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Amélia Santos

Amélia Santos

COMÉRCIO. Lei permite, mas medida administrativa torna difícil a abertura de mercados por entidades ou indivíduos a título privado. O negócio garante receitas aos cofres de Estado, mas nem sempre funciona.

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O proprietário de um quintal no bairro Belo Horizonte, em Viana, acordou numa manhã e decidiu concretizar uma velha ideia: montar um negócio. Dirigiu-se à parte frontal da propriedade e afixou uma placa com os dizeres: “Aqui abrirá uma praça brevemente”.O aspirante a empreendedor convidava quem quisesse a reservar, quanto antes, um espaço no futuro mercado.

Para a vizinhança, era mais uma iniciativa que prometia minimizar as dificuldades de oferta de bens diversos e de emprego, mas conformava um desconhecimento das regras que regem a abertura de um negócio do género. Da intenção à concretização da ideia, vai alguma diferença. Já decorreram alguns meses sem que o cidadão consiga dar o passo decisivo, pois a Administração Distrital de Viana não lhe passa a licença ou outro documento que o habilite ao exercício do negócio. Esbarrou numa decisão administrativa das autoridades que atribuem às instituições do Estado a exclusividade na abertura de mercados a céu aberto, municipais ou de bairros.

Até 2014, existiam, só em Luanda, 56 mercados públicos sob controlo das administrações municipais, as quais assumem a sua gestão e devem depositar o resultado da cobrança das taxas na Conta Única do Tesouro, mantendo 20% para a gestão do mercado. Até ao momento, o mercado 1.º de Maio, popularmente conhecido por Catintom, é o único a céu aberto sob gestão privada.

Os mercados têm a obrigatoriedade de pagar entre 20 e 30% do valor total arrecadado à respectiva administração municipal. A esta cabe decidir, por exemplo, com que operadora de limpeza irá trabalhar para o saneamento do lugar, uma questão central e sempre controversa quando se aborda a gestão de mercados na capital.

A não profissionalização da actividade dos vendedores nesses mercados leva, por exemplo, a que os mesmos paguem taxas diárias ou semanais, estimadas entre 200 e 300 kwanzas. Até 2016, mercados, como o popular Quilómetro 30, em Viana, arrecadavam perto de um milhão de kwanzas por dia das bancadas fixas, lojas e barracas de ‘comes e bebes’, segundo declarou ao VALOR o seu administrador, António Domingos. Para esse valor, contribuem mais de 4.450 vendedores, os quais pagam, em média, 200 kwanzas pelas bancadas fixas de betão, 100 para os menores e igual montante para a limpeza. Há ainda 55 lojas, 29 casas de processo e 35 barracas para refeições.

A LEGALIZAÇÃO

Guilherme Paulo, consultor do ministro do Comércio para as actividades comerciais, esclarece a proibição administrativa de abertura de um mercado a céu aberto por privados. “Não creio que o Estado autorize, pois o único que existe até ao momento é o do 1.º de Maio, no distrito da Maianga”, disse ao VALOR.

O responsável admite, entretanto, a possibilidade de que tal aconteça desde que as administrações “entrem em acordo com os proprietários”.

Outra fonte da Administração de Viana, que preferiu o anonimato, avançou que a concretização do desejo de abertura de um mercado passa por reunirem-se as condições exigidas, entre as quais possuir um espaço e estar legalizado. A legalização termina com a emissão de uma licença emitida pelo Ministério do Comércio.

MÚSICA. Autora de sucessos como ‘Superstar’, ‘Comando’ e ‘Fato’, Celma Ribas critica a pouca qualidade nas músicas de hoje e sugere “mais esforço” por parte dos colegas. Fora dos palcos por um ano, regressa apostada num novo negócio fora da música. No meio de muitas surpresas, agenda o lançamento do novo álbum para Setembro.

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Como cria a ‘Miminhos em Papel’?

Foi tudo numa brincadeira. Nunca pensei que tinha jeito para tal. Aprendi a fazer as flores com uma amiga na Alemanha e, quando chego a Luanda, faço uma para o quarto do meu filho. As pessoas viam e encomendavam. A princípio só cobrava o material, mas as encomendas aumentaram e houve necessidade de cobrar por todo o trabalho.

O negócio está a ganhar espaço. Como vê o mercado?

É verdade! Como empresa, a ‘Miminhos em Papel’ é a primeira a surgir em Angola. Estamos há um ano. O mercado está muito bom e as pessoas gostam muito. Elas servem para decorar todo o tipo de eventos e em qualquer casa ou estabelecimento comercial.

Como andam as encomendas?

