Nelson Rodrigues

Nelson Rodrigues

SEGUROS. Companhia controlada pelos costa-marfinenses da Colina Participations fechou 2017 a ganhar. E anuncia lucros de 323,4 milhões de kwanzas. Avanço do volume de negócios ajudou nos proveitos, num ano em que o capital sobe para 2,5 mil milhões. Entidade alerta para risco do seguro agrícola em tempo de crise.

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O balanço financeiro de 2017 da Saham Angola Seguros registou lucros de 323,4 milhões de kwanzas, contra os 436,2 milhões de kwanzas negativos do período homólogo, de acordo com dados da companhia a que o VALOR teve acesso.

Depois de fechar com perdas em 2016, a companhia, detida maioritariamente pelos costa-marfinenses da Colina Participations ligados ao grupo Saham, anuncia resultados líquidos positivos, ajudados pelo crescimento do volume de negócios que avançou 19,2%, ao sair de 15,1 mil milhões de kwanzas para os 18 mil milhões até Dezembro do ano passado. “Pela nossa leitura, teremos aumentado a nossa quota de mercado”, considera Paulo Bracons, presidente do conselho de administração da entidade.

Apesar da recuperação nos resultados, a administração da seguradora queixa-se dos efeitos da crise, sobretudo ligados aos grandes projectos e obras públicas, além dos seguros de responsabilidades e ao retalho, com destaque para o automóvel.

“Na Saham Angola Seguros, o negócio foi afectado maioritariamente nos seguros de engenharia e obras, construção, responsabilidades, mas também no seguro automóvel. Em 2018, apesar de ligeira, estamos a sentir uma pequena retoma”, garante o PCA.

Para contornar o quadro, a companhia viu-se obrigada a determinar novas prioridades. “Procuramos ser mais selectivos na subscrição, em particular nos riscos de mais elevada sinistralidade e trabalhar de uma forma mais exigente – maior controlo nos custos - nas áreas de sinistros. É nos períodos de crise que a fraude tem tendência a aumentar”, sublinhou o responsável.

Crise atinge resseguro

Já nos contratos de resseguros, a estratégia passa por reter mais risco, aumentando o co-seguro, e renegociar contratos, “aproveitando ao máximo os pagamentos de sinistros para saldar as dívidas com os resseguradores”. Este quadro durou até Janeiro, mas a administração da Saham garante estarem reduzidas as pressões com as divisas, melhorias que atribuem ao Banco Nacional de Angola (BNA) pela alocação de moeda estrangeira.

Paulo Bracons admite, por outro lado, que tem recebido o apoio da Agência de Regulação e Supervisão do Seguros (ARSEG), assim como do BNA que, “na medida do possível, responde positivamente”.

“Apesar de não estarem a ser alocadas mais divisas à economia face ao ano anterior, é nossa percepção que as autoridades cambiais, por via dos leilões, estão a fazer uma mais eficiente alocação”, defende.

Seguro agrícola de fora

Paulo Bracons afasta a hipótese de a companhia vir a aplicar, ainda este ano ou no início do próximo o seguro agrícola, condicionando o lançamento do produto aos subsídios estatais. “Não vemos que o seguro agrícola seja uma solução, enquanto não for clarificado o papel do Estado neste seguro. Sem a existência de sistemas compensatórios por parte do Estado – e face aos constrangimentos orçamentais actuais, vemos esta solução com dificuldade em ser implementada – não haverá condições para um grande desenvolvimento deste seguro em Angola”, alerta.

BANCA E SEGUROS. Projecto do banco central prevê controlar toda a informação financeira nacional. E vai incluir o sector segurador. Estratégia está sobre a mesa e em fase muito avançada. Foi um dos temas que a equipa de Massano levou ao décimo encontro sobre estatística nos PALOP.

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O Banco central não explica se a estratégia inclui a ARSEG. O Banco Nacional de Angola (BNA) deve apresentar, nos próximos dias, um novo instrumento de estatísticas monetárias, que passa a incluir toda a informação sobre as operações do sector segurador nacional, medida já apresentada aos congêneres dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), na semana passada, soube o VALOR de um membro da organização que assistiu ao certame, em Benguela.

A estratégia deve ser tornada pública nos próximos dias e, segundo a fonte, já está em fase avançada de estruturação, sendo que parte dos dados monetários do BNA já estão a ser compilados com base nesse novo critério.

