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Antunes Zongo

Antunes Zongo

ESCAMADORES. Desempregados optam por escamar peixe nas praias de Luanda, chegando a receber, em média, entre três e cinco mil kwanzas. Foi a forma que encontraram para ‘fintar’ a crise e a falta de oportunidades de emprego.

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Dado o nível de desemprego, que, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), atingiu os 20% da população activa, muitos optaram por escamar peixe de clientes que não têm tempo.

É o caso de António Justino, de 40 anos de idade, escamador na praia de Cacuaco, desde 2015. Por um monte de cinco peixes, cobra 50 kwanzas, independentemente da espécie, com a excepção da garoupa, que chega a custar 200 kwanzas o monte, “por ser um peixe caro” e que não é de fácil acesso a todos os bolsos.

“Além do preço que normalmente cobramos, dependemos também dos clientes, que, na maioria das vezes, têm menos do que pedimos. Portanto, há vezes que conseguimos mais de oito mil kwanzas, e noutras vezes menos, depende da saída dos peixes do mar, da disponibilidade dos fregueses e da concorrência dos colegas”, conta Justino, para quem, embora tendo poucos ganhos diários, consegue alimentar a família e pagar a formação dos filhos. “O importante é que consigo levar dinheiro para comprar um quilo de fuba e conduto para ter forças de trabalhar novamente no dia seguinte”, afirma resignado.

Januário Rocha, solteiro, natural de Malanje, é outro escamador que considera o negócio “lucrativo”, dado que lhe dá a possibilidade de se alimentar, e, como diz, “satisfazer os vícios”. Todos os dias, consegue obter entre quatro e seis mil kwanzas. “Quando os colegas confusionistas não vêm, posso chegar aos 10 mil, e não o divido com ninguém”, conta. “Como e bebo sem ter que pedir favores”, insiste o jovem, que espera, em breve, colocar três motorizadas ao serviço de moto-táxi.

Menos satisfeito com o negócio, Maurício Quinguengue, morador do Zango III, escama peixe na praia da Mabunda, na Samba, mas considera a profissão “degradante” e justifica-se com a falta de oportunidades.

Os números do desemprego do INE são contestados, de facto, Development Workshop (DW), que os classifica com irreais. A ONG considera que tem havido muitos despedimentos por causa da crise económica.

Maurício Quinguengue, que quase todos os dias leva entre três e cinco mil kwanzas para casa, responsabiliza o Governo pelo alegado sofrimento porque passa e apela ao Presidente da República, para que crie políticas que absorvam a juventude. Com o dinheiro que consegue paga o táxi, compra arroz, fuba e uns tomates e leva o peixe da praia. “O pouco que sobra dou à esposa para guardar, para ter sempre alguma coisa em caso de doenças e para as propinas das crianças”, conta, sublinhando que tem sido difícil obter o montante desejado, por causa de colegas “confusionistas” que ficam com os clientes, pela força.

À semelhança de outros, Maurício Quinguengue, que pretende participar na construção da malha viária, que deverá partir do Porto de Luanda, passando pela praça da Mabunda até ao Benfica, cobra 3.500 a 5.000 kwanzas para escamar uma banheira de peixe, de tamanho médio. “Os de Cacuaco estão melhor, pois têm um preço fixo, nós não. Num dia, podemos escamar somente uma banheira de peixe e, no entanto, levar três ou cinco mil. Mas, reconheço, que nos fins-de-semana chegamos a levar para casa 20 mil kwanzas ou mais.” Para usar no trabalho, os escamadores compram a faca a 100 kwanzas, pagam 150 para afiá-la quando apresenta falhas, além de pagarem 300 kwanzas diários aos fiscais das praias.

Consumo e produção

Dados mundiais apontam para que cerca de 100 milhões de toneladas de peixe são pescadas anualmente, o que dá uma média de 13,5 kg por pessoa. Por cá, os pescadores artesanais garantem que a actividade é hoje meramente de sobrevivência, sendo que muitos procuram alternativas de sustento.

Muitos avançam que conseguem mais de 700 peixes/dia, mas lamentam que seja, na maioria, da família sardinha. “Se ao menos pudéssemos ter outras espécies em abundância, a pesca seria mais atractiva e lucrativa”, sublinha José Manolo, um dos pescadores da Madunba.

