Ajudar os pequenos agricultores de África a alimentar o mundo

11 Jun. 2019 Usman Ali Lawan Opinião

Na aldeia rural de Kura, no estado de Kano, na Nigéria, onde cresci, o meu avô perdia mais de metade dos tomates depois de cada colheita. Não era mau agricultor. Mas o mau estado das estradas dificultava o envio dos tomates para o mercado e ele nunca aprendera métodos modernos para conservá-los. Num esforço para salvar alguma da produção, secava frequentemente os tomates na areia. Isto ainda acontece a 80 milhões de agricultores na Nigéria. Em toda a África Subsaariana, cerca de 50% das frutas e vegetais, 40% das raízes e tubérculos e 20% dos cereais, legumes e leguminosas são perdidos antes de chegarem a um mercado. A menos de um quilómetro de distância de uma importante fábrica de pasta de tomate em Kadawa, Kano, na Nigéria, perto de 200 agricultores secam na areia mais de 40 contentores de tomates frescos todas as semanas.

Esta falta de conhecimentos e recursos entre os agricultores contribui de forma substancial para a insegurança alimentar global. Afinal, nos países em desenvolvimento, os pequenos agricultores – que, na sua maioria, dispõem de menos de quatro hectares de solo arável – constituem a maioria dos agricultores. Com efeito, a população rural produz três quartos dos alimentos do mundo, mas representa 80% dos desfavorecidos em todo o mundo.

A distribuição de alimentos suficientes para alimentar a população mundial obriga os agricultores a ultrapassar uma série de desafios frequentemente imprevisíveis, relacionados com factores como alterações climáticas, escassez de água, falta de acesso a serviços de extensão e conflitos armados em regiões agrícolas. Devido a estes desafios, milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas, impedidas de trabalhar nos campos, incapazes de levar os produtos até aos mercados, ou afastadas dos suprimentos de sementes melhoradas, de fertilizantes e de serviços financeiros.

E os desafios continuam a aumentar. O número de emergências alimentares – quando desastres como secas, cheias ou a guerra originam carências de alimentos que obrigam a assistência externa – aumentou de uma média de 15 por ano na década de 1980 para mais de 30 por ano desde o ano 2000.

O resultado é a generalização da insegurança alimentar. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, mais de 820 milhões de pessoas em todo o mundo não tiveram acesso a alimentos suficientes em 2017; mais de dois mil milhões de pessoas sofrem de deficiências de micronutrientes essenciais; e mais de metade dos habitantes dos países de rendimentos reduzidos não sabe de onde virá a próxima refeição. Se as tendências actuais se mantiverem, a quantidade de alimentos que são cultivados só alimentará metade da população mundial em 2050.

Mas estas tendências podem ser alteradas – e África é um bom lugar para começar. Como disse Akinwumi Adesina, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento e vencedor do Prémio Mundial de Alimentação de 2017, “no futuro, África não deverá apenas alimentar-se, mas terá de contribuir para alimentar o mundo”.

Qualquer estratégia para melhorar a segurança alimentar terá de sublinhar o aumento da produtividade e a redução das perdas pós-colheita. Para tal, os governos e as empresas de processamento de produtos agrícolas devem fazer o que lhes compete, apresentando medidas acessíveis que aproveitem as novas tecnologias, reforçando as infra-estruturas e oferecendo formação e apoio aos pequenos agricultores. Os governos, através dos vários programas agrícolas, podem ajudar os agricultores a formar cooperativas, onde possam aproveitar a força colectiva. As empresas privadas, por seu lado, podem fornecer serviços de extensão e mercadorias a estes agricultores, e agir como importantes compradores a granel da produção.

Esta abordagem já foi comprovada. No estado de Kebbi, na Nigéria, o regime de mutualismo para a associação dos produtores de arroz da Nigéria – implementado em colaboração com o Banco Central da Nigéria e um programa governamental de crédito – fez crescer a produção e os rendimentos dos pequenos agricultores, ajudando-os a formar cooperativas, fornecendo-lhes formação e suprimentos e garantindo-lhes compradores.

Ao conceberem programas deste tipo, os legisladores devem assegurar de que promovem políticas agrícolas sustentáveis, que minimizem a utilização de recursos naturais pela agricultura, nomeadamente de solo e de água. Todos os governos devem comprometer-se a garantir que as políticas agrícolas, alimentares e em matéria de nutrição estejam alinhadas com as orientações nutricionais modernas, que sublinham a variedade e a sustentabilidade em dietas principalmente constituídas por produtos vegetais.

O objectivo da comunidade internacional de acabar com a fome até 2030 é alcançável. Mas a sua consecução obrigará a um compromisso dos governos e do sector privado para ajudar os pequenos agricultores a adoptar práticas agrícolas sustentáveis e lucrativas. Se isso acontecer, não acabaremos apenas com a insegurança alimentar; a previsão de Adesina de que “a próxima geração de bilionários em África serão agricultores” estará mais perto de ser cumprida.

 

Ceo de ‘Farmer in Suit’ at USAIFA International (empreendimento sustentável de agronegócio que optimiza o uso de plantas, animais e bactérias para produzir alimentos e nutrientes bio-diversos)