Um dos objectivos desse novo quadro passa por “melhorar” a informação que o banco central coloca à disposição das instituições financeiras, nomeadamente os bancos comerciais, entidades financeiras internacionais e demais agentes económicos. Aliás, durante a reunião, São Tomé e demais países manifestaram-se interessados em aplicar esse instrumento de compilação de dados.

“Vamos precisar da ajuda do Banco Nacional de Angola para novas técnicas que queremos desenvolver e em que eles [o BNA] já estão adiantados. Queremos fazer estatísticas monetárias e vimos que o BNA já tem, por exemplo, estatísticas não financeiras, nomeadamente a dos seguros. Já está a incorporar estas estatísticas [dos seguros] nas estatísticas monetárias”, assegurou um alto responsável de estatísticas de um dos nove bancos centrais dos PALOP ao certame, que pediu anonimato.

“Vimos que Angola está a fazer [a inclusão dos dados do seguro nas suas estatísticas], embora não publique. E nós queremos pegar nisso e dar os nossos passos, porque vimos e gostamos”, saudou a fonte.

A informação chegou ao VALOR à margem do décimo encontro sobre ‘estatísticas dos bancos centrais dos países de língua portuguesa’, que discutiu o ‘papel das estatísticas na prevenção de riscos e vulnerabilidades do sistema financeiro.

Contactado sobre como pretende implementar a estratégia e se a medida inclui, na coordenação, a Agência de Regulação e Supervisão de Seguros (ARSEG), o BNA, através do seu gabinete de comunicação institucional, não deu quaisquer esclarecimentos.

Nem mesmo Aguinaldo Jaime, o presidente do conselho de administração da ARSEG, respondeu sobre a questão, depois de contactado por ‘mail’ e chamadas telefónicas, sobre se a estratégia do banco central não ‘roubaria’ competências ao sector que coordena.

Apesar disso, o vice-governador do BNA, Manuel António Tiago Dias, apontou as necessidades para a melhoria da informação estatística que chega à rua.

“Os bancos centrais, na sua qualidade de produtores de estatísticas oficiais, são desafiados a melhorar cada vez mais a qualidade das estatísticas por si produzidas, tendo em conta o papel crucial que estas desempenham, como instrumento eficiente de coordenação e suporte à tomada de decisões, quer dos gestores públicos, de empresas e das famílias”, disse o responsável, diante dos seus pares dos nove bancos centrais dos PALOP, no primeiro dia do encontro.

BANCA. Entidade detida pelo Grupo Mais Financial e accionistas particulares desafiam-se a fechar 2018 cumprindo com a exigência de aumento de capital. Com um ano da nova marca, banco inaugura três agências. E garante estar “preparado” para o crédito, num ano de crise. Banco substituiu marca Pungo Andongo há um ano.

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Os accionistas do Banco Mais, instituição bancária com mais de três anos de actividade, projectam elevar o capital social para 7,5 mil milhões de Kwanzas, no último trimestre deste ano, um reforço de 50% face ao actual capital, revelou o administrador executivo da entidade, António Santana.

Ao subir o capital para 7,5 mil milhões, o banco detido pelo grupo empresarial nacional Mais Financial e vários accionistas particulares cumprem com o exigido pelo Banco Nacional de Angola (BNA), que impôs essa condição aos ‘players’ do mercado para o início de actividade e continuidade da actividade bancária no país.

“O capital social do banco hoje é de cinco mil milhões de kwanzas. O banco vai fazer um aumento de capital para cumprir com o aviso número 2, de 2018, e adequar o capital social mínimo para 7,5 mil milhões de kwanzas, sendo que este aumento de capital vai decorrer agora no último trimestre do ano; é um assunto que está resolvido a nível dos accionistas do próprio banco”, garantiu o gestor, que falava à margem da apresentação da marca ‘Banco Mais’ e da inauguração simultânea das suas três agências.

É a segunda vez que o banco altera o capital social. Antes dessa alteração aguardada para o último trimestre, o banco só tinha 2,6 mil milhões de capital. Com a entrada do Grupo Mais, na estrutura accionista, este valor ‘engordou’ para cinco mil milhões, mais quase 100% acima do capital social anterior.