Resultado líquido do BIC Seguros cresceu, em 2017, na ordem dos 195% em comparação ao período anterior. Companhia promete flexibilizar ainda mais os serviços.

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O balanço final de 2017 do BIC Seguros registou um resultado líquido de 1,011 mil milhões de kwanzas, o que representa um crescimento de 195% em relação ao período homólogo.

O referido resultado resulta do aumento do volume de prémios, com destaque para o seguro de saúde, que apresentou taxas de crescimento acima dos 300%, dada a aposta no desenvolvimento de produtos do ramo. Segundo a nota de imprensa da companhia, relativo ao exercício financeiro de 2017, também contribuíram para o alcance desses números, os seguros dos ramos ´Não Vida´, que cresceu 51%, enquanto o seguro de acidentes de trabalho e multiriscos, cresceram, respectivamente, 61% e 57%.

“Consideramos que este resultado, num ano marcado por grandes desafios económicos, assim como pela exigência e responsabilidade na resolução de um sinistro de elevadas proporções, cuja rapidez na sua resolução, proporcionou um louvor ao BIC seguros por parte do mercado ressegurador internacional, é reflexo de um excelente trabalho de toda a equipa BIC Seguros”, lê-se no comunicado, tendo noutras linhas revelado que o volume de prémios brutos emitidos cresceu 46 porcento em relação a 2016, atingindo aproximadamente três mil milhões de kwanzas.

Com o objectivo de melhor atender os seus segurados, a companhia inaugurou, em fevereiro deste ano, o centro médico BIC, no qual presta serviço de exclusividade e de atendimento personalizado a nível de serviços clínicos, nomeadamente consultas, análises clínicas e tratamentos de enfermagem.

COMÉRCIO. Vendedores ilegais de divisas apostam na comercialização de cartões de saldos de chamadas e de televisão por satélite, para mitigar o impacto da perturbação cambial.

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A crise cambial, gerada pela escassez de divisas no mercado, forçou os kínguilas, vendedores ilegais da moeda estrangeira, a diversificar o negócio para fazer face às dificuldades do dia-a-dia.

Em princípio, optaram pela realização do microcrédito informal, aproveitando-se da incapacidade das instituições oficiais de atender às necessidades dos potenciais clientes. Apesar de considerarem um negócio lucrativo, considerando as taxas de juros que oscilam entre 20% e 50%, passaram a apostar noutros negócios como serviços de chamadas telefónicas, bem como a venda de cartões de saldos Unitel, Movicel e Zap.

Mas a venda de divisas e o microcrédito continuam a ser os negócios mais lucrativos, face às curtas margens oferecidas pelas diversas operadoras. A caixa de saldos da Unitel, com 50 cartões de 50 UTT, geralmente revendidos a 500 kwanzas cada um, é adquirida a 23.500 kwanzas, gerando lucros de 1.500. Já a da Movicel, composta por 10 cartões de 90 UTT, é comprada a 8.200 kwanzas e revendido cada cartão a 900 kwanzas, tendo lucros de 800 kwanzas. A caixa de 10 cartões do pacote mini da Zap, adquirido a 20.500 kwanzas, dá margem de 1.500 kwanzas, já que cada cartão é vendido a 2.200.

“O pior, entre os saldos, é o da Movicel, não anda nada! A seguir é o saldo de 100 UTT da Unitel, comercializado a mil kwanzas. O que mais dá lucros são os cartões de 50 UTT”, sublinha António Mtamba, que deseja abandonar as ruas para trabalhar num ramo formal, por, como lamenta, estar “a sofrer de mais”.

A venda de dólares já não atrai António Mtamba. Antes, chegou a ter dinheiro, no tempo do ‘Roque Santeiro’. Tinha empregados em casa, carro próprio e pagava a formação dos filhos, de irmãos e sobrinhos adultos, além de suportar os pais idosos. Para ele, o pior deu-se em 2009, quando foi assaltado, perdendo cerca de 500 mil dólares, que detinha com alguns colegas. “Por causa disso e de outras situações, vou negociar com um sobrinho para ficar aqui a vender os saldos e os poucos dólares que me dão, e vou fazer outra coisa. Se calhar, trabalhar como electricista, já que, nos anos 1990, trabalhei na EDEL”, conta.