Depende. Há ‘meses das festas’, porque parece que todo o mundo quer casar, como Novembro e Dezembro. Nestes meses, pode fazer-se mais de 600 mil flores por semana.

Encontra o material com facilidade em Luanda?

A cartolina é a mesma que se usa na escola, mas é tudo importado. Infelizmente, não temos fábrica de papel. As flores são todas feitas em papel das mais variedades que existem. Mas com o que o mercado oferece dá para trabalhar.

Qual foi o capital inicial?

Comecei com 200 mil kwanzas. A princípio, estava sozinha, hoje garanto emprego para nove funcionários. Brevemente, mudamo-nos para um espaço maior, em Talatona.

Já se sente realizada?

Sinto-me meio realizada, por ter a minha empresa constituída. Além de flores, fazemos velas personalizadas, decoramos casas, festas de aniversário, casamentos, entre outros eventos.

Já servem fora de Luanda?

Nestes casos, fazemos as flores e enviamos com um vídeo explicativo de como montá-las. Ausentou-se dos palcos.

Está a preparar o próximo álbum?

Estou com o álbum pronto. Provavelmente, em Setembro, vai acontecer um lançamento especial para os meus fãs. Foi produzido em 50 por cento pelo Heavy C e a outra parte por vários produtores novos talentos. Lancei recentemente o novo vídeo clipe da música ‘Pra mim’.

O que vai trazer de diferente?

O lançamento em si será diferente. Vai ter uma nova estratégia, não vai ser como o habitual, venda na Praça da Independência. Mas não posso revelar muito, senão tiro o efeito surpresa. Não quero divulgar participações, porque também fazem parte das surpresas.

Como está a agenda?

Estive recentemente no ‘Moda Belas’. A 5 de Agosto, vou ao W Club. Estamos a ver alguns ‘shows’ em Moçambique, porque chegam muitos convites de lá.

Como vê a internacionalização dos artistas?

É preciso não forçar muito só porque queremos que as nossas músicas toquem no estrangeiro. É só fazer boa música e dedicar-se. Quando a música é boa, seja em que língua for, ela toca, independentemente da cultura, ela toca. A minha visão é fazer música de qualidade.

Alguns artistas vão pelo imediatismo?

Em alguns casos, sim! Às vezes, fico a pensar como vai ser o amanhã. Ouço músicas do ‘mais velho’ Bangão, que já faleceu, no entanto, as suas músicas são vivas, tocam e são sucesso até hoje. A minha preocupação é manter essa linha de qualidade para que, mesmo eu partindo, a música fique! Devíamos investir mais na música e na qualidade.

Sente que falta qualidade?

Acho que sim, principalmente nas composições. Há músicas que a pessoa ouve e fica com a ‘pulga’ atrás da orelha.

ALFARRABISTAS. Garantem leituras de qualidade a quem queira e possa pagar. É vê-los resistir ao avanço do tempo, numa província em que até livrarias centenárias encerram por motivos diversos. De livros sobre Medicina, Sociologia, Economia, Direito, Investigação Criminal, entre outros menos formais, alfarrabistas estão ao dispor de necessidades várias.

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Nas esquinas da grande cidade ou em mercados informais, estes comerciantes proporcionam ao público a oportunidade de adquirir livros sobre temas variados, grande parte dos quais usados. São permanentes, mas é, sobretudo, no início do ano académico, entre Fevereiro e Maio, em que a sua relevância parece crescer. Uns entraram para a actividade por paixão e necessidade, enquanto outros o fizeram apenas por falta de um emprego formal.

João Carvalho tinha 25 anos quando, com apenas dez livros, se lançou ao desafio de os vender pelas ruas da capital. Hoje, aos 55 anos, constata que o negócio cresceu e até já emprega dois ajudantes, aos quais paga entre 25% e 30% por cada obra vendida. Quando as vendas começaram a prosperar, sentiu necessidade de legalizar o negócio. Adquiriu o cartão de comerciante ambulante e até pagava impostos, mas depois, sem saber bem a razão, veio a suspensão da licença e partiu para a venda ilegal na rua das Ilhas do Cabo-Verde, no Rangel, com um acervo de perto dos 200 livros expostos actualmente.

Carvalho factura perto de 100 mil kwanzas mensais, mas observa que a ocupação já rendeu mais. “As vendas e as importações diminuíram bastante devido à crise”, lamenta. Livros sobre Medicina, Direito, Investigação Criminal, Jornalismo, Gestão e didácticos são os mais solicitados. As três décadas de ofício ensinaram a João Carvalho a necessidade de flexibilizar no contacto com clientes, especialmente os mais fiéis. Por exemplo, estes podem adquirir obras na sua bancada mediante pagamentos parcelados. As encomendas são relativas, tanto para escritores nacionais como internacionais.

