A RECEITA DA TAAG
É uma observação fria e informada. Desapaixonada e, sobretudo, frontal, por isso susceptível de criar ‘reacções patriotescas’. Numa única frase, Peter Hill, o britânico que preside ao conselho de administração da TAAG, reduz o que não se encontra em mil páginas de jornais, sempre que se procuram soluções à viabilidade das empresas do sector público em Angola. A saída, declara o número um da TAAG, é a contratação de estrageiros, particularmente para empresas que, como a transportadora aérea, se encontram em processos de reorganização. A explicação é directa: um estrangeiro está protegido de toda a pressão externa que condiciona a autonomia da administração da empresa. E que, por arrasto, inviabiliza qualquer possibilidade de uma gestão profissional, focada na criação de valor.
Peter Hill vê em si próprio e na sua equipa o verdadeiro exemplo. E não dá palavras. Dá números. Em pouco mais de um ano, criou poupanças de 120 milhões de dólares, sem cortar, no todo, na qualidade do serviço. Os cortes incidiram sobre o número “inacreditável” de consultores que forneciam informação sem serventia. Mas também na renegociação de contratos bons e na reavaliação de tantos outros que, de tão inacreditáveis, faziam rir, para ninguém chorar.
A tese de Peter Hill até pode parecer simplista, mas só se for analisada também de forma simples e abstracta. Não se pode contrapor o presidente da TAAG, por exemplo, com o paralelo de contratações de certos gestores estrangeiros, que, vindos de culturas empresariais da periferia da Europa, sucumbiram à mediocridade e à promiscuidade, na primeira esquina de Luanda.
A proposta do britânico é sobre estrangeiros e culturas empresariais com estofo moral acima da média e com solidez material suficiente, ao ponto de recusarem acordos de indigência. É sobre gente que está apta a bater com a porta, logo à primeira ‘ordem superior’ que se precipita sobre a liderança e sobre os verdadeiros interesses da empresa. Não parece haver dúvidas, aliás, de que foi precisamente esse o entendimento do Governo, ao ter preferido para a TAAG uma parceria sobre cuja gestão teria pouca ou nenhuma influência.
O verdadeiro senão visível na análise de Peter Hill e que jogaria a favor do fervor patriótico é o sigilo de Estado. A receita do ‘redentor estrangeiro’ não pode ser aplicada a determinadas empresas públicas estratégicas, por razões exclusivas de soberania. Mas o argumento da protecção do Estado, nesta fase, só é válido para um número absolutamente reduzido de empresas. Além da Sonangol, não sobrarão mais de quatro e a TAAG, claro, não é nenhuma delas, no entendimento do próprio Governo.
A receita é, portanto, para ser levada a sério. Os angolanos à frente da reestruturação de empresas importantes do Estado têm uma nova oportunidade para provocar que ‘santos da casa podem fazer milagres’. De outro modo, haverá que se dar razão, de forma incontestável, ao PCA da TAAG. A ‘salvação’ terá de vir necessariamente de fora.
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