INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO
Os dados divulgados, na última semana, pelo ‘Financial Times’, sobre o Investimento Directo Estrangeiro (IDE), em Angola, no ano passado, voltam a expressar a velha preocupação sobre o domínio absoluto do sector petrolífero na captação desses recursos. Como indicam os números do relatório compilado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês), dos 2,7 mil milhões de dólares captados em 2015, a petrolífera francesa Total reclamou 2,2 mil milhões, qualquer coisa a roçar os 82% do total do investimento.
A explicação para essa fuga de recursos, face ao passado recente, é, indiscutivelmente, a conjuntura económica de preços baixos do petróleo que reduziu significativamente o potencial de crescimento do mercado interno. Basta um recuo aos números de até há dois anos para se perceber isso com clareza. Em 2014, segundo contas divulgadas o ano passado pelo mesmo jornal britânico, o país beneficiou de cerca de 16 mil milhões de dólares de Investimento Directo Estrangeiro bruto, colocando-se imediatamente atrás do Egipto. Apenas um ano depois, os cálculos consolidados pela UNCTAD remetem Angola para a sétima posição, sendo ultrapassada inclusivamente por países como Moçambique e Costa do Marfim e colocando-se muito próximo do Quénia e do Senegal.
Os dados permitem ainda outras leituras preocupantes. Além da concentração do IDE nos petróleos, sector com um contributo residual na criação de emprego, como é de senso comum, a aplicação de capital estrangeiro duradouro na economia é reduzida a um número restrito de investidores, como se depreende da posição absolutamente avassaladora da petrolífera francesa.
Numa altura em que se insiste no discurso da diversificação da estrutura económica, as contas do IDE deixam mensagens verdadeiramente inquietantes. Vários estudos já reconfirmaram que, além da estabilidade política e social, o potencial de crescimento de uma economia é determinante para a decisão dos investidores. Ora, as notícias a este nível estão longe de ser animadoras. O Fundo Monetário Internacional, mais pessimista que o Governo, antevê que o produto interno bruto (PIB) recue para o 0%, em 2016. Para o próximo ano, espera-se por novas projecções do Fundo, mas o próprio Governo não admitiu mais do que 2,1%, no Orçamento Geral do Estado ainda à espera da aprovação dos deputados. Para uma economia com a dimensão do PIB angolano, crescimentos a este nível são excessivamente baixos para serem estimulantes. Não é por acaso que, entre as preocupações levantadas desta vez pela equipa do FMI que está por Luanda, a necessidade de expansão da economia foi destacada de forma absoluta. Assim como o foi a desejável desaceleração do nível geral de preços.
Postas quase de parte as perspectivas de crescimento da economia entre os factores de atracção de investimento, pela modéstia dos números, ao Governo sobra uma única alternativa para continuar a manter, no curto prazo, alguma apetência do investidor estrangeiro em aplicar, no país, recursos que impactam de forma duradoura: convencer que está interessado de forma decisiva a transformar Angola num país bom para fazer negócios.
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