Isabel Dinis

Isabel Dinis

ARTES. Largaram as carreiras de sucesso para se dedicarem ao artesanato. Acreditam que a arte em Angola esteve parada no “tempo” e acabou “ultrapassada”, por isso querem recriá-la, com uso de matérias-primas típicas nacionais.

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Ela começou por transformar chinelos em peças de arte nos seus tempos livres. Ele, sempre que pudesse, enquanto publicitário, fazia qualquer coisa com as mãos. O dom sempre esteve lá. Até que, em 2012, o destino os juntou como casal e criaram o projecto Artesanatoangolacr.

Cristina Moda e Rui Lavrador encontraram no artesanato uma nova forma de viver. Cristina largou a carreira de administradora sénior e Rui largou a carreira de publicitário, com experiência e bagagem adquirida em muitos países, tanto na América como na Europa. Hoje, passados cinco anos, os artesãos garantem que vivem exclusivamente daquilo que rende o projecto.

O relacionamento permitiu a partilha, mas o dom ajudou a inovar através de matérias-primas, típicas de Angola, que provêm da natureza. Múcua, cabaças, cana da India, balaios, folhas de coqueiros e tecidos africanos dão lugar a peças únicas, como esculturas, objectos decorativos, acessórios de moda e as famosas bonecas de Angola.

A ideia de usar cabaças e múcua, entre outras matérias-primas, surgiu numa das muitas viagens que o casal fazia para o sul de Luanda. “Numa das muitas viagens para onde nos evadíamos sempre que podíamos, parámos na estrada para comprar umas cabaças que iriamos decorar. Foi o nosso começo. Depois de decoradas, foram vendidas”, revela Cristina, que começou a criar uns conjuntos de chinelos, nesta altura, com base na famosa marca brasileira Havaianas.

Para fazer as peças, inspira-se “normalmente em coisas, nos sentimentos, na cor, no tempo, entre outros”. Ele, “só de olhar” para as matérias-primas, já encontra uma forma para fazer uma peça artesanal. “As formas dos materiais quase me dizem como querem ser trabalhados, para se transformarem em objectos decorativos ou funcionais. As cores são influências da nossa cultura”, enfatiza Rui Lavrador.

Em cinco anos de Artesanatoangolalacr e de Benguela, onde residem actualmente, o casal ganhou notoriedade e foi convidado para decorar as suites do hotel Terminus, no Lobito, e o Hotel Epic Sana, em Luanda.

Recriar o artesanato

Os dois acreditam que o artesanato em Angola “esteve parado no tempo e acabou ultrapassado” pelas peças provenientes do oriente que invadiram África com réplicas feitas em grande escala.

O casal acredita que Angola tem excelentes artesãos nas áreas dos couros, madeira e cestaria, mas que, apesar disso, “não houve evolução” e diversificação e “normalmente as pessoas acabam por ver sempre as mesmas peças”. “A falta de conhecimentos e pesquisa contribuem para isso. A não valorização e a protecção das autoridades ao que é produzido face à invasão do oriente constituem um forte desincentivo a esta actividade”, rematam. Além disso, apontam outras dificuldades: “O alto custo de vida retira a competitividade face ao estrangeiro, principalmente quando não há inovações, e o desinteresse das direcções provinciais da Cultura em cadastrar os artesãos”.

Os dois artesãos são a prova de que é possível “viver bem” e ter “o suficiente” apenas dedicando-se à arte. A peça mais cara que já venderam custou 200 mil kwanzas.

A maior parte dos clientes são mulheres. Também têm vendido para o estrangeiro. As solicitações mais frequentes vêm de Portugal, Espanha, Rússia, Bélgica, Brasil e EUA.

PERFIL

Cristina Moda tem 56 anos e é natural do Huambo. Viveu muitos anos em Portugal. Trabalhou como técnica administrativa superior e como chefe de departamento dos recursos humanos da cadeia de supermercados Maxi. Tem três filhos. Actualmente é a principal criadora e artesã dos acessórios de moda, bolsas, havaianas personalizadas, colares e as famosas bonecas de Angola em que se integram modelos masculinos e femininos.

PERFIL

Rui Lavrador tem 59 anos e nasceu em Luanda. Trabalhou como publicitário em países como Portugal, Brasil, Espanha, Andorra e Angola. Tem uma filha e actualmente é o principal criador artesão do projecto Artesanatoangolacr. É ele o responsável pelas esculturas e iluminarias.

PRODUÇÃO. Ministério pede ao FIDA para “melhorar” a abordagem na implementação dos projectos e critica a organização da ONU. Esta responde que os projectos são feitos em colaboração com o Governo, mas admite que os recursos são “escassos”.

David Tunga IDA

O Governo, através do Ministério da Agricultura e Florestas, criticou o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) por causa da abrangência territorial dos projectos de desenvolvimento rural dessa agência da Organização das Nações Unidas (ONU).

