HAJA SELVA!

28 May. 2025 Editorial

Pouquíssimo tempo depois de Valter Filipe chegar a governador do Banco Nacional de Angola, chamou alguns jornalistas seniores para revelar o que tinha encontrado em casa. Ladeado de alguns dos seus colegas de topo, incluindo uma vice-governadora, Valter Filipe doseou as palavras de cerimónia para ir directo ao ponto. O Banco Nacional de Angola, dissera de viva voz, tinha sido transformado numa “casa da mãe Joana”. Sem necessidade de se aprofundar nos detalhes, o então novel governador tinha dito o suficiente para passar a mensagem de fundo. O banco que havia encontrado era tudo menos um banco central, muito menos um banco regulador. As notícias subsequentes foram fornecendo mais clareza às palavras de Valter Filipe. O Banco Nacional de Angola enfermava de várias doenças. Estava mais próximo de uma casa de câmbio gerida sem regras. Uma espécie de Mártires do Kifangondo a céu fechado. 

HAJA SELVA!

Naturalmente, era inevitável olhar-se para o retrovisor na altura. José Pedro de Morais tinha sido o governador anterior, com uma passagem de pouco mais de um ano. Por muita bagunça que tivesse criado, não era o seu nome que saltava imediatamente à vista. O ‘suspeito do costume’ seria José de Lima Massano que tinha cedido o lugar a Pedro de Morais, depois de um consulado prolongado de quase cinco anos.  

Quem chegasse mais longe na leitura do que se passava chegava, entretanto, à inevitável conclusão de que qualquer governador seria apenas uma peça de um puzzle muito mais complexo da farra. E, como se sabe, pouco ou nada disso mudou. Pelo contrário, persistem evidências de que a bagunça no BNA escalou a montanha da politiquice a um nível perturbadoramente chocante. 

A instrumentalização desta instituição ultrapassou os limites de toda a decência. 

Quem acompanhou o ‘dossier’ de encerramento dos bancos comerciais, no primeiro mandato de João Lourenço, viu certamente o que se passou. Não só as regras não importaram como foram aplicadas de forma escandalosamente distinta para situações equiparáveis.

Esta semana, as denúncias de um alto responsável de um dos principais bancos do país reafirmaram a certeza de como o Banco Nacional de Angola se consolidou como uma arma de arremesso contra os indesejáveis do regime. Talvez valha a pena repetir isso com outras palavras.

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