo.

Já há produção de cerâmica vidrada considerável?

Não existe! Houve várias tentativas, mas não há nada. Mesmo a cerâmica de tijolo abriu insolvência.

É o único ceramista em Angola em grande escala. Há condições para se exportar?

Provavelmente, em termos de cerâmica vidrada sou o único, infelizmente. Para exportar, tem de se constituir empresa. Depois, passar por uma série de processos e por controlo de qualidade permanente para não deixar passar nada que possa comprometer a marca Angola. Não tenho essas estruturas, estou no meu quintal, vivo em termos laboratoriais. Claro que tenho máquinas produzidas por mim. Vou agora trabalhar em fundição com peças de aço. Tudo de que necessitamos, importamos. Não há sequer troca de conhecimento e esse é o grande problema.

Quanto custa criar uma fábrica de cerâmica da dimensão da sua?

Com um moinho de martelos, um senfim e um forno feito em Angola, pode custar 15 milhões de kwanzas. Só depende de quem estiver à frente. Porque é uma questão de criatividade e manter o diálogo.

E como faz a exploração de inertes?

Sou artesanal, trabalho com sacos. Não vou pedir uma concepção de uma coisa que não vou tirar proveito.

Quem mais solicita os seus serviços?

Tenho tido mais encomendas em azulejaria, revestimento de paredes. Tenho no Ministério das Finanças, no 4.º andar, na Sé Catedral, igreja de Jesus, mesmo a entrada um grande painel, é muito reconfortante ter em um edifício como aqueles um painel de azulejos do século 21. Tenho também em residências. Também material de revestimento, pavimento para à construção de um forno de padaria. Claro que não sai na dimensão desejada.

PERFIL

Horácio Dá Mesquita, 65 anos, artista plástico e músico, natural de Luanda, tem duas filhas de 13 e nove anos. É autor da decoração da moeda nacional e responsável pelos selos dos Correios de Angola. A filha mais nova segue as pegadas do pai em cerâmica e a mais velha prefere o desenho. O lixo é o seu grande fornecedor para a montagem dos protótipos.

MÚSICA. Em mais de 20 anos de carreira, lançou apenas dois discos, mas vive da produção musical. No novo disco, não conta ganhar dinheiro com as vendas. Está preocupada com a perda da identidade da cultura angolana.

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Que avaliação faz da sua carreira em mais de 20 anos?

Faço uma avaliação positiva. Já passei por muitas coisas positivas e negativas. Enquanto artista, sempre procurei fazer o que realmente gosto e que o meu público desejou ouvir de mim. Fazer arte em Angola não é fácil. O processo de guerra que o país viveu fez com que muitos artistas desaparecessem. Nas décadas de 1960 e 1970, a música era feita numa outra perspectiva. Agora que enfrentamos um país com paz, a temática musical mudou muito, uns acham que é para melhor, outros para pior.

E no seu caso?

O mundo é feito de dinamismo e temos de acompanhar a evolução. Uma coisa que era feita há 20 anos não pode ser a mesma de hoje. A música angolana evoluiu muito, mas também perdeu identidade cultural. Claro que trazemos a essência que é muito forte, como a kizomba, kilapanga, massemba, mas são ritmos que, com o passar dos anos, vão acabar no esquecimento. A nova música feita pelos jovens perde-se nas influências ocidentais, esquecendo-se daquilo que realmente nos identifica.

A internacionalização é a sua meta?

Atingir o mercado internacional não depende muito do artista, mas da própria base que envolve o artista. Não vivo muito de sonhos, mas quero, como qualquer artista, fazer parte do mercado internacional.

Depende só do rendimento da música?

A música é o meu primeiro emprego, comecei a fazer música aos 16 anos. É difícil viver da música, mas vive-se. É necessário disciplina, orientação e sabermos como atingir os objectivos. Vivemos numa estratificação musical, não como queríamos. Tudo o que faço quando estou fora dos palcos é ligado à música. Estou há dois anos a trabalhar na Palanca Tv num projecto ligado à música. Estou sempre ligada à publicidade, produção e a fazer trabalhos para outros artistas. Nunca estou parada.

Enquanto se formava, ficou fora dos palcos?

Estive afastada, porque a vida é feita de prioridades. Enquanto artista, sou perfeccionista. Precisei de um tempo, para me focar nos estudos e ver novas estratégias. Sou formada em Psicologia e isso ajuda na minha carreira.