O director do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA), David Tunga, referiu, num ‘workshop’ sobre a avaliação dos programas da agência em Angola, que o Ministério “está preocupado” com o facto de os projectos do FIDA cobrirem apenas um grupo de famílias, quando são desenhados para atender uma província ou município.

O departamento ministerial sugeriu ao FIDA que, nos próximos projectos, “melhore” a abordagem. E pediu clareza na delimitação da abrangência “para não deixar pairar no ar a falsa ideia de que há uma cobertura geográfica que não se traduz na realidade”.

Manifestando a disponibilidade do IDA em oferecer “margem de intervenção” a potenciais parceiros para o desenvolvimento de projectos de apoio rural nas zonas não cobertas, Tunga explicou que não há “elementos sustentáveis” para a avaliação do impacto dos projectos do FIDA. “Há a necessidade de, na altura do desenho e do início da implementação, serem retratados os níveis em que se encontram as famílias a serem apoiadas para, no fim, se fazer uma avaliação dos resultados”, insitiu.

Em resposta à Agricultura, a directora do FIDA em Angola, Abla Benhammouche, refere que as questões geográficas “não têm que ver com o FIDA, mas com o Governo e as suas estratégias”. E que as zonas de implementação “dependem muito do Governo”, que colabora no desenho dos projectos. “Nós não acordamos numa manhã e dizemos: vamos implementar o projecto. Não, os projectos levam muito tempo”, explica, declarando que o FIDA “gostaria de implementar os projectos em todos os municípios”, não fosse a escassez de recursos. “Esses não são nossos programas, são vossos”, declarou, referindo-se ao Governo.

O FIDA trabalha em Angola desde 1989 e, no final de 2017, aprovou sete empréstimos e subvenções associadas, em apoio a uma carteira no valor de mais de 135 milhões de dólares.

No início deste mês, o Fundo e o Governo assinaram, na Itália, um acordo financeiro de 7,6 milhões de dólares, para beneficiar cerca de oito mil famílias rurais, no âmbito do Projecto de Recuperação Agrícola. Pelo Fundo, assinou o seu presidente, Gilbert Houngbo, e, por Angola, o seu embaixador e representante permanente no FIDA, Florêncio de Almeida.

Segundo o Fundo, cerca de 250.600 famílias já foram beneficiadas directamente pelos projectos em Angola, com incidência sobre as áreas mais pobres do Sul do país. Os projectos propõem-se aumentar a produção de alimentos, a pesca e a aquicultura, além de assegurar o acesso a serviços e infra-estruturas básicas para os grupos mais desfavorecidos.

EXPOSIÇÃO. Depois do interregno, em 2016, e da realização na Baía de Luanda, em 2017, Feira Internacional de Luanda tem nova casa. Organização prevê ter mais de 500 expositores.

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A organização da Feira Internacional de Luanda (FILDA) garante que já tem cerca de 200 expositores inscritos para a 34.ª edição do evento, dos 500 que perspectiva e que representariam um crescimento de 96% face aos 245 da edição passada.

A feira, que volta a ser organizada pelo Grupo Eventos Arena e pelo Ministério da Economia e Planeamento, vai decorrer sob o lema ‘Diversificar a Economia, desenvolver o Sector Privado’.

O Grupo Arena prevê um orçamento de 477,6 milhões de kwanzas para a organização do evento. O Ministério da Economia e Planeamento, através da directora do gabinete de comunicação institucional e imprensa, Ana Celeste, garante que o Estado “não irá desembolsar nenhum montante” para a realização desta edição, sendo que as despesas serão todas suportadas pela Eventos Arena.

Sem avançar as perspectivas de retorno, o Ministério garante, no entanto, que o evento “acontece num momento em que o Executivo está a realizar reformas tendentes à melhoria do ambiente de negócios, em particular do quadro regulatório e institucional do investimento privado”.

A feira está marcada para 10 a 14 de Julho na Zona Económica Especial de Luanda (ZEE), depois de, no ano passado, se ter realizado na Baía de Luanda e após o interregno de 2016. Na 32.ª edição, que antecedeu ao interregno, participaram 870 expositores de 24 países.

‘Assunto FILDA’ nas mãos de João Lourenço

O processo que visa apurar as razões, causas e culpados da vandalização do espaço, que, durante anos, acolheu a Feira Internacional de Luanda, depois do interregno que se registou em 2016, está a ser gerido pela própria Presidência da República, segundo Ana Celeste. O espaço que acolhia a feira foi abandonado e continua a ser vandalizado por moradores vizinhos, apesar de alguns trabalhadores ainda permanecerem no local. Localizado no Cazenga, só poderá realizar qualquer evento da envergadura da FILDA, depois de realizadas as obras que podem durar 12 meses, como refere um diagnóstico elaborado pelo Ministério das Obras Públicas.

CARGAS. Empresa pública de transporte operou menos navios e tem menos tonelagem manuseada. Administração diz que a ‘saúde’ da companhia “não é a melhor”.

