Combater o racismo no Mundo

25 May. 2022 Sem Autor Opinião

O crescimento do racismo tomou de novo proporções de ameaça clara e imediata, em todos os continentes e todos os grandes “grupos raciais”. Ligado a ideologias populistas, surge sob disfarces, porque os racistas sabem que racismo não é opinião, é crime contra a humanidade, seja qual for a cor dos agressores e dos agredidos.

 

Combater o racismo no Mundo

Os disfarces principais são o chamado identitarismo ou o fundamentalismo religioso e, grande parte dessa ameaça está organizada em grupos financiados pelo grande capital ou por capital delinquente.

Os discursos racistas têm em comum:

- afirmação da “pureza racial”, negando resultantes históricas e culturais obtidas apesar ou contra as opressões, as discriminações e os poderes do atraso;

- consideração da raça como critério fundamental, tanto no reconhecimento de direitos de cidadania, como nos privilégios causadores de desigualdade social.

- prática de intimidação, que pode ir até várias formas de terrorismo, para imporem silêncio a todas as vozes críticas, mesmo em pequenos detalhes.

Tal quadro é inaceitável e inegociável por pessoas como nós, envolvidas em vários momentos históricos nas lutas de libertação e/ou democratização de nossos países, enfrentando ameaças sob condições extremas. Pertencemos a diversos países falantes de português, estabelecemos entre nós relacionamentos culturais permanentes e somos Não-raciais.

A “raça” em nada nos define e combatemos sua utilização para definir Cidadania, criar antagonismos e perseguições. 

O racismo disfarçado em larga escala não é uma novidade, pois assim tem sido praticado nos nossos países desde sempre. O discurso do ódio contra pessoas em virtude de seus traços biológicos exteriores ou definições de cultura sob bases raciais, também são antigos e tiveram os pontos altos no nazismo.

Inserido nas ideologias populistas ou em projetos de pequenos grupos orientados para reforço ou constituição de elites político-económico-sociais, o racismo nas suas configurações atuais apresenta três eixos maiores:

- a acusação à imigração como ameaça e causa das crises económicas, mesmo em países tradicionalmente produtores de grandes vagas migratórias;

- a manutenção dos privilégios e poderes herdados de períodos anteriores, como o colonialismo e ditaduras;

- o recurso à “carta da raça” por pessoas que se apresentam como vítimas objetivando alcançar posições dentro das elites dominantes.

Este “triangulo” prolonga e pode perpetuar o racismo, em virtude da ausência de políticas públicas consequentes e eficazes, das pressões daqueles setores interessados no prosseguimento dessa mesma ausência e dos obstáculos criados pelos jogadores da “carta da raça” à criação de amplos movimentos democráticos capazes de combater o racismo.

É uma tríplice cumplicidade, inscrita na História de séculos, inclusive nas suas práticas mais cruéis. Porém, é importante sublinhar que os três fatores não têm igual peso, cabendo a responsabilidade principal aos poderes desinteressados na mudança.

O racismo na sua fase atual tem ainda dois complementos, vindos de épocas anteriores, que se confundem com ele próprio: a xenofobia e o etnicismo, às vezes designado por tribalismo, cujas práticas sangrentas já causaram até genocídios.

Neste contexto, assinalamos alguns princípios tão simples quanto decisivos no sentido da construção de sociedades não raciais:

- a intimidação e as tentativas de estigmatizar são atitudes abomináveis que têm de ser confrontadas sem medo nem recuo;  

-  a deformação da História, com embelezamento de tragédias seculares, criação de mitos ou falsos heroísmos, são manipuladoras e servem de base às campanhas racistas de várias fontes;

- o racismo e seus complementos são sempre produto de regimes injustos ou projetos para os estabelecer. Portanto, o combate antirracista radical é parte da luta mundial pela democracia e a prosperidade, mesmo quando se constituam movimentos específicos para esta frente de combate.

São estas as reflexões de base que, neste dia, deixamos à consciência e decisão moral daquelas e daqueles para quem o racismo, com todas as suas vertentes e complementos, é crime contra a humanidade.

 Em várias partes do mundo, 25 de Maio de 2022

Ana Maria Faria –
Professora - Angola/Portugal

Angela Carrascalão - Professora, ex ministra da Justiça de Timor Leste – Timor Leste/Portugal

David Capelenguela – Escritor – Angola

Eugenio Inocêncio – Economista e Escritor – Cabo Verde

Fernanda Almeida – Jornalista – Portugal/Moçambique

Fernando Tavares Alves – Urbanista – França (Guyane)/Angola

Germano Almeida – Escritor – Cabo Verde

Gisela Martins – Jurista - Angola

Jonuel Gonçalves – Pesquisador universitário e Escritor – Brasil/Angola

José Eduardo Agualusa – Escritor – Angola

Katia Casimiro – Escritora – Portugal/Guiné Bissau

Leão Lopes – Escritor e Reitor de Instituto Universitário – Cabo Verde

Lectícia Trindade – Escritora – São Tomé e Príncipe

Lopito Feijó – Poeta - Angola

Maria Eduarda Albino – Administradora Cultural – Brasil

Maria João Telles Grilo – Arquiteta – Portugal/Angola

Shirlei Victorino – Professora – Brasil

Silvia Milonga – Jornalista – Portugal/Angola

Tchiangui Cruz – Professora e Poeta – Angola/Portugal

Raimundo Salvador – Jornalista – Angola