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As manobras erradas da China face às taxas de câmbio

28 Aug. 2017 Yu Yongding Opinião

A 11 de Agosto de 2015, o Banco Popular da China (PBOC) estabeleceu que a paridade central da taxa de câmbio do renminbi face ao dólar norte-americano seria definida com base na cotação de fecho do dia de negociação anterior, dentro de um intervalo de 2%. Foi um passo ousado em direcção a uma taxa de câmbio mais flexível e orientada para o mercado.

No entanto, o anúncio da reforma fez com que o mercado entrasse em pânico, provocando um declínio de 3% do renminbi em apenas quatro dias de negociação. Foi desde então, rapidamente abandonada.

Esta reversão de política monetária, embora compreensível, é lamentável. Para a restante parte do ano de 2015, o PBOC lutou para evitar que o renminbi enfraquecesse. Tendo gasto uma grande quantidade de reservas cambiais, decidiu, em Fevereiro de 2016, apresentar uma nova regra para definir a taxa central de paridade/conversão.

De acordo com a regra de substituição, a taxa central de paridade/conversão levaria em conta não apenas a cotação de fecho do dia de negociação anterior, mas também a “taxa de câmbio teórica” ??que manteria o índice do Sistema de Comércio Cambial da China, um cabaz de 24 moedas, inalterado nas 24 horas anteriores. Por outras palavras, sempre que houvesse uma alteração do índice do dólar americano, o PBOC teria que intervir no mercado de divisas para alinhar a taxa de câmbio renminbi-dólar determinada pelo mercado com a taxa de câmbio teórica de mantivesse o índice CFETS estável.

De acordo com o PBOC, com um índice do dólar incerto, a introdução de um cabaz de moedas no processo de definição de preços seria necessária para permitir flutuações nos dois sentidos da taxa de câmbio do renminbi-dólar. O mercado foi autorizado a verificar se o PBOC seguiu a regra de definição de taxa, mas não determinou a taxa de câmbio; essa tarefa foi executada pelo próprio PBOC.

Em qualquer dos casos, quando o índice do dólar aumenta, a nova regra parece funcionar bem. Dada a persistente pressão descendente sobre a taxa de câmbio, se o PBOC permitiu que o renminbi caísse contra o aumento do índice do dólar, o índice CFETS ficaria mais ou menos constante. Isto significaria que o PBOC poderia seguir a regra de definição de taxa sem recorrer a uma intervenção com demasiada frequência.

Mas, mantendo-se tudo o resto constante, se o índice do dólar caísse, o PBOC teria de definir uma taxa de paridade central mais alta para o renminbi. Tal implica que o PBOC poderia ser forçado a vender as suas reservas em dólares norte-americanos, já esgotadas substancialmente, para aumentar artificialmente a cotação de fecho do renminbi e manter a taxa local dentro do intervalo de 2%.

Em Julho de 2017, o PBOC decidiu fazer uma alteração adicional na regra de ajuste da taxa para corrigir as “grandes oscilações do mercado” e “ a irracional mentalidade de rebanho”. Ao introduzir um chamado “factor anti-cíclico” para a equação do ajuste da taxa, o PBOC tentou moderar o impacto desproporcional das expectativas de depreciação, em relação às melhorias dos fundamentos da economia chinesa, na taxa de câmbio.

A lógica é discutível. Mas, o problema real com a alteração é que ninguém fora do PBOC sabe como o factor anti-cíclico é quantificado, muito menos como é ponderado em relação à cotação de fecho do dia anterior ou à taxa de câmbio teórica. Como resultado, o mercado não tem apenas um papel substancialmente reduzido na definição da taxa de câmbio; nem sequer de verificar se o PBOC segue a sua regra de definição de taxa para a paridade central. Isto significa que as autoridades monetárias têm ainda mais discrição do que anteriormente.

As reformas de Agosto de 2015 foram correctamente destinadas a tornar o sistema de taxa de câmbio chinês mais transparente, orientado para o mercado e flexível. Com a nova regra, o PBOC efectivamente retrocedeu. E não precisava: com o benefício da retrospectiva, parece razoável supor que, se o PBOC simplesmente tivesse sido mais paciente, poderia ter ficado com a reforma de Agosto de 2015. Dentro de algumas semanas ou mesmo dias, a calma provavelmente teria retornado ao mercado, e o PBOC teria feito progressos importantes.

Nos últimos meses, a economia chinesa mostrou sinais credíveis de estabilização; as saídas de capital diminuíram, pelo menos, por enquanto; e o mercado financeiro manteve-se muito mais calmo do que em 2015. Neste contexto mais favorável, o PBOC, ao invés de desencadear novas regras de definição de taxas desnecessariamente complicadas, precisa de retornar à reforma.

Yu Yongding, ex- presidente da Sociedade Chinesa para a Economia Mundial e director do Instituto de economia e política internacionais da academia Chinesa de Ciencias Sociais, pertenceu ao Comité para Politica Monetária do Banco Central Chinês de 2004 a 2006 e é membro do comité nacional chinês para reforma económica e de desenvolvimento.