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O volume de mercadorias transportadas pela Unicargas recuou 52% em 2017, para 307.341 toneladas, face a 2014, ano de início da crise financeira em que as quantidades se fixaram em 642.953 toneladas.

Os números constam do Plano de Desenvolvimento Estratégico e de Negócios da empresa, para o período 2018 a 2022, a que o VALOR teve acesso, e que descreve a degradação sucessiva dos resultados nos últimos quatro anos.

Depois das 642.953 toneladas de 2014, o fecho de 2015 inscreveu uma queda de 9% no transporte de cargas para 579.177 toneladas. Em 2016, o ‘tombo’ foi de quase metade do ano anterior (41,5%), chegando às 338.562 toneladas. Já a comparação entre 2016 e 2017 espelha uma desacelaração de cerca de 9% para 307.341 toneladas.

A trajectória de queda não poupou o segmento da tonelagem de carga manuseda. Se, em 2014, foram 1.215.912 tonelagens, em 2017, registaram-se apenas 169.423, um decréscimo na ordem dos 86%.

O presidente do conselho de administração (PCA) da empresa, Celso Rosas, num fórum realizado recentemete em Luanda, classificiou a “condição financeira” da Unicargas como não sendo “a melhor”, atribuindo culpas à situação económica e financeira e ao facto de a companhia explorar um terminal de carga “que carece de intervenções e que garante cerca de 80% de todas as receitas da Unicargas”. Celso Rosas referiu, no entanto, estar já, nos planos da empresa, a realização de investimentos no terminal.

Além dos investimentos, a Unicargas pretende, de acordo com o plano estratégico, “reduzir a dependência comercial da actividade portuária, realizar uma reestruturação, e aumentar o capital social”. A elaboração de um novo organograma e de um plano para a manutenção dos meios circulantes dos equipamentos e máquinas integram a lista das próximas metas.

Menos 58,8% de navios operados

O número de navios operados também esteve em queda, segundo o plano estratégico da Unicargas. Sem avançar o tipo de navios, o documento espelha que houve uma queda na ordem dos 58,8% desde a crise.

Numa redução crescente, a empresa teve de navios operados em 2014, 255, no ano seguinte, 212, em 2016, 113 e, no ano passado, 105.

A empresa tinha disponíveis, até ao primeiro semestre do ano passado, 218 camiões de diferentes marcas, 150 dos quais operacionais e prestam serviço de transporte inter-urbano e inter-provincial. No ano de 2016, foram realizadas 367 viagens inter-provinciais e 10.918 inter-urbanas.

A Unicargas é conhecida como sendo uma empresa rodoviária, mas também desenvolve operações portuárias e serviços transitários.

RESULTADOS. Depois de ter ressurgido das ‘cinzas’ dos 10 anos de paralisação motivada por uma falência, a Secil pretende restaurar a imagem fragilizada.

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A Secil Marítima espera apresentar resultados positivos no exercício económico de 2017 de cerca de 400 milhões de kwanzas, indica o plano estratégico da empresa relativo ao período 2018/2019. A empresa, que ressurgiu das ‘cinzas’, teve proveitos, no ano passado, de cerca de 800 milhões de kwanzas e de custos cerca de 400 milhões. Com o relançamento anunciado pelo Governo, em meados de 2010, para atenuar o custo de transporte marítimo de mercadorias para Angola, depois de 10 anos de paralisação ditada por uma falência técnica e financeira, a operadora pretende voltar a ter um lugar de destaque.

Em 2016, a Secil Marítima limitou-se a ser “totalmente administrativa”, segundo o presidente do seu conselho de administração, Carlos Marçal. Foi aprovado um programa de apoio logístico para o transporte de equipamentos e materiais da China para Angola. O ano ficou também marcado pela campanha promocional da empresa em que sensibilizava as instituições do Estado e as empresas concessionárias de cargas a transportarem através da companhia. No final de 2016, celebrou 39 contratos.

Com o início de operações em Janeiro de 2017, a empresa transportou, no ano passado, o equivalente a 112 mil toneladas de carga, mas representando apenas 1% de toda a carga transportada pelos portos.

Melhorar imagem

Dentro do plano estratégico para os próximos cinco anos, a empresa, que acredita que viveu no quadrante da “sobrevivência”, tem como objectivos o desinvestimento e a redução de custos.

Para o próximo ano, a Secil Marítima prevê alcançar proveitos de 841,6 milhões de kwanzas e custos no valor de 537,9 milhões de kwanzas, perfazendo lucros de 303,7 milhões. Para 2022, a rubrica dos proveitos deve ser elavada para cerca de 500 milhões de kwanzas.

Com uma imagem e reputação “fragilizadas”, que a própria administração reconhece, a Secil tem os estatutos “desajustados” e está impossibilitada de aceder a créditos face à situação patrimonial.

Debate-se ainda, como muitas empresas públicas, com um ‘software’ de gestão integrada (ERP) “insuficiente e obsoleto” e com tecnologias de informação e comunicação “inexistentes”, como admite a própria administração da empresa.