‘Angola Mining’ expõe fraca aposta na prospecção
INDÚSTRIA EXTRACTIVA. Especialista alerta para risco ?de falências na produção mineira, face à falta de investigação. Plano Nacional de Geologia abranda por causa da crise económica e é “insuficiente”.
A reduzida presença de empresas de prospecção foi dos pontos fracos que marcaram a ‘Angola Mining Conference’, a feira da indústria que decorreu na última semana em Luanda.
A situação preocupou alguns operadores que, em declarações ao VALOR, exigem “proactividade” aos decisores do sector, de modo a evitar-se o que se verifica nos petróleos, em que a falta de investimentos levou à queda na produção.
Marçal Vigário, director de planeamento e controlo do projecto mineiro de Catoca, na Lunda-Sul, avisa que “o país corre o risco de assistir à falência na produção mineira”, se se continuar a “negligenciar” a investigação. “Não havendo prospecção, também não pode haver reservas. Neste caso, o volume prospectado, ao atingir o limite, acaba por afectar a produção e fecha a mina”, explica o gestor que defende “uma séria discussão” para se reactivar “com grande celeridade” a prospecção geológica e mineira. “Temos de discutir um pouco mais”, insiste Marçal Vigário para quem a prospecção não foi “devidamente esmiuçada” na agenda da 1.ª Conferência Internacional de Minas, realizada na semana passada, em Luanda. “Na realidade, trata-se de uma área fundamental na garantia da operacionalidade e exploração sustentável dos recursos minerais”, justifica. “Para esta conferência, esperávamos fazer contactos com expositores ligados à investigação geológica e mineira, mas demos conta, através de painéis, que a parte da prospecção geológico-mineira estava em falta, não só em Angola, mas também em países onde ocorre a exploração, sobretudo de diamantes”, indicou o executivo da quarta maior mina a céu aberto de pedras preciosas do mundo.
Lembrando as reflexões da conferência sobre os ‘100 anos dos diamantes’, realizada há 12 anos, em Luanda, Marçal Vigário nota que, na altura, já houve “debates acérrimos” relacionados com a prospecção, tendo-se concluído que havia “pouco investimento”dos governos. “Deviam estar na feira empresas ligadas à investigação para a descoberta de novas minas a par da modernização e desenvolvimento de novas tecnologias”, aponta.
Boa parte das empresas que expuseram o seu potencial, no Centro de Convencões de Talatona, onde decorreu a pequena feira, é de exploração e transformação. Das que se dedicam à prospecção apenas a Geoangol e a Terra Drone se destacaram. A primeira, além da perfuração e análise, também aposta na formação de quadros. Já a segunda actua nos domínios da classificação e mapeamento da terra com recurso à tecnologia de drones.
Para Marçal Vigário “são muito poucos exemplos, quando devia haver mais atractividade nesse domínio porque é ali onde estamos mais carenciados”.
E o Planageo?
O Plano Nacional de Geologia (Planageo) concebido pelo Governo com um orçamento de cerca 500 milhões de dólares, para identificar o potencial mineiro do país, também é “insuficiente”, além de registar um abrandamento, face à crise financeira. “O Planageo é apenas para fazer o mapeamento geral, não veio para resolver o problema a que me refiro [o da prospecção]. Quando terminar, poderemos verificar se as anomalias são mineralizadas ou não, isso requer investigação”, afirmou Vigário, sugerindo uma discussão “em fórum próprio”, sobre o abrandamento da pesquisa. “Independentemente da condicionante financeira, a parte técnica devia ser discutida e vermos que modelos adoptar para que, mesmo nesse ‘recuo’ económico, possa haver algum trabalho de prospecção por ser esta que garante o aumento de reservas de uma mina ou de uma sociedade mineira”.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...