Em situação diferente está Bruce Catchay, de 52 anos, que se manifesta “satisfeito” com a conjugação de negócios, assegurando não fazer três dias com uma caixa de saldos.

“Por exemplo, comprei hoje, duas caixas de saldo de 50 UTT, e tenho a certeza de que, até amanha, já terei vendido uma caixa e metade. O saldo Unitel rende muito”, revela Bruce Catchay, que garante ter a “velhice assegurada”. Graças à venda de divisas, saldos de internet, chamadas e de televisão por satélite, comprou um ‘Hiace’ usado e duas viaturas ‘turismo’ para o serviço de táxi.

Já Paulino Mbute reconhece que, com a crise cambial, a vida dos kínguilas mudou “drasticamente”, embora consiga “minimizar o sofrimento familiar” com as vendas de saldos e chamadas telefónicas.

“Quem não tem Zap em casa? Toda a gente compra os cartões da Zap, e é com esses negócios que pago a faculdade de dois filhos, o tratamento médico de minha esposa, além de estar a construir uma cantina lá em casa”, conta, ao mesmo tempo que confessa temer pela forte tendência do aumento de marginais à cola dos kínguilas.

Tal como os operadores formais, os kíngulas enfrentam uma das maiores crises de disponibilidade de divisas desde o surgimento da actividade nos anos 1990, com culpas atribuídas à baixa do preço do petróleo e ao ‘embargo’ da banca nacional pelos EUA.

No período de maior estabilidade da moeda nacional, em que a nota de cem dólares custava 10 mil kwanzas, a margem de lucro dos kínguilas era, em média, de mil kwanzas. Passou para níveis nunca antes vistos e muito desregrados (uns ganhavam mil outros entre 10 mil e 20 mil kwanzas), mas poucos são os que continaram a ter acesso às divisas.

INVESTIMENTO. Reserva Nacional do Namibe reabilitada com o apoio conjunto da União Europeia, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e do Fundo Global para o Ambiente.

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Pelo menos, oito milhões 405 mil dólares foram necessários para a reabilitação do Parque Nacional do Iona, no Namibe, com vista a uma maior conservação da biodiversidade e fomento do turismo no país.

A requalificação do parque, hoje com 251 fiscais, resultou da Convenção de Financiamento do Projecto Nacional de Biodiversidade e Conservação do Iona, assinada pelo Governo angolano, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a União Europeia (UE) e o Fundo Global do Ambiente (GEF, acrónimo inglês).

Desconhece-se, de forma oficial, o montante com que o Governo participou para a implementação do projecto, mas o VALOR sabe que o Executivo, numa primeira fase, terá entrado com 476 milhões de kwanzas. O GEF disponibilizou dois milhões de dólares, a UE quatro milhões 438.700 e o PNUD um milhão 440 mil dólares.

O Parque Nacional do Iona, localizado a 95 quilómetros do Namibe, com uma área de 15.150 metros quadrados, foi criado na era colonial e é composto por 14 áreas de conservação, duas reservas naturais adstritas e duas parciais.

Durante um longo período, a reserva ambiental ficou sem financiamentos, sem equipamentos nem pessoal para a sua gestão, estando, assim, votada ao completo abandono.

Para tornar o parque mais funcional, o Ministério do Ambiente leccionou cursos básicos de administração de parques, forneceu os equipamentos necessários – desde fardas, botas, lanternas e outras, para a operacionalidade dos fiscais – e elaborou um estudo sobre as comunidades do interior e nos arredores do Iona, o que serviu de base para a elaboração do plano de gestão do espaço.

Segundo Aristófanes Pontes, coordenador do projecto, foram construídos bebedouros para a fauna silvestre e realizados furos de água para as comunidades de dentro e de fora do parque, sendo que o Iona já dispõe de um ordenamento próprio e “excepcional”.

“Por natureza, o parque divide-se em quatro localidades, que são as zonas costeiras, as dunas, as planícies e as montanhas. Simplesmente aproveitámos a divisão e elaborámos o plano do seu ordenamento”, esclareceu.