O novo aporte financeiro para os 7,5 mil milhões dá ao banco garantias de se lançar no crédito, num ano em que os congéneres apertaram nas condições, sendo que outros restringiram as saídas para essa rubrica. O Banco Mais deve insistir, conforme deixou claro o seu administrador executivo.

“Os bancos comerciais têm uma missão, que é captar recursos e conceder créditos à nossa economia. À semelhança daquilo que é a actividade desenvolvidas pelos outros bancos, o Banco Mais está preparado também para desenvolver a actividade creditícia a nível de particulares e de empresas. O banco tem uma segmentação de clientes e é de acordo com a segmentação que o banco tem que vamos desenvolver a nossa actividade”, garante António Santana, sem avançar quanto de crédito a nova entidade deve aplicar na economia.

Questionado sobre as razões da alteração do nome ‘Pungo Andongo’ para ‘Banco Mais’, António Santana disse que foi a decisão dos accionistas que pesou na escolha do novo nome.

MICROCRÉDITO. Antiga unidade de microcrédito do BNI de Mário Palhares anuncia resultados líquidos positivos, depois de este gestor e seus pares largarem o negócio. É a primeira vez, desde 2012, que se conhecem contas dessa actividade. BNI mantém silêncio sobre o novo dono da Facilcred.

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As demonstrações financeiras da Facilcred, antiga unidade de microcrédito do Banco de Negócios Internacional (BNI), revelam lucros de 19 milhões de kwanzas, até Dezembro do ano passado, um avanço considerável de 1.256%, quando comparado com às margens de igual período anterior, de acordo com o balanço publicado na semana passada.

A ajudar para os resultados líquidos positivos do organismo estão as margens financeiras, que, nos 12 meses de 2017, avançaram 26,7%, ao saírem dos 63,3 milhões de kwanzas, para 80,2 milhões. A unidade de microcrédito foi instituída em Agosto de 2012, com um capital social de 300 milhões de kwanzas, e integrava o património do BNI, liderado pelo banqueiro Mário Palhares.

“Em 31 de Dezembro de 2016, o Grupo BNI alienou a totalidade da participação na Facilcred pelo valor de aquisição líquido de imparidade, não tendo sido reconhecido nenhum resultado no exercício de 2017”, anunciou a entidade, no preâmbulo do balanço de 2017 sem, no entanto, revelar a entidade compradora.

Além do avanço nos lucros, houve também melhoria nos activos da empresa que foi lançada com o objectivo de apoiar pequenos empreendedores, através dos produtos ‘fácil empreendedor’, ‘fácil consumo’, ‘fácil estudante’ e ‘fácil solidário’, com valores entre 50 mil e 25 milhões de kwanzas. O activo total cresceu 3,7%, ao sair de 292,7 milhões para os 303,7 milhões até Dezembro de 2017.

Património cai...

Com a venda da Facilcred e “intenção de venda” da sucursal BNI Europa (BNIE), conforme consta do balanço do grupo BNI, o banco reduz consideravelmente o seu investimento nas subsidiárias e associadas do sector financeiro e áreas conexas. Aliás, desde 2016 que o BNIE é considerado unidade operacional descontinuada, posição já assumida nas contas do ano passado.

“Decorrente da intenção de venda e início do respectivo processo de venda em Dezembro de 2016, o banco classificou a sua subsidiária BNI Europa desde o final do exercício de 2016 como unidade operacional descontinuada, encontrando-se apresentada a nível do balanço nas rubricas de activos não correntes detidos para venda e passivos não correntes detidos para venda e a nível da demonstração dos resultados em resultados de operações em descontinuação”, lê-se em nota anexada ao balanço.

Além de Mário Palhares, o BI tem entre os accionistas os herdeiros do falecido general João de Matos, a BGI, José Teodoro Garcia Boyol, além de Ivan Leite de Morais.

FINANCIAMENTO. Organismo está em negociação avançada com um grupo privado angolano. Se os planos andarem, devem ser libertados 40 milhões de dólares até Novembro. VALOR sabe que o dinheiro deve ajudar projectos de exportação do grupo Nova Agrolíder. Mais empresas poderão ser contempladas, com o Africa Investment Forum.

