ANGOLA GROWING
EM CAUSA A FALTA DE NOVAS CONCESSÕES

De Beers 'por um fio' em Angola

DIAMNTES.Após o anúncio de regresso às concessões em 2014, que não se materializou, o gigante do sector diamantífero conserva hoje uma presença residual em Angola, tendo reduzido o número de funcionários a 15 colaboradores, dos 280 com que contava em 2012. Em causa, a falta de concessões para a exploração da 'pedra preciosa', emitidas pela ENDIAMA.

A mineira De Beers corre o risco de fechar portas em Angola por falta de novas concessões desde 2012. A última operação da multinacional responsável por cerca de 44% da exploração mundial de diamantes em Angola foi a mina perto de Lucapa, na Lunda-Norte, em parceria com a Endiama, em 2012, altura em que contava com mais de 280 funcionários. Deste número, e de despedimento em despedimento, a De Beers funciona actualmente com cerca de 15 funcionários em Angola.

O VALOR teve acesso a ‘mails’ internos que colocam em causa a permanência da empresa em Angola e fontes do Ministério da Geologia e Minas explicaram que a relação entre Endiama e a De Beers “estacionou novamente porque o PCA da concessionária nacional, Carlos Sumbula, é o mesmo que esteve envolvido do processo que levou à primeira retirada da De Beers de Angola em 2001 entre processos judiciais”. O VALOR tentou contactar o PCE da De Beers que não deu qualquer resposta. No entanto, ex-funcionários da empresa, dispensados no âmbito da redução de pessoal dos últimos dois anos, confirmam a diminuição de operações e asseguram que a De Beers só se mantém em Angola graças ao activo fixo, ao equipamento estacionado na última mina na Lunda-Norte, ao edifício sito na rua Direita, do lado oposto ao edifício sede da Endiama e “à vontade genuína de manter uma presença no mercado angolano em consonância com a política de internacionalização da mineira”.

Uma fonte da Endiama garante desconhecer essa possibilidade, lembrando que, por enquanto, mantém a parceria com a De Beers nas minas no Lucapa, Lunda-Norte.

A De Beers encontra-se actualmente a explorar minas no Botswana, Canadá, Namíbia e África do Sul, controlando 44% da produção mundial de diamantes. Com a Alrosa, faz parte das duas únicas multinacionais a operar em Angola. “Não existe, tanto quanto nos foi dado a perceber pela administração, qualquer animosidade entre a Endiama, o seu PCA e a De Beers, no entanto, o processo de concessão anda para trás e para a frente e não avança, e a empresa, mesmo não querendo, vai tarde ou cedo ter de equacionar a presença em Angola, já reduziu ao máximo, mas sem concessões ou actividade não faz cá nada e tem custos”, explicou um ex-funcionário ao VALOR.

Segundo ainda o mesmo “a esperança de recuperar o investimento está a desvanecer-se depois quatro anos sem novas concessões”. Desde 2005, a De Beers investiu na prospecção de cinco concessões cerca de 250 milhões de dólares.

Em 2014, chegou a ser noticiada a concessão de uma nova licença de exploração de diamantes pelo ministro da Geologia e Minas, Francisco Queiroz, que manifestou interesse do Governo de conceder mais concessões para a exploração de diamantes. Na altura, revelou estarem em curso negociações com a Endiama. O administrador da De Beers, Philipe Mellier, afirmava que a mineira tencionava iniciar a primeira fase da exploração ainda nesse ano.

 

LIGAÇÃO DE 100 ANOS

O registo dos primeiros diamantes em Angola data de 1912. Foram descobertos na Lunda-Norte num afluente do rio Chicapa, por dois prospectores que procuravam a fonte de diamantes da região do antigo Congo Belga. A De Beers entra em Angola em 1914, fazendo uma parceria com a Companhia de Diamantes de Angola (Diamang) e o Estado português.

O acordo permitiu que o governo português legalizasse a utilização de mão-de-obra barata e forçada, importada de outras áreas de Angola. Em 1917, dos 17500 trabalhadores da Diamang, mais de cinco mil eram escravos de outras regiões.

Depois de ter parado durante a segunda guerra mundial, entre 1939 a 1945, a De Beers voltou a gerir toda a mineração da Diamang, que já era famosa por ser quase um ‘estado dentro de um estado’ com leis próprias, polícia, produção autónoma de alimentos e até controlo das fronteiras.

Na época colonial, a De Beers dominava a Diamang, que viria a ser substituída, após a independência, pela Endiama. Em 1986, as minas da De Beers sofriam ataques da UNITA que reduziram a produção para 16,6 milhões USD. O fim da guerra, em 2002, normalizou a produção diamantífera, mas também provocou maior agitação nas relações entre o Governo e Da Beers.

A empresa chegou mesmo a fechar as portas, deixando apenas funcionários de representação em 2001. Retomou em 2005 e voltou a abandonar a exploração em 2012.