Cooperação “importante”

O embaixador da EU em Angola, Tomás Ulicny, considerou que o ‘Projecto Nacional de Biodiversidade do Parque Nacional do Iona’, do Namibe, tem sido uma “importante iniciativa de cooperação” entre a UE e o Governo de Angola. Para o diplomata, que interveio no acto que marcou a conclusão da infra-estruturação do projecto ‘Conservação do Parque Nacional de Iona – Namibe’, que decorreu na passada semana, em Luanda, o reforço das áreas protegidas “é o pilar da política da UE na protecção da natureza a nível global”.

“Consideramos importante que o parque siga trabalhando após o final deste projecto em 2018, para manter e valorizar o património de infra-estruturas, equipamentos e meios que têm sido realizados com o apoio da EU”, sublinhou, acrescentando que a conservação e valorização dos ecossistemas e da biodiversidade podem jogar um papel “importante no desenvolvimento sustentável em Angola”.

Presidiu à abertura do evento a ministra do Ambiente, Paula Francisco Coelho, que contou com as presenças de Ângela Bragança, ministra do Turismo, Josefa Cangombe, vice-governadora do Namibe, Tomas Ulicny, embaixador da UE e Pier Balladelli, representante do PNUD.

A rede de conservação de Angola está constituída por nove parques, um dos quais regional, duas reservas naturais integrais, igual número de reservas parciais, compreendendo 12,6 por cento de todo o território nacional.

TAXI. Candongueiros ameaçam unir forças para enxotar os ‘lotadores’ das paragens. ANATA quer regulá-los, para se evitarem incidentes graves.

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Fartos de assaltos e cenas de agressões, realizados diariamente por ‘lotadores’ (jovens que anunciam as rotas), situações associadas à ausência de polícias nas paragens de transporte público, ‘candongueiros’ de Luanda pretendem unir forças para retaliar e expulsar os ‘lotadores’.

Geraldo Wanga, presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), propõe, no entanto, a formalização da prática, na esperança de que todos possam entender-se com base num código de conduta. “Os lotadores são ilegais. E, ao invés de apenas trabalharem para o sustento de suas famílias, realizam constantes actos de vandalismo. Roubam, agridem, partem viaturas e, como se não bastasse, nalgumas vezes, matam”, alerta o dirigente associativo, atribuindo responsabilidades à Polícia e ao governo provincial, pela alegada “desorganização”.

Para o cadastramento destes jovens – que cobram entre 50 e 200 kwanzas por lotação de cada viatura –, a mais nova associação dos taxistas emitiu um comunicado, convidando-os a abandonar as paragens de forma voluntária. E, num prazo de cinco dias, serem notificados para uma reunião com a Polícia e as administrações municipais.

“Luanda tem apenas 552 a 557 lotadores, é um número fácil de se controlar”, assegurou. Para esse processo, a ANATA deseja aprovar o estatuto dos lotadores, clarificando direitos e deveres. “Uma vez credenciados, devidamente cadastrados, vão ter coletes numerados. O lotador que roubar será rapidamente identificado, facilitando assim a captura por parte da Polícia”, explica Wanga.

O estatuto, ainda em elaboração, deverá também determinar as modalidades de limpeza das paragens. Os lotadores vão trabalhar por turnos, sendo os da manhã responsáveis pela limpeza do espaço e os da tarde pela segurança.

A ANATA garante que, após o registo, jamais se vai permitir a presença de jovens, que vão às paragens para receber, com base na força, o dinheiro dos taxistas bem como de passageiros. “A polícia terá de trabalhar, sob pena de os taxistas, cobradores e lotadores já registados unirem-se para a guerra”, avisou, considerando “anedótica” a prática de jovens que cobram entre 200 e 400 kwanzas aos passageiros que pousam sacolas e pastas ao chão.

Já o governo provincial de Luanda, por meio do seu porta-voz, Sebastião José, louva a iniciativa, mas recorda que a actividade de lotadores é “ilegal”, sublinhando que os actos de violência devem ser encaminhados à Polícia. “Somente os taxistas são parceiros do governo. Se tem havido um acordo entre eles, que os lotadores se comportem como se espera, caso obriguem ou usem da força para tirar dividendos dos taxistas, o que se deve fazer é participar a ocorrência à polícia”, concluiu.