“Concretizar investimentos belgas cá é uma situação muito difícil”
Chegou a Angola há pouco mais de dois anos e, apesar de ter encontrado um país diferente do que tinha idealizado, garante que mantém o entusiasmo. Ainda assim, é curto e objectivo ao apontar as dificuldades de atracção de investidores belgas. “É muito difícil”, avisa, por causa da “insegurança” em relação ao futuro económico do país. Stéphane Doppagne toca directamente na crise social que devasta o país e nos terríveis acontecimentos da última semana de Julho, avisando que as autoridades têm de ouvir o “grito do povo”.

Em 2 de Agosto de 2023, após ser confirmado embaixador do Reino da Bélgica em Angola e em São Tomé e Príncipe, escreveu, nas redes sociais, que iniciava o mandato “com grande entusiamo”. Depois de precisos dois anos, sobretudo pelo trabalho em Angola, mantém esse “grande entusiasmo”?
Sim, claro. É um país que não conhecia muito bem antes de chegar, embora já estivesse cá estado uma vez enquanto desempenhava outras funções. Hoje conheço os angolanos, aprendi a língua (não falava português há dois anos), encontrei um povo e pessoas simpáticos e sinto-me muito bem-vindo aqui. Viajo muito pelo país e encontro também, sobretudo no campo, pessoas mais simples. Quando passeio fora da cidade (porque faço isso muito), sempre recebo palavras boas, cumprimentam-me, não se queixam da minha presença. Já fui a muitos países africanos antes e nem é sempre assim. A Bélgica tem uma história de ligação a África. Tivemos três colónias no continente, mas é muito interessante ver, por exemplo, a relação [que os angolanos] têm com Portugal. São relações maduras, pelo que nós, os belgas, temos muito a aprender. As ligações [entre Angola e Portugal] são muito intensas. O número de angolanos em Portugal, o número de portugueses cá, os laços económicos, culturais, políticos, o número de visitas de angolanos para Portugal, de portugueses para Angola, de personalidades portuguesas para Angola é algo que está a um nível que não temos como as nossas antigas colónias. Diria que essa é a segunda coisa que aprendi. A terceira coisa é o potencial para fortalecer ainda mais as relações, embora a situação sócio-económica não esteja tão boa como eu esperava. Eu não sabia disso. Encontrei um país que tem uma situação socioeconómica um pouco mais difícil do que pensava antes.
Que informação é que tinha sobre Angola?
Na Bélgica não se fala tanto de Angola. É verdade que há cada vez mais angolanos (temos na Bélgica entre oito mil e nove mil angolanos) mas não se fala tanto nas notícias. Sobre os acontecimentos da semana passada [dos dias 28, 29 e 30 de Julho), quase nenhum jornal falou disso. Quando isso acontece na RDC ou na África Ocidental, na francofonia, sim, chega dentro dos jornais, nas notícias. Não se trata de se ter ainda uma imagem de guerra, tudo isso é passado que já está um pouco longe, mas não é um país muito conhecido. Pessoalmente, tinha a imagem de uma potência económica aqui no continente. Ouvi falar muito do crescimento da economia nos anos depois da guerra. Era a imagem que tinha, um país petrolífero, com muitas oportunidades económicas.
Ficou decepcionado com o país real que encontrou, considerando que as suas expectativas foram contrariadas?
Não fiquei desiludido, mas noto que há muitas oportunidades e, ainda assim, é muito difícil atrair investimento estrangeiro, é muito difícil. Temos trocas comerciais importantes, importantíssimas, mas concretizar investimentos belgas cá é uma situação muito difícil.
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