AKINWUMI ADESINA2c presidente do BAD

Um desembolso de 40 milhões de dólares do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) deverá ser libertado, até Novembro deste ano a um grupo empresarial privado angolano ligado ao sector agrícola.

De acordo com o detentor dos fundos, o grupo privado “conseguiu satisfazer todos os encargos” exigidos pela entidade para a cedência de fundos, que envolvem um plano de negócio com viabilidade comercial e impacto no desenvolvimento.

A entidade não avança o nome do investidor angolano, mas indica o sector de actividade. Ao que soube o VALOR, o primeiro grupo privado a inaugurar os fundos do BAD será a Nova Agrolíder, empresa produtora de bananas e exportadora, que tem “processos muito avançados” com o organismo.

“Para aqueles que não acreditam que é possível aceder ao financiamento do BAD como empresário privado, devo dizer que é com muita satisfação que, em Angola, estamos a ter negociações com um grande grupo e que até já exporta não só para Europa, mas também para os mercados regionais”, anunciou o economista-principal Joel Daniel Muzima, à margem de um fórum do Ministério das Finanças sobre financiamento internacional.

Se as conversações com este organismo financeiro que congrega todos os países africanos e mais 23 membros não africanos correrem a bom ritmo, o grupo angolano pode encaixar o desembolso já em Novembro.

A Agrolíder não confirma, no entanto, a existência de negociações acesso a fundos de créditos do BAD, mas admite haver falta de recursos em divisas. Para o presidente do seu conselho de administração, José Macedo, é de “dólares que a companhia precisa”, como referiu, quando questionado pelo VALOR.

Também a consultora económica do BAD, Elsa Shichilenge, não confirmou, nem desmentiu a existência do acordo, justificando com “motivos óbvios”.

“O BAD não pode comentar, nem confirmar, nem informar quaisquer negociações que estariam em curso”.

Só com Angola, o BAD tem uma agenda financeira com 769,5 milhões de dólares, 55,2% dos quais estão reservados para o sector financeiro, 16,1% para ‘água e saneamento básico’, sendo que os restantes 29,1% estão distribuídos entre ‘agricultura e pescas’, ‘transportes’, ‘sector social’, além do ‘multissectorial’ (ver tabela).

Este não é o único plano do BAD para ajudar projectos de privados. A entidade tem já agendado um Fórum de Investimento Africano (Africa Investment Forum, em inglês), com o qual prevê ajudar mais inicitivas privadas, além do que chamou de ‘compacto para apoio aos países lusófonos’.

A realizar-se entre 7 e 9 de Novembro, em Joanesburgo, África do Sul, o certame deve discutir os veículos de financiamento em África, naquilo que se espera ser uma “plataforma em que patrocinadores de projectos, mutuários, financiadores e investidores se reunirão para acelerar as oportunidades de investimento em África”, além de outras iniciativas para a SADC.

Mais empresas a ajudar…

Do seu portefólio, o BAD projecta dar mais apoio ao empresariado dos países de expressão portuguesa, numa estratégia que prevê libertar mais fundos e fazer integração do ‘staff’ desses países na organização.

“Os países lusófonos, dentro da estrutura do BAD, têm sido negligenciados. Não só em termos de oportunidades de emprego para o seu ‘staff’, mas também o volume de financiamento que está neste momento alocado nesses países. Esta realidade vai mudar com o ‘Compacto’. E é uma das iniciativas a que o empresariado angolano deve estar atento”, reconheceu Daniel Muzima, dirigindo-se a empresários e trabalhadores de distintas instituições financeiras angolanas.

Para já, todos os membros dos PALOP (Cabo-Verde, Guiné Bissau; Moçambique, São Tomé e Príncipe e Angola) ficam contemplados nesta programação do BAD, além da Guiné Equatorial, escolhida por ser membro da CPLP, outra organização de países de língua portuguesa.

…Com o Fórum

No Fórum Africano de Investimento, esperam-se as presenças de investidores dos Estados Unidos, Europa e Médio Oriente, além de empresários africanos que “apresentem projectos bancáveis”.

A organização garante que o fórum não dará lugar a “discursos políticos”. Aliás, até os chefes de Estados e de governos, convidados para o evento, foram avisados sobre essa limitação. “Este fórum não será político; será um fórum de alavancagem de investimento, que se chama Africa Investment Forum”, sublinhou o economista do BAD.