Sente-se ‘enteada’ do Ministério da Cultura?

Os artistas têm feito a sua parte. E precisam de meios para mostrar a sua arte, lugar adequado e público-alvo. Há artistas que, muitas vezes, fazem grandes deslocações e precisam de apoio. Se for pedir empréstimo a um banco, vão pedir um avalista e como é que se consegue um avalista se se trabalha com arte? Muitas vezes, faltam oportunidades.

As mulheres já ocupam um lugar de destaque na indústria cultural?

Com certeza! Falo da Nany, da Belita Palma, Lourdes Van-Dúnem que se souberam impor. As mulheres sempre foram excluídas das actividades realizadas por homens. A nossa sociedade sempre foi um pouco machista. Hoje, o mercado musical feminino cresceu consideravelmente e é visto com maior orgulho, não deixamos nada a desejar em relação aos homens. As Gingas do Maculusso, Isidora Campos, Eunice José, Dina Santos, Clara Monteiro vieram dar outro ‘input’ no contexto não pejorativo, porque as mulheres eram vistas como outra coisa. A partir daí, a música feminina começou a tomar outros contornos. Era impensável uma mãe deixar uma filha ir cantar a um centro cultural, mas hoje a realidade é diferente.

O que acha dos artistas que promovem músicas que contenham mensagens negativas?

Tudo tem que ver com o imediatismo e com a educação. As pessoas têm de saber o que querem na vida. Uns, por quererem aparecer, não vêem meios para atingir o fim. Tudo isso passa por um cuidado, estamos a perder a nossa essência. O Ministério da Cultura não se preocupa em passar o que é a cultura angolana. É mais fácil ouvir alguém que canta qualquer coisa, do que alguém que faça poemas numa música. O semba não é difícil, porque vem do coração, é bem mais difícil fazer um guetho zouk, porque tem influências norte-americanas.

Que novidades traz no ‘Sem Igual’?

Trago mensagens de amor e factores sociais que abrangem relacionamentos. Conto com a participação do Caló Pascoal, Agre G, Fhather Mack e os Man dos Santos. Além do duo Soft Voices, Beto Max e outro dueto com Djamila D’Elves. Não queria deixar o ano terminar sem esse compromisso com o meu público. Apesar de estar distante dos palcos, as pessoas não se esqueceram de mim.

Vai reaver os valores investidos?

O álbum não foi barato, no que toca a divisas. O artista tira o que investiu em ‘shows’, contratos, parcerias, publicidade e outras formas, mas com a venda não vê nada.

PERFIL

Nazarina Semedo é natural de Luanda, e aos 36 anos, soma 20 anos de carreira. Lançou dois álbuns ‘Sem Igual’, 2017, e ‘Alguém como tu’, 2005. Tem como referências musicais Aretha Franklin, Eunice José, (Afrikkanitha). Entre os artistas da nova geração, tem como preferência Edmazia, Cef, entre outros. Dia14 deste mês, actua no Chá de Caxinde Sucará, em Luanda.

CULTURA. 170 Milhões de kwanzas é o valor estipulado para a edição deste ano do Carnaval de Luanda, mas o organizador não está satisfeito. O Ministério da Cultura participa apenas com 25%, o resto depende dos patrocinadores.

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Em 2016, o orçamento do entrudo foi de 140 milhões de kwanzas. Nesta edição, estão previstos 170 milhões. É satisfatório?

Não! O Carnaval de Luanda cresceu muito e implica meios financeiros. Este ano, temos um orçamento de 170 milhões de kwanzas, o que não é suficiente tendo em conta que temos feito atenuações de subsídios aos grupos na ordem de 700, 500 e 300 mil kwanzas para as classes A, B e infantil.

É justo o valor atribuído aos grupos?

Não é o mais justo, mas é o real. Esses subsídios já não se justificam. Seria bom se pudéssemos fazer a entrega de um milhão e 500 mil para a classe A, um milhão e 200 mil para a B e um milhão de kwanzas para a Infantil. Estamos a trabalhar com os nossos parceiros, os patrocinadores, GPL e Ministério da Cultura (Mincult), para conseguirmos esses valores.

A subvenção aos grupos é da responsabilidade do Mincult ou só o faz por falta de patrocínios?

Não é uma obrigação. Seria quase obrigação se estivesse a funcionar a Lei do Mecenato. Mas há empresas que se identificam com a cultura angolana e apostam no Carnaval. Hoje temos patrocinadores tradicionais.

