ZUNGUEIRA
JOÃO GONÇALVES, ESPECIALISTA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

“A Zona de Comércio Livre são decretos sem valor nenhum”

05 Nov. 2025 Grande Entrevista

Entende que o país devia ser o primeiro a investir no Corredor do Lobito e mostra-se receoso quanto ao sucesso da Zona de Comércio Livre por falta de vontade dos líderes dos países membros em cooperar em projectos conjuntos como a construção de rodovias de interligação. Faz também um apelo ao Governo para reforçar as fronteiras com a RDC, devido às ofensivas do Ruanda.

“A Zona de Comércio Livre são decretos sem valor nenhum”

Que avaliação faz do interesse dos diferentes países pelo Corredor do Lobito?

O caminho de Ferro de Benguela foi criado pelos países ocidentais para transportar o minério de Catanga. O erro que o nosso Governo cometeu foi, ao invés de chamar os próprios construtores para vir reabilitar a zona, chamou a China, que é adversária desses países. O que é que aconteceu? A África do Sul tem mais influência na RDC do que Angola. Os minérios de Catanga eram transportados, todas as sexta-feiras, em cinco mil caminhões de cobre directamente para o porto sul-africano de Durban. A intervenção dos americanos deu-nos, entretanto, essa possibilidade de olharmos para o Corredor. Só que agora parece que Trump está-se marimbando, contrariamente a Biden. 


E que consequências concretas para os interesses do país pode acarretar esse desinteresse de Donald Trump, como refere?

Temos de investir primeiro, nós mesmos, no Corredor. Porque, em 1989, já ouvia que, no Moxico, havia petróleo. Se não fosse a guerra, já poderíamos estar a explorar. Naquela área há cobre e cobalto. Então, deveríamos começar a investir na agricultura, nos minérios e no petróleo da nossa região para, no caso de a RDC não querer interligar-se, utilizarmos os nossos caminhos de ferro. Se os nossos dirigentes investissem no Bié e no Huambo, aquela bacia que sai de Malanje, para essas duas províncias, ia ter desenvolvimento e iam evitar-se as assimetrias regionais. Outra coisa perigosa, a RDC tem um projecto de que se gabam que os Estados Unidos tinha disponibilizado 500 mil milhões de dólares para construir um caminho de ferro deles, que sai da sua zona mineira, em Catanga, atravessa todo o país, até à fronteira com Cabinda, onde, também, estão a construir um porto em águas profundas. Daí a pergunta, se um dia eles efectivarem o projecto, o nosso Corredor como vai ficar? 


Mataria o Corredor?

Mataria, por isso também devemos investir naquela região, como alternativa. E outra coisa: estamos a construir um porto em águas profundas, em Cabinda, e, do outro lado, a RDC está a construir um porto em águas profundas. Mais além, há o porto de Brazzaville que já abastece até a República Centro-Africana. Mais além, há também o Porto de Douala, dos Camarões. Agora, o nosso porto de Cabinda vai fazer o quê, se os próprios congoleses, a partir do seu porto, podem também abastecer até lá nos confins.

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