Agostinho Neto, Pepetela e Manuel Rui Monteir, são a ´prata de casa´, enquanto Luís de Camões, Herman Wallace,Henry Gordon Gale, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz recolhem as preferências de quem preza a leitura de autores estrangeiros. Carvalho não tem qualquer formação na área, mas esclarece que domina bibliografias como poucos. O seu projecto é abrir uma livraria própria, mas a falta de apoios não o permitem.

Um dos livros mais caros que já vendeu foi “Vida Prática, Segredos e Curiosidades”, de M Tavares Adam: 130 mil kwanzas, isso em 2014. De resto, os valores dos demais cifram-se entre dois mil e 25 mil kwanzas, mas também há os mais caros ou mais baratos. Depende de quem os escreve. Um dos maiores riscos da profissão: são os roubos. Pois é. O interlocutor do VALOR lamenta que receba na sua bancada quem apenas venha para observar para, depois, surripiar.

Carlos Makumbe, 35 anos, é outro alfarrabista que ´despacha´ livros na Mutamba. Está no negócio há apenas dois meses, mas não é de todo novato no negócio. Antes trabalhou na Lello, emblemática livraria e ponto de cultura que se situava na Rua da Missão, na baixa da capital, cujo encerramento, este ano, chocou importantes sectores da sociedade.

A livraria Lello resistiu a várias crises e ao avanço do tempo, mas a morte, há alguns anos, do seu proprietário, o poeta Ricardo Manuel, e o assédio expansionista do que chamam de ´modernismo arquitectónico´ ou ´ditadura do betão´, ensombraram a sobrevivência de um ícone no panorama cultural e intelectual de Luanda. Pois bem.

Makumbe fez-se ao negócio, como diz, “para pagar a faculdade e sustentar a família”. Para tal, bastou um capital inicial de 45 mil kwanzas. “Foi um bom investimento”, garante. E já que se trata de vendas de rua, “basta que se esteja em pontos estratégicos e se conheçam os melhores escritores”.

Em média, factura 30 mil kwanzas mensais. Mas é como tudo: existem aqueles dias em que o mundo parece ter desistido da leitura e o balanço financeiro se revela desolador, como também desfruta de momentos em que acredita ter sido bafejado pela sorte. Aos 36 anos, Sérgio Rodrigues vende livros há 11.

Começou por aplicar 20 mil kwanzas em revistas cor-de-rosas, aquelas publicações cheias de gente bem-parecidas e sorridentes em momentos de festas e outros convívios sociais. Sucederam-se encomendas para escritos sobre Medicina, Direito, Sociologia e Economia… Era o negócio a prosperar e a vida a tornar-se menos difícil, pois permitia suportar as necessidades básicas em casa, propinas dos filhos incluídas.

Para este negociante de rua, tal como Carlos Makumbe, a matéria-prima do seu trabalho provém, sobretudo, de livrarias, de cerimónias de lançamentos de livros e, em menor escala, de importações. Os maiores clientes são estudantes e trabalhadores, principalmente de Direito.

MÚSICA. Aos 15 anos, Nelo Paim produziu profissionalmente a primeira música ‘Issawa’ que fez parte do álbum ‘Kanbuengo’ do irmão Eduardo Paim. Afastado das lides musicais por questão de saúde, pretende regressar em três ou quatro meses, mas de maneira menos intensiva.

 

Quem é Nelo Paim?

É artista que adora palco e estúdio que passava boa parte do tempo fora de casa, por causa da profissão. Mas que hoje, pela saúde, abdicou dos estúdios por tempo indeterminado.

Como surge a experiência de cantar com Eduardo Paim e Lara?

Não sou propriamente cantor. Já tentei essa experiência de cantar. Gravámos um álbum ‘Kanela’, em 1995/1996, que fiz com o meu irmão Eduardo e a moçambicana Lara. ‘Kanela’ é a junção de Kambuengo, Nelo e Lara. Sou instrumentista.

Porque não deu continuidade como cantor?

Cantar não é o meu foco. Já sou instrumentista e produtor! Deus não dá muitas coisas a uma só pessoa. Preferi ficar mesmo como produtor.

Uma nota para Eduardo Paim...

Quando falo dele, normalmente me emociono. Falar dele é como Deus no Céu e Eduardo na terra. É o mesmo que falar de uma árvore sem falar da raiz. E ele é a raiz daquilo que sou.

Que avaliação faz da produção musical?

