Agências internacionais dominam notícias nos países africanos
Um relatório da Africa No Filter, elaborado entre Setembro e Outubro de 2020, revelou que um terço das notícias e histórias africanas relatadas pelas agências noticiosas do continente é obtido através de serviços de notícias estrangeiros.
O relatório denominado ‘How African Media Covers Africa’ (Como é que os Meios de Comunicação Social Africanos Cobrem as Notícias de África) destaca o facto de as histórias sobre África continuarem a ser contadas através dos mesmos “estereótipos persistentes e negativos”, com especial incidência nas questões relacionadas com a pobreza, a doença, os conflitos, a fraca capacidade de liderança e a corrupção.
Os principais resultados do estudo mostram que as fontes de obtenção de notícias nos países africanos são “problemáticas” e que os conteúdos resultantes continuam a alimentar antigos estereótipos, sendo que, frequentemente, a qualidade do jornalismo local não possibilita a existência de relatos contextualizados, com todas as nuances, fundamentais para contar o que se passa nos 54 países que compõem o território africano.
O estudo envolveu 38 editores africanos e analisou conteúdos de 60 agências noticiosas africanas de 15 países nomeadamente Botsuana, África do Sul, Zâmbia, Zimbábue, RDC, Egito, Tunísia, Tanzânia, Etiópia, Quénia, Ruanda, Uganda, Gana, Nigéria e Senegal.
Segundo os dados, 63% das agências noticiosas inquiridas não têm correspondentes noutros países africanos e um terço de toda a cobertura de notícias sobre África é proveniente de fontes não africanas. As histórias da AFP e da BBC representam um quarto de todas as histórias encontradas nas agências noticiosas africanas que falam sobre outros países africanos. O contributo das agências noticiosas africanas é mínimo. 81% das histórias foram classificadas como ‘hard news’ (notícias duras), ou seja, notícias sobre conflitos e crises decorrentes de certos eventos - além disso, na sua grande maioria, as notícias encontradas eram de natureza política. Cerca de 13% das notícias concentravam-se, especificamente, em situações de violência política, de agitação social e de conflitos armados.
A África do Sul e, a seguir, o Egito foram os países que apresentaram uma cobertura mais diversificada e não necessariamente associada a eventos noticiosos, o que significa que esses dois países são, provavelmente, os “mais conhecidos” do continente. A Africa No Filter é uma organização sem fins lucrativos que foi constituída o ano passado com o objectivo de ajudar a mudar as narrativas “prejudiciais e estereotipadas” sobre África, através de trabalhos de pesquisa, de iniciativas de defesa de interesses e da concessão de subsídios a quem conta as histórias.
Em resposta a este relatório, a Africa No Filter está a proceder ao lançamento da primeira e única agência de notícias do continente, que concentrará os esforços no tratamento de histórias sobre criatividade, inovação, arte e cultura e interesses humanos, a fim de preencher a lacuna que existe no mercado.
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