São suficientes?

O problema não é termos muitos patrocinadores, mas sim patrocinadores com valores mais altos. Porque se hoje entregarmos a área de ‘marketing’ a um só patrocinador, ele é capaz de assumir o Carnaval à volta de 50% a 70%. Queremos encontrar patrocinadores bons e fortes.

O Carnaval está entre as prioridades do Mincult?

Somos um órgão da sociedade e parceiros do Mincult. A nossa missão é fazer com que as coisas aconteçam antes. Estamos a trabalhar nesta vertente, tem sido difícil. Uma novidade é que os nossos associados criaram um órgão de valorização do carnaval.

De onde provêm as verbas?

75% é dos patrocinadores, 25% do Mincult. Não se altera muito o quadro de grupos todos os anos. Porque são quase sempre 15 para cada classe.

Como os grupos podem atrair patrocinadores?

Os grupos devem encontrar patrocinadores e padrinhos directos. Mas, muitas vezes, os patrocinadores questionam porque fazem um investimento de sete milhões de kwanzas e consegue reaver três, o que não compensa. Os grupos devem criar políticas de rentabilização financeira. Têm de ter vida cultural durante o ano todo.

Os grupos têm tido essa vida cultural?

Em Angola, há os produtores culturais e os artistas. Os artistas dependem dos produtores que não têm sensibilidade em convidar os grupos. É capaz de um grupo realizar apenas duas actividades anuais.

O atraso na entrega de valores afecta o desempenho dos grupos?

Sim! Há coisas que ficam a depender. A entrega de valores tinha de começar a ser feita a partir de Setembro/Outubro. Isso porque o nosso mercado é muito fixo. Se for antecipado, por exemplo, podem pagar cada peça a mil kwanzas, mas se estiverem em cima da hora, pode custar até 1.500 kwanzas.

Está a estudar outras formas para motivar os grupos?

Sim, este ano vamos realizar ‘workshops’, em que um dos itens é a vertente económica do Carnaval. Vamos encontrar prelectores que nos possam ajudar no que é a rentabilização do nosso Carnaval.

Estamos na 40.ª edição do Carnaval, desde o ‘Carnaval da vitória’. É possível fazer comparações?

Há muita coisa diferente. Cada edição tem novos elementos. Em 1978, grupos como Kabokomeu, Mundo da Ilha e Kiela a sua composição tinham 50 a 70 pessoas e as alegorias eram carros-de-mão para simbolizar o operário. Hoje, os grupos são compostos por aproximadamente 800 pessoas. E as temáticas antigamente eram mais viradas para a política, hoje o Carnaval está mais aberto, há mais criatividade e liberdade. É mais moderno, mas com a essência da tradição.

Hoje ainda se comemora a quarta-feira das Mabangas?

Hoje já não tem uma presença muito visível. Era tida como a ressaca do Carnaval, em que cada um dos grupos saía à rua a dançar e recebia ofertas dos mercados. Hoje a realidade é bem diferente e quem mais contribuía eram comerciantes. Mas os grupos mais tradicionais e antigos como o Kiela, Mundo da Ilha, 54 e Kabokomeu, mais virados para o litoral, ainda fazem. É uma festa mais de Luanda.

Os grupos têm reclamado os resultados. São justas as reclamações?

Todos os que participam no concurso querem estar no pódio e quando isso não acontece, o primeiro alvo a abater é o júri. Também é justo que os grupos façam apreciações muito correctas dos sete itens em avaliação: canção, dança, alegoria, corte, comandante, bandeira, falange de apoio. O júri é composto por 21 elementos. Pode haver falha num ou noutro, mas é impossível que os 21 estejam enganados. Os nomes do júri só são revelados uma semana antes do desfile.

Qual é a grande novidade desta edição?

Os grupos estão apostados em fazer uma homenagem ao Presidente João Lourenço.

Conta com a participação de outras províncias?

Não será possível. Um grupo de carnaval é diferente de um grupo de dança, pois tem de se ter em conta a logística para albergar mais de 300 pessoas. Estaríamos a desfalcar o Carnaval da província convidada, porque teria de vir o melhor grupo. É um projecto que o Mincult está a tentar implementar. Já tentámos outros anos, mas não funcionou!

