Escândalos de Zuma podem prejudicar o ANC em 2019
CRISE POLÍTICA. Presidente da África do Sul joga as últimas cartas antes de abandonar o poder, numa altura em que partidos da oposição querem o estadista na cadeia. Escândalos de corrupção e sexuais poderão não só provocar a queda do presidente sul-africano, como também podem empurrá-lo às barras do tribunal, segundo o líder de um partido da oposição sul-africana (Aliança Democrática), Mmusi Maimane, que avançou que o seu partido não irá descansar até que o chefe de Estado sul-africano vá a julgamento. A pressão sobre Jacob Zuma não vem apenas de políticos da oposição, mas também da direcção do seu partido. Desesperadamente, o ANC (Congresso Nacional Africano) quer afastar o antigo líder do partido de Nelson Mandela, do cargo de presidente da República, com o intuíto de recuperar a popularidade daquela formação política. No entanto, Jacob Zuma não se mostra disponível a abandonar o cargo de ‘mãos-beijadas’. De acordo com a imprensa sul-africana, o presidente da África do Sul já se encontra a negociar com o líder do ANC, Cyril Ramaphosa, as condições da sua saída, o que terá forçado o cancelamento, na semana passada, de uma reunião agendada pelo partido para pressionar a demissão do estadista sul-africano. O especialista angolano em relações internacionais, Augusto Báfua Báfua, entende que o prazo para o presidente da África do Sul abandonar o poder não passará de Março, tendo em conta a urgente necessidade que o ANC tem de manter a confiança dos sul-africanos. Sobretudo, continuou o analista, para não prejudicar o partido nas eleições de 2019. “Quanto mais tarde isso acontecer [a saída do Zuma], menor é a probabilidade de o ANC vencer as eleições. Ou seja, o ANC pode até ganhar, mas será com uma maioria simples, com menos de 50%. E, como o presidente da África do Sul não é eleito de forma directa, é eleito pelo parlamento, há o risco de a oposição unir-se para formar o governo e pôr o ANC na oposição”, explica Augusto Báfua Báfua, lembrando que Zuma, na sua juventude, já esteve preso, entre os 19 e 26 anos, correndo novamente o risco de ir para a cadeia aos quase 80 anos de idade. O politólogo angolano Olívio Kilumbo afirma que grande parte das figuras políticas africanas acaba destituída do poder por priorizarem agendas pessoais em detrimento das agendas dos partidos, que os sustenta no poder, esquecendo-se ainda de resolver os problemas do povo. “No caso da África do Sul, não esqueçamos que este país tem grandes problemas de desigualdade económicas e sociais e isso faz com que haja uma grande pressão da população sobre as figuras políticas”, apontou o politólogo, acrescentando que “Zuma está a beber do seu próprio veneno, porque, há 10 anos, chegou ao poder com a destituição do presidente Thabo Mbeki”. O encontro entre Zuma e Ramaphosa aconteceu logo após o anúncio do adiamento do discurso sobre o Estado da Nação, que estava agendado para quinta-feira, 8, como anunciou o porta-voz da Assembleia Nacional (câmara baixa do Parlamento sul-africano), Baleka Mbete. Zuma e o seu sucessor à frente do ANC encontraram-se na residência oficial do presidente da República, na Cidade do Cabo. Cyril Ramaphosa fez-se acompanhar pelo secretário-geral do partido, Ace Magashule, que avançou à imprensa que as negociações de terça-feira, 6, foram “construtivas e sólidas”. Referiu também que tanto Zuma como Ramaphosa concordaram com a decisão de adiar o discurso sobre o Estado da Nação. No entanto, o secretário-geral do ANC não avançou pormenores da demissão do chefe do governo da África do Sul. O secretário-geral do ANC também não especificou quem irá proferir o discurso do Estado da Nação, cuja nova data ainda está por ser anunciada. Zuma está no poder desde 2009 e pesam sobre si alegações de corrupção que têm enfraquecido bastante a sua posição como presidente, especialmente desde que Ramaphosa o substituiu como líder do ANC em Dezembro.
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