A produção musical está no bom caminho. A concorrência aumentou, temos bons produtores, os novos talentos estão a vir com boas ideias. E quando a concorrência aumenta, a qualidade melhora. E hoje já se consegue ir a um sítio e ouvir 98% de música angolana.

E a música acústica também merece essa apreciação?

Acústica é a tal coisa. Temos bons músicos e estúdios. Há estúdios que estão a trabalhar muito bem, que também melhoraram em termos de apetrechamento. Às vezes, não basta ter máquinas de última geração. É necessário investir no homem. Por vezes, somos obrigados a recorrer a outro mercado lá fora, para misturar e outros acabamentos. Porque não temos essa qualidade internamente. Estamos a começar, mas o resultado final ainda não é o satisfatório.

Qual é o tempo para atingir à média de qualidade exigida?

Repito sempre é preciso investir no homem. E isso passa pela formação. Temos de frequentar cursos. Temos a África do Sul, Portugal, entre outros países, que dão formações neste sentido.

Toca vários instrumentos, com qual deles se sente mais confortável?

Meu instrumento é o piano. Embora também domine outros como guitarra, percussão e bateria. Aliás o meu primeiro instrumento foi a bateria, aprendi a tocar com oito anos. Depois mudei para percussão e, mais tarde, Simone Mansini ensinou-me a tocar guitarra e teclado. Comecei a tocar quando Eduardo me levou a Portugal para viver lá, pois precisava de estar mais a vontade.

Que instrumento gostava de tocar?

Mas lá para o fim da carreira gostava de tocar o saxofone.

Vive da produção musical?

Em Angola, já é possível viver da música. Eu só vivo da música, não é que não saiba fazer outras coisas. Já também organizamos o nosso certame.

Que produções marcaram a sua carreira? Porquê?

Todas, no geral, me deram muito prazer. Mas, a que mais marcou foi a do Euclides da Lomba, do álbum ‘Livre Serás’, porque foi a primeira produção em que tive de assumir vários papéis. Não só de instrumentista, produtor, até mesmo de técnico de som, fiz captação e inclusive misturas de algumas músicas. Já fiz centenas de produções. Trabalhei com Paulo Flores, Yola Semedo Ricardo Lenvo, Don Kikas, Daniel Nascimento, Puto Português, Tito Paris (Cabo-Verde), Tânia Saint Val (Antilhas), entre outros artistas.

A nova roupagem que as músicas antigas estão a ter são bem-feitas?

Acabo por elogiar os jovens que têm estado a fazer esse trabalho, porque o que é nacional é bom. Se é para melhorar, que seja com o que é nosso. Mas é preciso não esquecer a paternidade das coisas, vamos respeitar os direitos do autor. Porém os artistas devem estar bem organizados. Registando as músicas na Sadia - Sociedade Angolana do Direito de Autor e na UNAC – União Nacional dos Artistas e Compositores.

A história da música ‘Ngueve’ é ficção ou realidade?

Tem tanto realidade como ficção. Há alguns anos, tempo de conflitos armado, recebemos a notícia de que um primo tinha falecido, mas não houve funeral, porque não vimos o corpo. No entanto, ele deixa a mulher. Mas, passado algum tempo, alguém vem dizer que ele se encontrava na Zâmbia. Foi que pedi ao Matias Damásio que escrevesse uma música semelhante à história do meu primo. Foi que surgiu a ‘Ngueve’.

E com a ‘De Maria para Mary’, cantada pelo Puto Português?

É coisa que acontece todos os dias. Pedi ao Puto Português que musicasse sem falar mal das mulheres claro, mas tocando na nova tendência das cirurgias plásticas.

Onde busca inspiração para compor as músicas?

As minhas músicas são o reflexo do quotidiano. Procuro trazer sempre o quotidiano. Qualquer história que me comove transformo em música.

A paragem que dá tem que ver com o seu estado de saúde?

O estúdio não é fácil, chega uma altura que cansa. Sempre envolve muito tempo de estúdio, já cheguei a ficar mais de 24 horas em estúdio. Recentemente tive paragem cardíaca. Foi o momento que me apercebi que não estava sozinho e que mais do que trabalhar, precisava de cuidar mais de mim. Era hipertenso e não sabia. Estou a fazer trabalhos muito leves que não roubam muito tempo de estúdio. Quem sabe dentro de mais três a quatro meses regresso ao trabalho.