Mas a ministra já se pronunciou…

Estamos a aguardar. Os grupos em Luanda ainda não receberam os subsídios de apoio quanto mais de âmbito nacional…

Como está a organização do Carnaval?

Temos estado a receber sugestões. Estamos a estudar outros modelos de Carnaval, como mudar o horário para as 18 horas e terminar de manhã.

PERFIL

Secretário-geral da Aprocal há cinco anos, António Francisco de Oliveira ‘Delon’, de 57 anos, natural de Luanda, é também actor e encenador. Ainda é do tempo do ‘Carnaval da vitória’, que contou com a presença do primeiro presidente, António Agostinho Neto. Há 40 anos que participa na festa.

MÚSICA. Autor de sucessos como ‘Maria do Castelo’, ‘Mamã me acode’ e ‘Cola Semba’, Livongh deve apresentar, em breve, a sua nova obra a solo. Apesar de se sentir reconhecido, lamenta a existência de barreiras contra muitos artistas e apela a uma maior intervenção do Ministério da Cultura.

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Sente-se reconhecido?

Sinto-me reconhecido, embora ainda falte mais trabalho de divulgação e apoio. Mas já sinto um pequeno ‘feedback’. Acho que devia ser mais reconhecido por estar a fazer muito pela nossa música, mas ainda existem muitas barreiras contra muitos artistas.

Que tipo de barreiras?

Ainda há muita dificuldade. Não há apoios, não há divisas, não há direitos autorais, não há respeito como devia ser. É uma aventura!

O que pode ser feito?

Valorizar o músico e a sua obra. Os direitos autorais cá, em Angola, repito, ainda não funcionam. É lamentável.

E como avalia o actual estado da música nacional?

A música nacional está a dar pequenos passos e já há uma grande diferença entre o passado e o presente. Infelizmente, os estilos ‘mais nossos’ não são valorizados como deviam. Os nossos filhos não ouvem nem vêem a nossa cultura. Os grandes ‘shows’ esquecem-se disso. Ainda não se fez quase nada, mas pode fazer-se muito mais.

Como está a sua agenda internacional?

Está cada vez melhor. Já fiz várias actividades em Portugal, Moçambique, África do Sul, Macau, Houston, Namíbia e agora estou a negociar o próximo verão para a Europa.

Quais são os seus maiores sucessos?

Já produzi vários, como ‘Cola Semba’ e ‘Maria do Castelo’. E para outros artistas como Eddy Tussa, Yola Semedo, Cilana, Roxane, Robertinho, Proletário, entre outros. De um modo geral, sinto muito prazer em gravar com eles, porque todos são bons vocalistas e grandes profissionais.

Está a desenvolver algum trabalho no momento?

Nesse momento, estou a finalizar o meu álbum e os participantes internacionais serão dois, mas só os vou divulgar no fim do trabalho.

Sente-se mais confortável a cantar ou a produzir?

Sinto-me mais confortável a cantar. Produzir é difícil. Exige tempo e paciência, coisa que os clientes nunca têm. Querem tudo rápido.

O que gostaria que o Ministério da Cultura fizesse pelos artistas?

Gostaria que empregasse músicos para trabalharem como deve ser.

Como assim?

No meu caso, gostaria de ter mais trabalho musical e sempre mais respeito. Os artistas só precisam de espaço e oportunidades para fazerem o seu trabalho, e não de serem barrados sempre, sempre e sempre. Vejo muitos colegas talentosos, mas sem hipóteses.

Como vê os concursos de música nacional?

Sobre concursos, não tenho muito a dizer. Não gosto de competir.

Como recorda o aplauso à sua produção no Festival da LAC, em 2016?

Quanto ao festival da LAC, tem sido uma honra fazer parte. Já é a terceira vez que me é confiada a produção dessas rapsódias e, graças a Deus, tem-me dado muita felicidade. Já me sinto filho da LAC. É uma experiência emocionante do princípio ao fim.

Como se descreve como artista?

Descrevo o Livongh como um artista completo, talvez humilde, sério no trabalho, pontual, simples, sensível e muito feliz.

PERFIL

Nome: Miguel Gervásio Livongue Nascimento: 29/10/1980

Naturalidade: Namibe

Referências musicais: Stivie Wonder, Kassav, Acapaná, O2, MJ

Artistas angolanos: Walter Ananaz, Edmasia, Robertinho, Don Kikas, Gabriel Tchiema

Estilo musical: Kilapanga Álbuns: ‘Meu mundo’ e um CD em grupo

Prato preferido: Bacalhau com natas, funje com peixe seco e verduras.

País dos sonhos: Rússia

PREMIAÇÃO. Entre os vencedores, destacam-se António Fonseca, na Literatura, Luísa Fançony, no Jornalismo, e as ‘Festas da Nossa Senhora do Monte’, da Huíla, nas ‘Festividades Culturais Populares’.

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Foi durante a 17.ª edição do Prémio Nacional de Cultura e Artes realizada em Luanda, na semana passada, que a ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, considerou “justa” a homenagem àqueles que “tudo fazem” para o bem de Angola, por serem figuras ligadas às artes e, com o seu trabalho, darem o “melhor de si” para que a história, hábitos e costumes dos angolanos sejam conhecidos.

O Prémio Nacional de Cultura e Artes, que já vai na sua 17.ª edição, acrescentou, este ano, a categoria de ‘Jornalismo Cultural’, cujo mérito recaiu sobre a jornalista Maria Luísa Fançony, apresentadora dos programas ‘Reencontrar África’ e ‘Afrikiya’.

O corpo de júri justifica a escolha da também directora da LAC pela “postura didáctica, qualidade na elaboração estética e narrativa”, longevidade, apego e persistência na temática, no tratamento jornalístico e divulgação da cultura angolana e africana.

As ‘Festividades Culturais Populares’ não ficaram de fora das novas categorias. É assim que o prémio foi atribuído às ‘Festas da Nossa Senhora do Monte’, da Huíla, “por existir desde 1902 e por ter incorporado importantes elementos da cultura local nos diversos domínios, assim como por terem sido as mais mobilizadoras de turistas internos, o que inspirou a realização de festas de cidade pelo resto do país”.

No ‘Teatro’, o vencedor foi o grupo ‘Protevida’, que desenvolveu um gráfico ascendente ao longo dos anos. Tem o mérito, segundo o júri, “por ter criado um festival anual de teatro, ‘O Festipaz’, para além de fazer adaptação de obras de autores nacionais que abordam questões prementes da sociedade, cujas representações contribuem para a formação e educação das novas gerações”.

O júri atribuiu o prémio ‘Literatura’ ao escritor António Fonseca, por ser considerado “um crítico de etno-ficções, ao levantar do substrato da ‘oralitura’ e dos nódulos da história de Angola à matéria-prima do edifício discursivo que dá forma a uma literatura genuína que, tendo como eixo motivador e inspirador a mundividência kikongo, se deixa entranhar pelas diversas linguagens e pela imagética criativa popular”.

Na ‘Música’, o prémio foi para Carlos Lamartine, por ter as suas composições e interpretações assentes na canção popular urbana e abordarem os géneros satírico e revolucionário, como a trova e o folclore, enriquecendo e valorizando o universo contemporâneo da música angolana”.

Horário Dá Mesquita venceu ‘Artes Visuais e plástica’, pela realização da recente exposição individual sobre cerâmica, no Museu da Moeda, que ressalta um forte pendor investigativo criativo e, por outro lado, pelo conjunto da sua obra, que tem desenvolvido há mais de 40 anos com bastante brio, argúcia e perícia, cujas actividades plásticas se complementam nos domínios do desenho e pitura, cerâmica e filatelia.

A ‘Companhia de Dança Contemporânea de Angola’ foi a vencedora na ‘Dança’ pois, desde a sua criação há 26 anos, se tem esforçado por introduzir novas técnicas na interpretação das obras e que constituem matérias de investigação colhida na realidade etnográfica nacional (dança, folclóricas e patrimonial), na literatura e artes plásticas.

O prémio ‘Investigação em Ciências Humanas e Sociais’ foi atribuído, a título póstumo, ao historiador Emmanuel Esteves, cujos trabalhos assentam na história do ‘Caminho-de-Ferro de Benguela’, o seu impacto económico, social e cultural e sobre questões referentes ao inventário de Bens Patrimoniais e Móveis.

O realizador Abel Couto arrebatou o troféu de ‘Cinema e Audiovisuais’, pelo conjunto da obra desenvolvida ao longo dos 40 anos de carreira. Um profissional sério que, do ponto de vista histórico, é o pioneiro da ficção televisiva em Angola.

O Prémio Nacional de Cultura e Artes desta edição está avaliado, ao equivalente em kwanzas, a 35 mil dólares.