PERFIL

Manuel Prado Fernandes da Silva, 40 anos, conhecido por Nelo Paim, natural de Luanda, casado e com seis filhos. Tem Eduardo Paim como mestre, mas o seu ídolo é Paulo Flores. Admira Yuri da Cunha, Yola Semedo, Matias Damásio, Anselmo Ralph, entre outros artistas. Tem gravado o álbum ‘Liberdade’. Já produziu os álbuns ‘Desejo Malandro’, ‘Livre Serás’ e ‘Recado num Semba’, de Euclides da Lomba, entre outros.

EMPREENDEDORISMO: Entrega de refeições ao domicílio está a tornar-se apelativo para pequenos empreendedores. Dependendo do capital inicial, clientes e tipo de contrato, rendimentos podem chegar até um milhão de kwanzas mensais.

 

Rosa Fernandes andava à procura do lugar ideal para montar um negócio e achou que debaixo do prédio em que reside, no bairro Valódia, serviria o propósito. Com um modesto capital inicial, instalou uma roulotte no local. Nascia, assim, um pequeno negócio de comida rápida, ou ´take-away. O negócio de Rosa floresceu depressa. Clientes não era problema. Aliás, a frequência e o nível de exigências destes impuseram uma nova abordagem à iniciativa. Associou-se à mãe, tratou da documentação junto da administração local e passou a servir outras refeições para além de cachorros-quentes e hambúrgueres.

Hoje, a ´joint venture´ entre mãe e filha tem contrato para entregas a cinco empresas, servindo entre 70 e 80 refeições diárias. Cobrem as zonas da Maianga, São Paulo, Combatentes, Valódia, Brigada, entre outras mais próximas.

Ambas são o exemplo de uma tendência que, não sendo nova de todo, tem, contudo, florescido nos últimos tempos em Luanda. O empreendedorismo assente no estabelecimento de pequenos negócios garante algum retorno imediato e combate o desemprego, contornando as adversidades de uma economia que não dá mostras sólidas de melhorias, como explicam os próprios empreendedores. São, fundamentalmente, pequenos restaurantes ou cozinhas doméstica com serviços de entrega ao domicílio (residência e escritório).

Os espaços empregam entre cinco e 10 pessoas de forma directa, entre cozinheiros, pessoal de limpeza e estafetas, estes últimos com vencimentos que se cifram dos 30 aos 50 mil kwanzas mensais. Entre os clientes favoritos destes empreendedores estão funcionários de bancos, petrolíferas, lojas de comércio misto, clínicas, fábricas de bebidas e empresas de segurança. Com as refeições a variarem também na qualidade, os preços oscilam entre os 500 e os mil kwanzas, sendo que, em alguns casos, o valor inclui já a taxa de entrega. Há casos, no entanto, em que o prato chega a 2.500 kwanzas. E o negócio, garantem os pequenos empreendedores, é “rentável”.

O rendimento mensal de Rosa e sua mãe, por exemplo, chega até um milhão de kwanzas e as duas sócias explicam que o desenvolvimento e o sucesso da iniciativa dependem, sobretudo, do capital investido. “Clientes não faltam”, diz Rosa. Como em todo o desafio empreendedor, também existem perdas. Estas acontecem, por exemplo, quando se planifica a cozinha para 30 clientes num dia e apenas 15 ligam a confirmar. As sócias Vanda Kimbemba, de 26, e Jocelina Cruz, de 28 anos, investiram 40 mil kwanzas para começar o negócio no Hoji Ya Henda, Cazenga, na ‘Casa Delas’.

Decorridos quatro meses, o duo de empreendedoras fornece refeições a seis empresas, as quais garantem uma facturação de perto de 100 mil kwanzas mensais. Ganhos modestos que as levam a desejar mais. Para já, almejam candidatar-se a um empréstimo bancário, mas, por enquanto, precisam de acautelar alguns aspectos antes de darem tal passo.

Diariamente, servem em média mais de 20 pratos. De 700 kwanzas cobrados até recentemente, tiveram de subir para mil devido à instabilidade cambial que leva a que os seus principais fornecedores, no mercado, também reajustem os preços. O maior desafio do momento é encontrar um espaço melhor para o empreendimento.

Fazem entregas, de táxi, nos arredores do Cazenga, Cuca e Nocal. Albertina Flor, 60 anos?, serve para uma empresa de segurança de segunda a domingo. Sem descanso. São mais de 600 pratos, por 500 kwanzas cada um e emprega outras duas senhoras, a quem paga 50 mil kwanzas por mês. Labora entre às 5 horas da manhã e às 14.

Albertina assegura que o negócio “é rentável”, mas lamenta a subida constante dos preços nos mercados informais. E nota que, para si, o segredo neste ramo é publicitar o negócio, oferecer melhores serviços e conquistar clientes em empresas.